sábado, 16 de fevereiro de 2013

NAQUELE TEMPO – FEVEREIRO DE 1963 (EPISÓDIO 66)

O Boletim “O Árbitro” nº 68 (Ano VI), de há cinquenta anos, realçou, entre outros, os seguintes assuntos:
TÍTULOS – Correia Dias desenvolve o tema “Livres de canto”. “Futebol e Geometria” trabalho elaborado por António Augusto Santos. Carmo Lourenço, da Beira-Moçambique, escreve sobre o “Fiscal de Linha e o fora de jogo”. “Sim, realmente há crise!...”, texto da autoria de Mariano Sabino dos Santos, Árbitro de Évora.
O ÁRBITRO-GRANDE HOMEM, POBRE HOMEM! - Trabucho Alexandre (na imagem), ilustre e saudoso Jornalista desportivo, afirma “que se há homem que sinta ter vindo ao mundo só para sofrer – é o Árbitros de futebol. Isto, porque qualquer um, só porque pagou bilhete ou arranjou maneira de entrar no Estádio, julga-se no direito de soltar a língua e dirigir quantas bacoradas lhe apetece. Ninguém perde porque jogou mal ou porque o adversário jogou melhor. Para esses, só há um culpado – o Árbitro, o indesejável, o pirata, o gatuno, o vendido, o … (ponham o que quiserem…). E, no entanto, ninguém repara que o Árbitro é um homem a quem exigem a perfeição de uma máquina (das que não se avariam); um individuo que sabe, com certeza, interpretar melhor as leis do jogo do que 99 por cento dos que o assobiam; um adepto que, pelo menos, gosta tanto do jogo como todos os que compram o seu bilhete; uma pessoa que, como qualquer que se preza, gosta mais de acertar do que de asnear; um juiz (de campo…) a quem não se dá um segundo para julgar e proferir a sentença. Não – nisto ninguém repara…”
AS CONTAS DO BOLETIM – Conforme se pode constatar verificou-se saldo positivo.
Os Árbitros portuenses Jovino Pinto, David Rocha e Carlos Mota deslocaram-se a Viseu e, para além de confraternizarem com os colegas locais, prestaram sentida homenagem a Ramos Cavaleiro como sendo o fundador da arbitragem infantil em Portugal. “Angola Desportiva” destaca o nome de Joaquim Caixeiro como um dos valores mais relevantes da arbitragem angolana num trabalho que elaborou e que publicou nas suas colunas.
 O saudoso Dr. Décio de Freitas, director do boletim, acompanhava colegas estrangeiros em Portugal e dá conta da actividade do Árbitro suíço Anton Bucheli (na imagem), nascido em 14.09.1929, tendo ostentado a insígnia da FIFA a partir de 01.01.1962 (até 31.12.1974). Na altura exercia a profissão de chefe do departamento de controlo aéreo do aeroporto de Lucerne.
Desde muito jovem se interessou pela arbitragem e, aos 22 anos de idade inscreveu-se no curso inicial, aos 27 atingiu a primeira categoria e aos 33 a internacionalização. Com esta sua deslocação ao nosso país somou o seu 13º jogo dirigido no estrangeiro. Já actuou na Alemanha, Checoslováquia, Espanha, Grécia, Luxemburgo, Suécia e Tasmânia. A Suíça, na ocasião, tinha 1.800 Árbitros, sendo 7 internacionais.
TEM A PALAVRA UM JORNALISTA – “Mais perto dos Árbitros” é o título da crónica de Carlos Martins, jornalista desportivo há vinte e dois anos, e começa por afirmar que a sua tarefa profissional incidia sobre aspectos das actuações dos juízes quando problemas surgiam e era necessário esclarecê-los junto de quem de direito. Entende que são pessoas mal vistas pelas multidões que enchem campos e estádios e estão sempre prontos a responsabilizar os “homens do apito” por mil e uma coisas de mau que atinjam os seus clubes… Foi, exactamente, para analisar de perto a personalidade e psicologia do Árbitro que decidiu, para além doutras facetas, conviver com os juízes independentemente do ambiente, sempre escaldante, dos desafios e, assim, desde há anos a esta parte que mantém um contacto directo quanto possível. Impressões desse relacionamento? As melhores. Afinal, os Árbitros não são as “feras” e os “cínicos” que os adeptos apontam e os causadores das derrotas e doutras coisas mais e muito más, que afectam os clubes que lhe são queridos e, no fundo, são homens como quaisquer outros, sujeitos a errarem e a acertarem, porque são feitos da mesma matéria.
