O Boletim “O Árbitro” nº 68
(Ano VI), de há cinquenta anos, realçou, entre outros, os seguintes assuntos:
TÍTULOS – Correia Dias
desenvolve o tema “Livres de canto”. “Futebol e Geometria” trabalho elaborado
por António Augusto Santos. Carmo Lourenço, da Beira-Moçambique, escreve sobre
o “Fiscal de Linha e o fora de jogo”. “Sim, realmente há crise!...”, texto da
autoria de Mariano Sabino dos Santos, Árbitro de Évora.
O ÁRBITRO-GRANDE HOMEM,
POBRE HOMEM! - Trabucho Alexandre (na imagem), ilustre e saudoso Jornalista
desportivo, afirma “que se há homem que sinta ter vindo ao mundo só para sofrer
– é o Árbitros de futebol. Isto, porque qualquer um, só porque pagou bilhete ou
arranjou maneira de entrar no Estádio, julga-se no direito de soltar a língua e
dirigir quantas bacoradas lhe apetece. Ninguém perde porque jogou mal ou porque
o adversário jogou melhor. Para esses, só há um culpado – o Árbitro, o
indesejável, o pirata, o gatuno, o vendido, o … (ponham o que quiserem…). E, no
entanto, ninguém repara que o Árbitro é um homem a quem exigem a perfeição de
uma máquina (das que não se avariam); um individuo que sabe, com certeza,
interpretar melhor as leis do jogo do que 99 por cento dos que o assobiam; um
adepto que, pelo menos, gosta tanto do jogo como todos os que compram o seu
bilhete; uma pessoa que, como qualquer que se preza, gosta mais de acertar do
que de asnear; um juiz (de campo…) a quem não se dá um segundo para julgar e
proferir a sentença. Não – nisto ninguém repara…”
AS CONTAS DO BOLETIM – Conforme
se pode constatar verificou-se saldo positivo.
Os
Árbitros portuenses Jovino Pinto, David Rocha e Carlos Mota deslocaram-se a
Viseu e, para além de confraternizarem com os colegas locais, prestaram sentida
homenagem a Ramos Cavaleiro como sendo o fundador da arbitragem infantil em
Portugal. “Angola Desportiva” destaca o nome de Joaquim Caixeiro como um dos
valores mais relevantes da arbitragem angolana num trabalho que elaborou e que
publicou nas suas colunas.
O saudoso Dr. Décio de Freitas, director do boletim, acompanhava
colegas estrangeiros em Portugal e dá conta da actividade do Árbitro suíço
Anton Bucheli (na imagem), nascido em 14.09.1929, tendo ostentado a insígnia da
FIFA a partir de 01.01.1962 (até 31.12.1974). Na altura exercia a profissão de
chefe do departamento de controlo aéreo do aeroporto de Lucerne.
Desde muito
jovem se interessou pela arbitragem e, aos 22 anos de idade inscreveu-se no
curso inicial, aos 27 atingiu a primeira categoria e aos 33 a
internacionalização. Com esta sua deslocação ao nosso país somou o seu 13º jogo
dirigido no estrangeiro. Já actuou na Alemanha, Checoslováquia, Espanha,
Grécia, Luxemburgo, Suécia e Tasmânia. A Suíça, na ocasião, tinha 1.800
Árbitros, sendo 7 internacionais.
TEM A PALAVRA UM
JORNALISTA – “Mais perto dos Árbitros” é o título da crónica de Carlos Martins,
jornalista desportivo há vinte e dois anos, e começa por afirmar que a sua
tarefa profissional incidia sobre aspectos das actuações dos juízes quando
problemas surgiam e era necessário esclarecê-los junto de quem de direito.
Entende que são pessoas mal vistas pelas multidões que enchem campos e estádios
e estão sempre prontos a responsabilizar os “homens do apito” por mil e uma
coisas de mau que atinjam os seus clubes… Foi, exactamente, para analisar de
perto a personalidade e psicologia do Árbitro que decidiu, para além doutras
facetas, conviver com os juízes independentemente do ambiente, sempre
escaldante, dos desafios e, assim, desde há anos a esta parte que mantém um
contacto directo quanto possível. Impressões desse relacionamento? As melhores.
Afinal, os Árbitros não são as “feras” e os “cínicos” que os adeptos apontam e
os causadores das derrotas e doutras coisas mais e muito más, que afectam os
clubes que lhe são queridos e, no fundo, são homens como quaisquer outros,
sujeitos a errarem e a acertarem, porque são feitos da mesma matéria.
