A Dona Maria Ester Henrique dos Santos, minha querida mais do que tudo, se fosse viva, neste 30 de Abril, comemorava mais um aniversário natalício. -1944, comigo e com o meu irmão-
Filha de José Henrique Frade e da Dª Maria da Conceição Cristina, veio a nascer em São Brás de Alportel, no ano de 1915, algarvia de gema, portanto. Faleceu no final da tarde do dia 11 de Junho de 1971, após ter sofrido um fulminante AVC, em sua casa e perante as suas netas, a quem estava a servir o jantar. -1946, eu e a minha irmã-
Teve três filhos, o Fernando Plácido, o mais velho (28.9.1939), eu, o do meio (18.3.1942) e a Ivone (18.10.1944), a jóia da coroa. Isto no tempo da II Grande Guerra, (1 de Setembro de 1939 a 2 de Setembro de 1945) o que não foi fácil, devido às privações, aos racionamentos, às escassez dos produtos de primeira necessidade, à mingua do ordenado do nosso pai (funcionário da Carris), enfim, só dificuldades. Vivíamos em Lisboa, num pobre rés-do-chão na rua Cecílio de Sousa (ao Jardim do Príncipe Real), que não tinha electricidade (só muito mais tarde, quase no final da década 50), logo não tínhamos frigorifico ou qualquer outro útil electrodoméstico, hoje tão em voga. Resumindo: vivíamos quase sem condições algumas. Comemos sopa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que nos sabia muito bem. Muita gente auxiliava-nos por merecimento. Éramos sociáveis, prestáveis e bons vizinhos. -1946, o trio maravilha (à frente), mais o meu avô, minha mãe e duas primas-
Esta senhora, minha querida mãe, era um portento de querer, persistência e força de vontade. Simples, humilde, católica, compreensiva, revolucionária, mas lutadora, sempre contra quem oprimia o mais pequeno, neste caso o povo. Tinha os nervos muito à flor da pele, mãe-galinha não deixava que as suas três crias fossem subjugadas por quem quer que fosse. Ai de nós se chegássemos a casa a chorar ou a fazer “queixinhas”. Havia logo sermão e missa cantada. -Minha mãe com as minhas avós paterna (Maria Gameiro dos Santos) e materna-
No Natal tinha por hábito fazer uns bolos com figuras de meninos e meninas. Aos meninos colocava mais um pouco de massa em determinado sítio. Nas meninas, era só fazer um risquinho no mesmo local. O que nós gozávamos com tal brincadeira… -1964, uma jovem amiga, minha irmã, minha noiva (actual mulher) e minha avó paterna-
Foi, também, uma mãe sofrida, para além de ter criado o “trio harmonia” numa fase muito complicada, geria tudo sempre com o objectivo dos seus filhos estarem apresentados, limpos e sem fome. Levantava-se de madrugada ia à Praça da Ribeira comprar hortaliça e fruta e vendia à porta de casa, aos vizinhos. (nota: eu era um dos seus melhores clientes, pois comia muita fruta…). Teve que fazer das tripas coração, pois ainda tinha tempo para trabalhar como costureira, quer para os da casa, quer para alfaiataria. E, de vez, em quando, lá vinha uma limpeza num escritório, que calhava muito bem receber esse dinheirinho… Enfim, sempre a laborar, a arranjar dinheiro para casa. Isto até começarmos também a trabalhar e os nossos proveitos ajudavam (muito pouco) o orçamento familiar. -Ainda em 1964, quando me encontrava em África, meu cunhado Armindo, meu pai e meu irmão-
Também foi acometida de doença do foro oncológico, pois teve que ser submetida a uma mastectomia. Mas isso foi rapidamente superado pois tinha os filhos para criar e a enfermidade, para ela, era coisa de somenos… -1966, no dia do meu casamento, com os meus pais-
Mais tarde voltou a sofrer quando o meu irmão foi cumprir serviço militar em Outubro de 1960, soube logo que estaria mobilizado para viajar até à antiga possessão portuguesa na Índia e, na noite de 17 de Dezembro de 1961, verificou-se a sua invasão pelas tropas da União Indiana. Só ao fim de seis meses é que soubemos que tinha sobrevivido, que tinha estado preso, pese embora morássemos perto do Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Coronel Mateus Cabral, e pedíssemos insistentemente notícias do Fernando, nunca nos foi possibilitada qualquer informação. Dizia-nos que a dificuldade de comunicação era o facto do meu irmão ser soldado e dado o seu apelido (Santos). Como se isso tivesse alguma relevância… Felizmente voltou, são e salvo, mas foi repudiado pelos governantes de então, como já disse na data do seu aniversário, neste blog. -Meu irmão, em Goa (Índia)-
Depois fui eu para São Tomé, mas aí, como não havia conflito (na Índia, inicialmente, também não), a situação foi mais tolerada. -Eu, em São Tomé-
A ela lhe devo tudo o que sou. As suas virtudes, a sua honestidade, a sua fidelidade, a sua revolta contra a mentira, injustiça e subserviência, os seus exemplos são valores que me acompanham desde que me conheço. Tento transmitir a todos aqueles a quem tenho partilhado os meus conhecimentos, os meus saberes. A minha mãe foi uma mãe à maneira. Uma das grandes penas que teve, confessou-me, era o de nunca ter tido hipóteses financeiras de nos mandar estudar os três… -Uma das última fotos de minha mãe, à porta de casa, com o seu gato de estimação, o Salmonete-
Um beijão pelo dia de hoje e por todos aqueles que me ensinou a ser o que sou, a ser alguém considerado e respeitado.
