quinta-feira, 1 de outubro de 2015

NAQUELE TEMPO – OUTUBRO DE 1965 – EPISÓDIO 98



(nota: último post)
No órgão oficial da Comissão Central de Árbitros de Futebol, entidade independente e autónoma da hierarquia federativa, o Boletim O ÁRBITRO, o centésimo exemplar, publicado há cinquenta anos (!), os temas em destaque foram:
Gameiro Pereira assina um apontamento sobre o comportamento dos jogadores e a acção dos Árbitros perante os seus desatinos quando prevaricam em atitudes reprováveis que lesam o futebol, atingindo adversários física e moralmente. Os Árbitros devem actuar, rigorosamente, contra tais devaneios exercendo as funções que lhe são atribuídas pelas leis do jogo e a regulamentação inerente, punindo as faltas que são cometidas e não “assobiar para o lado”, como, infelizmente, alguns Árbitros o fazem, principalmente os mais categorizados. Nunca poupar as “estrelas” da acção disciplinar adequada, quando o jogador menos conhecido é logo “contemplado”.
Diogo Manso, de Braga, é de opinião de que se poderia aproveitar os conhecimentos adquiridos pelos frequentadores do III Curso Nacional de Aperfeiçoamento e Actualização da Arbitragem, evento que decorreu nas instalações do INEF, na Cruz Quebrada, conhecimentos esses que poderiam ser transmitidos em todas as Comissões Distritais de Portugal. Fazer-se um programa detalhado, com o devido enquadramento e os que foram alunos viravam formadores perante os Árbitros do seu Distrito, ouvindo as recomendações, decisões e demais para aplicarem nos seus desempenhos nos jogos locais. Seria, garante Diogo Manso, uma excelente maneira de servir o futebol e a arbitragem em particular.
1.Afonso Rodrigues da Costa, de Viseu, regressou do cumprimento do serviço Militar em África. 2.Estão de luto: André Nascimento Grego Roque, de Setúbal, pela perda de seu irmão; José Alves de Figueiredo, de Viseu, falecimento do seu sogro; Francisco Nogueira, de Lisboa, morte de seu filho. 3.Transferências: Manuel António Pereira Silvestre, de Porto Amélia para Lourenço Marques (Moçambique); Carlos Monteiro, da Guiné, para Moçambique; Eliseu Bettencourt, de Angra do Heroísmo, para o Canadá; Manuel Segão Bergano, de Lisboa, para a Guiné. António da Costa Barros Araújo, de Vila Real, e Fernando Manuel da Costa Sacramento, de Lisboa, ambos para Moçambique; António Afonso dos Santos, de Setúbal, para Moçambique; Francisco Rosa Costa, de Setúbal para Lisboa. 4.Eduardo Gouveia, dirigente da Comissão Central foi submetido a intervenção cirúrgica. 5.De parabéns: José Santos Casaleiro, de Coimbra, pelo nascimento de seu filho; Manuel Maria Amorim Ferreira da Costa, de Aveiro, pelo aparecimento de sua filha. 6.Silvino da Silva Teixeira, de Lisboa para Paris, por questões profissionais. 7.De férias: João Quintela Leitão, de Huambo (Angola) está em Lisboa, assim como Mário da Piedade Monteiro, de Luanda; De Lisboa, Rafael dos Santos Cruz regressou a Lourenço Marques.
ÁRBITROS LICENCIADOS
João Gomes dá a conhecer que a Associação de Futebol do Porto não concedeu aos Árbitros jubilados o cartão de livre ingresso nos campos de futebol, afirmando que a conquista desta permissão não foi fácil, logo a sua atribuição não é um favor mas sim um direito conseguido com muito sacrifício, pois andar na arbitragem anos e anos e ver os seus privilégios reduzidos ou suprimidos, não tem sentido algum!
A FIFA E O SEU IMPÉRIO
Joaquim Campos continua a dissertar sobre a entidade mundial que mais países alberga no seu seio, dando conta de algumas situações que não a abonam, como a suspensão da Federação colombiana em 25 de Outubro de 1951, sendo acusada de piratear o seu futebol; a não inclusão da China, que não quis submeter-se às normas universais; o continente africano boicotou o mundial de 1966, retirando as suas equipas da fase de apuramento por a FIFA só considerar um representante deste continente, assim como da Ásia e Austrália, num total de 16 selecção na fase final.   
