quarta-feira, 23 de julho de 2014

ARMANDO MARQUES - FALECEU O DECANO DA ARBITRAGEM BRASILEIRA




Armando Nunes Castanheira da Rosa Marques, de seu nome completo, nasceu em 6 de Março de 1930 no Rio de Janeiro. Actuou profissionalmente de 13 de Agosto de 1961 a 8 de Maio de 1977 e ostentou a insígnia FIFA de 1961/1962 a 1977/1978.
Esteve presente em duas fases finais de campeonatos mundiais. Em 1966, em Inglaterra (16 selecções), participou em dois jogos.
No dia 15.07.1966, em White City (Londres), como Árbitro Assistente no Uruguai-França, (2-1). Em 20 de Julho de 1966, em Villa Park (Birmingham), como Árbitro principal no Alemanha Federal-Espanha (2-1), perante 51.000 espectadores. Advertiu 2 jogadores.
Em 1974-Alemanha (16 selecções), actuou em 4 partidas. Como Árbitro principal. No dia 26.06.1974, em Rhein (Dusseldorf), no Alemanha Federal-Jugoslávia (2-0), e exibiu o cartão amarelo por 4 vezes. Espectadores presentes: 66.085. Como Árbitro Assistente: 15.06.1974, no Estádio Olímpico de Munique, Itália-Haiti (3-1); 22.06.1974, em Volkspark (Hamburgo), no Alemanha Democrática-Alemanha Federal (1-0). 30.06.1974, em Wald (Frankfurt), no Polónia-Jugoslávia (2-1).
Com a devida vénia transcrevo o texto do meu bom e nobre amigo brasileiro Carlos Eugénio Simon, Árbitro FIFA jubilado, de Rio Grande do Sul:
“Quando comecei minha carreira de árbitro de futebol, lá pelos idos de 80 em Porto Alegre, convivi com muitos ex-árbitros e dirigentes que já haviam trabalhado e conheciam o Armando Marques. Eram eles: José Barreto, Nestor Ludwig, Agomar Martins, Zeno Escobar Barbosa entre outros. O nome do Armando era referido sempre com muito respeito e reconhecimento por sua grandeza.
De acordo com os mais experientes, Armando Marques tinha sido um excepcional árbitro de futebol, mas de difícil trato. Tinha suas manias, porém era um profissional de competência incomparável, sempre muito respeitoso e rigoroso na disciplina. Antes de conhecê-lo, já havia lido muita coisa sobre sua carreira. Sabia que havia sido árbitro de duas Copas do Mundo (1966 e 1976) e de vários jogos importantes. Tinha em sua conta 1689 jogos apitados.
Em 1997, enfim, o conheci pessoalmente. Na época, já era da Fifa e ele assumiria a comissão de arbitragem da CBF [até 2005]. De cara, me disse: "vi seu jogo Santos x Flamengo e não gostei", a partida a que se referia era a Copa dos Campeões, disputada em Cuiabá/MT. Ele era direto, sem meias palavras. Não estava na condição de coordenador para agradar A ou B, mas para que a arbitragem fosse respeitada e digna. Assim começou uma amizade que duraria até seus últimos dias. O grande ex-árbitro, aos 84 anos, faleceu na madrugada de quinta-feira passada (16/07/2014), no hospital Miguel Couto, na Zona Sul do Rio de Janeiro, de insuficiência renal.
Armando comandou a arbitragem brasileira por 10 anos e foi membro da comissão da Conmebol também. Na minha opinião, foi o melhor presidente da comissão de árbitros da CBF. Era sincero, não aceitava vetos nem presentes, sempre defendia o árbitro publicamente. Depois, frente a frente, cobrava quando necessário. Mestre à moda antiga, não admitia contestações, porém defendia a dignidade na profissão até às últimas consequências, era um sujeito leal, honesto e amava a arbitragem. Segundo ele, "o árbitro tem que ter autoridade, não se deixar intimidar, e conhecer as regras do jogo".
Em um momento que estive com Pelé, o rei se referiu à educação do Armando que dirigia-se a ele da seguinte forma: "seu Edson, o sr. está advertido". Chamava-o sempre pelo nome, evitando qualquer tipo de aproximação que pudesse deixar margem de dúvida na aplicação da regra. Inúmeras são as histórias relatadas por ex-jogadores e colegas de profissão que ressaltam a boa educação e o humor oscilante do grande mestre.
Outra qualidade do ex-árbitro foi sua memória invejável. Sabia nomes, sobrenomes, lembrava de datas e episódios memoráveis. Era respeitado no Brasil e no exterior nas diversas funções que exerceu, inclusive como instrutor e membro de comissão de arbitragem.
Nos últimos dias, Armando estava muito debilitado, pois se alimentava mal, segundo as informações de sua secretária. Com a doença avançada, Cláudio, um funcionário da CBF, me procurou com a ideia de expor seu acervo referente à arbitragem. Achei ótima a ideia e ficamos de conversar para ver como viabilizá-la. A última conversa que tivemos foi há uma semana, pouco antes dele nos deixar. Falamos sobre as arbitragens da última Copa do Mundo, dizia-me ele: "Simon não gostei das arbitragens, faltou autoridade aos árbitros. Árbitro tem que ser corajoso. Não pode se deixar intimidar".
Mostrou-se triste por não ter o reconhecimento que merecia pelos serviços prestados ao futebol. Sou muito grato a tudo que esse grande ex-árbitro nos ensinou.
Podemos afirmar, sem dúvida alguma, que o exemplo desse profissionalismo deve fazer escola para o bem da arbitragem e do futebol.
Muito obrigado, Armando por esse legado.
Descanse em paz.”

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