E mais: são homens
correctos, educados, de personalidade, eivados das “tais” condições morais e
técnicas que têm de fazer parte integrante do apanágio que exorna um Árbitro de
futebol. Um jornalista, como crítico das actuações dos Árbitros, deve sempre
nortear as suas apreciações pelo timbre da moderação, da censura leve, embora
benéfica e do elogio franco, quando o mesmo se oferece. Foca ainda um factor
importante que é o Árbitros ser para a maioria da massa aficionada “esse
desconhecido”… Se a multidão tivesse conhecimento da psicologia do Árbitro, que
pode errar, mas todos deveríamos estar convictos de que, quando erra e,
consequentemente, prejudica e falseia qualquer resultado, será por tudo, menos
por intenção, por premeditação, por maldade. Todavia, nem todos assim pensam.
Por fim reconhece satisfação em conviver de perto com os Árbitros, tendo em
conta que critica e louva quando as ocasiões se deparam, mas pelos quais tem
consideração e admiração e estende a mão, franca, leal e amigavelmente.
RESSALTOS DA BOLA –
Marques de Matos, insigne catedrático e um grande estudioso das leis e
regulamentos do futebol, autor de vários livros temáticos e ilustrados ao
pormenor, divulgou aqui um excelente estudo sobre as trajectórias da bola
quando embate nos postes, nas traves ou nas bandeiras de canto e volta (ou não)
ao terreno de jogo. As imagens são eloquentes.
David
Costa, o seu coordenador, analisa várias questões. A colocada por António José
Luís, de Nampula-Moçambique: Num determinado desafio e quando este estava a
decorrer com a maior disciplina possível, há uma senhora que entra no
rectângulo de jogo e dá duas bofetadas num jogador que passa junto dela com a
bola. O atleta não se conteve e retribui-lhe da mesma maneira. Pergunta: qual a
decisão a tomar pelo Árbitro do referido encontro? Eis a resposta: Baseado na
Lei V o Árbitro interrompe a partida. É da competência das autoridades
policiais que dão segurança ao encontro tomar as devidas providências quanto à
espectadora, que deverá ser retirada da superfície de jogo. O jogador infractor
deverá ser expulso do terreno de jogo. O Árbitro recomeça a partida executando
uma bola ao solo no local onde esta se encontrava no momento da suspensão. Por
fim, relata os factos no boletim do encontro. Alberto dos Santos Costa, da
Beira-Moçambique, quis ser esclarecido quanto a uma questão relacionada com a
lei XI, explicando que jogador em posição irregular pode marcar golo válido
vindo a bola do guarda-redes? A informação prestada é a seguinte: Só é possível
se a bola for jogada intencionalmente pelo adversário. O Árbitro do Porto,
Adelino Lima Alves, apresenta a seguinte situação: Numa partida o capitão de um
dos clubes procurou o Árbitro para expulsar um seu colega de equipa, dado que
este não acatou a sua ordem para abandonar o campo, razão porque foi junto do
Árbitro para o excluir do desafio. Pergunta: O Árbitro pode obrigar a saída do
referido jogador a pedido do seu capitão? Resposta: O Árbitro não tem poderes
para tal. Só poderá proceder a esse acto extremos (expulsar) se o atleta
prevaricador cometer falta grave ou reincidente em faltas de menor gravidade.
Se a ordem de expulsão for dada pelo seu capitão de equipa e for dado
conhecimento ao Árbitro, o mesmo jogador pode voltar a reentrar, visto não
existir nada nas leis que o proíba.
FUTEBOL DE CINCO – Face ao
grande interesse que esta modalidade suscita, inicia-se a transcrição do
regulamento, que, naquele tempo, já necessitava de uma revisão adequada ao seu
crescente desenvolvimento. Destacam-se algumas passagens das primeiras 8 Regras
do Jogo, num total de 15. Lei I-Campo de Jogos. Piso de relva, terra batida ou
de asfalto. Dimensão dos recintos: 30 a 40 metros de comprimento e 15 a 20 de
largura, com tabelas rígidas, fixas, com uma altura nunca inferior a 25 cms. Os
postes e a barra transversal das balizas terão uma secção entre 8 e 10
centímetros e serão devidamente pintadas para que se destaquem. Lei II-A bola.
Deve ser esférica, de material maleável e ter um perímetro compreendido entre
55 e 58 cms. O seu peso, no começo do jogo deve ser de 430 a 450 grs. e a sua
elasticidade deve ser tal que, deixada cair em queda livre, sem impulso
inicial, da altura de metro e meio, o seu ressalto, não seja superior a 50 cms.
Lei III-Número de jogadores. Cada equipa é constituída por 8 jogadores, dos
quais só 5 poderão estar em jogo simultaneamente. A substituição dos jogadores
só pode ser realizada quando o jogo se encontrar interrompido. O capitão deverá
usar no braço esquerdo uma braçadeira de pano, que o identifique como tal.
