Entretanto, dou conta que já estou a preparar outro empreendimento que visa revelar a arbitragem nos Jogos Olímpicos, desde 1908, quando o futebol começou a fazer parte do seu programa oficial competitivo. Já se passaram 100 anitos… Vamos, então, ao último episódio desta série: Foi no país vizinho que a FIFA levou a efeito o seu 12º Mundial, que decorreu entre os dias 13 de Junho e 11 de Julho de 1982, com a participação recorde de 24 selecções dos seguintes países: Alemanha (8), Argélia (2), Argentina (7), Áustria (6), Bélgica (3), Brasil (2), Camarões (4), Checoslováquia (2), Chile (3), El Salvador (5), Escócia (1), Espanha (6), França (6), Honduras (1), Hungria (2), Inglaterra (3), Irlanda do Norte (4), Itália (11), Jugoslávia (3), Kuwait (3), Nova Zelândia (0), Peru (2), Polónia (10) e Russia (4). Este aumento de presenças deveu-se ao compromisso assumido por João Havelange na campanha para a sua reeleição como presidente da FIFA. Os 52 jogos previstos efectuaram-se nos Estádios da Cidades de Alicante, Barcelona, Bilbau, Elche, Ginjon, La Corunha, Madrid, Málaga, Oviedo, Saragoça, Sevilha, Valladolid, Valência e Vigo, catorze no total, também novo recorde. A soma de espectadores foi de 2.109.723! Golos marcados: 146. Na segunda fase, dado o número de equipas participantes, em vez das habituais 2 séries de quatro, fizeram 4 grupos de 3, com a passagem directa às meias-finais dos primeiros classificados, que foram a Alemanha, França Itália e Polónia. -Estádio Santiago Barnabéu, em Madrid-
Realizaram-se 103 jogos de apuramento para este mundial. Todas as Confederações tiveram representantes nesta fase final. A selecção de Portugal voltou a não estar presente, porque nos jogos de apuramento os resultados foram: IRLANDA DO NORTE, em casa, 19.11.1980, vitória por 1-0, com golo de Jordão. Fora, 29.04.1981, derrota por 0-1. SUÉCIA, em casa, 14.10.1981, derrota por 1-2, com golo de Pietra. Fora, 24.06.1981, nova derrota, por 0-3. ISRAEL. Em casa, 17.12.1980, vitória por 3-0, com golos de Humberto Coelho (2) e Jordão. Fora, 28.10.1981, derrota por 1-4, com golo de Jordão. ESCÓCIA, em casa, 18.11.1981, vitória por 2-1, com golos de Manuel Fernandes. Fora, 15.10.1980, empate (0-0). Júlio Cernadas Pereira, Juca, era o seleccionador. -Réplica da bola oficial-
NOTAS
Tendo como ponto de partida o conflito nas Malvinas, que ocorreu entre o dia 2 de Abril e 14 de Junho de 1982, entre a Argentina e Inglaterra, presentes neste mundial, a FIFA, obrigou a que todos os países assinassem um compromisso pelo bem-estar no futebol, destacando-se este parágrafo: A violência deforma e desonra o desporto. Estamos conscientes das nossas responsabilidades e somente nos comprometemos a jogar com respeito pelas regras, pelos Árbitros e pelos nossos adversários.
-Na final, da esquerda: Rommenigge (alemão), o esraelita Abraham Klein, Arnaldo César Coelho (Brasil), Christov Vojtch (checo) e Dino Zoff, italiano-
Daniel Alberto Passarella (n. 25.05.1953), confessou em 2001 que não devia ter jogado no Mundial de 82. Nas Malvinas morreram muitos jovens e ele, como capitão de equipa, deveria ter feito algo para que a selecção argentina não entrasse em campo, pese embora tivessem sido campeões na edição anterior.
-Arnaldo César Coelho, Árbitro FIFA, brasileiro-
Todos os guarda-redes usaram luvas durante o campeonato e pela primeira vez a FIFA atribuiu a bola de ouro ao melhor jogador da competição.
-Fase do jogo final-
A mascote foi escolhida dentre mais de 600 desenhos apresentados. Deram-lhe o nome de Naranjito, a fruta mais emblemática em Espanha.
-Outra imagem do encontro derradeiro-
A selecção de Itália, que viria a sagrar-se campeã do mundo, quando viajou para Espanha não foi poupada pelos meios de comunicação italianos, ao ponto do jornal mais vendido ter destacado, em título de caixa alta, agressividade ao treinador Enzo Bearzot (n. 26.12.1927), dizendo que estava velho e que se fosse embora…
-Golo dos italianos-
Durante a primeira fase deram razão a quem os criticou, já que não ganhou aos seus competidores (Polónia, Peru e Camarões), com quem também não perdeu.
