Estes três amigos lisboetas que estão na fotografia (a partir da esquerda: José António Banito Chagas, desenhador, Vítor Manuel Cardoso, operador de criptografia e eu, operador de transmissões de Infantaria), estiveram, nos anos sessenta, em São Tomé e Príncipe em missão de soberania, como então se dizia, a exercer as suas especialidades militares e só…
Fazíamos um trio maravilha. O José António, grande companheiro, estava sempre disponível e prestável, enquanto o infortunado Vítor Cardoso, alegrava tudo e todos onde estivesse. Um humorista a cem por cento.
Mas a fatalidade persegui-o quase sempre. Conheci os dois em Lisboa, em 1965, quando, após ter completado metade do tempo que me impuseram longe de casa e dos meus, vim em gozo de férias. Quando chegaram a São Tomé para cumprirem os dois anos de serviço militar obrigatório, o senhor seu pai na hora do embarque do filho sentiu-se mal e veio a falecer. Ao Vítor só lhe é transmitido o infortúnio, dias depois, quando desembarcou no destino (outros tempos…). Confessou-me que a morte de seu pai era uma tragédia para sua mãe, pois, coitada, ia ficar sozinha, sem ninguém…
Um dos dias de um mês do ano de 1966, por algo que não lhe correu bem, o Vítor é punido com guardas ao perímetro militar. Numa dessas noites do serviço imposto que teria de acatar entra na camarata com a metralhadora ligeira na mão e diz para os muitos colegas que lá se encontravam: Pareço ou não um cow-boy? A arma disparou-se-lhe e uma rajada de balas atingiu tudo o que era sítio. Felizmente não feriu nem matou ninguém. Foi castigado com mais vigias. Num fatídico fim de tarde, quando saiu do café Rialto, situado na Cidade, onde parávamos para conviver, veio sozinho na direcção do Quartel, que distava cerca de 5 quilómetros e, quando atravessou a estrada, ampla mas mal iluminada, foi atropelado (!!!!?) por um táxi que o arrastou perto de 40 metros e o deixou sem vida na valeta… Exagerando direi que, naquele tempo e naquele local, passava uma viatura só de semana a semana…
Foi terrível sabermos que perdemos um Amigo naquelas condições – habituado que estava ao movimento citadino da sua Lisboa – e muito comovente para todos nós o ter que levar e acompanhar o seu corpo até ao cemitério local onde repousa, longe da sua Mouraria e dos seus familiares de quem tanto falava e elogiava, especialmente sua mãe…
Esta infausta ocorrência, que nos marcou sobremaneira, ainda foi objecto de uma situação extremamente caricata: É que veio na Ordem de Serviço daquele Comando que o Vítor Manuel Cardoso faleceu, vítima de atropelamento, mas ainda ficou a dever guardas ao Estado…
Este acontecimento, uma tragédia que destroçou uma família, deveu-se, entre tantas outras iguais desgraças, à teimosia de governantes ignóbeis e ditadores que preferiram defender as colónias africanas a todo o custo, isto é, com armas, com feridos, com estropiados, quando o diálogo e a independência era o melhor caminho a seguir e não sacrificar milhares e milhares de jovens, tendo alguns deles dado a sua própria vida, escusadamente…
Quando voltei a São Tomé, em 2002, fiz uma romagem de saudade ao Cemitério mas não foi possível localizar a sua campa nem as de outros camaradas, casos do Alexandre Carreiras e Négus Couto. Só vi a sepultura do Manuel Nunes, da Polícia Militar, onde estive e recordei a memória dos companheiros de armas que sucumbiram e por lá ficaram…
Fazíamos um trio maravilha. O José António, grande companheiro, estava sempre disponível e prestável, enquanto o infortunado Vítor Cardoso, alegrava tudo e todos onde estivesse. Um humorista a cem por cento.
Mas a fatalidade persegui-o quase sempre. Conheci os dois em Lisboa, em 1965, quando, após ter completado metade do tempo que me impuseram longe de casa e dos meus, vim em gozo de férias. Quando chegaram a São Tomé para cumprirem os dois anos de serviço militar obrigatório, o senhor seu pai na hora do embarque do filho sentiu-se mal e veio a falecer. Ao Vítor só lhe é transmitido o infortúnio, dias depois, quando desembarcou no destino (outros tempos…). Confessou-me que a morte de seu pai era uma tragédia para sua mãe, pois, coitada, ia ficar sozinha, sem ninguém…
Um dos dias de um mês do ano de 1966, por algo que não lhe correu bem, o Vítor é punido com guardas ao perímetro militar. Numa dessas noites do serviço imposto que teria de acatar entra na camarata com a metralhadora ligeira na mão e diz para os muitos colegas que lá se encontravam: Pareço ou não um cow-boy? A arma disparou-se-lhe e uma rajada de balas atingiu tudo o que era sítio. Felizmente não feriu nem matou ninguém. Foi castigado com mais vigias. Num fatídico fim de tarde, quando saiu do café Rialto, situado na Cidade, onde parávamos para conviver, veio sozinho na direcção do Quartel, que distava cerca de 5 quilómetros e, quando atravessou a estrada, ampla mas mal iluminada, foi atropelado (!!!!?) por um táxi que o arrastou perto de 40 metros e o deixou sem vida na valeta… Exagerando direi que, naquele tempo e naquele local, passava uma viatura só de semana a semana…
Foi terrível sabermos que perdemos um Amigo naquelas condições – habituado que estava ao movimento citadino da sua Lisboa – e muito comovente para todos nós o ter que levar e acompanhar o seu corpo até ao cemitério local onde repousa, longe da sua Mouraria e dos seus familiares de quem tanto falava e elogiava, especialmente sua mãe…
Esta infausta ocorrência, que nos marcou sobremaneira, ainda foi objecto de uma situação extremamente caricata: É que veio na Ordem de Serviço daquele Comando que o Vítor Manuel Cardoso faleceu, vítima de atropelamento, mas ainda ficou a dever guardas ao Estado…
Este acontecimento, uma tragédia que destroçou uma família, deveu-se, entre tantas outras iguais desgraças, à teimosia de governantes ignóbeis e ditadores que preferiram defender as colónias africanas a todo o custo, isto é, com armas, com feridos, com estropiados, quando o diálogo e a independência era o melhor caminho a seguir e não sacrificar milhares e milhares de jovens, tendo alguns deles dado a sua própria vida, escusadamente…
Quando voltei a São Tomé, em 2002, fiz uma romagem de saudade ao Cemitério mas não foi possível localizar a sua campa nem as de outros camaradas, casos do Alexandre Carreiras e Négus Couto. Só vi a sepultura do Manuel Nunes, da Polícia Militar, onde estive e recordei a memória dos companheiros de armas que sucumbiram e por lá ficaram…
Não esquecer que a defesa se iniciou após ataques bárbaros, selvagens e inominaveis dos tão propalados defensores da paz.
ResponderEliminarNão esquecer a fome, miséria e regimes ditadoriais que "nós" deixámos a governar os nossos irmãos africanos.
Regime anterior em estertor? Sem duvida.
Mas isso não impede que se tenha memória e se saiba de História.
A minha homenagem aos Mortos e a todos que deram (mesmo que sem consentimento) parcelas da sua vida à Pátria.
RS