O Boletim “O
Árbitro” nº 69 (Ano VI), de há cinquenta anos, abordou, entre outros, os
seguintes assuntos:
BIBLIOTECA – Dá-se conta dos
exemplares existentes e registados, desde 634 a 676.
LEO HORN – O
Árbitro internacional holandês que em 2 de Maio de 1962, dirigiu o jogo final
da Taça dos Campeões Europeus entre as equipas do Benfica e do Real Madrid
(5-3), foi entrevistado pelo saudoso jornalista Carlos Pinhão (ambos na imagem), em Amesterdão.
De seu nome Leopoldo Sylvain Horn (n. 29.08.1916/16.09.1995), lamentava-se, na
altura, que nunca tinha actuado em Portugal e que gostaria que isso
acontecesse. E assim se verificou. Em 31.10.1965, no Porto, arbitrou a partida
entre as selecções de Portugal e da Checoslováquia (0-0), a qual contava para a
fase de apuramento para o mundial de 1966, onde a nossa equipa viria a obter um
honroso terceiro lugar!
COLÓQUIO
PROMOVIDOS PELA ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL DE LISBOA – No encerramento da primeira
sessão, o então Director-geral dos Desportos, Osvaldo Valadão Chagas (na foto), disse: “A
vitória é uma aspiração legítima, naturalmente legítima, de quem pratica
desporto de competição, mas não pode ser considerado o fim último dessa
competição; por isso se torna indispensável que a orientação e a preparação não
sejam apenas de ordem técnica mas também revistam um sentido moral, ensinando-se
que a vitória só pode ser alcançada por meios dignos e rectos e ensinando-se,
ainda, que a vitória da disciplina, da compostura, do comportamento é, para
além dos números de qualquer partida desportiva, a verdadeira vitória do
desporto”. Mais adiantou
que são necessários mais praticantes e de mais formadores que ensinem e
especialmente as boas práticas desportivas. Os vindouros devem através da
actividade desportiva preparar-se física, moral e intelectualmente.
CONVÍVIO
HUMANO – O Dr. Freitas de Sousa (na imagem), também palestrante na iniciativa da Associação
de Futebol de Lisboa, fez um extenso discurso visando a evolução do
relacionamento entre pessoas e, curiosamente, entre a complexidade existente no
reino animal, destacando os animais selvagens orientados por leis colectivas
muito rígidas e de carácter imutável. Mais diz que “no caso do homem, pelo
contrário, ele vive em multidão pelo curso inexorável da sua própria evolução.
Na era paleolítica final, há cerca de 40.000 anos, vivia em reduzidíssimos
grupos familiares, onde se confinava toda a sua luta pela conservação do
individuo e espécie. À medida que a população humana aumentava, foram possíveis
as primeiras concentrações sob a forma de Tribo, sujeitas a leis colectivas já
supra-familiares. Só muito mais tarde se organizaram os primeiros estados, os
pequenos estados-cidade, que deram origem, por aglomeração, a nações mais ou
menos uniformizadas. A evolução prossegue nos nossos dias para as grandes federações,
no sentido supra-nacional, ou com características nacionais muito amplas, cujo
limite é o governo universal dos livros e ficção científica”. Questiona qual é
a dimensão actual do homem, estando associada à hereditariedade e ao meio
ambiente, sem separação entre o bem e o mal. Faz uma sentida comparação entre o
que é convívio, exemplificando um desafio de futebol entre 22 amigos, sem
espectadores e até sem árbitro e aquela partida de futebol, transformada num
espectáculo aliciante para a multidão que esgota a lotação, enchente essa em princípio
acessória para a prática do jogo, mas que interfere como um colectivo tão
poderoso que os valores se podem inverter, potencializando e alterando o tipo
inicial de convivência. Durante o seu longo discurso, leu trabalhos dos poetas
Armindo Rodrigues e Fernando Pessoa. E, deste último, transcreve-se,
a-propósito, o titulado
LIBERDADE
Ai que prazer
Não cumprir
um dever.
Ter um livro
para ler
E não o
fazer!
Ler é maçada,
Estudar é
nada.
O sol doira
Sem
literatura.
O rio corre,
bem ou mal,
Sem edição
original.
E a brisa,
essa,
De tão
naturalmente matinal
Como tem
tempo não tem pressa…
-Livros são
papéis pintados com tinta.
