terça-feira, 4 de setembro de 2007

JARDIM DO PRÍNCIPE REAL – LISBOA


Hoje destaco o jardim onde passei parte da minha juventude, desde quando nasci até 1966, ano em que contraí matrimónio e me mudei para a Freguesia onde resido (Benfica). Morava, então, na rua Cecílio de Sousa, Freguesia das Mercês, com os meus pais (Viriato e Ester) e irmãos (Fernando e Ivone).

Do espaço verde, alindado e cuidado, aqui vai um pouco da sua já longa história: A construção remonta a 1859 por mando da Rainha D. Maria II, em honra do seu filho primogénito. No subsolo tem um enorme reservatório e faz parte do Museu da Água, arquitectado entre 1860 e 1864. Ferreira Borges, republicano e jornalista, é evocado num monumento. Existe um soberbo cedro-do-Buçaco, com mais de 20 metros de diâmetro, que pode abrigar centenas de pessoas.

Recomenda-se, pois, uma visita atenta e demorada a esta agradável zona de lazer, muito florida e encantadora, para se saborear o que de bom a Natureza nos dá.

O magnífico local, situado na rua da Escola Politécnica, dentro do coração de Lisboa, foi muito utilizado pela rapaziada daquele tempo que queria desenvolver as suas potencialidades desportivas, apesar de ser proibido pisar a relva, jogar futebol ou outros desportos colectivos, severamente reprimidas pela polícia, que impedia a qualquer custo tais práticas, correndo para nos apanhar, o que por vezes conseguiam, fazendo detenções, com idas à esquadra das Mercês, onde os nossos pais procediam ao pagamento das multas correspondentes. Outros tempos…

Os jovens do Príncipe Real, do Alto do Longo, da Praça das Flores, do Bairro Alto organizavam, no final do dia, à tardinha, ou nos sábados e domingos, disputadíssimos jogos de futebol, com a velha bola de trapos, mas sempre com um olho no jogo e outro no chui (alcunha que dávamos aos polícias), pois ao mais pequeno indicio teríamos que fugir por tudo o que era sítio. Por vezes faziam-nos cercos e lá conseguiam apanhar os mais lentos ou os menos atentos. Para além da equipa adversária também tínhamos outros antagonistas.

Para podermos jogar futebol à vontade teríamos que nos deslocar até ao Bairro da Serafina (cerca de 5 quilómetros). Muitas das vezes íamos à pendura, nos eléctricos, até às Amoreiras e daí calcorrearmos o restante. Face à febre do Hóquei em Patins que reinou, resolvemos aprender a patinar no Parque Mayer. No alcatroado do Jardim ainda fazíamos hóquei, mas sem patins. Lembro-me de, com 8/9 anos, ter construído uma baliza em madeira, com fios de cordel a fazer de redes, mas numa das fugas cheguei a casa com uns paus enrolados nas guitas… Muito chorei! As caneleiras eram feitas de cartão canelado e colocadas entre as meias e as pernas. O sr. Firmino (marceneiro) dava-nos os stiks. E a polícia corria atrás de nós… Era giro…

Também disputávamos um jogo de sarjeta a sarjeta com uma bola de matraquilhos. Uns tantos de cada lado, constituíam as equipas. Quando era golo era sempre um problema, pois pôr o braço no referido vazadouro com água pútrida para tirar a bola, não era nada agradável, mas o vício era enorme… Na estrutura metálica exterior que suporta o cedro fazíamos provas de resistência, ganhando aquele que mais tempo se mantinha empoleirado e maior era a distância que alcançava. Nas noites de verão as corridas de velocidade e as voltas ao perímetro do jardim eram um atractivo para muita gente que assistia e aplaudia (!) a malta que, com gosto e vontade, participava nas provas.

Grandes e bons amigos se fizeram no Jardim do Príncipe Real. Recordo, com saudade, aqueles já partiram: Alexandre (foi para os paraquedistas, mas veio a falecer num dos saltos ainda em Portugal. Estava mobilizado para a guerra de África); o Alexandrino, que jogava boxe no Rio de Janeiro Futebol Clube (Bairro Alto) e que lhe aconteceu o mesmo que ao Alexandre; o Helder Fagulha, que, por ser mais velho ia ao cinema e, depois, contava-nos os filmes num qualquer portal da rua; o Mário (faleceu no primeiro dia que desembarcou na Guiné, vítima de emboscada); o Manuel Almeida, que esteve comigo em São Tomé e Príncipe, vítima de cancro; o Chico (um dos primeiros radiotelegrafistas que foram para Angola, em 1961). Nota: O Chico um dia levou uma sova do pai (era da agente da GNR) porque fez do tecido do guarda-chuva um paraquedas e o lançou da rampa do jardim… Bonito de se ver… Coisas de jovens…

Outros houveram que atingiram patamares de excelência, caso do José Carlos (jogou basquete na primeira categoria do Benfica) e do Canas (Ciclista do Sporting).
Foto: Com a devida vénia de INLISBOA.COM

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