domingo, 10 de março de 2013

NAQUELE TEMPO – MARÇO DE 1963 (EPISÓDIO 67)

O Boletim “O Árbitro” nº 69 (Ano VI), de há cinquenta anos, abordou, entre outros, os seguintes assuntos:
BIBLIOTECA – Dá-se conta dos exemplares existentes e registados, desde 634 a 676.
LEO HORN – O Árbitro internacional holandês que em 2 de Maio de 1962, dirigiu o jogo final da Taça dos Campeões Europeus entre as equipas do Benfica e do Real Madrid (5-3), foi entrevistado pelo saudoso jornalista Carlos Pinhão (ambos na imagem), em Amesterdão. De seu nome Leopoldo Sylvain Horn (n. 29.08.1916/16.09.1995), lamentava-se, na altura, que nunca tinha actuado em Portugal e que gostaria que isso acontecesse. E assim se verificou. Em 31.10.1965, no Porto, arbitrou a partida entre as selecções de Portugal e da Checoslováquia (0-0), a qual contava para a fase de apuramento para o mundial de 1966, onde a nossa equipa viria a obter um honroso terceiro lugar!
COLÓQUIO PROMOVIDOS PELA ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL DE LISBOA – No encerramento da primeira sessão, o então Director-geral dos Desportos, Osvaldo Valadão Chagas (na foto), disse: “A vitória é uma aspiração legítima, naturalmente legítima, de quem pratica desporto de competição, mas não pode ser considerado o fim último dessa competição; por isso se torna indispensável que a orientação e a preparação não sejam apenas de ordem técnica mas também revistam um sentido moral, ensinando-se que a vitória só pode ser alcançada por meios dignos e rectos e ensinando-se, ainda, que a vitória da disciplina, da compostura, do comportamento é, para além dos números de qualquer partida desportiva, a verdadeira vitória do desporto”. Mais adiantou que são necessários mais praticantes e de mais formadores que ensinem e especialmente as boas práticas desportivas. Os vindouros devem através da actividade desportiva preparar-se física, moral e intelectualmente.
CONVÍVIO HUMANO – O Dr. Freitas de Sousa (na imagem), também palestrante na iniciativa da Associação de Futebol de Lisboa, fez um extenso discurso visando a evolução do relacionamento entre pessoas e, curiosamente, entre a complexidade existente no reino animal, destacando os animais selvagens orientados por leis colectivas muito rígidas e de carácter imutável. Mais diz que “no caso do homem, pelo contrário, ele vive em multidão pelo curso inexorável da sua própria evolução. Na era paleolítica final, há cerca de 40.000 anos, vivia em reduzidíssimos grupos familiares, onde se confinava toda a sua luta pela conservação do individuo e espécie. À medida que a população humana aumentava, foram possíveis as primeiras concentrações sob a forma de Tribo, sujeitas a leis colectivas já supra-familiares. Só muito mais tarde se organizaram os primeiros estados, os pequenos estados-cidade, que deram origem, por aglomeração, a nações mais ou menos uniformizadas. A evolução prossegue nos nossos dias para as grandes federações, no sentido supra-nacional, ou com características nacionais muito amplas, cujo limite é o governo universal dos livros e ficção científica”. Questiona qual é a dimensão actual do homem, estando associada à hereditariedade e ao meio ambiente, sem separação entre o bem e o mal. Faz uma sentida comparação entre o que é convívio, exemplificando um desafio de futebol entre 22 amigos, sem espectadores e até sem árbitro e aquela partida de futebol, transformada num espectáculo aliciante para a multidão que esgota a lotação, enchente essa em princípio acessória para a prática do jogo, mas que interfere como um colectivo tão poderoso que os valores se podem inverter, potencializando e alterando o tipo inicial de convivência. Durante o seu longo discurso, leu trabalhos dos poetas Armindo Rodrigues e Fernando Pessoa. E, deste último, transcreve-se, a-propósito, o titulado
LIBERDADE
Ai que prazer
Não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal
Como tem tempo não tem pressa…
-Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta.
