O Boletim “O Árbitro” nº 71 (Ano
VI), de há exactamente cinquenta anos, divulgou, entre outros, os seguintes
assuntos:
LANÇAMENTO DA LINHA LATERAL
A Comissão Central regulou a
determinação da obrigatoriedade da execução desta reposição da bola em jogo que
não deveria de ser feita a distância superior a um metro da referida linha.
Assim, se o arremesso não for executado nas condições estabelecidas deverá ser
repetido pela mesma equipa, considerando-se semelhança com o pontapé de baliza
ou ao pontapé de canto, por exemplo, quando não executados em condições
regulamentares. Poderia vir a acontecer que o atleta que não fizesse o
lançamento nas condições indicadas seria advertido e, em caso de reincidência,
expulso por comportamento incorrecto.
-RICARDO ORNELAS-
A ARBITRAGEM E OS SEUS PROBLEMAS –
O jornal Record entrevistou duas gradas figuras do futebol português, o distinto
jornalista e mestre Ricardo Ornelas (n. 31.12.1899/f. 04.09.1967) e Acácio Rosa
(04.09.1912/04.02.1995), grande desportista, belenenses do coração e antigo
presidente da Comissão Central de Árbitros. A primeira questão, foi: Devem os
Árbitros continuar a dispor dos poderes discricionários que a lei lhes faculta
em questões de facto? Ou carece-se de constituir outra entidade que julgue os
próprios juízes e se pronuncie sobre a regularidade e honestidade do seu
trabalho? Ricardo Ornelas, respondeu: “Entre
dois males deve sempre escolher-se o menor. Tudo quanto se faça para lhes
assegurar a autoridade máxima que as leis do jogo lhes conferem dentro dos
campos é pouco. Se o recrutamento dos Árbitros é defeituoso há que melhorar o
processo de o fazer. Se o considerarem mau ou defeituoso há que remediá-lo sem
deixar de reconhecer, por outro lado, que eles são, afinal, os Árbitros que
temos. Mas tudo será incompleto se o espírito do espectador se fizer mover pela
clubite. As leis referem-se ao jogo. E é um jogo que nós seguimos. Por muito
respeitáveis que sejam os desejos dos sócios e adeptos dos clubes o jogo é o
que manda, devendo todos aceitar o que dispõem as leis se não se quiser
minimizar o espectáculo. Em menos palavras, toda a ajuda que os jogadores, os
clubistas e a própria crítica derem será proveitosa ao próprio jogo. No ponto a
que as coisas chegaram não podemos deixar de concluir que a má preparação do
público e dos jogadores é que está na origem de muitas coisas que se vêem por
aí. Sem essa contrariedade tudo seria melhor”. Atalha o jornalista: Por exclusão
de partes deve considerar-se dispensável a criação de outra entidade? Ricardo Ornelas rematou: “O
futebol tem por toda a parte a organização que ele próprio criou ou tornou
indispensável. Ir ao encontro de exigências que vêm de fora dos rectângulos só
pode aumentar a confusão. E é tudo!”
-ACÁCIO ROSA-
Sobre o tema inicial, Acácio Rosa,
disse: “Os Árbitros têm grandes e graves responsabilidades no que geralmente
acontece de mau nos nossos campos e isso porque transigem mais do que seria
desculpável em certas ocasiões. Transigem umas vezes com a vontade do público,
noutras com a conduta dos jogadores e, infelizmente, algumas vezes, deixam-se
comandar pelos seus dois auxiliares. Ora, quando o Árbitro transige perante
isto ou aquilo falseia desde logo a sua missão. Penso que o motivo principal é
porque a missão do Árbitros não é devidamente compreendida nem está
convenientemente protegida. O seu primeiro inimigo, porventura o principal ou o
maior de todos, é a clubite que campeia por aí desenfreadamente, e é até
apoiada por alguns dirigentes que por motivos óbvios, se habituaram a lançar
sobre o Árbitro as culpas de tudo quanto de mau acontece às suas equipas. Há
necessidade de rodear os Árbitros da maior protecção de natureza moral,
procurando defender-lhe o prestígio e impô-lo ao respeito de todos de modo a
neutralizar todas as ofensivas venham elas de onde vierem. Mas o que acontece?
Público, jogadores, treinadores, dirigentes, todos quantos se sentem
pretensamente lesados, aproveitam os erros mais insignificantes para lançar
ataques de toda a espécie, provocando o descrédito da arbitragem e da causa em
ela se integra! E o pobre Árbitro, qual inocente arrojado às feras, nos circos
romanos, fica entregue ao desenrolar dos acontecimentos, temente de vir a
sofrer a consequência das influências que se movem contra ele. Este é, quanto a
mim, o pior mal de que os Árbitros têm que lamentar-se. É frequente ver acusar
este ou aquele Árbitro de falta de personalidade ou de autoridade. A verdade é
que os acusadores, em grande parte dos casos, deviam ser réus, esquecidos como
se mostram, na maioria das vezes, de que as causas pelas quais condenam os
Árbitros são da sua própria culpa pelo nulo apoio e protecção que lhes
dispensam”. Quanto saber se considerava
irregular a intromissão de entidade estranha à organização, Acácio Rosa,
proferiu: “A organização não as pode admitir
quando não seja para ajudar a remediar o que estiver mal na medida que todos o
ambicionamos. A melhor forma de elevar o nível das arbitragens é contribuir
para dignificar os Árbitros não está em restringir-lhes a autoridade e pôr em
dúvida a sua personalidade de homens do desporto. Pelo contrário, o Árbitro
carece de absoluta liberdade de acção para dirigir e ser obedecido”.
