A ARBITRAGEM NOS MUNDIAIS, 1990-ITÁLIA (XIV)

O Congresso da FIFA, realizado em 19 de Maio de 1984, em Zurique (Suiça) deliberou atribuir à Itália a organização da 14ª edição em detrimento da Inglaterra, Grécia e Russia, que também se tinham candidatado. Para se apurar a equipa campeã, realizaram-se 52 jogos entre 8 de Junho e 8 de Julho de 1990, nos estádios das cidades de Bari, Bolonha, Cagliari, Florença, Génova, Milão, Nápoles, Palermo, Roma, Turim, Udine e Verona. Nas eliminatórias participaram 111 países, mas tiveram a honra de disputar a fase final as seguintes 24 selecções. A saber: Alemanha (8), Argentina (21), Áustria (8), Bélgica (0), Brasil (7), Camarões (14), Checoslováquia (13), Colômbia (5), Coreia do Sul (6), Costa Rica (6), Egipto (4), Emirados Árabes Unidos (6), Escócia (3) Espanha (4), Estados Unidos (6), Holanda (5), Inglaterra (6), Irlanda (4), Itália (6), Jugoslávia (7), Roménia (7), Russia (3), Suécia (4) e Uruguai (9). A equipa de todos nós falhou a qualificação, fase aos resultados obtidos no grupo com:
Luxemburgo, casa (16.11.1988) vitória por 1-0. Fora (11.10.1989) vitória 3-0. Bélgica, casa (15.02.1989), empate 1-1 e fora (06.09.1989) derrota por 0-3. Suiça, casa (26.04.1989) vitória 3-1 e fora (20.09.1989) derrota por 1-2. Checoslováquia fora (06.10.1989) derrota por 1-2 e em casa (15.11.1989) empate sem golos. Os marcadores dos golos portugueses, foram: Rui Águas, 3. Vítor Paneira, 2. Fernando Gomes, Frederico, Futre, João Pinto e Rui Barros, um cada. Os Treinadores: Júlio Cernadas Pereira (Juca) e Artur Jorge. -Estádio Guissepe Meazza, onde se realizou a final-
Jogos realizados: 52
Melhor marcador (Bota de ouro): Salvatore Schillaci (01.12.1964) 6 golos
Espectadores que viram os jogos pela televisão: 2.670 milhões.
Golos marcados: 115.
País vencedor do Fair-play: Inglaterra
Espectadores: 2.516.348
Jogo com mais advertências: Áustria-USA (7).
Advertências: 162 (ver desdobramento nas selecções participantes). -Réplica-
Encontros com mais expulsões: O inicial, Argentina-Camarões; o dos oitavos, Alemanha-Holanda e o da final, Alemanha-Argentina. Duas em cada desafio.
Expulsões: 15 (Gustavo Dezotti, Pedro Monzon e Ricardo Giusti, Argentina; André Cana e Benjamin Massing, Camarões; Frank Rijkaard, Holanda; Rudi Voeller, Alemanha; Lubomir Moravcik, Checoslováquia; Deok Yeo Yoon, Coreia do Sul; Refik Sabanadzovic, Jugoslávia; Eric Wynalda, Estados Unidos; Peter Artner, Áustria; Vladimir Bessonnov, Russia; Eric Gerets, Bélgica e Ricardo Gomes, Brasil). -Carreras, Pavaroti e Plácido, participaram no espectáculo de abertura-

NOTAS:

A Alemanha, com a vitória desta feita sobre a Argentina, por 1-0, somou a terceira conquista. Antes: em 1954 (na Suiça, venceu a Hungria por 3-2) e em 1974 (na Alemanha, derrotou a Holanda por 2-1). -Edgardo Codesal, Árbitro FIFA, mexicano-

A Argentina e a Alemanha defrontaram mais de uma vez na decisão do título. Este feito foi repetido em 1994 pelo Brasil e Itália.

-As selecções finalistas-

A Argentina, derrotada na final, foi a primeira equipa a ficar em branco nos jogos derradeiros.