E mais: são homens correctos, educados, de personalidade, eivados das “tais” condições morais e técnicas que têm de fazer parte integrante do apanágio que exorna um Árbitro de futebol. Um jornalista, como crítico das actuações dos Árbitros, deve sempre nortear as suas apreciações pelo timbre da moderação, da censura leve, embora benéfica e do elogio franco, quando o mesmo se oferece. Foca ainda um factor importante que é o Árbitros ser para a maioria da massa aficionada “esse desconhecido”… Se a multidão tivesse conhecimento da psicologia do Árbitro, que pode errar, mas todos deveríamos estar convictos de que, quando erra e, consequentemente, prejudica e falseia qualquer resultado, será por tudo, menos por intenção, por premeditação, por maldade. Todavia, nem todos assim pensam. Por fim reconhece satisfação em conviver de perto com os Árbitros, tendo em conta que critica e louva quando as ocasiões se deparam, mas pelos quais tem consideração e admiração e estende a mão, franca, leal e amigavelmente.
RESSALTOS DA BOLA – Marques de Matos, insigne catedrático e um grande estudioso das leis e regulamentos do futebol, autor de vários livros temáticos e ilustrados ao pormenor, divulgou aqui um excelente estudo sobre as trajectórias da bola quando embate nos postes, nas traves ou nas bandeiras de canto e volta (ou não) ao terreno de jogo. As imagens são eloquentes.
David Costa, o seu coordenador, analisa várias questões. A colocada por António José Luís, de Nampula-Moçambique: Num determinado desafio e quando este estava a decorrer com a maior disciplina possível, há uma senhora que entra no rectângulo de jogo e dá duas bofetadas num jogador que passa junto dela com a bola. O atleta não se conteve e retribui-lhe da mesma maneira. Pergunta: qual a decisão a tomar pelo Árbitro do referido encontro? Eis a resposta: Baseado na Lei V o Árbitro interrompe a partida. É da competência das autoridades policiais que dão segurança ao encontro tomar as devidas providências quanto à espectadora, que deverá ser retirada da superfície de jogo. O jogador infractor deverá ser expulso do terreno de jogo. O Árbitro recomeça a partida executando uma bola ao solo no local onde esta se encontrava no momento da suspensão. Por fim, relata os factos no boletim do encontro. Alberto dos Santos Costa, da Beira-Moçambique, quis ser esclarecido quanto a uma questão relacionada com a lei XI, explicando que jogador em posição irregular pode marcar golo válido vindo a bola do guarda-redes? A informação prestada é a seguinte: Só é possível se a bola for jogada intencionalmente pelo adversário. O Árbitro do Porto, Adelino Lima Alves, apresenta a seguinte situação: Numa partida o capitão de um dos clubes procurou o Árbitro para expulsar um seu colega de equipa, dado que este não acatou a sua ordem para abandonar o campo, razão porque foi junto do Árbitro para o excluir do desafio. Pergunta: O Árbitro pode obrigar a saída do referido jogador a pedido do seu capitão? Resposta: O Árbitro não tem poderes para tal. Só poderá proceder a esse acto extremos (expulsar) se o atleta prevaricador cometer falta grave ou reincidente em faltas de menor gravidade. Se a ordem de expulsão for dada pelo seu capitão de equipa e for dado conhecimento ao Árbitro, o mesmo jogador pode voltar a reentrar, visto não existir nada nas leis que o proíba.
FUTEBOL DE CINCO – Face ao grande interesse que esta modalidade suscita, inicia-se a transcrição do regulamento, que, naquele tempo, já necessitava de uma revisão adequada ao seu crescente desenvolvimento. Destacam-se algumas passagens das primeiras 8 Regras do Jogo, num total de 15. Lei I-Campo de Jogos. Piso de relva, terra batida ou de asfalto. Dimensão dos recintos: 30 a 40 metros de comprimento e 15 a 20 de largura, com tabelas rígidas, fixas, com uma altura nunca inferior a 25 cms. Os postes e a barra transversal das balizas terão uma secção entre 8 e 10 centímetros e serão devidamente pintadas para que se destaquem. Lei II-A bola. Deve ser esférica, de material maleável e ter um perímetro compreendido entre 55 e 58 cms. O seu peso, no começo do jogo deve ser de 430 a 450 grs. e a sua elasticidade deve ser tal que, deixada cair em queda livre, sem impulso inicial, da altura de metro e meio, o seu ressalto, não seja superior a 50 cms. Lei III-Número de jogadores. Cada equipa é constituída por 8 jogadores, dos quais só 5 poderão estar em jogo simultaneamente. A substituição dos jogadores só pode ser realizada quando o jogo se encontrar interrompido. O capitão deverá usar no braço esquerdo uma braçadeira de pano, que o identifique como tal. Nenhuma partida poderá ser iniciada desde que uma das equipas se apresente com menos de 4 elementos.
