sábado, 5 de outubro de 2013

NAQUELE TEMPO – OUTUBRO DE 1963 – EPISÓDIO 74

Do Boletim “O Árbitro” nº 76 (Ano VII), editado há precisamente 50 anos, predomina os seguintes temas:
REGRAS DE CORRECÇÃO
1.O saber encarar uma derrota com dignidade é bem mais difícil do que festejar uma vitória.
Só os autênticos desportistas são capazes de assim proceder.
2.Aqueles que desportivamente lutam pelo seu clube no campo de jogo esperam os nossos aplausos.
Animemos o espectáculo com entusiasmo mas nunca com paixão desenfreada.
3.Todos pensamos na vitória do nosso clube. Que isso aconteça é o nosso intimo desejo.
Mas todos devemos ter presente no nosso espírito que, acima de tudo, somos homens e não podemos deixar-nos cair nas paixões desenfreadas.
Temos de dominar os instintos que podem prejudicar a beleza do desporto.
4.O aplaudirmos e incitarmos à vitória o nosso clube não impede que se faça justiça ao espírito de luta do adversário.
Eles jogadores e nós público, todos somos amigos do desporto.
E seremos cada vez melhores desportistas na medida em que não nos deixarmos dominar pelos excessos doentios do chamado clubismo.
Ser amigo do nosso clube é não o envergonharmos com as nossas atitudes anti-desportivas.
5.Os atletas do clube adversário devem merecer-nos tanta simpatia e carinho como aqueles que representam o nosso clube.
Lembremo-nos de que uns sem os outros não podiam proporcionar ao público a beleza e grandiosidade que constituem o próprio jogo.
(Campanha de Desportivismo da Federação Portuguesa de Futebol)
PARAR É MORRER…
O Dr. Décio de Freitas (na imagem), director da publicação, congratula-se com o regresso de Joaquim Campos, que volta a exercer o cargo de editor, com quem conta, graças às suas características de trabalho e sacrifício, para que a continuidade do boletim seja uma realidade e com a qualidade que se deseja.
Nota: Esta foto refere-se ao jogo da final dum torneio popular de futebol do qual foi patrono, realizado no relvado secundário do Estádio Nacional, em 23.09.1973, e pronto para entregar a taça à equipa vencedora. A equipa de arbitragem presente: Árbitro principal, eu. Colegas, Amilcar Luís Vidal Gil (n. 20.05.1934) e José Joel Aflalo de Sousa (n. 31.07.1941).
1.Manuel Marques, antigo Árbitro e ex-dirigente da Comissão Distrital de Setúbal, assina “Evocando um episódio do passado”, onde relata a continuação de um jogo de futebol sem a presença de um dos fiscais de linha.
2.O Dr. Furtado Lima, de Ponta Delgada, Açores, desenvolve “Desporto e Medicina”, advoga que também no desporto precisa de autenticidade.
3.António Augusto Santos continua a explanar “Vamos desempatar”, curioso e interessante trabalho sobre o “golo-average”. “Deve o Fiscal de Linha para a bola?”, questão colocada por Carmo Lourenço, que, ao mesmo tempo, opina que quando ela se lhe dirige não deve levantar o pé, abrir as pernas, etc., logo…
4.Barros de Araújo diz de sua justiça quanto ao esclarecimento da Comissão Central sobre “Do lançamento da bola pela linha lateral”, reforçando que o lançamento efectuado a mais de 5 metros da linha lateral deva ser considerado como incorrecto, sendo a mesma equipa a repor a bola em jogo, mas dentro da legalidade.
5.O Sporting Clube Olhanense no seu jornal coloca uma singular questão interrogando-se: “Quem arbitra hoje?”, perspectivando as características dos Árbitros nomeados semana a semana.
6.O Professor Marques de Matos continua a ajuizar “Conceitos sobre arbitragem”, conselhos, aliás, aos Árbitros quanto ao seu comportamento em campo.
7.Agostinho Ferreira, membro da Comissão Distrital de Viseu, aborda no “Jornal de Viseu” o tema “Problemas da arbitragem”, face ao estudo que a Federação elaborou e entregou na Direcção-geral dos Desportos para melhorar a estrutura da arbitragem portuguesa.
1.Em Leiria foi descerrada a fotografia do falecido presidente da Comissão Distrital, Capitão Eduardo Maria Correia Gaspar, com a presença de inúmeras pessoas.
2.Realça-se a iniciativa de colocar em grande número de recintos desportivos, mormente nos espaços reservados aos atletas, dísticos com bons conselhos de salutar ética desportiva, que desejamos sejam levados à letra e cumprido por todos.
3.Destaque-se o que disse Jules Rimet [n. 14.10.1873†16.10.1956], antigo presidente da FIFA [1928/1954]: “O futebol tem elegância moral e as suas leis impõem aos que as aceitam a cortesia, a disciplina e a honestidade”, encarando, assim, há tantos anos um momentoso problema actual.
4.Décio de Freitas esteve na Madeira e aproveitou a oportunidade para promover uma palestra e projectar um filme sobre situações que se verificam nos campos de futebol.
