domingo, 11 de maio de 2008

TECNOLOGIA DESUMANIZA A FORMAÇÃO?


Passados que foram alguns anos na formação de candidatos a Árbitro de Futebol, tomo como referência a comparação entre o que era e o que hoje a tecnologia nos oferece nesse campo.

Na verdade a tecnologia é bem-vinda e importante para quem tem este sistema ao dispor, o que já não se põe àqueles que ainda não possuem tais meios informáticos, quer dentro ou fora dos grandes centros populacionais ou mesmo por inadaptação.

Num aspecto geral os novos conceitos de aprendizagem por tal via são bem aceites mas só estão ao alcance dos formandos que têm possibilidades na aquisição do equipamento necessário para poderem usufruir dos novos métodos de ensino.

Em Portugal (em Lisboa), já se fez uma experiência que, na minha opinião, pouco resultou. Evitou que os inscritos se deslocassem às instalações do Conselho de Arbitragem e pouco mais. As provas de exame, teórico (escrito e oral), e físico tiveram, naturalmente, que efectuar-se com a presença dos candidatos. Houve pouco acompanhamento dos formandos, tão necessário no início da actividade.

Vem isto a propósito de deixar algumas pistas para destacar as diferenças entre o novo e o atrasado, aqui considerando o método expositivo.

Do método antigo, destaca-se:
- A transmissão pessoal da experiência adquirida através dos tempos, os bons e maus momentos, sempre com a ideia de que a assimilação por parte do instruendo trará benefícios futuros para a sua carreira.
- O relacionamento entre o professor e o aluno, face ao efeito de aproximação, existirá o perfeito entendimento, a convicção e a certeza de que se é escutado na proporção exacta.
- A formação da personalidade do formando será em crescendo, entre outras características exigidas o rigor e a disciplina – factores principais para exercer a função – estarão sempre presentes.
- A avaliação é constante e no momento exacto.
- A figura do Formador será uma referência indispensável perante os alunos, pois começaram a entender a maneira de estar, de ser, de ouvir, de falar, verificando os seus pontos fortes e fracos – não copiando estes últimos.
- A correcção de situações que carecem deste procedimento também será feita na hora.
- Os saberes divulgados, com calma e pormenorizadamente, são contributos de grande valor pedagógico para a formação de iniciados.
- A técnica de ensinamento utilizada é, francamente, mais directa, humana e com a sensibilidade que deve existir entre pares.
- Os aconselhamentos, a palavra certa no momento exacto, os apontamentos essenciais que são transmitidos causam sempre boa impressão para quem está a aprender.
- O acompanhamento personalizado garante os princípios básicos de que a função irá ser desempenhada pelo jovem com a matriz original, isto é, os eventuais desvios aos parâmetros ideais serão nulos ou pouco mais.
- O incitamento à dedicação, ao rigoroso cumprimento das regras e dos regulamentos estarão sempre presentes com a presença do instrutor.
- Os diálogos empreendidos entre quem ensina e quem aprende são uma das maiores riquezas que a formação pode ter. Sou apologista deste aproximar, deste calor humano.
- O entendimento quando a deveres e direitos, expressos de início, quanto a pontualidade e assiduidade só podem resultar em pleno, se o formador der exemplos práticos do rigor pretendido.
- O facto de se poder mostrar todo o material que é necessário numa partida de futebol, começando pela bola, as peças do equipamento normal dos jogadores e dos guarda-redes, camisa, calção, meias, calçado, números, braçadeiras, boné, caneleiras, e bem assim o que a equipa de arbitragem usa, mais os apetrechos: o apito, os cartões, o cronómetro, a bandeirola, etc.

Quanto às vantagens que a tecnologia nos proporciona, podemos dizer que são muitas, tais como:
- Estar o equipamento sempre disponível para ser utilizado, desde que as condições o permitam.
- Os programas serão seleccionados com um simples clicar.
- A correspondência entre aluno e professor poderá ser trocada com fluência em períodos previamente acordados, pois todos os inscritos têm esse direito.
- As questões, as leis, a regulamentação, os testes, são facilmente localizáveis no sistema informático quando necessário.
- Também poderão ser consultados quando o aluno assim o entenda, manhã, tarde, noite ou madrugada.
- Poderão ser consultados sítios onde se observem casos que surjam nos jogos, tentando assim não repetir o que correu mal.
- A recepção da nomeação, assim como o envio do relatório do jogo para a entidade organizadora da competição.

-1992, eu a leccionar uma aula de leis do jogo-

Estes e outros temas poderão vir a ser matéria passível de discussão entre os defensores de um ou dos dois métodos de ensino em apreciação.

Para mim, entendo que o Formando estar bem próximo do aluno, isto é, na mesma sala, no mesmo espaço, aqui nas aulas práticas, é indiscutivelmente relevante tendo em consideração o objectivo primeiro: Formar com qualidade. E isso só é possível com o factor humano. A tecnologia só ajuda, não aperfeiçoa.




Nota: Este meu texto foi divulgado no sítio Cartão Vermelho, em Abril de 2008.

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