Justifica-se o atraso de duas
semanas que se verificou na sua distribuição, por entrega tardia de
colaboração. Regista-se e saúda-se o recebimento das revistas do Sporting Clube
Olhanense e do Clube Desportivo da Cova da Piedade. Deseja-se a Artur
Agostinho, novo director do jornal Record, as maiores felicidades, assim como o
seu antecessor Prof. Fernando Ferreira pelas atenções que dispensou ao Boletim.
Com alguma ironia dá-se conta que, perante a determinação da FIFA que obriga a
que o Árbitro actue “quando um livre estiver para ser marcado, qualquer jogador
que se mexer ou tentar distrair um adversário será punido com advertência (!?),
o juiz da partida teria de fazer incidir a sua atenção sobre todos os jogadores
adversários, e para isso o lugar ideal seria o de se instalar na bancada, onde
mais facilmente o seu ângulo de visão poderia abarcar toda a área onde foi
cometida a infracção… Quanto à presença na televisão para esclarecer e divulgar
as regras do jogo de futebol entende-se ser benéfica pelo alcance que se
pretende atingir junto do grande público, jogadores, treinadores e todos
aqueles interessados no futebol. Agradece-se a Alves dos Santos, jornalista,
cuja presença no programa tem sido benéfica e importante.
-DR. ANTÓNIO DA SILVA PITTA-
REGRAS DO FUTEBOL DE 5 - António Gonçalves Rebelo, de
Viseu, dá conta que nos campeonatos realizados na sua terra as regras não
iguais às que foram divulgadas no Boletim, apontando as seguintes: 1-O campo
não tem zona vedada atrás da baliza. 2-A área do guarda-redes tem 4 metros de
raio e não 5,40 mts. 3-Proibem a entrada dos jogadores na área do guarda-redes
adversário. 4-Têm um limite de substituições. 5-Permite o pedido de tempo. 6-O
jogador que cometer cinco faltas técnicas, além dos castigos correspondentes,
será expulso por cinco minutos. 7-Dentro da área de baliza, o guarda-redes não
pode passar a bola a qualquer companheiro que nela se encontre. 8-O
guarda-redes não pode jogar a bola fora da sua área, quer no decorrer do jogo,
quer na execução de livres. Contudo, a Federação Portuguesa de Futebol emitiu
uma circular a estabelecer as normas (oficiais e uniformes) para serem
cumpridas pelas Associações Distritais, conforme determinação da Direcção-geral
da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar que exige autorização da
Federação na realização de qualquer torneio, cujo regulamento terá de ser
apresentado, assim como limita a idade mínima para jogadores e obriga a
adequada inspecção médica. Proíbe, ainda, que os praticantes participem no
mesmo dia em mais de que uma partida. Por fim fixa a duração dos tempos de cada
jogo, de harmonia com as idades dos atletas, como se descreve: de 12 a 15 anos,
25 minutos, duas partes de 12 minutos e 30 segundos. De 16 e 17 anos, 30
minutos, divididos em duas fracções iguais. Mais de 18 anos, 40 minutos, 20
cada período.
-CARLOS CANUTO-
GALERIA DO PASSADO - Luís Gaspar, o responsável por
esta rubrica, destaca o Árbitro lisboeta Carlos Canuto Júlio de
Almeida (08.02.1898/09.03.1976), antes um exímio jogador do Carcavelinhos, no
qual se sagrou campeão nacional na época 1927/28, derrotando na final o
Sporting por 3-1. Na arbitragem atingiu alto padrão face aos conhecimentos e
experiência adquiridos enquanto atleta. Alcançou a internacionalização num
encontro em Valência, entre as selecções de Espanha e a Suíça (3-2), jogo disputado
no dia 28.12.1941.
TÍTULOS
Joaquim Campos assina “Os Segredos
da Arbitragem”. Carmo Lourenço escreve sobre “A colocação da bola para o
pontapé de canto”. No espaço “Recordar é Viver…” volta a ser publicado o
trabalho subscrito por João Banheiro, intitulado “Consequências de uma autoridade
exagerada e benefício de uma aplicação justa e compreensiva da lei no aspecto
disciplinar” que veio a receber o primeiro prémio do ciclo de palestras
promovido em 1957 pela então Comissão Central de Árbitros. André de Oliveira
Santos, Árbitro lisboeta, certifica “Arbitrar é tão difícil…”, trabalho que foi
noticiado na revista do Clube Desportivo Cova da Piedade. O Dr. António da
Silva Pitta desenvolve um tema muito querido à arbitragem “Ética”. O jornalista
desportivo do Porto, Carlos Martins, explica em “Um apito e duas bandeiras”, o
que é uma equipa de arbitragem. “O desporto profissional e o seu espectador”
produção extraída do Boletim do Sporting Clube Olhanense e da autoria de J.R.C.
Dourado.
HENRI FAUCHEUX – O ÁRBITRO
MASCOTE…
Pelo facto de ter dirigido o
encontro entre as selecções portuguesa e brasileira (1-0), Sporting-Dundee
(1-0) e Portugal-Bulgária (3-1), onde só se verificaram vitórias para as nossas
cores, é uma espécie de talismã.
ALTO CARGO NO GOVERNO PORTUGUÊS
O Dr. Armando Rocha proferiu
importantes declarações na cerimónia da sua tomada de posse como novo
responsável governamental no desporto.
HOMENAGEM A VALADÃO CHAGAS
A Federação Portuguesa de Futebol
ofereceu banquete de honra em veneração ao ex-Director-geral dos Desportos,
ilustrado com as duas últimas imagens.
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