5.Viseu levou a efeito mais um Curso de Candidatos, destacando-se do programa as seguintes matérias que serão leccionadas: História do Futebol, introdução em Portugal e evolução das suas leis; interpretação e aplicação das regras do jogo; diagonal, sistema oficializado entre nós; noções gerais sobre regulamentação federativa, associativa e da Comissão Central; noções de Psicologia; elaboração do boletim e relatório do jogo; colaboração dos elementos da equipa de arbitragem; e provas práticas a submeter os candidatos.
PENSAMENTOS E CONSELHOS
1.“A multidão pode enganar-te quando jogas. Os gritos de incitamento à violência que tantas vezes escutas são provenientes de uma minoria: os que nunca souberam o que é desporto; os destrambelhados de nervos; os inúteis. A esmagadora maioria condena sempre o teu procedimento”.
2.“Não te julgues alguém por seres um bom jogador de futebol. Sabe dar valor aos que te rodeiam e coloca-te no teu ligar”.
3.“Em desporto o essencial não é vencer mas sim saber lutar”.
4.“O futebol tem a sua beleza característica. Qualquer partida tem motivos de interesse, quer seja jogada pelos astros ou pelas equipas mais modestas. Não manches o jogo com o teu procedimento”.
5. “Não adianta reclamar. O Árbitro é a maior autoridade no terreno de jogo”.
6.“Não imitemos os outros. Procuraremos encontrar-nos a nós próprios e manter sempre a nossa maneira de ser”.
7.“A grande lição que se pode receber da vida é esta: Por vezes os imbecis podem ter razão”.
8.António Ribeiro dos Reis, o nosso primeiro Árbitro internacional, termina, expressando: “O desporto para ser tudo o que deve, precisa do concurso de educadores orientados dentro dos verdadeiros princípios; de dirigentes integrados nas realidades e exigências do meio; de atletas que saibam compreender a finalidade da cultura física; de propagandistas que tenham a noção exacta da sua elevada missão; e de um público isento de paixões doentias que desvirtuam o verdadeiro significado da ideia desportiva”.
1.Dá-se conta que Alberto Costa, o presidente da Comissão Distrital de Manica e Sófala (Moçambique) tem visto os seus planos de acção entravados muitas vezes por quem tinha o dever de lhe facilitar a missão.
2.José Fernandes de Oliveira foi considerado pelos leitores do “Jornal da Madeira” o melhor Árbitro da região, tendo recebido troféu alusivo.
3.Em Espanha, na celebração de missa em memória do saudoso Árbitro espanhol Vicente Caballero, marcou presença Joaquim Neves de Carvalho, dirigente da Comissão Central de Árbitros.
4.Joaquim Campos, responsável por esta rubrica, agradece a valiosa colaboração recebida de Alberto do Carmo Lourenço, António Augusto Santos, Barros de Araújo, David Costa, entre outros.
 José Gonzalez Echeverria, [†15.01.2009], natural de San Sebastian (Espanha), internacional nas épocas de 1958/59 a 1960/61 e 1963/64, conta-nos que foi jogador de futebol aos 16 anos de idade, e pelas características que aplicava no campo, era reconhecido como “O Terrível”! Aos 27 ingressou na arbitragem e, na altura da entrevista, com 46 diz estar a terminar a carreira.
Conheceu muitos países graças ao futebol.
1.O célebre jogador inglês Stanley Matthews [nascido em Hanley no dia 1 de Fevereiro de 1915, vegetariano, cuja ímpar e exemplar carreira futebolista decorreu ininterruptamente entre 1932 e 1965 (33 anos!), participando em 701 jogos e obteve 71 golos, faleceu em 23 de Fevereiro de 2000, com mais de 100.000 pessoas no seu funeral…], declarou que os espectadores estão cada vez mais exigentes ao presenciarem o desporto-rei.
Dada a tendência do futebol moderno optar pelo jogo defensivo, e “como é sempre mais fácil evitar golos do que marcá-los, porque não alargar as balizas? Afastem-se os postes mais quinze centímetros”.
2.Em Itália o jornal “Gazeta do Desporto” resolveu pontuar os Árbitros que actuaram no principal Campeonato Italiano e atribuir quatro prémios, ganhos por:
1ºGiuseppe Adami, de Roma [n. 14.01.1915†07.02.2007, internacional em 1960/1964]
2ºConcetto Lo Bello, de Siracusa [n. 13.05.1924†09.09.1991, internacional em 1958/1974]
3ºGúlio Campanati, de Milão [n. 15.06.1923†30.10.2011, internacional em 1956/1966]
4ºAntónio Sbardella, de Roma [n. 17.10.1925†14.01.2002, internacional 1965/1971]
A seguir, o periódico, diz ir estender as distinções aos Fiscais de Linha.
