O Boletim “O
Árbitro” nº 73 (Ano VII), de há precisamente cinquenta anos, divulgou, entre
outros, as seguintes matérias:
PRESIDENTES DA COMISSÃO
CENTRAL DE ÁRBITROS DE FUTEBOL- Face a uma observação de Manuel Melo Garrido ao
jornal A Bola, dá conta que o Tenente-Coronel Ribeiro dos Reis (n.
10.07.1896/f. 03.12.1961), na foto em baixo, foi o primeiro presidente da Comissão
Central, iniciando-se em 1942, fazendo o Boletim a devida rectificação neste
número.
MANUEL ALBERTO DA
SILVA MARQUES - Os Árbitros de Angola contribuíram para a campanha de
solidariedade promovida em favor deste infortunado camarada da Marinha Grande,
com a importância de 2.550$00, conforme cheque emitido em seu favor e que aqui
se reproduz no final do post. A Comissão Provincial local suportou as despesas
do movimento bancário.
DIFERENDO FEDERAÇÃO
PORTUGUESA DE FUTEBOL/COMISSÃO CENTRAL DE ÁRBITROS DE FUTEBOL – Esta última
entidade teve nos dias 10, 11 e 13 Julho de 1963 reuniões de trabalho com dirigentes
das Comissões Distritais onde foram tecidas algumas considerações que a
hierarquia julgou serem susceptíveis de repúdio, emitindo, por isso comunicado
alusivo, chamando, ainda a atenção, para o facto da arbitragem não respeitar o
Decreto 32.946 (o qual poderá ser consultado em: http://www.dre.pt/pdf1s/1943/08/16200/04910499.pdf).
A Comissão Central reagiu dizendo, também através de extenso comunicado que não
só não insinuou o que a Federação diz ter sido produzido, como adianta estar
dentro dos parâmetros que a lei exige.
A ARBITRAGEM E OS
SEUS PROBLEMAS – Chega-se ao fim desta rubrica com os depoimentos de três
gradas figuras do desporto-rei Vítor Santos (na imagem), jornalista de A Bola,
Coronel Aviador José Bentes Pimenta, antigo jogador, e Carlos Queiroga Tavares,
dirigente. Às questões colocadas de que “devem os Árbitros continuar a dispor
de poderes discricionários que a lei lhes faculta em questões de facto?” e “Ou
carece-se de constituir outra entidade que julgue os próprios juízes e se
pronuncie sobre a regularidade e honestidade do seu trabalho?
Respondeu o primeiro:
“Seria a morte do futebol optar pela única alternativa possível: retirar ao
Árbitro toda ou parte da sua autoridade e passar a situá-lo como juiz no seio
ou, melhor dizendo, na base de uma organização piramídica de vários graus da hierarquia a pontos de se ter um
tumultuário despique de autoridade em relação à interpretação e cumprimento das
leis do jogo. Está a ver-se o que acontecia se se resolvesse criar juízes para
os juízes, quer dizer fiscais para os Árbitros, fiscais para os fiscais dos
Árbitros, ficais para os fiscais dos fiscais dos Árbitros e assim
sucessivamente… até ao infinito. Seria o caos, o tumulto, a confusão, numa
Babel de interesses que podia levar ao requinte de se passar a ganhar um jogo
de futebol “por bula” ou por “despacho ministerial” ou, ao menos, “por cunhas”
como se ganha um concurso ou se fica aprovado num exame”. Apresenta quatro
soluções para melhorar a função: “1. Melhor remuneração do seu trabalho. 2. Uma
organização técnica do sector, com dotações orçamentais que lhe permitam
melhorar os Árbitros, segundo processos convenientes a cargo de especialistas e
de “homens do futebol”, mormente antigos jogadores que “andaram lá dentro”… 3.
Revisão do processo de nomeação dos Árbitros com dezenas de condicionalismos e
limitações que vão desde a cor clubística à afinidade regional, a contrariarem
a descriminação qualitativa, eterna lei da vida, que é combatida em vez de
atacada pela organização dos Árbitros. 4. Combate à dispersão dos poucos
valores acima da média por equipas em que se cria, em vez da camaradagem,
rivalidade egocêntrica e narcisista.”
Bentes Pimenta disse:
“Só com indivíduos bem formados se consegue um somatório de todas as qualidades
para o bom desempenho da missão de arbitrar, mas não é difícil compreender que
esses valores escasseiem, um tanto pela dificuldade do recrutamento, outro
tanto pelo fraco poder de assimilação das obrigações impostas pela função e
ainda porque nem todos estão dispostos a expor-se a coisas desagradáveis que a
parca remuneração atribuída à prática da arbitragem não compensa de maneira
alguma. Não oferece dúvidas que possuímos Árbitros que dispões do tal conjunto
de qualidades extras. O que os afecta é o ajustamento do critério de julgamento
dos vários casos com o parecer de cada um dos sectores da assistência. O
público está mal preparado desportivamente e os Árbitros é que pagam as culpas.
