Na reunião havida em 13 de setembro de 2017 com a Direção da
Associação de Lanceiros onde formalmente ofereci o trabalho levado a efeito com
as 15 unidades da Polícia Militar que cumpriram a sua digna missão em São Tomé
e Príncipe e aqui publicado, o qual foi considerado inédito e histórico,
levando a AL a promover a edição de livro com tudo o que foi referido com a
vivência que se verificou entre 1961 e 1975, resolvi avançar com o historial
dos restantes 106 agrupamentos que estiveram em Angola (42), Cabo Verde (12),
Guiné (16), Macau (8), Moçambique (21) e Timor (7).
Comecei por Macau, seguindo-se Timor e por aí fora até
terminar na então Província Ultramarina que mais contingentes teve da PM,
Angola.
Mas, a tarefa não foi fácil, como passo a descrever:
Graças ao Arquivo Geral do Exército e ao seu mais
carismáticos responsável, Major Fernando Laureano, sempre disponível, sempre
gentil e altamente capacitado para ajudar a resolver questões relacionadas com
a megalómana tarefa a que me dediquei, e que muito agradeço a sua participação,
tem sido possível obter as informações necessárias para complemento de cada um
dos 8 episódios da PM e referentes à mais linda capital do Oriente.
Contudo, o AGE não possui documentos do último agrupamento
que esteve em Macau, o que obrigou a consultar outros arquivos, incluindo a
Biblioteca do Regimento de Lanceiros 2.
Aqui, a disponibilidade e boa vontade do Comando deste
Regimento para colaborar neste grandioso projeto foi total e participativo, mas
morosa, pese embora a minha primeira comunicação a solicitar permissão para aceder
aos seus documentos em 23 de setembro de 2017, só foi possível iniciar as
pesquisas nas instalações da calçada da Ajuda passados 72 dias, o que atrasou
substancialmente a programação por mim idealizada.
Mas, felizmente, o assunto está ultrapassado e já disponho
de matéria para avançar a todo o vapor, perspetivando a conclusão desta
monumental tarefa no menor espaço de tempo possível, não sem antes prever ser
uma questão de alguns anos a trabalhar profunda, contínua e dia-a-dia no
assunto.
Para além de ter conseguido obter os dados de que
necessitava na consulta aos milhares de páginas das Ordens de Serviço
Regimentais, também fiz o resumo das datas oficiais da partida e do regresso a
Lisboa, a chamada “mobilização”, de todos os agrupamentos da PM que estiveram
em África e no Oriente, trabalho importante e rigoroso, o qual, pela sua
utilidade já foi entregue ao Regimento de Lanceiros 2, Arquivo Histórico
Militar, Arquivo Geral do Exército, Biblioteca do Exército e à Associação de
Lanceiros. Quem quiser trabalhar nesta área tem, agora, elementos fidedignos e
objetivos, coisa que não existia tão pormenorizadamente.
Posto esta explicação, adianto que gostaria de apresentar
muitos mais dados de cada unidade da PM em Macau, mas fico-me somente pelo
essencial deixando outros temas para quem pretender fazer um ótimo trabalho, se
assim o desejar.
Este trabalho sobre Macau representa também o esforço de muitos
lanceiros que colaboraram de forma voluntária e dedicada, quer com algumas das
histórias na primeira pessoa, quer na cedência de imagens que marcam a sua juventude,
bem longe de casa e dos seus mais próximos.
É verdade que a ajuda recebida foi de extrema importância,
mas também encontraram alguém que, com a sua persistência e empenho, se
deslocou ao seu encontro (Setúbal, Alcobaça, Ericeira, Carcavelos, Abrantes, Montijo,
Viseu e Massamá) para recolher testemunhos das suas vivências no Extremo
Oriente.
