Do Boletim “O
Árbitro” nº 75 (Ano VII), publicado há precisamente 50 anos, sobressai o
seguinte:
CAMPANHA DE
DESPORTIVISMO NA ÉPOCA 1963/64
A Federação
Portuguesa de Futebol promoveu esta excelente iniciativa que tem como bandeira as
seguintes 10 regras de correcção:
Futebol sem correcção não é desporto.
O saber perder equivale a uma grande vitória.
O adversário é um companheiro e nunca um inimigo.
Em desporto o essencial não é vencer mas sim saber lutar.
O jogo violento não revela somente o mau carácter daquele que o
pratica. Mostra também a sua inferioridade perante o adversário.
A dignidade do desporto depende tanto do público como daqueles que o
praticam.
A maior parte das vezes a beleza do desporto está dependente apenas do
grau de educação do espectador.
Para maior grandeza do futebol sejamos calmos e imparciais. Nem vaidade
quando vencemos nem desespero quando somos vencidos.
O futebol é um jogo viril, próprio de atletas com grande preparação
física. Mas virilidade não é violência. Violência na prática do jogo é
autêntica cobardia.
Jogo duro qualquer pode fazer não exige preparação física, nem técnica,
nem táctica.
PRÉMIOS DE
DESPORTIVISMO-REGULAMENTO
1.A Federação
Portuguesa de Futebol, na sua reunião de 13 de Julho de 1963, deliberou
atribuir medalhas de ouro aos atletas considerados como melhores desportistas
durante a época de 1963/64, em cada uma das competições das I, II e III
divisões, de Juniores e Principiantes.
2.A classificação dos
atletas será realizada com as opiniões dos Árbitros, quanto ao jogador que, em
cada jogo, considerem mais correcto, exaradas em boletim especial,
confidencial, contando para a classificação todos os jogos das provas oficiais
da FPF.
3. Ficam
automaticamente eliminados todos os atletas que tenham sofrido qualquer castigo
nesta época.
4.A abertura dos
sobrescritos com os boletins, terá lugar em sessão pública, no final da época
de 1963/64, em data a anunciar previamente.
5.Verificando-se igualdade
de votos entre dois ou mais atletas, em qualquer das competições, a escolha
recairá sobre o atleta que tenha participado em maior número de encontros no
decorrera da época. Se, assim mesmo, a igualdade de situações se mantiver,
recorrer-se-á então, às épocas anteriores e, nesse caso, será considerado
eleito aquele que no seu cadastro tenha maior número de épocas sem qualquer
punição, incluindo advertências ou repreensões registadas.
6. Os Árbitros devem
enviar à Secretaria da FPF os boletins devidamente preenchidos, em sobrescrito
fechado, juntamente com os boletins dos jogos.
7.Qualquer caso não
previsto neste regulamento será resolvido pela Direcção da FPF.
ARES DE ESPANHA
O autor desta
rubrica, Joaquim Campos, refere que os Árbitros das Canárias passam a dirigir
jogos no continente, ficando assim em igualdade com os seus colegas dos
restantes centros do país.
O recentemente
falecido Vicente Caballero estava indigitado para dirigir a Comissão de
Árbitros de Madrid e, mais tarde, passaria para o Comité Central, o que,
natural e infelizmente, não se concretizou. A arbitragem espanhola vai ter o
seu boletim informativo, mas, curiosamente, dirigido por elementos que nada têm
a ver com o sector.
Por fim dá conta da
saída do quadro dos seguintes Árbitros: Gomez Contreras, Zaz, Cozar, estes por
limite de idade, e Prentes e Luiz Quel por carência de forma (?). Ascenderam à
primeira categoria: Clausi, de Valência; Rigo, de Maiorca; Ruiz Alciturri de
Santander; Alvarez Martinez, de Madrid; Oliva, de Barcelona; Garcia Rodriguez,
da Corunha e Barranechea, de Valladolid.
O Director do Boletim
esteve em todas as ilhas dos arquipélagos da Madeira e dos Açores e constatou
ser alarmante o panorama de recrutamento e das condições de trabalho dos
Árbitros insulares, com a agravante das Comissões Distritais não estarem
constituídas ou completas, o que proporcionam total alheamento dos juízes à
causa que tanto entusiasmo inicial dedicaram.