Filha de José Henrique Frade e da Dª Maria da Conceição Cristina, veio a nascer em São Brás de Alportel, no ano de 1915, algarvia de gema, portanto. Faleceu no final da tarde do dia 11 de Junho de 1971, após ter sofrido um fulminante AVC, em sua casa e perante as suas netas, a quem estava a servir o jantar. -1946, eu e a minha irmã-
Teve três filhos, o Fernando Plácido, o mais velho (28.9.1939), eu, o do meio (18.3.1942) e a Ivone (18.10.1944), a jóia da coroa. Isto no tempo da II Grande Guerra, (1 de Setembro de 1939 a 2 de Setembro de 1945) o que não foi fácil, devido às privações, aos racionamentos, às escassez dos produtos de primeira necessidade, à mingua do ordenado do nosso pai (funcionário da Carris), enfim, só dificuldades. Vivíamos em Lisboa, num pobre rés-do-chão na rua Cecílio de Sousa (ao Jardim do Príncipe Real), que não tinha electricidade (só muito mais tarde, quase no final da década 50), logo não tínhamos frigorifico ou qualquer outro útil electrodoméstico, hoje tão em voga. Resumindo: vivíamos quase sem condições algumas. Comemos sopa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que nos sabia muito bem. Muita gente auxiliava-nos por merecimento. Éramos sociáveis, prestáveis e bons vizinhos. -1946, o trio maravilha (à frente), mais o meu avô, minha mãe e duas primas-
Esta senhora, minha querida mãe, era um portento de querer, persistência e força de vontade. Simples, humilde, católica, compreensiva, revolucionária, mas lutadora, sempre contra quem oprimia o mais pequeno, neste caso o povo. Tinha os nervos muito à flor da pele, mãe-galinha não deixava que as suas três crias fossem subjugadas por quem quer que fosse. Ai de nós se chegássemos a casa a chorar ou a fazer “queixinhas”. Havia logo sermão e missa cantada. -Minha mãe com as minhas avós paterna (Maria Gameiro dos Santos) e materna-
No Natal tinha por hábito fazer uns bolos com figuras de meninos e meninas. Aos meninos colocava mais um pouco de massa em determinado sítio. Nas meninas, era só fazer um risquinho no mesmo local. O que nós gozávamos com tal brincadeira… -1964, uma jovem amiga, minha irmã, minha noiva (actual mulher) e minha avó paterna-
Foi, também, uma mãe sofrida, para além de ter criado o “trio harmonia” numa fase muito complicada, geria tudo sempre com o objectivo dos seus filhos estarem apresentados, limpos e sem fome. Levantava-se de madrugada ia à Praça da Ribeira comprar hortaliça e fruta e vendia à porta de casa, aos vizinhos. (nota: eu era um dos seus melhores clientes, pois comia muita fruta…). Teve que fazer das tripas coração, pois ainda tinha tempo para trabalhar como costureira, quer para os da casa, quer para alfaiataria. E, de vez, em quando, lá vinha uma limpeza num escritório, que calhava muito bem receber esse dinheirinho… Enfim, sempre a laborar, a arranjar dinheiro para casa. Isto até começarmos também a trabalhar e os nossos proveitos ajudavam (muito pouco) o orçamento familiar. -Ainda em 1964, quando me encontrava em África, meu cunhado Armindo, meu pai e meu irmão-
Também foi acometida de doença do foro oncológico, pois teve que ser submetida a uma mastectomia. Mas isso foi rapidamente superado pois tinha os filhos para criar e a enfermidade, para ela, era coisa de somenos… -1966, no dia do meu casamento, com os meus pais-
Mais tarde voltou a sofrer quando o meu irmão foi cumprir serviço militar em Outubro de 1960, soube logo que estaria mobilizado para viajar até à antiga possessão portuguesa na Índia e, na noite de 17 de Dezembro de 1961, verificou-se a sua invasão pelas tropas da União Indiana. Só ao fim de seis meses é que soubemos que tinha sobrevivido, que tinha estado preso, pese embora morássemos perto do Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Coronel Mateus Cabral, e pedíssemos insistentemente notícias do Fernando, nunca nos foi possibilitada qualquer informação. Dizia-nos que a dificuldade de comunicação era o facto do meu irmão ser soldado e dado o seu apelido (Santos). Como se isso tivesse alguma relevância… Felizmente voltou, são e salvo, mas foi repudiado pelos governantes de então, como já disse na data do seu aniversário, neste blog. -Meu irmão, em Goa (Índia)-
Depois fui eu para São Tomé, mas aí, como não havia conflito (na Índia, inicialmente, também não), a situação foi mais tolerada. -Eu, em São Tomé-
A ela lhe devo tudo o que sou. As suas virtudes, a sua honestidade, a sua fidelidade, a sua revolta contra a mentira, injustiça e subserviência, os seus exemplos são valores que me acompanham desde que me conheço. Tento transmitir a todos aqueles a quem tenho partilhado os meus conhecimentos, os meus saberes. A minha mãe foi uma mãe à maneira. Uma das grandes penas que teve, confessou-me, era o de nunca ter tido hipóteses financeiras de nos mandar estudar os três… -Uma das última fotos de minha mãe, à porta de casa, com o seu gato de estimação, o Salmonete-
Um beijão pelo dia de hoje e por todos aqueles que me ensinou a ser o que sou, a ser alguém considerado e respeitado.
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