Quanto à divulgação destes episódios, 10 no total, serão publicados
semanalmente, agora às quintas-feiras, como se enumera:
01 – Apresentação do trabalho, hoje, dia 1 de fevereiro de 2018
02 – PPM 38 (mobilização de 17.07.1962 a 23.10.1964), dia 8
fevereiro de 2018
03 – PPM 932 (05.08.1964 a 22.06.1966), dia 15 de fevereiro
de 2018
04 – PPM 1084 (12.04.1966 a 27.07.1968, dia 22 de fevereiro
de 2018
05 – PPM 2027 (16.04.1968 a 19.09.1970), dia 1 de março de
2018
06 – CPM 2428 (12.08.1968 a 03.02.1971), dia 8 de março de
2018
07 – PPM 2228 (04.06.1970 a 16.10.1972), dia 15 de março de
2018
08 – PPM 3124 (02.07.1972 a 05.07.1974), dia 22 de março de
2018
09 – PPM 8275 (28.05.1974 a 03.10.1975), dia 29 de março de
2018
10 – Conclusões, dia 5 de abril de 2018
Espero que gostem do trabalho e estou pronto para receber as
observações que acharem por bem colocar.
Entretanto, aqui vão
algumas considerações gerais sobre a experiência vivida pelos lanceiros lá
longe, em Macau.
O
clima de Macau explica-se com 7 meses de calor intenso, 3 de temperatura suave
e 2 de frio, sendo que nesta época especial o CTI distribuía ração diária de
0,04 (quatro centilitros) de aguardente ao pessoal da guarda, reforço e ronda
de todas as unidades e subunidades…
Nos
meses de abril e até existir elevadas temperaturas os militares usavam
fardamento aligeirado (camisa de meia manga e calção), deixando a vestimenta de
inverno (blusão, camisa de manga comprida e calça).
A
PM em Macau só usava o fato camuflado em ações específicas.
O trânsito rodoviário era efetuado pela
esquerda, logo alguma ansiedade inicial dos condutores auto, pois nunca
receberam qualquer preparação para conduzirem daquele modo.
À chegada das unidades da PM foram-lhes
transmitidas indicações quanto ao modo de vida local e hábitos seculares da
comunidade para que não fossem surpreendidos por alguma situação menos
conhecida.
Também lhes foi exigido que a sua postura fosse cuidada até ao pormenor, especialmente com a apresentação pessoal (fardamento também) e rigoroso cumprimento das Normas de Execução Permanentes em vigor, ainda no relacionamento com a comunidade e na fiscalização das viaturas, incluindo a do Comandante militar...
A
PM participou em todas as cerimónias realizadas nas datas importantes, como as
do 13 e 28 de maio (Nossa Senhora de Fátima e Estado Novo), 10 de Junho (Dia de
Portugal), assim como 14 de agosto, dia do Comando Territorial Independente de Macau
e no dia dedicado a Vasco da Gama.
Macau,
com um território de 30,3 Km2 e face às suas características especiais, já
oferecia entretenimento variado aos vindouros, como cinema, teatro, exposições,
diversos desportos e, mais tarde, televisão (e a cores).
Em
1963 a verba diária para a alimentação dos militares (praças) era de 20$00. O
pré dos Soldados era metade do valor! No ano seguinte a alimentação passou para
23$00 e, dez anos depois, em 1974, já ia nos 34$00.
A
extinção do CTIM verificou-se em 31.12.1975, mas a cerimónia protocolar realizou-se
no dia anterior nas instalações do Quartel General com formatura e saudação à
bandeira Portuguesa, como certificam as duas últimas imagens, mas já sem a
presença da Polícia Militar.
Muitos
dos lanceiros valorizaram os seus conhecimentos, com vista a um melhor futuro
profissional, tendo obtido a carta de condução de veículos ligeiros e pesados.
A
passagem do território para a administração chinesa ocorreu em 20 de dezembro
de 1999.
Por
último direi que a distância, em linha reta, de Lisboa a Macau é de 10.991
quilómetros, logo o fuso horário é de 8 horas a mais das que se verificam em
Lisboa.
Como já é normal e habituou os que o "visitam", este trabalho está excelente e até para quem não esteve em Macau, enche de orgulho. Quem lê apercebe-se dos escolhos por que tem que passar para conseguir informações que até podem parecer simples mas que no fundo representam muitas horas de permanente dedicação à "causa". Mais uma vez parabéns e votos de muito ânimo e saúde para lever esta hercúlea tarefa por diante. Obrigado!
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