O Director-geral dos
Desportos, Armando Rocha, assistiu ao festival desportivo em Viseu, com a
inauguração da pista de atletismo.
Aplaude-se a decisão
da Associação de Futebol de Lisboa que não autoriza a realização de jogos de
treino sem que os clubes cumpram o preceituado como se de um jogo formal se
tratasse, especialmente com a presença de Árbitros nomeados oficialmente e do
necessário policiamento.
Mais informa a
Associação de Futebol de Lisboa que na marcação dos rectângulos de jogo deva
ser utilizada “cal líquida”. A “cal em pó”, recomendada pela Comissão de
Vistorias, deve ser empregada em dias muito chuvosos.
A Comissão Distrital
dos Árbitros de Futebol de Lisboa deliberou não autorizar que os seus filiados
a actuarem graciosamente em quaisquer encontros de futebol, salvo naqueles que
se destinam com fins beneficentes.
Eduardo Rodrigues da
Costa, Árbitro de Setúbal, aborda “Conhece-te a ti próprio”. “Considerações
diversas sobre a arbitragem no limiar da época”, da autoria do jornalista
desportivo do Porto, Carlos Martins. Luís Antunes Gaspar, membro da Comissão
Central, subscreve “Questões de arbitragem”. “A orgânica da arbitragem na
Áustria”, trabalho de Joaquim Campos. Carmo Lourenço assina o tema “Confusão
que deve evitar-se”. Joaquim Campos desenvolve “Os mortos também jogam à bola”.
O Professor Amaral Borges, de São Miguel, Açores, dá a conhecer o seu original
“Futebol-suas repercussões morais, sociais e universais”.
PÁGINA DA COMISSÃO
CENTRAL
A
Direcção-geral dos Desportos, sob proposta da Comissão Central, autorizou a
suspensão da dedução de 10% que vinha onerando as remunerações dos Árbitros,
com destino ao Fundo de Aperfeiçoamento Técnico. Quanto aos valores que se
encontram em carteira vão ser aplicados nos cursos e palestras na presente
época.
A Federação chama a
atenção aos Árbitros que procedam a expulsões de jogadores e que não os
identifiquem com segurança e que, ainda, não retenham os seus cartões-licenças
serão objecto de procedimento disciplinar.
A Comissão Central
recorda a obrigatoriedade de identificar os elementos que ocupem os lugares a
que lhes estão destinados, caso de delegados, médicos, treinadores e massagistas.
Na imagem abaixo o
presidente da Comissão Central Fernando Alberto Flores Pimenta no uso da
palavra aquando da tomada de posse perante a hierarquia do desporto em
Portugal.
A International
Board, de harmonia com a sua decisão de Junho de 1963, alterou o texto da Lei
V-Equipamento dos jogadores, a alínea b), que passa a: Os pitões devem ser
sólidos e de cabedal, borracha, alumínio, plástico ou material similar. Com
excepção do pitão formando a base, a qual não deve exceder a sola, mais de que
um quarto de polegada (6,4 milímetros) os pitões deverão ser redondos e planos
e não devem ter menos de meia polegada (12,7 milímetros). Quando os pitões
forem pontiagudos, o diâmetro mínimo de qualquer secção dos mesmos não deve ter
menos de um quarto de polegada (6,4 milímetros). Quando forem utilizados
pitões, tipo roscado, as bases metálicas deverão ser mantidas na sola devendo
os respectivos espigões formar um todo com os pitões. Com excepção destas
placas, não é permitido o uso de chapas metálicas ainda que revestidas com
cabedal ou borracha, nem pitões aparafusados com porca fixada por pregos ou por
qualquer forma às solas das botas, nem pitões que, desligados da base, tenham
qualquer forma saliente ou bordos, guarnições ou ornamentos.
Acrescentou ainda que
ao executar-se um pontapé livre, os jogadores gesticularem ou saltitarem com a
intenção de distrair os adversários, tal comportamento deve considerar-se como
conduta incorrecta, pelo que o infractor ou infractores dever ser advertidos.
Como se pode constatar
na imagem seguinte Fernando Pimenta e Joaquim Campos frequentaram o curso
promovido pela Associação dos Árbitros Italianos, em Riccione.