CONCLUSÕES DO III CURSO NACIONAL DE APERFEIÇOAMENTO
1.Lei VIII-O Começo do jogo: A escolha de campo deve ter sempre lugar no terreno de jogo. 2.Lei X-Marcação de pontos: Se no momento em que o jogador pontapeia a bola e a bota lhe saltar do pé a partida deve ser interrompida para: o jogador calçar-se e o Árbitro executar bola ao solo no local onde o atleta se encontrava na altura em que o facto se deu. 3.Lei XI-Fora de jogo de posição: Um jogador nesse posicionamento não deve ser punido a não ser que, no entender do Árbitro, esteja a intervir no jogo, na acção do adversário, ou procure tirar vantagem. 4.Lei XII-Faltas e incorrecções: Nas cargas, as zonas proibidas são: coluna vertebral, externo e axilas. Permitida: ombro. Distância a considerar, jogável, para efeitos de apreciação na carga “fora de tempo”, 2/3 metros. Se um jogador infringir intencionalmente com persistência as leis do jogo, o Árbitro deve orientar o seu trabalho da seguinte forma: Na primeira vez, avisa o jogador; na segunda, torna a avisá-lo, para, na terceira, adverte-o com o aviso de expulsão. Na quarta, expulsa-o do terreno de jogo. Até que a Comissão de Arbitragem da FIFA se pronuncie sobre se deve punir-se os guarda-redes que demoram intencionalmente, por tempo demasiado, o despacho da bola, mantém-se o que se encontra estabelecido anteriormente. 5-Lei XIII-Pontapés-livres: É válido que um primeiro jogador passe ou salte por cima da bola e um seu colega a reponha em jogo, admitindo-se tal facto como táctica do jogo.
1.Filipe Gameiro Pereira aborda o falecimento de Cid Gomes com temas científicos tratados em recentes cursos da FIFA pelos médicos especialistas da área do futebol. Sabe-se que a actividade desenvolvida pelos Árbitros é muito mais violenta do que a prática do jogo. Portanto, devem ter em conta que os esforços produzidos têm consequências nefastas se não se fizer um cuidado acompanhamento do controlo necessário à boa condição física, especialmente àqueles que tenham mais de quarenta anos de idade. 2.Também relata o que se verificou em Coimbra, em curso promovido pela Distrital local, onde a recolha das assinaturas dos Fiscais de Linha no Relatório do Jogo, deveriam ser apostas quando o documento estivesse preenchido pelo Árbitro e não antes, ou seja, com o impresso em branco. Esta situação, devidamente regulamentada, não deixa de causar alguma polémica pelas práticas seguidas.
1.”Ginástica para Árbitros”, por Prof. Tavares Júnior. 2.Divulgam-se os artigos 24 a 36 do Estatuto de Arbitragem. Carmo Lourenço, assina “Sul Americanos”. Mário Bravo escreve sobre “O respeito ao Árbitro”. O Padre Virgílio Ferreira continua a expor o seu trabalho “Ética e relações humanas”.
1.A UEFA leva a efeito uma nova competição destinada somente para jogadores amadores e conta com a participação dos seguintes países: Alemanha Ocidental, Áustria, Escócia, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Irlanda, Itália, Jugoslávia, País de Gales e Turquia. 2.Reuniram-se os Secretários-gerais das Federações europeias na Alemanha e foram muitos os assuntos abordados, dos quais se destacam os acordos com as televisões, formação de treinadores e arbitragem. 3.A UEFA determinou o prazo para se efectuaram as inscrições para o Torneio Internacional de Juniores, estando agendada uma reunião para tratar assuntos inerentes à categoria.  
ESPAÇO DA COMISSÃO CENTRAL DOS ÁRBITROS DE FUTEBOL
1.Aberta a inscrição para o quadro da 3ª categoria nacional. 2.Chama-se a atenção para a obrigatoriedade das equipas de arbitragem que actuem no estrangeiro contactarem as representações diplomáticas ou consulares portuguesas. 3.Avisa-se do extremo cuidado no preenchimento do relatório do jogo, pois não basta dizer que Árbitros foram alvo de injurias ou insultos. Têm de especificar as palavras proferidas.
1.Os capitães recusam-se a participar no sorteio do pontapé de saída. Como proceder? 2.Dois jogadores agridem-se fora do rectângulo de jogo. O que deve fazer o Árbitro? 3.Pode haver um jogador em posição de fora de jogo aquando da marcação de grande penalidade? 4.Na marcação de pontapé livre directo o Árbitro levanta o braço na vertical. É correcto? 5.Na execução de um pontapé livre indirecto o executante faz com que a bola bata no Árbitro e entre na baliza. O juiz validou o golo. Fez bem? 6.No lançamento mal executado o que deve ordenar o Árbitro.
1.O Comissão de Arbitragem da Associação de Futebol de Lisboa, para além de ter novos dirigentes (Francisco Retorta, presidente, e Hermínio Soares e Olímpio Cardoso, Luís de Jesus e Mário Ribeiro), mudou-se para a Avenida Almirante Reis, 40-A, primeiro andar, lado esquerdo, instalações que comportam a “Casa do Árbitro”. 2.Aníbal de Oliveira, de Lisboa foi escolhido para dirigir a partida entre o Racing de Estrasburgo e o Milão, com os seus colegas Álvaro Rodrigues de Coimbra e Aniceto Nogueira, do Porto. 3.Dá-se conta da criação do prémio constituído por apito de prata dourada para os Fiscais de Linha [hoje Árbitros Assistentes] que actuem na competição maior nacional. 4.O Boletim foi beneficiado com a quantia de dez mil escudos para adquirir mobiliário para a sala da redacção.