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
-Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
-Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol, que peca
Só quando em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo, que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…
JORNAL DIÁRIO DE LISBOA (07.04.1921/30.11.1990), também aniversariante, mereceu as correspondentes felicitações.
JORNAL MUNDO DESPORTIVO (04.04.1945/30.05.1980) – Na passagem do décimo oitavo aniversário da sua existência saúdam-se todos os que ali trabalham.
DE TUDO UM POUCO – Na Suíça algumas Comissões de Arbitragem organizaram a árvore de Natal para os filhos dos seus filiados, exemplo que poderia ser seguido noutras latitudes… O Dr. José Maria Antunes, como seleccionador nacional, nas apreciações que tem produzido sobre alguma partidas de futebol, tem beliscado os Árbitros no seu trabalho, fazendo-o em termos incorrectos e impróprios de um indivíduo com a sua formação. O seu comportamento tem sido justamente criticado até porque o citado está muito longe de ser uma autoridade na matéria e todos ainda se lembram dos seus tempos de jogador de futebol. Agora classificar de miserável uma arbitragem…Em Moçambique, a arbitragem tem novo presidente: Alberto dos Santos Costa. Já começou a dinamizar o sector com a realização de inúmeras palestras, contando com ilustres convidados. Conta ainda com a colaboração dos filiados na apresentação de trabalhos sobre as leis do jogo e está prevista a compra de uma máquina de filmar e projectar. Daniel Zariquiegui, Árbitro internacional espanhol (1951/1970), entrevistado pelo jornal Marca, respondeu à seguinte questão: Que pensa dos futebolistas que se fingem lesionados no decurso dos jogos? Constituem uma praga do futebol. O que está regulamentado é cumprido à risca pelos Árbitros. Sucede, porém, que há tão bons comediantes que é difícil distinguir a intenção. E o que é certo é que com a sua atitude. Conseguem atirar o odioso para cima do Árbitro ou da equipa contrária. O jornalista termina assim: Se os pugilistas se dedicam ao toureio e ao canto flamengo, porque não se dedicam os jogadores e futebol ao teatro?
 Pela Comissão Central foi apresentada queixa ao Director-geral dos Desportos motivada pelos insultos e tentativa de agressão a dois dos seus membros que assistiam no Estádio José Alvalade a um encontro de reservas entre as equipas do Sporting e do Benfica. Graças à pronta intervenção do antigo director da Associação de Futebol de Lisboa, Raimundo Prieto, as ameaças não tiveram consequências mais graves.
 O Árbitro internacional espanhol José Plaza Pedraz (05.11.1919/19.06.2002), estava a dirigir uma partida em Mestlla (Valência) quando aos 30 minutos do primeiro tempo se lhe partiu uma das botas que calçava. Sem qualquer embaraço lançou fora o que restava do calçado e continuou no rectângulo de jogo só com uma das botas até ao intervalo. Na Inglaterra decorreu uma forte campanha contra a indisciplina, contando com a colaboração e apoio da crítica e dos Árbitros, a qual resultou em pleno: voltou a fair-play! O jornal italiano La Gazzetta dello Sport sugere que os auxiliares dos Árbitros tenham mais autoridade no desempenho das suas funções, pois há situações complicadas, mesmo à sua frente, em que ficam quedos e mudos. Por fim, no Brasil, em Goiânia, um Árbitro expulsou o seu auxiliar… Motivo: por ser inexpressiva a assistência que estava a dar ao chefe de equipa! Resultado: Com alguma surpresa o jogo foi até ao fim conduzido pelos dois restantes elementos da equipa de arbitragem…
TÍTULOS – “Talvez tenha razão, talvez não! (da lei da vantagem), é assinado por Barros de Araújo. Hugo Silva, subscreve em Notas Soltas, “Os Boletins dos Clubes” e “O Compadre Alentejano”. De Évora chega-nos pela pena de Mariano Sabino dos Santos “Ditos e ditados”. Vítor Ferreira de Melo, no Rádio Clube Português profere uma crónica denominada “Comentador Desportivo” merecedora de elogio. Vem de Viseu o tema “O primeiro apadrinhamento na arbitragem”, assinado por Gonçalves Rebelo (na foto).