-Cabrini não converte a grande penalidade-
A relação entre jogadores italianos e seus dirigentes também não era famosa. Marco Tardelli, com espírito de contradição, deixou crescer a barba quando chegou a Espanha depois dum seu director ter feito referência a barbas por fazer. Mais tarde resolveu cortá-la após ter ouvido outro dirigente dizer que a barba grande lhe ficava bem…
-A vitória sorri à Itália-
Contudo, nos últimos três jogos derrotou a Argentina (2-1), o Brasil (3-2) e a Alemanha, na final, por 3-1! A Itália, neste último jogo, até falhou uma grande penalidade, mas não deixou de vincar a sua evidente superioridade.
-Zoff grita aplenos pulmões: É NOSSA!-
O golo mais rápido das fases finais do mundial foi marcado aos 27 segundos do jogo Inglaterra-França, pelo inglês Bryan Robson (n. 11.01.1957), desafio dirigido pelo português António Garrido.
-Treinador Bearzot é levado em triunfo-
O Presidente dos Camarões, Ahmadou Ahidjo, face à vitória que os seus patrícios obtiveram perante Marrocos decretou feriado nacional… Registe-se que foi ele que contratou directamente o francês Jean Vincent (n. 29.11.1930) para treinar a selecção do seu país…
-A squadra azurra venceu o mundial de 1982-
No jogo Brasil-Argentina, em que estes foram eliminados (1-3), a promessa Diego Armando Maradona (n. 30.10.1960) foi expulso aos 85 minutos de jogo por ter agredido o adversário Batista (n. 08.03.1955), que tinha entrado aos 83, substituindo Zico (n. 03.03.1953)! Maradona, na altura, já cobrava por entrevista concedida a bagatela de 5.000 dollars…
-Paolo Rossi, o artilheiro-
A Espanha tornou-se o primeiro país-sede iniciado em vogal a não ganhar uma Taça do Mundo. Até então, Uruguai, Itália, Inglaterra e Alemanha haviam conseguido tirar proveito do apoio dessa vantagem.
-Bryan Robson-
Pela primeira vez na história das finais, um árbitro sul-americano dirigiu a final do torneio, o brasileiro Arnaldo César Coelho, que já se considerava de férias por acreditar no título brasileiro, foi surpreendido com o afastamento da selecção do seu país e depois agraciado com tal honra. Quando lhe disseram, chorou…
-Teófilo Cubillas, peruano, despediu-se dos mundiais-
A única participação do seleccionado do Kuwait, treinado pelo brasileiro Carlos Alberto Parreira (n. 27.02.1943) numa fase final ficou marcada por um caso insólito. A França ganhava por 3 a 1, quando aos 35 minutos dos segundo tempo Alain Giresse (n. 02.09.1952) converte um quarto golo aproveitando a paragem total da defesa adversária. Então, foi quando o xeque kuwaitiano Fahid Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah, presidente da Federação de Futebol e do Comité Olímpico e, ainda, irmão do chefe de estado do Kuwait, ataviado com uma túnica branca e turbante, com gestos enérgicos invadiu o rectângulo de jogo com os seus musculosos guarda-costas, para protestar o tento sofrido, isto porque os seus jogadores afirmaram terem escutado um apito. Ainda ameaçou retirar a sua equipa do jogo.
-Brasil 3, Argentina 1-
Após dez minutos de discussão, onde o prepotente dirigente chegou a ameaçar o árbitro com uma adaga. O golo não foi válido e o xeque retornou ao seu lugar na bancada, mas rodeado de polícias. Ao retirar-se do Estádio de Valladolid, declarou: A máfia é pequena ao lado da FIFA. Não me importam as sanções. Eu vou-me embora e outro ocupará o meu lugar. Eu não obriguei o Árbitro a anular o golo. No meio daquela enorme confusão o Árbitro só procedeu a uma advertência ao árabe Fathi Marzouq (n. 1955).
-Espanha 0, Inglaterra 0-
Incomodado com a permeabilidade do Árbitro, o treinador francês, Michel Hidalgo (n. 22.03.1933) retirou-se do campo, não se apresentou na conferência de imprensa e ameaçou retirar a sua equipa da competição.
