Admirador
e seguidor confesso de José Vilhena, um Homem ímpar e inigualável, curvo-me
perante a sua memória, como preito de sentido agradecimento pelo muito que
contribuiu para a minha formação! Este profundo relacionamento foi logo após
ter publicado a sua primeira obra “ESTE MUNDO E O OUTRO”, em 1956 e permaneceu
até ao seu último trabalho! Possuou toda a sua produção literária!
José Alfredo
de Vilhena Rodrigues foi escritor, pintor, cartoonista e humorista português. Nasceu
em Figueira de Castelo Rodrigo (Guarda), em 7 de Julho de 1927. Frequentou a
Escola de Belas-Artes do Porto, não chegando a concluir o curso de arquitectura.
Fundador de imensas revistas humorísticas,
com destaque para a Gaiola Aberta, morreu ontem, dia 3, em Lisboa, no Hospital
de S. Francisco Xavier, vítima de doença prolongada.
O seu velório realiza-se hoje, domingo, a partir das 18H00
na Basílica da Estrela, em Lisboa, estando o funeral previsto para as 11H00 de amanhã,
segunda-feira, para o cemitério do Alto de S. João, onde se realiza a cerimónia
de cremação, uma hora depois.
“José Vilhena foi o autor incontornável de três ou quatro
décadas do humor em Portugal. A sua obra, na tradição de Gil Vicente, Bocage ou
Bordalo Pinheiro, é uma crónica dos tempos. Umas vezes pela crítica de
costumes, outras vezes no olhar sobre a política, outras sobre a Igreja e quase
sempre sobre a mulher", afirma o seu sobrinho Luís Vilhena.
Entretanto, com a devida vénia do sítio Granito (e com data
de14.10.2004), aqui vão mais algumas referências de quem muito admirava!
Foi esta semana distinguido, com o único prémio ‘sério’ de O Inimigo Público, uma das vozes considerada mais incómoda da segunda metade do século XX. Franco atirador da literatura, humorista temido, pintor, José Vilhena semeou milhões de gargalhadas e fez da ironia uma arma de arremesso contra a hipocrisia. Apesar de já ter sido processado seis vezes depois do 25 de Abril, a voz de Vilhena manteve-se incisiva e crítica perante a realidade que nos cerca. Salazar, Caetano, Sá Carneiro, Eanes, Soares, Cavaco, Guterres, Santana Lopes, entre muitos outros, são a sua matéria de criação. Um dia, com o brilho nos olhos próprio de quem conhece o valor da palavra, disse-me que a política é uma porca que, de quatro em quatro anos, pare uma ninhada de deputados. Talvez porque, segundo Vilhena, um bom humorista está muito ligado a uma crítica política, a uma crítica de costumes e a uma crítica dos poderosos.
Onde é que o humorista vai buscar inspiração para os seus trabalhos?
Eu vivo muito à custa da televisão. A televisão é um motivo de inspiração. Hoje a televisão é o poder, nós já não somos governados por um governo ou pela Assembleia da República, nós somos governados pela televisão. Hoje a televisão é quem manda neste país.
E qual é o laboratório do humorista?
Muitas vezes é a própria vida, as relações que se estabelecem, outras vezes são as coisas que se lêem.
A ideia é um relâmpago ou é trabalhada?
Às vezes, a ideia surge por acaso, outras vezes é preciso trabalhar a ideia. As coisas não surgem por inspiração divina. O treino diário acaba por ser fundamental.
Mas afinal quem é o José Vilhena?
Nasci em Figueira de Castelo Rodrigo. Vim para Lisboa muito novo onde fiz o terceiro ano do liceu, depois mudei-me para o Porto onde concluí a escola. Faço a Faculdade de Belas Artes no Porto, mudo-me outra vez para Lisboa, onde concluo o quarto ano de Arquitectura. É nesses anos que começo a trabalhar nos jornais e a fazer bonecos, até hoje.
As pessoas têm ideia do José Vilhena como o verdadeiro anarquista. Esta ideia corresponde à verdade?