A meia-final entre Argentina e Itália foi disputada em Nápoles. Idolatrado na cidade devido a seu desempenho com o clube local, Maradona tentou conquistar o apoio dos adeptos locais. Disse que o Norte da Itália não considerava Nápoles parte do país e estava sendo hipócrita ao pedir apoio dos napolitanos à Azzurra.
-O único golo foi obtido na execução de grande penalidade-
Mas a maior parte dos napolitanos permaneceu fiel à selecção italiana durante a partida.O primeiro golo sofrido pelo italiano Zenga no Mundial foi na semi-final com a Argentina. O goleiro ficou invicto por 517 minutos, recorde da competição.Apesar de o Muro de Berlim ter caído em 1989, a Alemanha permaneceu oficialmente dividida até Outubro de 1990. Por isso, a equipe campeã mundial em 1990 foi a Alemanha Ocidental.

-Maradora advertido no jogo final-

Temendo a acção dos hooligans, a organização do Mundial colocou a Inglaterra no grupo de Cagliari, para deixá-los literalmente isolados na Sardenha.Maradona reeditou a “mão de Deus”, aqui com a mão esquerda. Contra a União Soviética, o argentino evitou um golo adversário tirando a bola em cima da linha com a mão direita quando o jogo ainda estava 0-0. O árbitro sueco Erik Friedriksson nada assinalou. Sobre o tema, o treinador brasileiro Sebastião Lazaroni (25.09.1950), declarou com grande ironia: Maradona é um jogador muito versátil, tanto pode marcar golos com a mão esquerda como evitá-los com a direita…

-A Alemanha festeja-

Pela primeira vez na sua história a F.I.F.A. associou-se com a empresa ISL Marketing AG, com sede em Lucerna, Suiça, para comercializar este torneio. Os suiços abonaram 600 milhões de dólares para adquirir semelhante direito.

-Maradona saúda os vencedores-

Foi o mundial com a mais baixa média de golos marcados em toda a sua história; 2,21! A mascote do torneio, denominada CIAO, era uma maqueta cúbica, com as cores da bandeira italiana (verde, branco e vermelho) e que de cabeça elevava uma bola, mas tinha os pés quadrados, como que a antecipar o que viria a verificar-se quanto aos poucos golos conseguidos -Camarões, Inglaterra-
Depois do jogo com a Argentina o lateral Branco, de seu nome completo Cláudio Ibraim Vaz Leal (04.04.1964) saiu dizendo que havia pedido água ao massagista da equipe adversária e, depois de beber, tinha ficado zonzo. Estranhou que o liquido que lhe deram não fosse do mesmo frasco entregue a Maradona. Ficou preocupado e comunicou ao fiscal de linha. Depois, na volta para a concentração, dormiu no autocarro e continuou sonolento no dia seguinte. A história, que parecia uma desculpa pelo fracasso da selecção brasileira em campo, acabou sendo comprovada no início de 1993 pelo massagista argentino Miguel de Lorenzo. Confessou ao jornal El Clarin, que na sua mala, havia dois tipos de água: uma para os argentinos e outra para os brasileiros. Ambas lhe foram entregues pelo técnico argentino Carlos Salvador Bilardo (16.03.1939). -Espanha, Coreia-

No jogo entre o Brasil e a Costa Rica verificou-se um lance que gerou uma grande repercussão. O golo teria sido feito pelo avançado costa-riquenho Montero ou pelo defesa Muller? O Árbitro anotou o tento ao avançado. Mais tarde a delegação brasileira protestou e o golo veio para Muller. Depois, a FIFA mudou de ideia outra vez e o golo voltou a ser novamente de Montero. Após estes anos decorridos o golo está averbado a Muller…