Lei IV-Equipamento. O equipamento compõe-se de camisola com manga, ou meia manga, calção, meias ou peúgas e calçado absolutamente maleável, com piso de borracha ou de corda. Não é permitido o uso de caneleiras. As camisolas são numeradas de 1 (a do guarda-redes) a 8, e os números são colocados nas costas, devendo ter a altura mínima de 15 cms. Lei V-Árbitro e júri. O equipamento do Árbitro constará normalmente de camisola branca ou preta, calças brancas ou claras e sapatos de lona. O tempo de jogo será regulado por um júri, constituído por um delegado de cada um dos grupos adversários e por um cronometrista. Lei VI-Duração do jogo. Cada partida terá a duração de 40 minutos, em dois períodos iguais de 20 minutos, com um intervalo de 5 minutos entre cada um deles. Lei VII-Começo do jogo. No começo da partida a escolha do campo e do pontapé de saída são sorteados por meio de moeda. O grupo que for favorecido pela sorte tem o direito de optar pela escolha do campo ou pelo pontapé de saída. Não pode resultar ponto directamente de um pontapé de saída.
VISITA DE CORTESIA - A Comissão Distrital de Lisboa esteve na sede da Comissão Central de Árbitros, como se pode ver na imagem.
Árbitros franceses que dirigiram a partida entre as equipas do Sport Lisboa e Benfica e do IFK Norrköping (Suécia), que contava para a Taça dos Clubes Campeões Europeus, realizado em 22.11.1962, no Estádio da Luz (5-1). Principal, Jean Tricot. Auxiliares, Carett e Herbert.
Uma das eliminatórias da Taça das Cidades com Feira disputada entre os espanhóis do Valência Club de Fútbol e os escoceses do Dunfermline Athletic Football Club teve que ir a terceiro jogo, que se disputou no Estádio do Restelo, em 06.02.1963 (1-0). A equipa de arbitragem, portuguesa constituída por Raul Fernandes Martins (Árbitro principal), e pelos Assistentes Décio Vítor Bentes de Freitas (23.03.1919/29.12.1975) e Eduardo Rosa Gouveia (28.04.1914/02.01.2000).
No Estádio José Alvalade, em 13.02.1963, defrontaram-se num amigável o Sporting Clube de Portugal e os espanhóis do Real Betis Balompié (2-0). Foram portugueses os Árbitros que conduziram a partida: Principal, o internacional Décio Vítor Bentes de Freitas (23.03.1919/29.12.1975). Assistentes, o também internacional Aníbal da Silva Oliveira (06.11.1918/04.02.2010), João Calado Banheiro.
No jogo de juniores, Portugal-França (4-2), também realizado no Estádio da Luz, em 17.02.1963, estiveram: Árbitro principal e FIFA, o suíço Anton Bucheli (n. 14.09.1929) e os internacionais portugueses António Amaro Borges Calheiros (19.04.1913/f. 18.04.1997) e Raul Fernandes Martins (08.08.1924).
VIAGEM AOS AÇORES - Joaquim Campos, continua a relatar a viagem a Angra do Heroísmo. Curiosamente a sua saída de Lisboa, coincidiu com a inauguração das viagens aéreas para aquela cidade açoriana. Sempre bem recebido onde quer que fosse, dirigiu 4 encontros e passou o dia de Natal no arquipélago, como demonstram as duas últimas imagens.
MÁXIMAS, PENSAMENTOS E CONSELHOS – “Pouco aptas para o raciocínio as multidões são, ao contrário, muito aptas para a acção. As civilizações, não têm sido criadas nem guiadas senão por uma pequena aristocracia intelectual, nunca pelas multidões; estas não têm poder para criara mas somente para destruir”. Gustave Le Bom (07.05.1841/13.12.1931). “Cultivai a inteligência, mas cultivai antes de tudo o físico, porque ele é que vai orientar o desenvolvimento intelectual. Fazei-vos primeiro sãos e fortes, para que possais ser inteligente e sábio”. Jean-Jaques Rousseau (28.06.1712/02.07.1778). A Educação define o carácter de um povo, segundo a Associação de Futebol de Angra do Heroísmo: “O espectador de qualquer jogo é uma peça da máquina disciplinar e, como tal, não deve incitar o jogador à severidade e irregularidade para com o adversário, mas sim procurar que um e outro desenvolvam bom jogo, mostrando na vitória ou na derrota espírito de boa e leal camaradagem desportiva”.

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