Estudar é uma
coisa em que está indistinta.
A distinção
entre nada e coisa nenhuma.
-Quanto é melhor,
quanto há bruma,
Esperar por
D. Sebastião,
Quer venha ou
não!
-Grande é a
poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor
do mundo são as crianças,
Flores,
música, o luar e o sol, que peca
Só quando em
vez de criar, seca.
O mais do
que isto
É Jesus Cristo,
que não sabia nada de finanças
Nem consta
que tivesse biblioteca…
JORNAL DIÁRIO
DE LISBOA (07.04.1921/30.11.1990), também aniversariante, mereceu as
correspondentes felicitações.
JORNAL MUNDO
DESPORTIVO (04.04.1945/30.05.1980) – Na passagem do décimo oitavo aniversário
da sua existência saúdam-se todos os que ali trabalham.
DE TUDO UM
POUCO – Na Suíça algumas Comissões de Arbitragem organizaram a árvore de Natal
para os filhos dos seus filiados, exemplo que poderia ser seguido noutras latitudes…
O Dr. José Maria Antunes, como seleccionador nacional, nas apreciações que tem
produzido sobre alguma partidas de futebol, tem beliscado os Árbitros no seu
trabalho, fazendo-o em termos incorrectos e impróprios de um indivíduo com a
sua formação. O seu comportamento tem sido justamente criticado até porque o
citado está muito longe de ser uma autoridade na matéria e todos ainda se
lembram dos seus tempos de jogador de futebol. Agora classificar de miserável
uma arbitragem…Em Moçambique, a arbitragem tem novo presidente: Alberto dos
Santos Costa. Já começou a dinamizar o sector com a realização de inúmeras
palestras, contando com ilustres convidados. Conta ainda com a colaboração dos
filiados na apresentação de trabalhos sobre as leis do jogo e está prevista a
compra de uma máquina de filmar e projectar. Daniel Zariquiegui, Árbitro
internacional espanhol (1951/1970), entrevistado pelo jornal Marca, respondeu à
seguinte questão: Que pensa dos futebolistas que se fingem lesionados no
decurso dos jogos? Constituem uma praga do futebol. O que está regulamentado é
cumprido à risca pelos Árbitros. Sucede, porém, que há tão bons comediantes que
é difícil distinguir a intenção. E o que é certo é que com a sua atitude.
Conseguem atirar o odioso para cima do Árbitro ou da equipa contrária. O
jornalista termina assim: Se os pugilistas se dedicam ao toureio e ao canto
flamengo, porque não se dedicam os jogadores e futebol ao teatro?
Pela Comissão Central foi apresentada queixa ao Director-geral dos Desportos motivada pelos
insultos e tentativa de agressão a dois dos seus membros que assistiam no
Estádio José Alvalade a um encontro de reservas entre as equipas do Sporting e
do Benfica. Graças à pronta intervenção do antigo director da Associação de
Futebol de Lisboa, Raimundo Prieto, as ameaças não tiveram consequências mais
graves.
O Árbitro internacional espanhol José Plaza Pedraz
(05.11.1919/19.06.2002), estava a dirigir uma partida em Mestlla (Valência)
quando aos 30 minutos do primeiro tempo se lhe partiu uma das botas que
calçava. Sem qualquer embaraço lançou fora o que restava do calçado e continuou
no rectângulo de jogo só com uma das botas até ao intervalo. Na Inglaterra
decorreu uma forte campanha contra a indisciplina, contando com a colaboração e
apoio da crítica e dos Árbitros, a qual resultou em pleno: voltou a fair-play!
O jornal italiano La Gazzetta dello Sport sugere que os auxiliares dos Árbitros
tenham mais autoridade no desempenho das suas funções, pois há situações
complicadas, mesmo à sua frente, em que ficam quedos e mudos. Por fim, no
Brasil, em Goiânia, um Árbitro expulsou o seu auxiliar… Motivo: por ser
inexpressiva a assistência que estava a dar ao chefe de equipa! Resultado: Com
alguma surpresa o jogo foi até ao fim conduzido pelos dois restantes elementos
da equipa de arbitragem…
TÍTULOS –
“Talvez tenha razão, talvez não! (da lei da vantagem), é assinado por Barros de
Araújo. Hugo Silva, subscreve em Notas Soltas, “Os Boletins dos Clubes” e “O
Compadre Alentejano”. De Évora chega-nos pela pena de Mariano Sabino dos Santos
“Ditos e ditados”. Vítor Ferreira de Melo, no Rádio Clube Português profere uma
crónica denominada “Comentador Desportivo” merecedora de elogio. Vem de Viseu o
tema “O primeiro apadrinhamento na arbitragem”, assinado por Gonçalves Rebelo
(na foto).