EQUIPAS DE ARBITRAGEM
ÉPOCA 1963/1964
I/II DIVISÕES
AVEIRO
-Equipa A, Edmundo
Duarte de Carvalho, Henrique Francisco Silva e Costa e Jorge da Silva. Equipa
B, José Porfírio Carvalho e Silva, José dos Santos Pereira e Manuel Maria
Valente. Equipa C, Carlos dos Santos Paula, Mário Pereira da Silva e Manuel da
Silva Soares.
BEJA
-FRANCISCO PACHECO-
-Equipa A, Manuel Vaz
Valente, Mário Gomes Alves e Raul Domingos Sequeira. Equipa B-Francisco de
Sousa Pacheco, António Joaquim Velhinho e Viriato Lusitano da Piedade Agatão.
BRAGA
-AMADEU MARTINS-
-Equipa A, Carlos de
Deus Cachorreiro, Diogo Vasco dos Santos Manso e Rogério João Coelho Moreira.
Equipa B, Amadeu Pereira Martins, José Alves Azevedo e Mário Costa.
CASTELO BRANCO
-JOÃO GONÇALVES-
-Equipa A, João Lopes
Gonçalves, José Carrola Pinheiro, José Joaquim Cardoso e José António Antunes
Baptista.
COIMBRA
-ÁLVARO RODRIGUES-
-Equipa A, Álvaro
Rodrigues, António Lopes da Rosa e Armando Nascimento Teixeira. Equipa B,
Renato Soares dos Santos, António Amaro e Graciano Marques. Equipa C, António
Ferreira dos Santos, Henrique Graça e Gilberto Nunes Gonçalves.
ÉVORA
-Equipa A, Manuel
Joaquim Fortunato, José Madeira da Rocha e Helder Correia Silveira. Equipa B,
Joaquim José Magro, Manuel Américo Peres e Mário Salvado.
FARO
-CÉSAR CORREIA-
-Equipa A, Vítor
Pinto Rodrigues Coelho, José Rosa Dias Nunes e César da Luz Dias Correia.
LEIRIA
-SALDANHA RIBEIRO-
-Equipa A, Júlio
Braga Barros, Gervásio Pedroso Tojeira e Alfredo Bernardes Antunes. Equipa B,
António Saldanha Ribeiro, António Almeida Marques e Domingos Feliciano Moisés.
PORTALEGRE
-ALBERTO MARTINS-
-Equipa A, Manuel
Luís Curinha de Sousa, Manuel Barbas Bagina e José Pinto da Costa. Equipa B,
Alberto Margarido Martins, Severiano Atanásio Ferro e José Luís das Vacas.
PORTO
-FRANCISCO GUERRA-
-Equipa A, Clemente
Henriques, Fernando Nunes dos Santos Leite e António Azevedo da Costa. Equipa
B, Francisco Gonçalves Guerra, António Fernando Gonçalves Ventura e António Cid
Gomes. Equipa C, Aniceto de Jesus Nogueira, Caetano José Nogueira e Elísio
Ferreira Marques. Equipa D, João Pinto Ferreira, Armando António da Silva Faria
e Francisco Gomes da Silva. Equipa E, Jovino Soares de Matos Pinto, Pedro
pereira dos Santos e David Gonçalves da Rocha. Equipa F, António Joaquim da
Costa Martins, Domingos da Silva Mota e Manuel da Silva Teixeira.
SANTARÉM
-JOÃO CALADO-
-Equipa A, Manuel
Lousada Rodrigues, José Alexandre e José Pereira. Equipa B, João Luís Calado,
Crisógono Lopes e Samuel Abreu. Equipa C, Fernando Velez, Adriano Vieira e
Joaquim Libório Bastos.
SETÚBAL
-VIRGÍLIO BAPTISTA-
-Equipa A, António
Virgílio Baptista, João Vitorino Nascimento Nogueira e Carlos Frias Monteiro.
Equipa B, Marcos dos Santos Lobato, Mário Rosa Mendonça e José Augusto Ismael
Baltazar. Equipa C, José da Encarnação Salgado, Inácio Mendes Tereso e Manuel
Balseiro Fragata. Equipa D, José Paulo Guimarães, Carlos Alberto das Neves e
Jaime Antunes Costa.
VILA REAL
-HENRIQUE SILVA-
-Equipa A, Henrique Pereira
dos Santos e Silva, José Fernando Vieira Leite e José Fernando Neto de Melo.
Equipa B, António da Costa Barros Araújo, Adão Agostinho Martins de Barros e
Filinto de Oliveira Baptista.
