O meu Bom Irmão completava neste dia 68 anos mas, com uma tristeza e saudades que ainda nos perturba sobremaneira – familiares e amigos – deixou-nos no dia 4 de Novembro de 2002.
Fernando Plácido Henrique dos Santos nasceu na Freguesia do Socorro, no ano de 1939, sendo o primeiro de 3 filhos do casal Dona Ester e Senhor Viriato, nossos pais. A sua infância foi marcada desde muito cedo por ter contraído uma doença séria (meningite) que o afectou o seu intelecto ligeiramente, mas nunca o seu estado de graça quanto a bondade, disponibilidade, trabalhador e total entrega a tudo o que fosse preciso ajudar. Até se aposentar foi colaborador da Portugal Telecom como Guarda-Fios, na Estação de Carcavelos (Cascais).
Morou na rua Cecílio de Sousa, ao Jardim do Príncipe Real (ver neste blog a notícia do dia 4) e bem perto da casa da nossa irmã, de seu nome Ivone a quem muito valeu, assim como aos vizinhos necessitados.
O Fernando cumpriu serviço militar obrigatório, como soldado, sendo mobilizado para as antigas possessões da Índia (Goa, Damão e Diu), mas devido à invasão que se verificou na noite de 17 de Dezembro de 1961, pelos exércitos da União Indiana, foi feito prisioneiro de guerra mas, durante 6 meses, desconhecíamos o seu paradeiro, se vivo, se morto.
As tropas portuguesas regressaram a Lisboa, via Paquistão, e foram, sob escolta, para o quartel onde tinham sido arregimentados, situado na Amadora. Daqui o meu irmão saiu para nossa casa como se fosse um traidor, um bandido que saiu da prisão! Deram-lhe um fato-macaco usado, sujo e sem botões e um par de botas velhas e rotas. Mais nada no corpo!!! Da Estação do Rossio (Lisboa) até chegar a nós percorreu cerca de 5 quilómetros a pé – só lhe deram bilhete de comboio e em 3ª classe – cruzando-se com tantas e tantas pessoas. Que vexatório, que espectáculo degradante deve ter proporcionado! Até falecer nunca o Estado português se interessou das suas condições de sobrevivência ou quaisquer outras. E como era solteiro, bem pior…
Contudo, conseguiu superar tamanha injustiça, despudor e o ostracismo a que o sacrificaram, assim como aos seus camaradas de armas, ultraje que tiveram de suportar em toda a sua existência.
Há milhões de histórias e acontecimentos passados juntos: íamos ao cinema, jogávamos à bola ou de porta à porta, sarjeta a sarjeta, andávamos nos carrinhos de esferas, descíamos as escadinhas em tábua ensaboada, comíamos a sopa e o pão dos pobres dados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, aproveitávamos as benesses da Junta de Freguesia nas Colónias de Férias de São Pedro do Estoril, Lousa e Foz do Arelho, etc., etc.
Benfiquista, filantropo, Amigo, enfim… o que se deve de dizer de um irmão bem chegado a nós e que nos deu um gozo tremendo em tê-lo como companheiro de viagem…
Duas últimas notas:
Quando lhe pedia ajuda para se processar a expedição da revista O Árbitro, para além de dar o seu tempo, seu trabalho, seu esforço, pretendia, ainda, pagar o nosso almoço…
Fernando Plácido Henrique dos Santos nasceu na Freguesia do Socorro, no ano de 1939, sendo o primeiro de 3 filhos do casal Dona Ester e Senhor Viriato, nossos pais. A sua infância foi marcada desde muito cedo por ter contraído uma doença séria (meningite) que o afectou o seu intelecto ligeiramente, mas nunca o seu estado de graça quanto a bondade, disponibilidade, trabalhador e total entrega a tudo o que fosse preciso ajudar. Até se aposentar foi colaborador da Portugal Telecom como Guarda-Fios, na Estação de Carcavelos (Cascais).
Morou na rua Cecílio de Sousa, ao Jardim do Príncipe Real (ver neste blog a notícia do dia 4) e bem perto da casa da nossa irmã, de seu nome Ivone a quem muito valeu, assim como aos vizinhos necessitados.
O Fernando cumpriu serviço militar obrigatório, como soldado, sendo mobilizado para as antigas possessões da Índia (Goa, Damão e Diu), mas devido à invasão que se verificou na noite de 17 de Dezembro de 1961, pelos exércitos da União Indiana, foi feito prisioneiro de guerra mas, durante 6 meses, desconhecíamos o seu paradeiro, se vivo, se morto.
As tropas portuguesas regressaram a Lisboa, via Paquistão, e foram, sob escolta, para o quartel onde tinham sido arregimentados, situado na Amadora. Daqui o meu irmão saiu para nossa casa como se fosse um traidor, um bandido que saiu da prisão! Deram-lhe um fato-macaco usado, sujo e sem botões e um par de botas velhas e rotas. Mais nada no corpo!!! Da Estação do Rossio (Lisboa) até chegar a nós percorreu cerca de 5 quilómetros a pé – só lhe deram bilhete de comboio e em 3ª classe – cruzando-se com tantas e tantas pessoas. Que vexatório, que espectáculo degradante deve ter proporcionado! Até falecer nunca o Estado português se interessou das suas condições de sobrevivência ou quaisquer outras. E como era solteiro, bem pior…
Contudo, conseguiu superar tamanha injustiça, despudor e o ostracismo a que o sacrificaram, assim como aos seus camaradas de armas, ultraje que tiveram de suportar em toda a sua existência.
Há milhões de histórias e acontecimentos passados juntos: íamos ao cinema, jogávamos à bola ou de porta à porta, sarjeta a sarjeta, andávamos nos carrinhos de esferas, descíamos as escadinhas em tábua ensaboada, comíamos a sopa e o pão dos pobres dados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, aproveitávamos as benesses da Junta de Freguesia nas Colónias de Férias de São Pedro do Estoril, Lousa e Foz do Arelho, etc., etc.
Benfiquista, filantropo, Amigo, enfim… o que se deve de dizer de um irmão bem chegado a nós e que nos deu um gozo tremendo em tê-lo como companheiro de viagem…
Duas últimas notas:
Quando lhe pedia ajuda para se processar a expedição da revista O Árbitro, para além de dar o seu tempo, seu trabalho, seu esforço, pretendia, ainda, pagar o nosso almoço…
Quando o seu corpo estava em câmara ardente, na capela mortuária da Igreja de Jesus (Mercês-Lisboa), de difícil e labiríntico acesso, entrou um cão rafeiro com o focinho no ar como que a farejar algo. Como não é hábito tal circunstância afastei-o até à saída das instalações. Passado mais algum tempo voltou a entrar e aproximou-se da urna. Aí, disseram-me que era um dos cães a quem o meu irmão dava de comer. A distância entre a casa em que vivia e a Igreja dista cerca de 3 quilómetros.
FOTOS: Em cima, data de 2001. A do meio, comigo na Praça do Comércio e, na seguinte, no Estádio Universitário, em Lisboa (anos sessenta).
1 comentário:
O ser humano mais puro que conheci na minha vida.
O ser humano mais bondoso.
O MEU TIO.
tenho saudades e encontrei uma lágrima nos meus olhos que lhe entrego, onde quer que esteja.
Abraço
Rui
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