Nenhuma partida poderá ser iniciada desde que uma das equipas se apresente com
menos de 4 elementos.
Lei IV-Equipamento. O equipamento compõe-se de camisola
com manga, ou meia manga, calção, meias ou peúgas e calçado absolutamente
maleável, com piso de borracha ou de corda. Não é permitido o uso de caneleiras.
As camisolas são numeradas de 1 (a do guarda-redes) a 8, e os números são
colocados nas costas, devendo ter a altura mínima de 15 cms. Lei V-Árbitro e
júri. O equipamento do Árbitro constará normalmente de camisola branca ou
preta, calças brancas ou claras e sapatos de lona. O tempo de jogo será
regulado por um júri, constituído por um delegado de cada um dos grupos
adversários e por um cronometrista. Lei VI-Duração do jogo. Cada partida terá a
duração de 40 minutos, em dois períodos iguais de 20 minutos, com um intervalo
de 5 minutos entre cada um deles. Lei VII-Começo do jogo. No começo da partida
a escolha do campo e do pontapé de saída são sorteados por meio de moeda. O
grupo que for favorecido pela sorte tem o direito de optar pela escolha do
campo ou pelo pontapé de saída. Não pode resultar ponto directamente de um
pontapé de saída.
VISITA DE CORTESIA - A
Comissão Distrital de Lisboa esteve na sede da Comissão Central de Árbitros, como se pode ver na imagem.
Árbitros franceses que dirigiram a partida entre as equipas do
Sport Lisboa e Benfica e do IFK Norrköping (Suécia), que contava para a Taça
dos Clubes Campeões Europeus, realizado em 22.11.1962, no Estádio da Luz (5-1).
Principal, Jean Tricot. Auxiliares, Carett e Herbert.
Uma das eliminatórias da Taça das Cidades com Feira disputada
entre os espanhóis do Valência Club de Fútbol e os escoceses do Dunfermline
Athletic Football Club teve que ir a terceiro jogo, que se disputou no Estádio
do Restelo, em 06.02.1963 (1-0). A equipa de arbitragem, portuguesa constituída
por Raul Fernandes Martins (Árbitro principal), e pelos Assistentes Décio Vítor
Bentes de Freitas (23.03.1919/29.12.1975) e Eduardo Rosa Gouveia
(28.04.1914/02.01.2000).
No Estádio José Alvalade, em 13.02.1963, defrontaram-se num
amigável o Sporting Clube de Portugal e os espanhóis do Real Betis Balompié
(2-0). Foram portugueses os Árbitros que conduziram a partida: Principal, o
internacional Décio Vítor Bentes de Freitas (23.03.1919/29.12.1975).
Assistentes, o também internacional Aníbal da Silva Oliveira
(06.11.1918/04.02.2010), João Calado Banheiro.
No jogo de juniores, Portugal-França (4-2), também realizado no
Estádio da Luz, em 17.02.1963, estiveram: Árbitro principal e FIFA, o suíço
Anton Bucheli (n. 14.09.1929) e os internacionais portugueses António Amaro
Borges Calheiros (19.04.1913/f. 18.04.1997) e Raul Fernandes Martins
(08.08.1924).
VIAGEM AOS AÇORES -
Joaquim Campos, continua a relatar a viagem a Angra do Heroísmo. Curiosamente a
sua saída de Lisboa, coincidiu com a inauguração das viagens aéreas para aquela
cidade açoriana. Sempre bem recebido onde quer que fosse, dirigiu 4 encontros e
passou o dia de Natal no arquipélago, como demonstram as duas últimas imagens.
MÁXIMAS, PENSAMENTOS E
CONSELHOS – “Pouco aptas para o raciocínio as multidões são, ao contrário,
muito aptas para a acção. As civilizações, não têm sido criadas nem guiadas
senão por uma pequena aristocracia intelectual, nunca pelas multidões; estas
não têm poder para criara mas somente para destruir”. Gustave Le Bom
(07.05.1841/13.12.1931). “Cultivai a inteligência, mas cultivai antes de tudo o
físico, porque ele é que vai orientar o desenvolvimento intelectual. Fazei-vos
primeiro sãos e fortes, para que possais ser inteligente e sábio”. Jean-Jaques
Rousseau (28.06.1712/02.07.1778). A Educação define o carácter de um povo,
segundo a Associação de Futebol de Angra do Heroísmo: “O espectador de qualquer
jogo é uma peça da máquina disciplinar e, como tal, não deve incitar o jogador
à severidade e irregularidade para com o adversário, mas sim procurar que um e
outro desenvolvam bom jogo, mostrando na vitória ou na derrota espírito de boa
e leal camaradagem desportiva”.
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