quarta-feira, 12 de setembro de 2007

SER FORMADOR


Pela experiência que adquiri através dos tempos nesta espantosa e fascinante actividade de perito no sector da formação na arbitragem do futebol, de ver as próprias deficiências (e as dos outros colegas), na expectativa de melhorar cada vez mais o método de ensino, seria bom que todos aqueles que estão ou vão ingressar nesta área de influência, analisassem e tirassem as ilações dos seguintes dez pontos. A saber:

1. APRESENTAÇÃO
Tem tudo a ver com a nossa maneira de ser. Será a primeira impressão com que o Formador é confrontado por parte dos instruendos. Tirarão daí os seus pensamentos. Logo, o nosso aspecto terá de ser cuidado e esmerado, tanto em termos pessoais como na indumentária. A sua figura terá de ser sempre apreciada pela positiva. Todas as virtudes do Formador devem ser empregues na Formação.

2. OBJECTIVO, PRECISO E CONCISO
Personalidade quanto baste, saber estar sempre presente e adequar as suas intervenções ao fim que se pretende, serão tópicos da máxima importância para que a transmissão de saberes seja eficaz e entendida. Nada de repetições a despropósito. Há que ter a noção de que o ensinamento é para quem ainda não sabe da matéria, logo terá de ser humilde e cortês. Não deve ser acelerado a debitar a informação. Pretende-se metodologia e eficácia.

3. LÍDER
Terá de sentir que a sua função de orientador é entendida pelos educandos. Que acreditam em si, que seguem os seus exemplos. Pode-se exercer a liderança sem sobranceria, sem falsidade ou autocracia. A tão apregoada expressão
eu quero, posso e mando nunca deve ser utilizada pelo Formador. Bem pelo contrário, a humildade, a descontracção e o rigor devem ser a sua imagem de marca. O Formador deve trazer para esta área o que de bom tem, sabe e conhece. Motivará o grupo de trabalho em todas as ocasiões para se atingirem os objectivos propostos.

4. CAPACIDADE DE ACÇÃO
O Formador não deve reagir. Quando se verificaram situações em que tenha de responder às questões ou contratempos que se lhe deparem, deve pautar a sua intervenção com serenidade, simplicidade e com clareza. O modelo de interactividade, que se deseja, entre o Formador e os alunos deverá obedecer constantemente à seguinte regra: Todos podem falar, mas sempre e somente um de cada vez. Os discípulos quando intervierem devem identificar-se, dizendo o seu nome. Não permitir diálogos colaterais.

5. RESPONSÁVEL
As sessões devem começar impreterivelmente à hora preestabelecida nos programas, esteja quem estiver. Há que organizar tudo para que este ponto essencial e exemplar seja rigorosamente cumprido. Os presentes não poderão ser prejudicados pela falta de comparência dos colegas. O Formador deverá entender que o seu trabalho é sempre alvo de uma constante avaliação. O material didáctico deverá estar testado e preparado para ser utilizado no devido momento. Evitar ler o quer que seja que esteja a ser projectado através de meios audiovisuais.

6. ACTUALIZADO, PONTUAL E ASSÍDUO
Um Formador dinâmico, consciente e cumpridor deve adaptar-se às circunstâncias. Para além de procurar estar bem informado na área de ensinamento da sua predilecção, quer frequentando os cursos de actualização no sector de formação ou pesquisando tudo o que for necessário, a sua pontualidade e assiduidade nos locais onde tenha que leccionar serão exemplos a seguir pelos seus alunos. Qualquer falha que possa surgir neste campo não é benéfica para o Formador, e, consequentemente, para o Formando.

7. TOLERANTE E BEM DISPOSTO
O Formador terá de estar preparado para compreender a classe, composta das mais variadas inteligências. Deverá escutar atentamente – o saber ouvir é um princípio de ouro – respondendo, depois, com moderação, sentido e convicção. Quando um aluno pretender intervir, mas antes de pronunciar o que quer que seja, nunca deverá dizer-lhe: já sei o que vai dizer… Na altura apropriada não lhe fica mal contar episódios reais ou fictícios, incluindo histórias com sentido e humor. A boa disposição e o à-vontade devem imperar.

8. EXCELENTE RELAÇÕES PÚBLICAS
Antes do início de qualquer sessão deve saudar os presentes com um sentido aperto de mão e olhar nos olhos o seu interlocutor. Se tal não for possível, devido a atraso dos formandos, dirá, simplesmente, no início da sua intervenção que estava preocupado com eles pois a sua presença é imprescindível para se obter o êxito pretendido. Nunca deve espetar o dedo em direcção de alguém. É um sinal de prepotência e arrogância.

9. EXPLICITO NA VOZ E NO DIALECTO
A sua fraseologia deverá ser fluente e influente. O seu tom de voz deve ser uniforme e bem colocado. Sem gritarias ou rouquidões desajustadas. Fica-lhe muito mal expressar os habituais pleonasmos: entrar para dentro, sair para fora, subir para cima, descer para baixo e quejandos. Jamais deverá inquirir a classe sobre quem está de acordo ou não com a resposta dada por qualquer aluno. Isso é vexatório. Da mesma forma que não deve exprimir-se para a turma, depois de apresentar qualquer tema, dizendo: Perceberam? No caso de ter dúvidas de que a sua mensagem não está a ser assimilada e se tiver que dizer algo, proferirá: Fiz-me explicar?!

10. ORGULHOSO DO QUE FAZ
Ter a satisfação de que o excelente resultado final que os seus instruendos obtiveram foi atingido sem mácula, sem dissabores ou imprevistos por terem seguido os ensinamentos que lhe foram proporcionados. Há que seguir a velha máxima: Já que tem de ser feito que se faça bem!


FOTO: O autor a leccionar numa sessão realizada no Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Lisboa, na sala Ribeiro dos Reis, em Fevereiro de 1994, aquando do Curso de Candidatos a Árbitro de Futebol, cujo Patrono foi Vítor Santos, Chefe de Redacção do Jornal A Bola.

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