Corresponde à realidade e eu sei que é essa a imagem que o público tem de mim.
Humorista, ilustrador, escritor, editor e pintor. De todas estas facetas, qual é que prevalece?
Se eu fosse muito rico só pintava. A minha grande paixão é a pintura.
Quantas vezes é que foi processado?
Já depois do 25 de Abril fui processado 5 ou 6 vezes, mas o processo maior foi o da Carolina do Mónaco, em que ela pedia 75 mil contos, no entanto, felizmente, venci em tribunal. Depois tive outros, como o da Margarida Marante, o da Caras Lindas, da Bárbara Guimarães e da Catarina Furtado.
Acha que o português lida mal com a ironia?
Eu acho que não. A maior parte dos portugueses tem muito fair-play. Eu chateei muitos políticos, como o Soares e o Cavaco. Por exemplo, o Mário Soares chateei-o de todas as maneiras e feitios e até lhe dediquei um livro. Soares escreveu-me a agradecer.
O que é para si um bom humorista?
Um bom humorista está muito ligado à crítica, a uma crítica política, a uma crítica de costumes e a uma crítica dos poderosos. Os poderosos têm a mania das grandezas e tudo isso é destruído com o humor. Quando se ridiculariza uma pessoa toda aquela proa vai por água abaixo. Foi o que aconteceu com essas vedetas da SIC que estão convencidas que são supra-sumos da inteligência portuguesa. Quando são ridicularizadas, chateiam-se, é claro.
Uma das personagens-tipo que José Vilhena criou foi a do censor. A censura incomodava-o muito?
Incomodava toda a gente, se bem que a censura nas revistas humorísticas dava uma certa abertura que não dava nos jornais. Acontecia muitas vezes eu fazer um boneco para o Diário de Lisboa e ser cortado pela censura. E depois passar no Mundo Ri.
Curiosamente o Mundo Ri que era composto e impresso nas oficinas do Jornal do Fundão...
Não só o Mundo Ri. Também os meus primeiros livros foram compostos e impressos nas oficinas do Jornal do Fundão. Eu ia lá muitas vezes por causa disso.
Nessa revista também chateava muito os padres...
Eu acho que a Igreja sempre foi responsável por uma quantidade de atrocidades através dos tempos. Nunca se há-de livrar das patifarias que fez ao longo de dois mil anos. A Igreja católica era um apoio do Estado Novo, era um apoio do fascismo.
José Vilhena rodou um filme no Fundão. Como é que se chamava o filme?
Chamava-se O Quinto Pecado.
Qual é que era o «quinto pecado»?
A história do filme andava à volta de uns tipos que só pensavam em comer, sem nunca o conseguirem. Era um filme burlesco que tentava misturar Charlot com Jacques Tati.
José Vilhena escreveu cerca de oitenta livros. Qual é que é o seu preferido?
Gosto muito da trilogia da História da Pulhíce Humana. Mas tenho orgulho em todos os livros que escrevi.
Sendo o José Vilhena um homem de muitas palavras, qual é a palavra que melhor fala de si?
Trabalho. Só vejo a palavra trabalho.
Eu vivo muito à custa da televisão. A televisão é um motivo de inspiração. Hoje a televisão é o poder, nós já não somos governados por um governo ou pela Assembleia da República, nós somos governados pela televisão. Hoje a televisão é quem manda neste país.
E qual é o laboratório do humorista?
Muitas vezes é a própria vida, as relações que se estabelecem, outras vezes são as coisas que se lêem.
A ideia é um relâmpago ou é trabalhada?
Às vezes, a ideia surge por acaso, outras vezes é preciso trabalhar a ideia. As coisas não surgem por inspiração divina. O treino diário acaba por ser fundamental.
Mas afinal quem é o José Vilhena?
