terça-feira, 3 de setembro de 2013

NAQUELE TEMPO – SETEMBRO DE 1963 – EPISÓDIO 73

Do Boletim “O Árbitro” nº 75 (Ano VII), publicado há precisamente 50 anos, sobressai o seguinte:
CAMPANHA DE DESPORTIVISMO NA ÉPOCA 1963/64
A Federação Portuguesa de Futebol promoveu esta excelente iniciativa que tem como bandeira as seguintes 10 regras de correcção:
Futebol sem correcção não é desporto.
O saber perder equivale a uma grande vitória.
O adversário é um companheiro e nunca um inimigo.
Em desporto o essencial não é vencer mas sim saber lutar.
O jogo violento não revela somente o mau carácter daquele que o pratica. Mostra também a sua inferioridade perante o adversário.
A dignidade do desporto depende tanto do público como daqueles que o praticam.
A maior parte das vezes a beleza do desporto está dependente apenas do grau de educação do espectador.
Para maior grandeza do futebol sejamos calmos e imparciais. Nem vaidade quando vencemos nem desespero quando somos vencidos.
O futebol é um jogo viril, próprio de atletas com grande preparação física. Mas virilidade não é violência. Violência na prática do jogo é autêntica cobardia.
Jogo duro qualquer pode fazer não exige preparação física, nem técnica, nem táctica.
PRÉMIOS DE DESPORTIVISMO-REGULAMENTO
1.A Federação Portuguesa de Futebol, na sua reunião de 13 de Julho de 1963, deliberou atribuir medalhas de ouro aos atletas considerados como melhores desportistas durante a época de 1963/64, em cada uma das competições das I, II e III divisões, de Juniores e Principiantes.
2.A classificação dos atletas será realizada com as opiniões dos Árbitros, quanto ao jogador que, em cada jogo, considerem mais correcto, exaradas em boletim especial, confidencial, contando para a classificação todos os jogos das provas oficiais da FPF.
3. Ficam automaticamente eliminados todos os atletas que tenham sofrido qualquer castigo nesta época.
4.A abertura dos sobrescritos com os boletins, terá lugar em sessão pública, no final da época de 1963/64, em data a anunciar previamente.
5.Verificando-se igualdade de votos entre dois ou mais atletas, em qualquer das competições, a escolha recairá sobre o atleta que tenha participado em maior número de encontros no decorrera da época. Se, assim mesmo, a igualdade de situações se mantiver, recorrer-se-á então, às épocas anteriores e, nesse caso, será considerado eleito aquele que no seu cadastro tenha maior número de épocas sem qualquer punição, incluindo advertências ou repreensões registadas.
6. Os Árbitros devem enviar à Secretaria da FPF os boletins devidamente preenchidos, em sobrescrito fechado, juntamente com os boletins dos jogos.
7.Qualquer caso não previsto neste regulamento será resolvido pela Direcção da FPF.
ARES DE ESPANHA
O autor desta rubrica, Joaquim Campos, refere que os Árbitros das Canárias passam a dirigir jogos no continente, ficando assim em igualdade com os seus colegas dos restantes centros do país.
O recentemente falecido Vicente Caballero estava indigitado para dirigir a Comissão de Árbitros de Madrid e, mais tarde, passaria para o Comité Central, o que, natural e infelizmente, não se concretizou. A arbitragem espanhola vai ter o seu boletim informativo, mas, curiosamente, dirigido por elementos que nada têm a ver com o sector.
Por fim dá conta da saída do quadro dos seguintes Árbitros: Gomez Contreras, Zaz, Cozar, estes por limite de idade, e Prentes e Luiz Quel por carência de forma (?). Ascenderam à primeira categoria: Clausi, de Valência; Rigo, de Maiorca; Ruiz Alciturri de Santander; Alvarez Martinez, de Madrid; Oliva, de Barcelona; Garcia Rodriguez, da Corunha e Barranechea, de Valladolid.
O Director do Boletim esteve em todas as ilhas dos arquipélagos da Madeira e dos Açores e constatou ser alarmante o panorama de recrutamento e das condições de trabalho dos Árbitros insulares, com a agravante das Comissões Distritais não estarem constituídas ou completas, o que proporcionam total alheamento dos juízes à causa que tanto entusiasmo inicial dedicaram.