-Bélgica 1. Argentina 0-
Finalmente, as consequências fizeram-se sentir, pois a FIFA não brinca em serviço: O Árbitro soviético Miroslav Stupar, que dirigiu este desafio fui sancionado com expulsão dos quadros da FIFA e o intruso foi obrigado a pagar a multa de vinte e cinco mil francos suiços.
-Camarões 0, Polónia 0-
Recorde-se que Paolo Rossi (n. 23.09.1956), que viria a ser o melhor marcador, obtendo 6 golos, e o melhor jogador, participou neste mundial depois de, em 1980, ter sido suspenso por 3 anos devido a estar envolvido com a máfia da lotaria desportiva de Itália, mas a pena foi reduzida para dois, por motivos óbvios. A sua convocação foi muito contestada pela imprensa italiana. Em resposta os jogadores entraram em greve com a comunicação social do seu país.
-Brasil editou colecção filatélica-
Norman Whiteside (n. 07.05.1965), irlandês, foi o jogador mais jovem que disputou uma fase final, com os seus 17 anos e 41 dias! -Naquela altura elaborei este programa e entreguei a meu filho (Rui, com 10 anos) para acompanhar as transmissões televisivas. Continha os dias e as horas dos directos, assim como a constituição das selecções e os números das camisolas dos seus jogadores-
O italiano Dino Zoff (n. 28.02.1942), com 40 anos de idade, foi o jogador mais velho do mundo a ser campeão do mundo e o único guarda-redes na história da competição a ter a honra de levantar o troféu conquistado como capitão de equipa.
A vitória da Hungria por 10-1, diante El Salvador, é a maior goleada da história das fases finais.
A organização espanhola não ficou muito bem na fotografia, dado que teve 18 anos para trabalhar para o êxito e as falhas foram enormes, segundo jornalistas que criticaram asperamente os espanhóis, incluindo as balizas do estádio Ramon Sanchez Pizjuan, em Sevilha, que tinham a menos 2,5 centímetros de altura, conforme o estipulado pelas Leis do jogo.
Todas as vezes que o autocarro da selecção brasileira foi do hotel para o estádio fazia-o pelo mesmo caminho, e sempre voltou por um outro. A rotina só foi mudada no fatídico dia 5 de Julho, quando enveredou-se na ida pelo caminho que costumava fazer a volta. Nesse dia, também pela primeira vez desde o início da competição, a selecção não posou para fotografias. O Brasil perdeu por 3 a 2 para a Itália e foi eliminado. Contudo, três selecções tinham a dirigi-las treinadores brasileiros, casos do PERU (Tim, de seu nome completo Elba de Pádua Lima, n. 20.02.1916 e f. 07.07.1984), do KUWAIT (Carlos Alberto Parreira, n. 27.02.1943) e BRASIL (Telé Santana, n. 26.07.1931 e f. 21.04.2006). O Brasil foi distinguido pela FIFA com o Prémio Fair-play.
ARBITRAGEM
ADVERTÊNCIAS: 98 (ver desdobramento nas selecções que participaram).
EXPULSÕES: 5 (Américo Galego e Armando Maradona, argentinos. Ladislav Vizek, checo. Gilberto Yearwood, hondurenho. Mal Donaghy, irlandês).
ÁRBITROS: 44, das seguintes nacionalidades:
ABRAHAM KLEIN, 29.03.1934, ISRAEL, AR=1 e FL=3.
ADOLF PROKOP, 02.02.1939, ALEMANHA, AR=1 e FL=3.
ALEX PONNET, 09.03.1939, BÉLGICA, AR=2 e FL=2.
ALOJZY JARGUZ, 19.03.1934, POLÓNIA, AR=1 e FL=3.
ANTÓNIO GARRIDO, 03.12.1932, PORTUGAL, AR=2 e FL=2.
ARNALDO COELHO, 15.01.1943, BRASIL, AR=2 e FL=3.
ARTURO ANDRES ITHURRALDE, 06.03.1934, ARGENTINA, AR=1 e FL=2.
AUGUSTO LAMO CASTILLO, 25.09.1938, ESPANHA, AR=1 e FL=1.
BELAID LACARNE, 26.10.1940, ARGÉLIA, AR=1 e FL=5.
BENJAMIM DWOMOH, 01.07.1935, GANA, AR=1 e FL=1.
BOGDAN DOTCHEV, 26.06.1936, BULGÁRIA, AR=1 e FL=3.
BRUNO GALLER, 21.10.1946, SUIÇA, AR=1 e FL=3.
CHARLES CORVER, 16.01.1936, HOLANDA, AR=2 e FL=3.