1.Caso: Em encontro amigável um jogador agrediu um adversário e o Árbitro. Que punição administrativa? Será a mesma como se verificasse em partida oficial: a irradiação!
2.Caso: Com o desafio a decorrer jogador é agarrado fora da área de grande penalidade do adversário e só é largado já bem dentro da zona de protecção aos avançados. Como resolver tecnicamente? A falta deverá ser marcada no local onde se iniciou a acção, ou seja, fora.
1.Árbitros internacionais em: Inglaterra, William Clements, Ernest Crawford, Kenneth Dagnall, James Finney, Kevin Howley, Mac Cabe e John Keith Taylor. Bélgica, Hubert Burguet, Marcel Decks, Franz Geluck, Joseph Hannet, André Hauben. Vital Loraux e Robert Schault. Itália, Giulio Campanati, Alessandro d’Agostini, Bruno de Marchi, Francesco Francescon, Concetto Lo Bello, Raul Righi e António Sbardella. Suiça, Anton Bucheli, Gottfried Dienst, Gilbert Droz, Karl Goeppel, Joseph Heymann, Otmar Huber e Karl Keller. 2.Denis Howwel, Árbitro inglês e Ministro do Governo foi criticado pelo Treinador do Cardiff City, acusando-o de parcialidade e manifesta má vontade para com o seu clube. 3.No Mundial de Inglaterra os Estádios terão cães-polícias para zelar e reforçar a desejada segurança. 4.Incrível! Na América o futebol é ainda a brincar, pois a primeira parte da partida tem 35 minutos enquanto a restante, cinquenta e cinco! 5.Em Moscovo um jogador depois de ter sido expulso cuspiu na cara do Árbitro. Resultado: quinze dias de prisão!
1.Francisco Guerra o conceituado Árbitro portuense dirigiu em tempos um jogo distrital, decisivo, entre o Felgueiras e o Gondomar. António Augusto Lima Fernandes, do primeiro clube, agrediu-o com um soco na cara que lhe causou ferimento. O assunto foi para Tribunal e o agressor foi condenado em 24 dias de prisão, remíveis a 20$00 por dia; 4 dias de multa também remíveis àquele mesmo valor; 400$00 de imposto de justiça e 250$00 de indemnização ao ofendido, além dos direitos de procuradoria. 2.A Comissão Central delega nos membros dirigentes do boletim “O Árbitro” o acompanhamento dos colegas estrangeiros que nos visitam. Os elogios são sempre muitos, pois o saber receber está sempre bem presente em nós, portugueses. 3.Francisco Guerra está a ultimar o lançamento da “Agenda do Árbitro”, obra que vem preencher o vazio existente na bibliografia portuguesa sobre a matéria de arbitragem. 4.Sir Stanley Rous apresentou proposta para acabar com a violência nos Estádio e fora deles, acabando com os desafios a duas mãos. Tom Docherty, Treinador do Chelsea é contra, dizendo que “os encontros a duas mãos é a única oportunidade que se dá aos adeptos de um clube conhecer o jogo do adversário. Se Rous quer acabar com a desordem, basta que peça à Polícia para meter os desordeiros na cadeia”. 
EQUIPA DE ARBITRAGEM PORTUGUESA NA INGLATERRA
O Árbitro Manuel Lousada Rodrigues [n. 26.06.1919 f. 07.05.2011], de Santarém, e os seus assistentes Manuel Joaquim Fortunato [n. 28.04.1928 f. 28.08.2001], de Évora e João Pinto Ferreira [n. 27.12.1926], do Porto, actuaram em Inglaterra, em Old Traford, no dia 6 de Outubro de 1965, na partida a contar para a Taça dos Clubes Campeões Europeus, entre o Manchester United Football Club (fundado em 01.03.1878) e Helsingin Jalkapalloklubi (f. 19.06.1907). Os finlandeses perderam por 6-0! Assistiram 30.388 espectadores.
EQUIPA DE ARBITRAGEM PORTUGUESA NA BÉLGICA
Para dirigirem a segunda mão da Taça das Taças, época 1965/1966, no Stade Sclessin, na Bélgica, entre as equipas do Royal Standard Liège (fundado em 04.01.1900) e do Cardiff City Footbal Club (f. 1899), foram indicados: Árbitro, Francisco Gonçalves Guerra [n. 04.09.1917 f. 30.11.1986], do Porto e os seus auxiliares, Salvador Heliodoro Garcia [n. 20.12.1919 f. 24.09.2002] e Joaquim Fernandes de Campos [n. 05.09.1924], ambos de Lisboa. O jogo disputou-se no dia 20 de Outubro de 1965 e resultado foi favorável aos visitados por 1-0. Estiveram presentes 17.985 pessoas.
Excelentes desenhos do mestre Natalino Melquíades, um génio e um amigo que graciosamente prestou imensa e colaboração de excelência ao boletim “O Árbitro”.

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