3.O presidente da FIFA, o inglês Sir Stanley Rous [nasceu em Watford, em 14.10.1873†16.10.1956], está disposto a publicar as suas memórias, segundo o jornal espanhol “A Marca”, esperando que contasse os processos que utiliza para a distribuição dos grupos dos campeonatos mundiais; a maneira habilidosa como designa os Árbitros; a forma como consegue organizar um elenco de “velhos” Árbitros já retirados para manejar as Federações Nacionais dos países da FIFA. Pelos vistos tal dirigente não está nas boas graças dos nossos vizinhos…
1.António Barros Araújo regressou de Angola, após mais de dois anos de ausência, à sua unidade militar de Vila Real.
2.Pediu o licenciamento o Árbitro internacional lisboeta, Raul Fernandes Martins (n. 08.08.1924), assim como Joaquim Artur de Castro Carvalho, também de Lisboa.
3.João Relvas, de Angra do Heroísmo, vai frequentar curso profissional (técnico de aviação) em França.
4.Transferidos do Conselho Provincial da Guiné-Bissau os Árbitros Manuel António Pereira Silvestre e Hipólito Portas, para, respectivamente, Santarém e Braga.
5.Encontra-se internado num hospital de Lisboa o dirigente da Comissão Distrital de Viseu Agostinho Ferreira.
6.Francisco Pires Duarte, ex-presidente da Comissão Distrital de Santarém viajou para Angola, onde vai cumprir serviço militar.
7.Augusto Marques Bom, membro da Comissão Distrital de Coimbra, foi homenageado pelo facto de integrar a Comissão Central, como seu dirigente.
8.Américo António, pediu a demissão de filiado da Comissão Distrital de Porto.
9.Está entre nós, a gozar as suas merecidas férias, Natálio dos Reis Lima Árbitro dos quadros da Associação de Futebol de Manica e Sófala (Moçambique).
A ORGÂNICA DA ARBITRAGEM NA DINAMARCA
Joaquim Campos descreve a estrutura que se verifica naquele país nódico, destacando o baixo valor que auferiam quando dirigiam jogos da primeira divisão: cem escudos! E os Fiscais de linha, metade!” Depois de terem encetado uma campanha contra esse estado de coisas viram os prémios duplicarem, mas a insatisfação ainda imperou.
1.Vinca-se a preocupação dos nossos Árbitros continuarem a ser pouco solicitados para actuarem no estrangeiro, conquanto os nossos camaradas de outros países visitam-nos com assiduidade, o que não deixa de ser má vontade da hierarquia europeia, já que o sol quando nasce é para todos…
2.A Comissão Central quer assegurar critério uniforme na apreciação do trabalho dos Árbitros pelos Delegados Técnicos, nem que para isso tenha que recrutar antigos Árbitros para executarem essa missão.
3.Chama-se a atenção do “Jornal Mundo Desportivo” para o facto das pontuações que atribuem aos Árbitros que dirigem os jogos da primeira divisão não condizerem com a realidade. Há que ter mais cuidado nessa área.
EQUIPAS DE ARBITRAGEM QUE ACTUARAM EM PARTIDAS OFICIAIS INTER-CLUBES EUROPEUS.
Taça das Cidades com Feiras. Em 01.10.1963, no Estádio Mestalla (Espanha), defrontaram-se as equipas do Valência Club de Fútbol (f. 18.03.1919) e do Shamrock Rovers Football Club (f. 01.01.1901), da Republica da Irlanda, com o resultado final de 2-2. Árbitro principal, Clemente Henriques [n. 19.06.1914†27.01.2011], do Porto. Auxiliares, Manuel Lousada Rodrigues [26.06.1919†07.05.2011], de Santarém e Francisco Gonçalves Guerra [04.09.1917†30.11.1986], do Porto.
No dia 02.10.1963. no Estádio da Luz, em Lisboa, em encontro a contar para a Taça dos Campeões Europeus, o Sport Lisboa e Benfica (f. 28.02.1904), recebeu e venceu por 5-0 os irlandeses do norte do Lisburn Dustillery Football Club (f. 20.11.1880), com o suíço Hubert Burguet (internacional de 1963 a 1968), a chefiar a equipa de arbitragem.
Ainda para a Taça das Cidades com Feira e em jogo realizado em 09.10.1963, no Estádio do Restelo, em Lisboa, entre o Clube de Futebol Os Belenenses (f. 23.09.1919) e o Nagometni Klub Trešnjevka (f. 04.05.1926), da Croácia, cuja vitória sorriu aos lisboetas por 2-1. O espanhol José Gonzalez Echeverria liderou o trio de arbitragem.
Taça das Taças. No mesmo dia, mas no Estádio de Alvalade, em Lisboa, defrontaram-se as turmas do Sporting Clube de Portugal (f. 01.06.1963) e da Atalanta Bergamasca Calcio (f. 17.10.1907), de Itália, com a vitória dos visitados por 3-1, o que obrigou a terceira partida para saber quem continuava em prova. Aliás, os portugueses não só superaram esse obstáculo, como viriam a vencer o derradeiro jogo da final. O suíço Huber Othmar (internacional de 1958 a 1968), foi o Árbitro principal do jogo.
NOVOS DELEGADOS DO BOLETIM “O ÁRBITRO”
Em Aveiro, Carlos Paula (imagem de cima) e no Funchal, António Camacho (em baixo).

Sem comentários:

Enviar um comentário