quinta-feira, 8 de novembro de 2007

NAQUELE TEMPO (III)



Estamos em Novembro e, depois do acerto inicial, hoje damos à estampa o que se verificou rigorosamente no mesmo mês, mas há 50 anos… Ai que saudades, ai, ai…

Do número 5 de O Árbitro, referente àquele período, destaco o seguinte:

1. Algumas notas engraçadas obtidas no Curso de Micolin: A confecção das bolas de então tinham em consideração as experiências em balística (!), orientadas pela Federação inglesa. As redes das balizas eram confeccionadas em linho ou juta e poderiam ser alcatroadas (!). Foi criada a linha dos fotógrafos que distava 3 metros da linha de cabeceira (sic). Continuou-se a rejeitar as substituições de jogadores no Campeonato do Mundo (Taça Jules Rimet) e ainda no Torneio Olímpico. Devido a estarem a ser usados pitons que não estão em conformidade com a lei, determinou-se que será para respeitar a sua altura, como medida máxima, de 12,4 milímetros, mas os fabricantes fogem ao cumprimento do que está regulamentado (sic). Os pitões de alumínio fixos à sola com pregos são perigosos. Couro, lona, borracha e nylon são os materiais que poderão ser empregues na confecção das botas, desde que não constituam perigo para os jogadores.
2. A Direcção da Federação Portuguesa de Futebol tomou posse no dia 23 de Novembro de 1957, tendo como seu Presidente o Capitão Almiro Maia de Loureiro. Engloba a Direcção o antigo pertigioso (?) Árbitro Eloi da Silva.
3. Fernando Campos, ex-Árbitro conimbricense, com o título Panorama das Arbitragens no Brasil, escreve de São Paulo a dar conta que a Federação Paulista de Futebol contratou, para dirigir os seus jogos, dois Árbitros austríacos (Prybil e Hansstatter), mas, decorridos 2 meses e dos jogadores lhes tomarem o pulso, voltou a desconfiança e a desconsideração não só relacionada com eles como até à própria competição. No Estádio do Santos Futebol Clube (é o meu predilecto no Brasil), os bandeirinhas foram directos à enfermaria antes de terminar o jogo, com os seus uniformes de vermelho pelo sangue que lhes escorria da cabeça por terem sido atingidos com garrafas e tijoladas que os canibais (sic) torcedores se devertiam a lançar. Interditar um campo de futebol seria uma declaração de guerra civil.
4. Foram editados os seguintes artigos: A Associação Académica de Coimbra e o Árbitro Inocêncio Calabote, de Filipe Gameiro Pereira (Lisboa), O Árbitro perante a crítica, de Lourenço José Simões (Évora). Espírito Desportivo, de José Rosa Nunes (Faro). Uma ideia a propósito do problema das nomeações dos Árbitros, de Eduardo Gouveia (Lisboa), que apresenta a seguinte sugestão: Para o jogo A, entre as equipas X e Y, a Comissão Central informava os dois clubes adversários que poderiam escolher os seguintes Árbitros: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8. O grupo X optou por 3, 4, 5, 6 e 8. A turma Y, por 1, 3, 5, 7 e 8. Como os dois contendores pronunciaram-se a favor dos Árbitros 3, 5 e 8, caberia à Comissão designar dentre os três qual o que deve dirigir a partida. Se, noutra situação, houvesse coincidência na preferência dos clubes num só escolhido seria esse o nomeado. Se houvesse discrepância entre os competidores caberia à Comissão assumir a nomeação directa.
5. O Presidente da Associação de Futebol de Lisboa, Francisco Mega, lança a tabela-Código, onde consta o Quadro Sinóptico de Infracções Praticadas nos Campos de Futebol, que ajudará os Árbitros lisboetas a orientar a suas participações sobre as ocorrências verificadas nos campos. Das 23 situações descritas, destaco esta: 21-Empurrões, cuspir na cara e outras falta análogas, sem chegar a agressão manifesta.
6. Descreve-se tudo o que se passou na Festa de Homenagem a Paulo Oliveira, em Tomar, Santarém (foto).
7. Das 15 resoluções assumidas pela Comissão Central saliente-se a marcação da reunião de 13 de Dezembro de 1957, para a Cidade do Porto. Descentralização! Também decidiu comunicar aos Árbitros a obrigação de remeterem os relatórios dos jogos dentro das 24 horas depois da sua realização, sob pena de incorrerem em falta disciplinar. Princípios!
8. As Comissões Distritais de Árbitros de Évora, Setúbal e Vizeu (?), dão notícias das suas actividades.
9. Tribuna do Árbitro contínua a responder a inúmeras questões relacionadas com situações invulgares, como esta: Pode advertir-se um jogador sem ser interrompido o jogo? Resposta: Qualquer jogador pode ser advertido sem que haja necessidade da partida ser interrompida.
10. Curiosidades: No final de um jogo efectuado na margem sul do Rio Tejo, o Árbitro saiu do campo no meio de delirantes aclamações e, no trajecto até à camioneta, teve a acompanhá-lo uma numerosa claque de apoio, que com palmas e vivas o ovacionaram até ao momento da partida! É provável que, no final da época, seja rectificada a decisão dos Árbitros se retirarem aos 45 anos de idade. Murmura-se que os prémios em jogos da Associação de Futebol de Lisboa vão ter um aumento o que já não é sem tempo, pois ir-se a Montelavar, Ericeira e outras localidades receber o prémio de 15$00 sem subvenção e gastar no almoço 18$00 só é possível por quem tem muito amor à Causa da Arbitragem…

Foto: Da segunda equipa de arbitragem portuguesa que, segundo o Boletim, dirigiu um encontro no estrangeiro foi constituída por Francisco Guerra (Árbitro), Abel da Costa e Inocêncio Calabote. Defrontaram-se as selecções da Espanha e da Turquia em Chamartin, Madrid, em 6 de Janeiro de 1954 (4ª feira), para a qualificação do Mundial de 1954 (Suiça) e os espanhóis venceram por 4-1. Na segunda mão os turcos ganharam por 1-0 e, como não havia ainda o apuramento através do somatório dos golos, foi feito um terceiro jogo em Itália tendo empatado 2-2. O jovem de nome Franco, fez o sorteio por moeda ao ar e ditou que seria a Turquia a viajar até Berna. Registe-se que o baptismo internacional dos nossos Árbitros, segundo o Boletim, coube a Joaquim Reis e Santos (meu grande e saudoso Amigo), Paulo Oliveira e Libertino Domingues, em Barcelona, no jogo Espanha-Bégica (3-1), selecções A, disputado em Las Cortes, Barcelona, no dia 19 de Março de 1953 (5ª feira). Mais um importante subsídio para a história da arbitragem portuguesa além fronteiras.

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