-Salvatore Schillaci, o bota de ouro-

No último jogo do Grupo F, Irlanda e Holanda fizeram um papelão. Acomodadas com o empate (1-1), ficaram trocando a bola nos seus meios-campos, sem partir para o ataque, pois o resultado classificaria ambas as selecções, ficando rigorosamente empatadas em todos os critérios. Na metade do segundo tempo, o árbitro da partida (o francês Michel Vautrot) parou o jogo, chamou os capitães e pediu para que as equipes procurassem o golo. O apelo não foi atendido. Pior para a Holanda, que com o empate verificado, apanhou a Alemanha Ocidental nos oitavos e foi eliminada. A Irlanda só viria ser eliminada na fase seguinte, pela Itália, realizando a façanha de chegar às quartas de final sem vencer nenhum jogo e marcando apenas 2 golos...

-Kaiser, Treinador vencedor-

O Treinador do Brasil, Sebastião Lazaroni revelou seus dotes de actor, gravando um anúncio para a empresa italiana Fiat. O texto acabou virando motivo de piada depois da desclassificação brasileira. O diálogo com um polícia italiano foi o seguinte:
Policia: Documentos, senhor Lazaroni. É italiano?
Lazaroni: Não, eu sou brasileiro!
Policia: E o que faz aqui em Itália?
Lazaroni: Eu sou técnico da Selecção Brasileira.
Policia: Ah, não. Agora vai dizer que este Uno também é brasileiro...
Lazaroni: Sim, é fabricado no Brasil e é exportado para aqui, Itália.
Policia: Lazaroni, brasileiro, técnico da selecção canarinha guia um Uno brasileiro. Muito prazer senhor Lazaroni, eu sou o Papa!

-Carlos Valente, Árbitro FIFA, português-

ARBITRAGEM

Foram seleccionados 41 árbitros dos seguintes países:

Alemanha (2), Argélia, Argentina, Austrália, Áustria, Bahrein, Bélgica, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dinamarca, Equador, Escócia, Espanha, França (2), Gabão, Inglaterra, Irlanda do Norte, Itália (7), Japão, Jugoslávia, México, Paraguai, Polónia, Portugal, Russia, Síria, Suécia, Suiça, Tunísia, Uruguai e USA. -Numismática-

