quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

OS INOFENSIVOS…




Há legiões de seres que, à primeira olhadela que lhe lançamos, nos dão a impressão nítida de que são inofensivos, incapazes mesmo de compor por frases de recortes sibilinos ou espirituosos. No entanto, a maior parte dessas criaturas são bifrontes que carregam nos espíritos doses pesadas de veneno. Por vezes, são terríveis, agentes de confusas amarguras, dores, angústias e tristezas. Os atingidos por esses venenos, vêm-se, sentem-se subitamente enredados numa teia habilmente entretecida pelas costas. Os inofensivos-perigosos são esses boateiros de profissão, que alardeiam conhecimentos vários e, afinal, vivem despreocupados, no febril entusiasmo de derruir seja o que for. São mefíticos, soberbos, gabarolas, treinados nos salamaleques desconcertantes. Viram-se para um lado e para o outro, com uma facilidade surpreendente, curvam-se, erguem-se em bicos de pés e, em “pontas” fazem piruetas fantásticas. Ficamos, em presença de tão hábeis farsantes, esmagados pela admiração que nos toma…

Logo, porém, uma advertência misteriosa nos sacode. É como se recebêssemos um choque eléctrico. Passamos a observar, calados, oprimidos pelo desplante que triunfa. Não se aponta este ou aquele: acaso os histriões de feira não podem contar-se às dúzias?! Contudo, também têm os seus ouvintes. Não difamam nem ofendem é certo, pelo contrário, só enaltecem as virtudes de certas ervas ou raízes, que dão saúde, que são fontes de vida.

Terríveis, são os inofensivos na aparência. No entanto reconheçamos também isto: - a Verdade é uma luz que jamais se apagará! Pode encobrir-se (como uma estrela recoberta por nuvem pesada, como clareira onde sombras de presságio se abatem repentinamente!) mas volta a brilhar, a cintilar, a animar almas e corações.

Assim deixemos que as legiões dos malvados inofensivos, qual densa procissão de gafanhotos tontos, continuem no seu perseverante afã de insinuar, de “dizer” de propalar, seja o que for! Haverá quem goste de ouvir os eternos palradores, mais matreiros do que os que representam farsas amorosas?! Sem dúvida! Assim como há quem não veja, apenas oiça. E há quem oiça muito mal! Por isso não tomamos conhecimento. Possuem uma vaidade oca ou uma ignorância bem disfarçada.

Se a luz artificial ilumina coisas, só a luz do espírito iluminará as consciências. Portanto, deixemo-los falar, porque enquanto a “caravana passa, os cães somente ladram…”

Autor: José Manuel Silva (na imagem), Árbitro filiado na Comissão Distrital da Associação de Futebol de Lisboa.
Transcrito de “O Árbitro”, Março de 1964…
Este tema, escrito há quase cinquenta anos, está actualizadíssimo…

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