CLIVE WHITE, 02.05.1940, INGLATERRA, AR= 1 e FL=2.
DAMIR MATOVINOVIC, 06.04.1940, JUGOSLÁVIA, AR=1 e FL=2.
DAVID SOCHA, 27.09.1938, USA, AR=1 e FL=1.
EBRAHIM AL DOY, 22.01.1945, BAHRAIN, AR=1 e FL=2.
EMÍLIO SORIANO ALADREN, 29.10.1945, ESPANHA, AR=0 e FL=3.
ENRIQUE LABO REVOREDO, 02.03.1939, PERU, AR=1 e FL=3.
ERIK FREDRIKSSON, 13.02.1943, SUÉCIA, AR=1 e FL=3.
FRANZ WOEHRER, 05.06.1939, ÁUSTRIA, AR=1 e FL=1.
GASTON EDMUNDO CASTRO MAKUC, 23.08.1948, CHILE, AR=1 e FL=4.
GILBERTO ARISTIZABAL MURCIA, 08.09.1940, COLÔMBIA, AR=1 e FL=5.
HENNING LUND-SORENSEN, 20.03.1942, DINAMARCA, AR=1 e FL=3.
HECTOR ORTIZ, 05.04.1933, PARAGUAI, AR=1 e FL=1.
JESUS PAULINO SILES, 13.12.1941, COSTA RICA, AR=2 e FL=1.
JOSÉ LUIS GARCIA CARRION, 18.03.1927, ESPANHA, AR=0 e FL=2.
JUAN CARDELLINO DE SAN VICENTE, 04.03.1942, URUGUAI, AR=2 e FL=0.
KAROL PALOTAI, 11.09.1935, HUNGRIA, AR=1 e FL=4.
LUÍS BARRANCOS, 19.08.1946, BOLÍVIA, AR=1 e FL=1.
MALCOLM MOFFATT, 01.01.1937, IRLANDA NORTE, AR=1 e FL=0.
MÁRIO RUBIO VAZQUEZ, 28.11.1936, MÉXICO, AR=2 e FL=3.
MICHEL VAUTROT, 23.10.1945, FRANÇA, AR=2 e FL=2.
MIROSLAV STUPAR, 27.08.1941, RUSSIA, AR=1 e FL=0.
NICOLAI RAINEA, 19.11.1933, ROMÉNIA, AR=2 e FL=4.
PAOLO CESARIN, 12.05.1940, ITÁLIA, AR=2 e FL=3.
ROBERT VALENTINE, 10.05.1939, ESCÓCIA, AR=2 e FL=2.
ROMULO MENDEZ MOLINA, 21.12.1938, GUATEMALA, AR=1 e FL=2.
THOMSON CHAN TAM SUN, 08.05.1941, HONG KONG, AR=1 e FL=3.
TONY BOSKOVIC, 27.01.1933, AUSTRÁLIA, AR=1 e FL=1.
VICTORIANO SANCHEZ ARMÍNIO, 26.06.1942, ESPANHA, AR=0 e FL=3.
VOJTECH CHRISTOV, 16.03.1945, CHECOSLOVÁQUIA, AR=1 e FL=4.
WALTER ESCHWEILER, 20.09.1935, ALEMANHA, AR=1 e FL=3.
YUSEF MOHAMED EL GHOUL, 01.06.1936, LÍBIA, AR=1 e FL=2.
Funções que exerceram: 39 actuaram como Árbitro e Auxiliar. 2 somente como Árbitro e 3 apenas na função de Auxiliares.
Repetentes: de 1974 e 1978: PALOTAI e RAINEA.
De 1978: COELHO, CORVER, JARGUZ, KLEIN, PROKOP,
Árbitro mais novo: CASTRO, 33 anos e 305 dias.
Árbitro mais idoso: GARRIDO, 49 anos e 219 dias
António José da Silva Garrido, actuou nos seguintes jogos:
Como Árbitro:
No dia 16.06, em Bilbau, Inglaterra, 3-França, 1. Advertiu um jogador. 44.172 espectadores.
10.07, em Alicante, no jogo para os 3º e 4º lugares, Polónia, 3-França, 2, perante 28.000 assistentes. Foram advertidos 3 jogadores.
Como Auxiliar:
Em 20.06, em Valência, Espanha, 2-Jugoslávia, 1, com 48.000 pessoas.
01.07, em Barcelona, Bélgica, 0-Russia, 1, com 45.000 lugares ocupados.
VÍDEO DA FINAL
http://www.youtube.com/watch?v=1LVCew73zTQ&feature=related
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