ALAN SNODDY, 29.03.1955, IRLANDA NORTE, AR=1 e FL=4.
ALEXEY SPIRIN, 04.01.1952, RUSSIA, AR=1 e FL=3.
ARMANDO PEREZ HOYOS, 05.05.1952, COLÔMBIA, AR=0 e FL=6.
ARON SCHMIDHUBER, 28.02.1947, ALEMANHA, AR=2 e FL=1.
BERNY ULLOA MORERA, 05.08.1950, COSTA RICA, AR=0 e FL=5.
CARLO LONGHI, 10.03.1944, ITÁLIA, AR=0 e FL=1.
CARLOS MACIEL, 14.11.1946, PARAGUAI, AR=1 e FL=3.
CARLOS VALENTE, 25.07.1948, PORTUGAL, AR=2 e FL=2.
EDGARDO MENDEZ CODESAL, 02.06.1951, MÉXICO, AR=3 e FL=3.
ELIAS JÁCOME GUERRERO, 02.11.1945, EQUADOR, AR=1 e FL=2.
EMÍLIO SORIANO ALADREN, 29.10.1945, ESPANHA, AR=1 e FL=1.
ERIK FREDRIKSSON, 13.02.1943, SUÉCIA, AR=1 e FL=1.
GEORGE COUTNEY, 04.06.1941, INGLATERRA, AR=2 e FL=2.
GEORGE SMITH, 14.10.1943, ESCÓCIA, AR=1 e FL=1.
HELMUT KOHL, 08.02.1943, ÁUSTRIA, AR=3 e FL=1.
HERNAN SILVA ARCE, 05.11.1948, CHILE, AR=1 e FL=1.
JAMAL AL SHARIF, 08.12.1954, SIRIA, AR=1 e FL=3.
JASSIM MANDI ABDUL RAHMAN, 16.12.1944, BAHREIN, AR=0 e FL=5.
JEAN FIDELE DIRAMBA, 15.06.1952, GABÃO, AR=0 e FL=3.
JOEL QUINIOU, 11.07.1950, FRANÇA, AR=3 e FL=2.
JOSÉ RAMIZ WRIGTH, 07.09.1944, BRASIL, AR=4 e FL=1.
JUAN CARDELLINO DE SAN VICENTE, 04.03.1942, † 08.09.2007,
URUGUAI, AR=1 e FL=2.
JUAN LOSTAU, 13.07.1947, ARGENTINA, AR=3 e FL=1.
KURT ROETHLISBERGER, 21.05.1951, SUIÇA, AR=3 e FL=4.
LUIGI AGNOLIN, 21.03.1943, ITÁLIA, AR=1 e FL=0.
MARCEL VAN LANGENHOVE, 16.04.1944, BÉLGICA , AR=1 e FL=2.
MICHAL LISTKIEWICZ, 20.05.1953, POLÓNIA, AR=0 e FL=8.
MICHEL VAUTROT, 23.10.1945, FRANÇA, AR=3 e FL=2.
MOHAMED HANSAL, 06.11.1947, ARGÉLIA, AR=0 e FL=4.
NEJI JOUINI, 12.08.1949, TUNÍSIA, AR=1 e FL= 4.
PETER MIKKELSEN, 01.05.1960, DINAMARCA, AR=2 e FL=4.
PIERLUIGI MAGNI, 21.06.1947, ITÁLIA, AR=0 e FL=1.
PIERLUIGI PAIRETO, 15.07.1952, ITÁLIA, AR=0 e FL=2.
PIETRO D’ELIA, 29.04.1946, ITÁLIA, AR=0 e FL=2.
RICHARD LORENC, 03.12.1951, AUSTRÁLIA, AR=0 e FL=3.
ROSÁRIO LO BELLO, 04.11.1945, ITÁLIA, AR=0 e FL=1.
SHIZUO TAKADA, 05.08.1947, JAPÃO, AR=1 e FL=3.
SIEGFRIED KIRSCHEN, 13.10.1943, ALEMANHA, AR=2 e FL=2.
TULLIO LANESE, 10.01.1947, ITÁLIA, AR=3 e FL=1.
VICENTE MAURO, 23.10.1943, USA, AR=1 e FL=5.
ZORAN PETROVIC, 10.04.1952, JUGOSLÁVIA, AR=2 e FL=2.

-Carlos Valente enviou-me este postal de Itália!-

Repetentes:

1982-Aladren, San Vicente, Vautrot
1982 e 1986-Fredriksson
1986-Agnolin, Arce, Codesal, Coutney, Kirschen, Morera, Petrovic, Quiniou, Sharif, Snoddy, Takada e Valente.

O Árbitro mais novo: Mikkelsen, 30 anos.
O Árbitro mais idoso: Coutney, 49 anos.
Quem mais advertiu: Lanese (Foram 14 as vezes que mostrou o cartão amarelo).
Quem mais expulsou: Vautrot (por 3 vezes exibiu o cartão vermelho).

Carlos Valente, o representante português, actuou nos seguintes encontros:

Como Árbitro: 18.06-Grupo B, Argentina-Roménia (1-l), no Estádio São Paolo, em Nápoles, perante 52.733 espectadores. Exibiu o cartão amarelo por 5 vezes!
30.06-Quartos de final, Itália-Irlanda (1-0), no Olímpico de Roma, com 73.303 pessoas a assistirem (lotação esgotada). Sem incidências disciplinares.

Como Auxiliar:
09.06-Grupo A, Itália-Áustria (1-0), em Roma (Olímpico), novamente com a lotação máxima. (73.303 assistentes)!
14.06-Grupo B, Camarões-Roménia (2-1), em Bari, no Estádio San Nicola. 38.687 foi o número de espectadores presentes.

Vídeo da final:

http://www.youtube.com/watch?v=MsbXRqT19IY&feature=related