O Director-geral dos Desportos, Armando Rocha, assistiu ao festival desportivo em Viseu, com a inauguração da pista de atletismo.
Aplaude-se a decisão da Associação de Futebol de Lisboa que não autoriza a realização de jogos de treino sem que os clubes cumpram o preceituado como se de um jogo formal se tratasse, especialmente com a presença de Árbitros nomeados oficialmente e do necessário policiamento.
Mais informa a Associação de Futebol de Lisboa que na marcação dos rectângulos de jogo deva ser utilizada “cal líquida”. A “cal em pó”, recomendada pela Comissão de Vistorias, deve ser empregada em dias muito chuvosos.
A Comissão Distrital dos Árbitros de Futebol de Lisboa deliberou não autorizar que os seus filiados a actuarem graciosamente em quaisquer encontros de futebol, salvo naqueles que se destinam com fins beneficentes.
Eduardo Rodrigues da Costa, Árbitro de Setúbal, aborda “Conhece-te a ti próprio”. “Considerações diversas sobre a arbitragem no limiar da época”, da autoria do jornalista desportivo do Porto, Carlos Martins. Luís Antunes Gaspar, membro da Comissão Central, subscreve “Questões de arbitragem”. “A orgânica da arbitragem na Áustria”, trabalho de Joaquim Campos. Carmo Lourenço assina o tema “Confusão que deve evitar-se”. Joaquim Campos desenvolve “Os mortos também jogam à bola”. O Professor Amaral Borges, de São Miguel, Açores, dá a conhecer o seu original “Futebol-suas repercussões morais, sociais e universais”.
PÁGINA DA COMISSÃO CENTRAL
A Direcção-geral dos Desportos, sob proposta da Comissão Central, autorizou a suspensão da dedução de 10% que vinha onerando as remunerações dos Árbitros, com destino ao Fundo de Aperfeiçoamento Técnico. Quanto aos valores que se encontram em carteira vão ser aplicados nos cursos e palestras na presente época.
A Federação chama a atenção aos Árbitros que procedam a expulsões de jogadores e que não os identifiquem com segurança e que, ainda, não retenham os seus cartões-licenças serão objecto de procedimento disciplinar.
A Comissão Central recorda a obrigatoriedade de identificar os elementos que ocupem os lugares a que lhes estão destinados, caso de delegados, médicos, treinadores e massagistas.
Na imagem abaixo o presidente da Comissão Central Fernando Alberto Flores Pimenta no uso da palavra aquando da tomada de posse perante a hierarquia do desporto em Portugal.
A International Board, de harmonia com a sua decisão de Junho de 1963, alterou o texto da Lei V-Equipamento dos jogadores, a alínea b), que passa a: Os pitões devem ser sólidos e de cabedal, borracha, alumínio, plástico ou material similar. Com excepção do pitão formando a base, a qual não deve exceder a sola, mais de que um quarto de polegada (6,4 milímetros) os pitões deverão ser redondos e planos e não devem ter menos de meia polegada (12,7 milímetros). Quando os pitões forem pontiagudos, o diâmetro mínimo de qualquer secção dos mesmos não deve ter menos de um quarto de polegada (6,4 milímetros). Quando forem utilizados pitões, tipo roscado, as bases metálicas deverão ser mantidas na sola devendo os respectivos espigões formar um todo com os pitões. Com excepção destas placas, não é permitido o uso de chapas metálicas ainda que revestidas com cabedal ou borracha, nem pitões aparafusados com porca fixada por pregos ou por qualquer forma às solas das botas, nem pitões que, desligados da base, tenham qualquer forma saliente ou bordos, guarnições ou ornamentos.
Acrescentou ainda que ao executar-se um pontapé livre, os jogadores gesticularem ou saltitarem com a intenção de distrair os adversários, tal comportamento deve considerar-se como conduta incorrecta, pelo que o infractor ou infractores dever ser advertidos.
Como se pode constatar na imagem seguinte Fernando Pimenta e Joaquim Campos frequentaram o curso promovido pela Associação dos Árbitros Italianos, em Riccione.