HONRA E DIGNIDADE – Hugo Silva, incrédulo quanto a uma decisão da Federação Portuguesa de Futebol que aplicou 15 dias de suspensão e 250$00 de multa a um treinador por este ter dirigido insultos à equipa de arbitragem que atingiram profundamente a sua respeitabilidade… Ficou pasmado pelo pouco que valem, no conceito do legislador, tais valores e princípios alheios… Ainda sugere que no grupo que elabora a legislação desportiva estivesse a sensibilidade da arbitragem, uma vez que contribuiria para que a acção disciplinadora fosse mais austera, dura inflexível, como deveria ser, afinal. Por fim, faz a seguinte pergunta: Para quando o Tribunal Desportivo, por que todos ansiamos?
EXEMPLAR COMPORTAMENTO – O mesmo autor anterior escreve a dar conta de que, durante toda a sua vida desportiva (foi praticante, entre outras das seguintes modalidades: andebol, esgrima, ténis de mesa e futebol (onde exerceu também a função de Árbitro), nunca foi alvo de qualquer castigo disciplinar. Frequentou o Ginásio Clube Português, uma escola de virtudes, e dos professores que o orientaram para a prática desportiva e para a própria vida, destaca o Mestre António Martins que lhe transmitiu e sempre assim entendeu que o resultado não era mais do que uma natural consequência do jogo. Contudo, passa a analisar, com alguma perplexidade à mistura, a seguinte questão: a Federação Portuguesa de Futebol atribui medalhas de Exemplar Comportamento a jogadores que realizaram um determinado número de jogos sem ter sofrido qualquer castigo. Entende que o exemplar comportamento não merece qualquer citação especial, pois o praticante nada mais faz do que a sua obrigação, isto é ter atitude de jogar limpo! Pergunta, ainda: Será razoável que, por exemplo, uma instituição bancária ofereça uma condecoração a um seu funcionário que esteve vinte, trinta anos como caixa e nunca se apoderou do dinheiro que lhe pertencia? Esse não era o seu dever? Termina, dizendo, quando será que as pessoas interpretam e interiorizam a imortal legenda: Mens Sana in Corpore Sano!
QUADRO NACIONAL DA 3ª DIVISÃO E JUNIORES – ÉPOCA 1962/63 – Distribuição das equipas de arbitragem: Aveiro (2), Beja (3), Braga (3), Castelo Branco (1), Coimbra (3), Évora (2), Faro (2), Leiria (2), Lisboa (9), Portalegre (1), Porto (9), Santarém (4), Setúbal (4), Vila Real (1) e Viseu (2).
TORNEIO DE APURAMENTO PARA A TAÇA DE PORTUGAL – Os encontros que se realizaram no Funchal entre equipas madeirenses foram dirigidos por:
ROGÉRIO DE MELO PAIVA, de Lisboa (na foto, com…)-
Em 03.03.1963 – Meia-final, primeira mão - Sporting-Nacional (3-3).
ÁLVARO RODRIGUES, de Coimbra (na foto com Romão Ferreira e …).
Em 03.03.1963 – Meia-final, primeira mão - Marítimo-União (2-1), Árbitro Álvaro Rodrigues (Coimbra), com Romão Ferreira. Desconheço e...
Em 10.03.1963 – Meia-final, segunda mão – Nacional-Sporting (3-1).
EDUARDO ROSA GOUVEIA, de Lisboa (na foto com Jaime Bruno Pereira e António Flores Camacho)
Em 17.03.1963 – Final, primeira mão - Nacional-União (0-0).
Em 24.03.1963 – Final, segunda mão - União-Nacional (1-0).
CUSTO DAS ASSINATURAS DO BOLETIM: Para Continente, Ilhas Adjacentes e Espanha, por via normal e por semestre, 24$00. Para as Províncias Ultramarinas, por via aérea, 106$00 e normal, 51$00. Exigia-se o pagamento antecipado.

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