Ao contrário do que muitos pensam a autoridade do Árbitro carece de ser
reforçada e não reduzida. Será pouco tudo o que se faça neste sentido. A
dificuldade está em remediar males que vêm de longe que aumentam na medida em
que os dias, os meses e os anos vão sucedendo-se uns aos outros sem se
encontrar a solução ideal. Há que realçar as dificuldades e responsabilidades
que envolvem a missão do Árbitro para, em contrapartida, se obter a protecção
adequada por parte da opinião pública e dos dirigentes e demais responsáveis,
para salvaguarda do prestígio da arbitragem de modo a não ser deturpada a
finalidade das competições. Assim, para que o nível da arbitragem se torne cada
vez mais elevado é indispensável que a organização adopte as medidas tendentes
a zelar os interesses e a dignidade dos Árbitros, fortalecendo-lhes o poder que
dimana da própria lei para que a autoridade do Árbitro nunca seja afectada,
como já tem sido tentado ao sabor de certas conveniências.”
Queiroga Tavares,
expressa: “Em primeiro lugar entendo que os Árbitros devem continuar a dispor
de todos os poderes que a lei lhes faculta, e em todas as questões, seja qual
for a sua natureza. Defender um critério diferente seria contribuir para
aumentar a confusão e acabaríamos por não saber a que lei deveríamos obedecer.
Facilitar em vez de complicar – eis o que se impõe a bem do jogo e dos seus
intervenientes.” E quanto às condições a que o Árbitro deve obedecer para
merecer essa designação: “Antes de mais, não concebo a existência de Árbitros
sem um perfeito conhecimento das leis do jogo e que não saibam ser justos na
sua aplicação. Em segundo lugar há que exigir-lhes boa forma física, de modo a
poderem acompanhar o jogo sem perda de reflexos rápidos, devido a fadiga. Por
último, por agora, entendo que o Árbitro deve ser perfeito na redacção dos seus
boletins, usando de uma clareza de forma a não suscitar erradas interpretações.
Além disso, deve revelar coragem e consciência quando tiver que confessar qualquer
erro ou lance mal interpretado, excluindo, completamente do seu pensamento o
receio de possíveis sanções em que possa incorrer. Isto é, o Árbitro deve ser
fiel à verdade, sempre fiel à verdade.” Quanto a possível entidade que possa
controlar o Árbitro, finaliza: “Não é bem assim. O Árbitro deve ser a única
autoridade intérprete da lei dentro do campo, mas isso não impede que os seus
actos sejam vigiados, até para a organização se assegurar de quais são os
Árbitros credores da sua maior confiança. Com essa finalidade creio que a Comissão
Central de Árbitros e as comissões distritais continuam a ter os seus delegados
aos jogos e a receber deles circunstanciados relatórios sobre a acção de cada
um e conforme as arbitragens são ou não bem conduzidas. Considero bastante útil
a continuação de tal prática que, de certo modo, impõe aos Árbitros como que um
refreamento das suas atitudes para além daquilo que a lei lhes faculta.”
TRATADO ILUSTRADO DAS
LEIS DE FUTEBOL – Acusa-se a recepção do primeiro volume desta importante obra
da autoria do Professor Marques de Matos, enaltecendo-se as suas 443 páginas de
temas tão importantes, como as leis do jogo.
António
Augusto Santos, apresenta um excelente e exaustivo trabalho sobre a conversão
das medidas inglesas para as latino-europeias, utilizadas no futebol. Álvaro
Santos (na foto de baixo), através de “Peço a palavra”, diz de sua justiça
quanto à independência que deve existir no seio da arbitragem, logo será
benéfica a continuidade da Comissão Central de Árbitros. O “Desporto Amador” é
o excelente e prolongado artigo assinado pelo Prof. Tavares Júnior. Carmo
Lourenço, subscreve: “Nunca se sabe demais”. “Na hora da retirada” Carlos
Martins aborda a retirada de dois internacionais (Abel da Costa e António
Calheiros). José Manuel da Silva, de Lisboa, chama a si o título “Verdade”.
O CASTIGO – HUGO
SILVA brinda-nos com este conto, adaptado da revista Gato Preto: “Chegara o
momento, o terrível momento. E ele, coitado, ali estava imóvel, aterrado,
vencido pela tremenda injustiça que se ia cometer. Porque ele, afinal, nada
tinha feito. O verdadeiro culpado, via-o ele ali próximo, cabisbaixo,
arrependido do gesto que cometera. Um frio suor lhe encharcava o rosto e
escorria para a suja camisola. E ele, o pobre, nada podia fazer, nada! Queria
gritar, queria dizer: I-NO-CEN-TE!... Mas quem se importaria com a sua
angústia, quem lhe poderia dar uma palavra de conforto? Ninguém! E ele só,
naquela imensidão, assistia alucinado aos terríveis preparativos. Por fim, veio
o lúgubre sinal. A multidão, para lá do alto muro branco, ficou como que
sufocada. No ar, um silêncio de morte! O executor aproximou-se a passos lentos
e o tiro partiu seco, impiedoso… Um suspiro de alívio perpassou por todo o
campo: o penalti passara ao lado do poste…”
TAÇA DE PORTUGAL –
Eis a equipa de arbitragem do Porto que dirigiu o 23º jogo final desta
competição, entre as equipas do Sporting Clube de Portugal e Vitória Sport
Clube, de Guimarães (4-0), realizado em 30.06.1963, no Estádio Nacional:
Árbitro, Clemente Henriques. Assistentes, Pinto Ferreira (esquerda) e Armando Faria.
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