O artigo que a seguir se transcreve,
escrito há 50 anos por este jornalista, crítico e escritor, mas acima de tudo pelos
seus créditos e profundo conhecedor do futebol, veio publicado no Boletim O
Árbitro nº 67, de Janeiro de 1963, texto que não deixa de ter a sua importância
e merecer atenta análise nos dias de hoje…
Adriano Artur Ferreira Peixoto, grande
estudioso e um nato apaixonado pelo desporto-rei e do seu desenvolvimento,
escreveu e publicou os seguintes livros: Em 1948, “O futebol português e o
sistema Herbert Chapman”; em 1951, “Futebol-Problemas de táctica” e em 1965, “As
grandes tácticas do futebol”. Foi colaborador do periódico Voz de Coimbra e director
da publicação “Selecções Desportivas”, da Editora Atlântida (Coimbra, 1951/52).
Treinou diversas equipas, funções em
que se distinguiu pela preocupação de aprofundar os problemas estratégicos do
jogo. Chegou a Seleccionador da equipa nacional de juniores que se estreou em competições
internacionais, tendo declinado o convite para ser
o responsável pela equipa principal. Faleceu em 5 de Março de 1968.
Como curiosidade e enquanto primeiro
responsável da selecção mais jovem do futebol português diremos que a orientou
nos encontros do VII Torneio Internacional de Juniores, todos disputados na
Alemanha no mês de Abril de 1954: Sollingen, dia 11, com a República da Irlanda
(2-2); Essen, dia 13, com a Jugoslávia (1-1); Bochum, dia 14, com a Espanha
(0-6); Machernick, dia 17, com a Holanda (2-4); e, por último, Bona, dia 18,
com a Inglaterra (2-0).
“O largo âmbito profissional
do futebol moderno envolve uma questão que impõe, por sua vez, sérias
meditações: se o Árbitro deve ser também um verdadeiro profissional, como os
Jogadores e Treinadores, que o são, efectivamente; se deve manter-se na
situação presente de um semi-profissionalismo ou, de facto, sustentar a posição
de um amadorismo mais ou menos vago que continua a observar-se em povos como a
Suécia, Noruega, Dinamarca, Bélgica, etc.
Se à ideia de
profissão, ligarmos os conceitos de actividade que se exerce diária e remuneradamente,
é evidente que o árbitro não pode ser um profissional, pela simples razão de
não exercer o seu mister por forma efectiva e permanente.
Porém, aqueles
conceitos têm sido profundamente alterados pela vida moderna que criou algumas
profissões em que a efectividade e a permanência sofrem um certo desvio, pois
alguns profissionais não têm como se sabe, uma actividade diária nem constante.
Sendo assim,
não haverá motivos que impeçam o Árbitro de ser considerado profissional.
Por enquanto o
único impedimento estará em não receber uma remuneração que lhe consinta viver
exclusivamente dela.
Mas convirá ao
futebol que o juiz de campo seja profissional integral?
Se o Árbitro
for profissional, não o terão de ser também os juízes de linha?
Acaso será
possível manter os seus auxiliares na subalternidade do presente
pseudo-amadorismo?
Tal
desigualdade não constituirá uma fonte de trabalho para a própria direcção da
arbitragem?
Procurando, de
algum modo, responder a cada um dos pontos de vista acima contidos, diremos que
o juiz de campo pode, com efeito, ser profissional sem que isso afecte ou
perturbe a vida social e, muito menos, o jogo.
No seu
magnífico “Sport e Saúde” (sumário de medicina desportiva), o dr. Filipe
Encausse diz que Jean Amslor, professor agregado do liceu de Troyes, autor de
um trabalho sobre futebol, assinala que num encontro da modalidade é o Árbitro
que percorre mais terreno, em média 15 quilómetros durante os 90 minutos, pois
no respeitante aos jogadores esses mesmos números: extremos, 5.900 metros;
interiores 5.300 metros; médios, 5.000 metros; avançado-centro, 4.330 metros;
defesas, 3,800 metros e guarda-redes 1.000 metros no máximo.
Como os juízes
de campo têm que despender um grande esforço, torna-se necessário submetê-los a
uma observação médica insistente, que é obrigatória em França, a partir de
1961, conforme o preceituado pelo Alto-comissário da Juventude e dos Desportos.
A
obrigatoriedade desta observação, determinada pelo esforço que se pede ao
Árbitro, envolve, por seu turno, uma preparação tão ao mais aturada,
evidentemente, que a dos jogadores.
Logo, os
cuidados que o juiz de campo tem de ter consigo no referente à condição física,
situam-se no paralelo em que o profissionalismo colocou o futebolista.
Até aqui tudo
parece militar a favor da sua profissionalização.
O
semi-profissionalismo e muito menos o amadorismo não dão as mesmas garantias
relativamente à observação de um certo número de preceitos que a noção e o
espírito de profissão encerram, estabelecem e exigem.
O Árbitro de
qualquer destes tipos, o segundo mais do que o primeiro, naturalmente,
descurarão a preparação, sem que com isso se considerem sob o peso de graves
responsabilidades, julgando-se a si próprios com bastante benevolência quanto
às culpas que lhe são assacadas”.
Agradeco imenso ao Sr Dr Alberto perpetuar a imagem e obra dum profundo conhecedor de futebol que à data até já preconizava uma arbitragem profissional . Bem haja
ResponderEliminarAgradeço a mensagem. Eu não possuo o título académico que refere. Saudações. Alberto Helder
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