Há legiões de seres que, à primeira olhadela que lhe
lançamos, nos dão a impressão nítida de que são inofensivos, incapazes mesmo de
compor por frases de recortes sibilinos ou espirituosos. No entanto, a maior
parte dessas criaturas são bifrontes que carregam nos espíritos doses pesadas
de veneno. Por vezes, são terríveis, agentes de confusas amarguras, dores,
angústias e tristezas. Os atingidos por esses venenos, vêm-se, sentem-se
subitamente enredados numa teia habilmente entretecida pelas costas. Os
inofensivos-perigosos são esses boateiros de profissão, que alardeiam
conhecimentos vários e, afinal, vivem despreocupados, no febril entusiasmo de
derruir seja o que for. São mefíticos, soberbos, gabarolas, treinados nos
salamaleques desconcertantes. Viram-se para um lado e para o outro, com uma
facilidade surpreendente, curvam-se, erguem-se em bicos de pés e, em “pontas”
fazem piruetas fantásticas. Ficamos, em presença de tão hábeis farsantes,
esmagados pela admiração que nos toma…
Logo, porém, uma advertência misteriosa nos sacode. É como
se recebêssemos um choque eléctrico. Passamos a observar, calados, oprimidos
pelo desplante que triunfa. Não se aponta este ou aquele: acaso os histriões de
feira não podem contar-se às dúzias?! Contudo, também têm os seus ouvintes. Não
difamam nem ofendem é certo, pelo contrário, só enaltecem as virtudes de certas
ervas ou raízes, que dão saúde, que são fontes de vida.
Terríveis, são os inofensivos na aparência. No entanto
reconheçamos também isto: - a Verdade é uma luz que jamais se apagará! Pode
encobrir-se (como uma estrela recoberta por nuvem pesada, como clareira onde
sombras de presságio se abatem repentinamente!) mas volta a brilhar, a
cintilar, a animar almas e corações.
Assim deixemos que as legiões dos malvados inofensivos, qual
densa procissão de gafanhotos tontos, continuem no seu perseverante afã de
insinuar, de “dizer” de propalar, seja o que for! Haverá quem goste de ouvir os
eternos palradores, mais matreiros do que os que representam farsas amorosas?!
Sem dúvida! Assim como há quem não veja, apenas oiça. E há quem oiça muito mal!
Por isso não tomamos conhecimento. Possuem uma vaidade oca ou uma ignorância
bem disfarçada.
Se a luz artificial ilumina coisas, só a luz do espírito
iluminará as consciências. Portanto, deixemo-los falar, porque enquanto a
“caravana passa, os cães somente ladram…”
Autor: José Manuel
Silva (na imagem), Árbitro filiado na Comissão Distrital da Associação de Futebol de Lisboa.
Transcrito de “O
Árbitro”, Março de 1964…
Este tema, escrito há
quase cinquenta anos, está actualizadíssimo…
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