Nasci em Figueira de Castelo Rodrigo. Vim para Lisboa muito novo onde fiz o terceiro ano do liceu, depois mudei-me para o Porto onde concluí a escola. Faço a Faculdade de Belas Artes no Porto, mudo-me outra vez para Lisboa, onde concluo o quarto ano de Arquitectura. É nesses anos que começo a trabalhar nos jornais e a fazer bonecos, até hoje.
As pessoas têm ideia do José Vilhena como o verdadeiro anarquista. Esta ideia corresponde à verdade?
Corresponde à realidade e eu sei que é essa a imagem que o público tem de mim.
Humorista, ilustrador, escritor, editor e pintor. De todas estas facetas, qual é que prevalece?
Se eu fosse muito rico só pintava. A minha grande paixão é a pintura.
Quantas vezes é que foi processado?
Já depois do 25 de Abril fui processado 5 ou 6 vezes, mas o processo maior foi o da Carolina do Mónaco, em que ela pedia 75 mil contos, no entanto, felizmente, venci em tribunal. Depois tive outros, como o da Margarida Marante, o da Caras Lindas, da Bárbara Guimarães e da Catarina Furtado.
Acha que o português lida mal com a ironia?
Eu acho que não. A maior parte dos portugueses tem muito fair-play. Eu chateei muitos políticos, como o Soares e o Cavaco. Por exemplo, o Mário Soares chateei-o de todas as maneiras e feitios e até lhe dediquei um livro. Soares escreveu-me a agradecer.
O que é para si um bom humorista?
Um bom humorista está muito ligado à crítica, a uma crítica política, a uma crítica de costumes e a uma crítica dos poderosos. Os poderosos têm a mania das grandezas e tudo isso é destruído com o humor. Quando se ridiculariza uma pessoa toda aquela proa vai por água abaixo. Foi o que aconteceu com essas vedetas da SIC que estão convencidas que são supra-sumos da inteligência portuguesa. Quando são ridicularizadas, chateiam-se, é claro.
Uma das personagens-tipo que José Vilhena criou foi a do censor. A censura incomodava-o muito?
Incomodava toda a gente, se bem que a censura nas revistas humorísticas dava uma certa abertura que não dava nos jornais. Acontecia muitas vezes eu fazer um boneco para o Diário de Lisboa e ser cortado pela censura. E depois passar no Mundo Ri.
Curiosamente o Mundo Ri que era composto e impresso nas oficinas do Jornal do Fundão...
Não só o Mundo Ri. Também os meus primeiros livros foram compostos e impressos nas oficinas do Jornal do Fundão. Eu ia lá muitas vezes por causa disso.
Nessa revista também chateava muito os padres...
Eu acho que a Igreja sempre foi responsável por uma quantidade de atrocidades através dos tempos. Nunca se há-de livrar das patifarias que fez ao longo de dois mil anos. A Igreja católica era um apoio do Estado Novo, era um apoio do fascismo.
José Vilhena rodou um filme no Fundão. Como é que se chamava o filme?
Chamava-se O Quinto Pecado.
Qual é que era o «quinto pecado»?
A história do filme andava à volta de uns tipos que só pensavam em comer, sem nunca o conseguirem. Era um filme burlesco que tentava misturar Charlot com Jacques Tati.
José Vilhena escreveu cerca de oitenta livros. Qual é que é o seu preferido?
Gosto muito da trilogia da História da Pulhíce Humana. Mas tenho orgulho em todos os livros que escrevi.
Sendo o José Vilhena um homem de muitas palavras, qual é a palavra que melhor fala de si?
Trabalho. Só vejo a palavra trabalho.
(excerto de trabalho publicado no Jornal do Fundão de 14-12-2002)
Obrigado. Já li uma tese universitária e uns vinte obituários, mais meia dúzia de entrevistas de Vilhena a semanários e revistas "de referência" e só aqui (e numa entrevista preciosa ao J Fundão, não referenciada antes em nenhures) encontrei um facto preciso sobre o curso completo (chamado "curso especial de arquitectura", 4 anos puxados em comparação com os de hoje...) e uma foto do filme de Vilhena, agora depositado na Cinemateca Portuguesa. Muito obrigado!
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