sábado, 19 de janeiro de 2008

O MESTRE ABEL DA COSTA, FAZ HOJE 95 ANOS DE IDADE!



O Decano da Arbitragem portuguesa está de parabéns e todos nós também…

Agradável é saber que este Querido e Bom Amigo está de excelente saúde, que ainda conduz o seu automóvel e está ainda muito dinâmico, participativo e continua a distribuir a sua alegria contagiante, o que é um assombro. A sua forma física é invejável, graças à ginástica que nunca deixou de fazer. Um exemplo para se conseguir a desejava longevidade…

Vamos tentar descrever o que foi a sua longa e brilhante carreira ao serviço do desporto que começou bem cedo. Aos 14 anos de idade, já era praticante de futebol, atletismo e ciclismo no Sport Clube do Carmo. Aos 18 transfere-se para o Coimbrões onde permaneceu 10 épocas na primeira categoria. Vestiu ainda a camisola do Boavista Futebol Clube e efectuou 2 épocas ao serviço do Académico do Porto, onde também foi guarda-redes de Hóquei em Campo. Representou o Regimento de Infantaria 18 na modalidade de basquetebol e na pesca desportiva conseguiu capturar uma corvina com 19 quilos!

Quanto à arbitragem, a sua impressionante carreira resume-se a 23 anos como Árbitro e 20 como dirigente. É obra! Quarenta e três anos ao serviço da causa para além de ser um marco inigualável são, sem dúvida alguma, uma fantástica epopeia, um exemplo de tenacidade, carácter e dedicação sem paralelo.

Quanto à arbitragem vamos aos dados que nos foi possível recolher:

Inscreveu-se na Escola de Candidatos em 1940, tendo sido licenciado em 1963, por limite de idade (naquele tempo podia-se estar em actividade até aos 50). Árbitro da 3ª categoria nacional nas épocas 1940/42, na 2ª, entre 1942 e 1945 e ascende à primeira categoria em 1945/46. Obtém as insígnias da FIFA em 1956, ostentando-as até se retirar. Dirigiu 429 partidas como Árbitro e na função de Árbitro Assistente esteve em 192 jogos.
Damos destaque aos seus jogos internacionais, como Árbitro. Amigáveis com a equipa do F.C.Porto a receber os seguintes adversários: 1958-Áustria de Viena, 1959-Corinthians. 1960-Vasco da Gama e First de Viena. 1962-América. 1963-Reims e 1965-Fluminense. Oficiais: 1960-Nice-Real Madrid, 4 de Fevereiro, a contar para os quartos-de-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em que o clube da casa ganhou por 3-2, depois de ter estado a perder por dois golos. Teve como seus auxiliares Francisco Guerra e Clemente Henriques, também internacionais. 1961-Espanha-Áustria, Portugal-Marrocos (em militares) e, em 10 de Novembro, o Espanha-França em Esperanças. 1962-Em 24 de Outubro, Atlético Madrid-Hebernians Paola, com a colaboração de Dr. Décio de Freitas e Clemente Henriques. Como Árbitro Assistente: 1957-Sant Etiene-Milan e Espanha-Turquia. 1959-Yong Boys-Wismute. 1960-Espanha-Marrocos (Esperanças). 1962-Em 26 de Setembro, o Sevilha-Rangers, auxiliando o Dr. Décio de Freitas.

A sua equipa foi considerada a melhor na época 1959/60. Como Instrutor Nacional foi Formador de inúmeras Escolas de Candidatos. Fez parte de júris de exames a candidatos realizados em Aveiro, Braga, Coimbra, Porto, Vila Real e Viseu. Exerceu a função de Observador de Árbitros da então Comissão Central e da UEFA. Dirigente dos Conselhos de Arbitragem do Porto e da Federação Portuguesa de Futebol (Comissão Central).

Recebeu sete louvores mas também sofreu um castigo que o Mestre relatada da seguinte forma:
Num jogo em Coimbra, com a Académica, assinalei uma grande penalidade. Só que o meu auxiliar deu-me indicações que a falta tinha sido cometida fora da área de grande penalidade. Por isso chamei os capitães e expliquei-lhes a alteração da minha decisão. Eles aceitaram e mandei marcar o pontapé livre. O Observador ao jogo focou esse caso no seu relatório e eu fui castigado…

Já agora, voltamos a dar voz ao Mestre, reproduzindo as suas oportunas considerações expressas aqui há uns tempinhos a um jornal desportivo:

A
arbitragem no meu tempo era, exactamente, o que não é hoje. Antigamente os jogadores defendiam as cores das camisolas, por amor. Agora lutam por interesses monetários. Dantes havia um respeito enorme pelas decisões dos Árbitros. Convivíamos com Dirigentes e jogadores de uma forma saudável e respeitosa. Os dirigentes desabafavam connosco em tom coloquial e os nossos erros eram discutidos e morriam ali. Para mim Vieira da Costa foi o melhor Árbitro português de todos os tempos. Refiro ainda Joaquim Campos, Clemente Henriques e Francisco Guerra como Árbitros de elevada categoria. Já no meu tempo os três grandes de Lisboa (Sporting, Benfica e Belenenses) já sabiam pressionar os Árbitros. Não quero dizer que fossem desonestos. Mas escolhiam os consagrados, como era o meu caso, só quando os seus clubes jogavam fora. Mas em casa escolhiam outros, mais fraquinhos. Depois, quando passei pela Comissão Central e era o único ex-Árbitro, voltei a aperceber-me destes factos.

Um episódio deveras curioso e marcante da sua forte personalidade: Em 26/12/1947 formalizou o seu pedido de demissão por os Árbitros terem passado a ser liderados por dirigentes de clubes…

Em Dezembro de 2001 o Conselho de Arbitragem do Porto prestou-lhe uma merecida homenagem nomeando-o Patrono do Curso de Candidatos. A APAF, em 2005, também o elegeu como Padrinho do III Torneio Inter-Núcleos de Futsal.

Recorde-se que o Governo Português lhe outorgou em 3 de Outubro de 2005 a Medalha de Bons Serviços Desportivos pelo seu passado desportivo que engloba, naturalmente, os mais de quarenta anos que esteve ao serviço da arbitragem portuguesa. Esta condecoração foi-lhe entregue pelo Secretário de Estado da Juventude e Desporto numa bonita festa realizada em Fafe.

O Mestre Abel da Costa tem estado sempre presente nos encontros anuais dos Antigos Árbitros, com sua esposa Dª Conceição, vindo até a conduzir o seu automóvel desde o local onde nasceu e mora, em Fão-Esposende. Um espanto!

Ainda recentemente ofertou ao Museu da Associação de Futebol de Lisboa o seu último par de chuteiras que utilizou (diga em óptimo estado de conservação).

Ao Mestre Abel da Costa agradeço em nome dos Árbitros portugueses por tudo o que fez pela arbitragem portuguesa, com empenhamento, devoção e entrega total à causa de todos nós. Vamos gostar de vê-lo cá por muitos e bons anos na companhia de sua Esposa e demais familiares e amigos, pois os seus admiradores assim o exigem e eu sou um dos mais acérrimos…

FOTOS: Com sua esposa, Dª Conceição. Na do meio com o seu grande Amigo Fernando Melo Acúrcio (também antigo Árbitro) e, na debaixo, na Madeira.

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