VISEU
-EDUARDO NEVES-
-Equipa A, Eduardo
Neves, José Albano Pereira e Ernesto Diniz da Silva Borrego.
DOIS CASOS, DUAS REFERÊNCIAS...
No jogo nacional
disputado em Castelo Branco ambas as equipas precisavam de pontos para fugirem
do fundo da tabela. Na sequência dum pontapé de canto favorável à equipa da
casa muitos protestos por parte do seu público pois pretendia que o Árbitro assinalasse
mão na bola por parte do defesa adversário, logo grande penalidade. Como a
partida estava a terminar foi muito complicado sair desta situação. Contudo um
jogador albicastrense abeirou-se do Árbitro e disse-lhe: “Fez bem em não
apontar o penalti pois empurrei o adversário que, por tal movimento, tocou na
bola involuntariamente”.
A segunda ocorrência
aconteceu em Olhão em que o Árbitro vê-se na obrigação de expulsar dois
jogadores antagónicos um por ameaças de agressão e outro por ofensas físicas. No
final do jogo quando o delegado foi à cabina da equipa de arbitragem resolver a
parte burocrática indagou o Árbitro para saber o que tinha feito um dos
excluídos, tendo adiantado que, para além do castigo federativo, ainda queria
repreendê-lo como jogador e como seu filho.
AGENDA DO ÁRBITRO
Férias, José Adriano
da Mota, do Funchal, está em Lisboa. Viagens, Rogério Neves da Silva, regressa
a Lisboa vindo de Timor e Rodrigo José Matos Sousa seguiu para Moçambique. Convite
para casamento de César Augusto Reigadas. Restabelecimento físico de Álvaro
Rodrigues, de Coimbra, após acidente de viação.
A equipa de
arbitragem portuguesa composta por Clemente Henriques, Francisco Guerra e
Manuel Lousada estiveram a dirigir em Espanha o encontro entre Valência e o
Shamrock Rovers, da
Escócia (2-2). Licenciamento solicitado por Jorge Ferreira da Silva, de Aveiro.
Novo dirigente na Comissão Distrital de Viseu: Agostinho Ferreira.
Falecimento, Fernando
Augusto Pinheiro de Magalhães, em Díli (Timor).
Do livro “Tratado
Ilustrado de Leis do Futebol, do Prof. Marques de Matos, foca-se a importância
da elaboração do relatório do jogo que há-de fazer fé a quem tem de julgar as
ocorrências que se verificaram antes, durante e depois da partida. O Árbitro
terá de ter capacidade memorial para fixar os acontecimentos que venham a
merecer o correspondente tratamento.
PEÇO A PALAVRA
O antigo Árbitro
conimbricense Álvaro Santos (na imagem) dá a sua opinião quanto ao assunto que estava na
ordem do dia: a integração da arbitragem nacional na Federação Portuguesa de
Futebol. Entende que, se tal vier a acontecer, os Árbitros não perdem a sua
personalidade, nem tampouco traem a causa a que se dedicaram. Recomenda muita
calma, já que o problema não pode ser resolvido de ânimo leve, com
precipitações. Diz que já foi tornado público o projecto de regulamento que
poderá vir a orientar o “Departamento de Arbitragem”. No documento são criadas
a Comissão Directiva, constituída por 7 elementos, quatro indicados pela
Federação e três eleitos pelos organismos distritais, e a Comissão Executiva
terá 3 membros da Comissão Directiva. Estaria de acordo que o presidente das
Comissões fosse eleito pelo Congresso da Federação ao mesmo tempo que acha
exagero que a Federação indique tanta gente (4 pessoas).
UM ÁRBITRO
ESTRANGEIRO DE MÊS A MÊS
O registo refere-se
ao maltês Thomas A. Restall nascido em 13.06.1936 na cidade de Cospicua.
Foi jogador amador e,
dada a sua juventude, ainda não tem um currículo muito preenchido na sua
carreira de Árbitro.
-1963-
A nível internacional
actuou com Auxiliar na partida Valleta-Chelgea e dirigiu o amistoso
Rijeka-Valleta.
Praticou pólo
aquático e natação.
–2013-
Os selos são a sua
paixão de coleccionador.
Aspira contactar com
os seus camaradas de outras nacionalidades e actuar no maior número de
encontros internacionais.
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