EQUIPAS DE ARBITRAGEM ÉPOCA 1963/1964
I/II DIVISÕES
AVEIRO
-Equipa A, Edmundo Duarte de Carvalho, Henrique Francisco Silva e Costa e Jorge da Silva. Equipa B, José Porfírio Carvalho e Silva, José dos Santos Pereira e Manuel Maria Valente. Equipa C, Carlos dos Santos Paula, Mário Pereira da Silva e Manuel da Silva Soares.
BEJA
-FRANCISCO PACHECO-
-Equipa A, Manuel Vaz Valente, Mário Gomes Alves e Raul Domingos Sequeira. Equipa B-Francisco de Sousa Pacheco, António Joaquim Velhinho e Viriato Lusitano da Piedade Agatão.
BRAGA
-AMADEU MARTINS-
-Equipa A, Carlos de Deus Cachorreiro, Diogo Vasco dos Santos Manso e Rogério João Coelho Moreira. Equipa B, Amadeu Pereira Martins, José Alves Azevedo e Mário Costa.
CASTELO BRANCO
-JOÃO GONÇALVES-
-Equipa A, João Lopes Gonçalves, José Carrola Pinheiro, José Joaquim Cardoso e José António Antunes Baptista.
COIMBRA
-ÁLVARO RODRIGUES-
-Equipa A, Álvaro Rodrigues, António Lopes da Rosa e Armando Nascimento Teixeira. Equipa B, Renato Soares dos Santos, António Amaro e Graciano Marques. Equipa C, António Ferreira dos Santos, Henrique Graça e Gilberto Nunes Gonçalves.
ÉVORA
-Equipa A, Manuel Joaquim Fortunato, José Madeira da Rocha e Helder Correia Silveira. Equipa B, Joaquim José Magro, Manuel Américo Peres e Mário Salvado.
FARO
-CÉSAR CORREIA-
-Equipa A, Vítor Pinto Rodrigues Coelho, José Rosa Dias Nunes e César da Luz Dias Correia.
LEIRIA
-SALDANHA RIBEIRO-
-Equipa A, Júlio Braga Barros, Gervásio Pedroso Tojeira e Alfredo Bernardes Antunes. Equipa B, António Saldanha Ribeiro, António Almeida Marques e Domingos Feliciano Moisés.
PORTALEGRE
-ALBERTO MARTINS-
-Equipa A, Manuel Luís Curinha de Sousa, Manuel Barbas Bagina e José Pinto da Costa. Equipa B, Alberto Margarido Martins, Severiano Atanásio Ferro e José Luís das Vacas.
PORTO
-FRANCISCO GUERRA-
-Equipa A, Clemente Henriques, Fernando Nunes dos Santos Leite e António Azevedo da Costa. Equipa B, Francisco Gonçalves Guerra, António Fernando Gonçalves Ventura e António Cid Gomes. Equipa C, Aniceto de Jesus Nogueira, Caetano José Nogueira e Elísio Ferreira Marques. Equipa D, João Pinto Ferreira, Armando António da Silva Faria e Francisco Gomes da Silva. Equipa E, Jovino Soares de Matos Pinto, Pedro pereira dos Santos e David Gonçalves da Rocha. Equipa F, António Joaquim da Costa Martins, Domingos da Silva Mota e Manuel da Silva Teixeira.
 SANTARÉM
-JOÃO CALADO-
-Equipa A, Manuel Lousada Rodrigues, José Alexandre e José Pereira. Equipa B, João Luís Calado, Crisógono Lopes e Samuel Abreu. Equipa C, Fernando Velez, Adriano Vieira e Joaquim Libório Bastos.
SETÚBAL
-VIRGÍLIO BAPTISTA-
-Equipa A, António Virgílio Baptista, João Vitorino Nascimento Nogueira e Carlos Frias Monteiro. Equipa B, Marcos dos Santos Lobato, Mário Rosa Mendonça e José Augusto Ismael Baltazar. Equipa C, José da Encarnação Salgado, Inácio Mendes Tereso e Manuel Balseiro Fragata. Equipa D, José Paulo Guimarães, Carlos Alberto das Neves e Jaime Antunes Costa.
VILA REAL
-HENRIQUE SILVA-
-Equipa A, Henrique Pereira dos Santos e Silva, José Fernando Vieira Leite e José Fernando Neto de Melo. Equipa B, António da Costa Barros Araújo, Adão Agostinho Martins de Barros e Filinto de Oliveira Baptista.