HONRA E
DIGNIDADE – Hugo Silva, incrédulo quanto a uma decisão da Federação Portuguesa
de Futebol que aplicou 15 dias de suspensão e 250$00 de multa a um treinador
por este ter dirigido insultos à equipa de arbitragem que atingiram
profundamente a sua respeitabilidade… Ficou pasmado pelo pouco que valem, no
conceito do legislador, tais valores e princípios alheios… Ainda sugere que no
grupo que elabora a legislação desportiva estivesse a sensibilidade da
arbitragem, uma vez que contribuiria para que a acção disciplinadora fosse mais
austera, dura inflexível, como deveria ser, afinal. Por fim, faz a seguinte
pergunta: Para quando o Tribunal Desportivo, por que todos ansiamos?
EXEMPLAR
COMPORTAMENTO – O mesmo autor anterior escreve a dar conta de que, durante toda
a sua vida desportiva (foi praticante, entre outras das seguintes modalidades:
andebol, esgrima, ténis de mesa e futebol (onde exerceu também a função de
Árbitro), nunca foi alvo de qualquer castigo disciplinar. Frequentou o Ginásio
Clube Português, uma escola de virtudes, e dos professores que o orientaram
para a prática desportiva e para a própria vida, destaca o Mestre António
Martins que lhe transmitiu e sempre assim entendeu que o resultado não era mais
do que uma natural consequência do jogo. Contudo, passa a analisar, com alguma
perplexidade à mistura, a seguinte questão: a Federação Portuguesa de Futebol
atribui medalhas de Exemplar Comportamento a jogadores que realizaram um
determinado número de jogos sem ter sofrido qualquer castigo. Entende que o
exemplar comportamento não merece qualquer citação especial, pois o praticante
nada mais faz do que a sua obrigação, isto é ter atitude de jogar limpo!
Pergunta, ainda: Será razoável que, por exemplo, uma instituição bancária
ofereça uma condecoração a um seu funcionário que esteve vinte, trinta anos
como caixa e nunca se apoderou do dinheiro que lhe pertencia? Esse não era o
seu dever? Termina, dizendo, quando será que as pessoas interpretam e
interiorizam a imortal legenda: Mens Sana in Corpore Sano!
QUADRO
NACIONAL DA 3ª DIVISÃO E JUNIORES – ÉPOCA 1962/63 – Distribuição das equipas de
arbitragem: Aveiro (2), Beja (3), Braga (3), Castelo Branco (1), Coimbra (3),
Évora (2), Faro (2), Leiria (2), Lisboa (9), Portalegre (1), Porto (9),
Santarém (4), Setúbal (4), Vila Real (1) e Viseu (2).
TORNEIO DE
APURAMENTO PARA A TAÇA DE PORTUGAL – Os encontros que se realizaram no Funchal
entre equipas madeirenses foram dirigidos por:
ROGÉRIO DE
MELO PAIVA, de Lisboa (na foto, com…)-
Em 03.03.1963 – Meia-final, primeira mão -
Sporting-Nacional (3-3).
ÁLVARO RODRIGUES, de Coimbra (na foto com Romão Ferreira e …).
Em 03.03.1963 – Meia-final, primeira mão - Marítimo-União
(2-1), Árbitro Álvaro Rodrigues (Coimbra), com Romão Ferreira. Desconheço e...
Em 10.03.1963 – Meia-final, segunda mão – Nacional-Sporting
(3-1).
EDUARDO ROSA GOUVEIA, de Lisboa (na foto com Jaime Bruno
Pereira e António Flores Camacho)
Em 17.03.1963 – Final, primeira mão - Nacional-União (0-0).
Em 24.03.1963 – Final, segunda mão - União-Nacional (1-0).
CUSTO DAS ASSINATURAS DO BOLETIM: Para
Continente, Ilhas Adjacentes e Espanha, por via normal e por semestre, 24$00.
Para as Províncias Ultramarinas, por via aérea, 106$00 e normal, 51$00.
Exigia-se o pagamento antecipado.
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