VISEU
-EDUARDO NEVES-
-Equipa A, Eduardo Neves, José Albano Pereira e Ernesto Diniz da Silva Borrego.
DOIS CASOS, DUAS REFERÊNCIAS...
No jogo nacional disputado em Castelo Branco ambas as equipas precisavam de pontos para fugirem do fundo da tabela. Na sequência dum pontapé de canto favorável à equipa da casa muitos protestos por parte do seu público pois pretendia que o Árbitro assinalasse mão na bola por parte do defesa adversário, logo grande penalidade. Como a partida estava a terminar foi muito complicado sair desta situação. Contudo um jogador albicastrense abeirou-se do Árbitro e disse-lhe: “Fez bem em não apontar o penalti pois empurrei o adversário que, por tal movimento, tocou na bola involuntariamente”.
A segunda ocorrência aconteceu em Olhão em que o Árbitro vê-se na obrigação de expulsar dois jogadores antagónicos um por ameaças de agressão e outro por ofensas físicas. No final do jogo quando o delegado foi à cabina da equipa de arbitragem resolver a parte burocrática indagou o Árbitro para saber o que tinha feito um dos excluídos, tendo adiantado que, para além do castigo federativo, ainda queria repreendê-lo como jogador e como seu filho.
AGENDA DO ÁRBITRO
Férias, José Adriano da Mota, do Funchal, está em Lisboa. Viagens, Rogério Neves da Silva, regressa a Lisboa vindo de Timor e Rodrigo José Matos Sousa seguiu para Moçambique. Convite para casamento de César Augusto Reigadas. Restabelecimento físico de Álvaro Rodrigues, de Coimbra, após acidente de viação.
A equipa de arbitragem portuguesa composta por Clemente Henriques, Francisco Guerra e Manuel Lousada estiveram a dirigir em Espanha o encontro entre Valência e o
Shamrock Rovers, da Escócia (2-2). Licenciamento solicitado por Jorge Ferreira da Silva, de Aveiro. Novo dirigente na Comissão Distrital de Viseu: Agostinho Ferreira.
Falecimento, Fernando Augusto Pinheiro de Magalhães, em Díli (Timor).
Do livro “Tratado Ilustrado de Leis do Futebol, do Prof. Marques de Matos, foca-se a importância da elaboração do relatório do jogo que há-de fazer fé a quem tem de julgar as ocorrências que se verificaram antes, durante e depois da partida. O Árbitro terá de ter capacidade memorial para fixar os acontecimentos que venham a merecer o correspondente tratamento.
PEÇO A PALAVRA
O antigo Árbitro conimbricense Álvaro Santos (na imagem) dá a sua opinião quanto ao assunto que estava na ordem do dia: a integração da arbitragem nacional na Federação Portuguesa de Futebol. Entende que, se tal vier a acontecer, os Árbitros não perdem a sua personalidade, nem tampouco traem a causa a que se dedicaram. Recomenda muita calma, já que o problema não pode ser resolvido de ânimo leve, com precipitações. Diz que já foi tornado público o projecto de regulamento que poderá vir a orientar o “Departamento de Arbitragem”. No documento são criadas a Comissão Directiva, constituída por 7 elementos, quatro indicados pela Federação e três eleitos pelos organismos distritais, e a Comissão Executiva terá 3 membros da Comissão Directiva. Estaria de acordo que o presidente das Comissões fosse eleito pelo Congresso da Federação ao mesmo tempo que acha exagero que a Federação indique tanta gente (4 pessoas).
UM ÁRBITRO ESTRANGEIRO DE MÊS A MÊS
O registo refere-se ao maltês Thomas A. Restall nascido em 13.06.1936 na cidade de Cospicua.
Foi jogador amador e, dada a sua juventude, ainda não tem um currículo muito preenchido na sua carreira de Árbitro.
-1963-
A nível internacional actuou com Auxiliar na partida Valleta-Chelgea e dirigiu o amistoso Rijeka-Valleta.
Praticou pólo aquático e natação.
 –2013-
Os selos são a sua paixão de coleccionador.
Aspira contactar com os seus camaradas de outras nacionalidades e actuar no maior número de encontros internacionais.

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