quarta-feira, 15 de agosto de 2018

SÃO TOMÉ E AS SUAS CURIOSIDADES - CORPO DE BOMBEIROS - SEGUNDO E ÚLTIMO EPISÓDIO


14.05.1937 – O governador da então Província Ultramarina de São Tomé e Príncipe, Ricardo Vaz Monteiro, tendo em atenção a existência de algum material de combate a incêndios espalhado por diversos locais (Repartições e Câmara Municipal), e sendo absolutamente indispensável dotar a cidade com uma corporação especializada no assunto, facto detetado há algum tempo, apadrinhou a decisão municipal de 13 de maio de 1937, determinando a criação do Corpo de Bombeiros de São Tomé, encarregando o 2º oficial da Repartição de Serviços Aduaneiros, José de Sacadura Bretes, Vereador municipal, que tinha a seu cargo o pelouro dos incêndios, de assumir desde logo a Direção e Comando deste Corpo, com o compromisso de lhe apresentar um relatório onde constasse um projeto de regulamento, o estado atual do material existente e disperso, assim como as prioridades e orçamento para futuras aquisições, o que fez.
-1938-
Entretanto, foi implantado um conjunto de normas importantes, das quais se destacam:
1 – O efetivo, num total de 40 elementos, teria a sua proveniência do pessoal braçal e assalariado da Repartição dos Serviços Aduaneiros (20), da Câmara Municipal (15) e da Capitania dos Portos (5).
2 – No quartel haverá um livro de inscrição para os interessados que queiram alistar-se.
3 – Antes de integrarem o Corpo de Bombeiros teriam de ser inspecionados pelo Delegado de Saúde.
4 – O pessoal será mandado apresentar no quartel do referido Corpo de Bombeiros (perto do Matadouro Municipal), sempre que haja exercícios.
5 – Estes treinos serão aos sábados das 14 às 16 horas e, aos domingos, das 7 às 9 horas.
6 – Em caso de incêndio, ao toque de alarme, os bombeiros inscritos, apresentar-se-ão imediatamente no quartel.
7 – As faltas aos exercícios, assim como nos casos de incêndio, só poderão ser justificadas por motivo de doença (atestado médico) ou por motivo imperioso de serviço.
8 – As faltas não justificadas serão punidas com a pena de 1 a 5 dias de multa.
9 – Quem sair da Corporação deverá ser substituído por elemento que deverá morar na área da cidade.
10 – As regalias a conceder aos alistados como bombeiros, farão parte integrante do regulamento a elaborar.
-1938-
10.09.1938 – O Comandante do Corpo de Bombeiros, José de Sacadura Bretes, entre outras personalidades, e, dado o cargo que desempenha, é nomeado para integrar a Comissão de Receção ao então Ministro das Colónias, Francisco José Vieira Machado e ao Presidente da República, António Óscar Fragoso Carmona, que simultaneamente visitaram o arquipélago, por duas vezes, em 1938 (24.07.1938, Ilha do Príncipe, e 25 e 26.07.1938, ilha de São Tomé) e em 1939, nos dias 02 e 03.07.1939 (somente São Tomé), tendo a Corporação de Bombeiros de São Tomé o privilégio de ter feito parte da guarda de honra ao magistrado, nos dois anos, como se pode ver nas imagens que se anexam.
-1939-
05.02.1939 – A revista “Humanidade”, na sua edição 96, dedica uma página à Corporação dos Bombeiros de São Tomé, destacando o desejo do seu comandante, José Sacadura Bretes, dotar São Tomé com uma organização especializada e operacional apta a enfrentar os casos de sinistros que possam advir. Fez o milagre de recolher material arcaico e desajustado que se encontrava espalhado por diversos locais, recrutou e preparou um grupo de homens decididos a esmerarem-se e a superarem situações adversas, encetou contatos com os Sapadores de Lisboa no sentido de obter informações e apetrechos que fazem falta na sua corporação.
-1939-
Uma das suas felizes iniciativas foi a criação da seção de educação física para os seus formandos, possibilitando a prática de desporto. E nas últimas festas da cidade a sua colaboração foi efetiva, onde se viu um espetacular salto executado pelo bombeiro João Batista. Também a sua equipa de futebol deu um ar da sua graça, pois venceu o grupo mais forte da ilha, o Andorinha Sport Clube, por 2-1. No final, os elementos das duas turmas, brindaram com um “Porto de honra”, na parada do quartel.
-EXERCÍCIO-
Outras provas desportivas ocorreram, como corridas de sacos, corridas de bicicletas, de obstáculos e luta de tração. O público pagante acorreu em grande número, contribuindo assim para a Misericórdia de São Tomé, para o Cofre de Previdência da Associação dos Empregados do Comércio e Agricultura e para a Corporação dos Bombeiros.
14.05.1939 – Na cidade de São Tomé, aquando da inauguração da sede do Sport Lisboa e São Tomé (mais tarde, Sport São Tomé e Benfica), sita na avenida Dr. António José de Almeida, nºs 2 a 6, cerimónia que ocorreu com pompa e circunstância e com muitos convidados, na altura de discursar, o comandante José Sacadura Bretes, dá conta que também é dirigente do Grupo Desportivo dos Bombeiros, cuja equipa de futebol jogou com a do clube em festa e, segundo suas palavras, “empatou” por 4-0, e viu os jogadores de ambas as turmas a abraçarem-se. Prova, disse, que os praticantes vão aprendendo a saber ganhar, a saber perder, a saber jogar.
Mais adiantou: que o público está interessado cada vez mais no desporto, o que é uma realidade. A razão desse interesse provém do facto dos poderes públicos – Câmara Municipal e Governo da Província – terem construído um campo de jogos decente, um espaço que em breve será qualquer coisa de bom e de bonito. Antigamente jogava-se o futebol num pântano perto da cadeia, sem conforto, nem para os espetadores nem para os futebolistas.
Hoje existe um retângulo vedado que permite aos clubes realizarem algumas receitas para atender à grande despesa da manutenção das suas equipas. Julgarão muitas pessoas que fazer desporto é apenas chegar ao campo e dar pontapés na bola (isto quanto ao futebol que para isso não é preciso dinheiro), é um engano. Só o calçado para um grupo de futebol custa perto de mil escudos. Cada marcação de campo para um desafio leva 30 quilos de cal. E é preciso contar que os praticantes após o desafio precisam ter à sua disposição, álcool puro, tintura de arnica, vinagre aromático, etc., quando não necessitam de socorros mais caros.
Realçou: ainda há poucos dias um futebolista do Grupo Desportivo dos Bombeiros teve a infelicidade de fender o perónio da perna direita. Baixou ao hospital onde esteve uns tempos. Teve alta, mas durante muitos dias não pode ir trabalhar, no entanto não perdeu qualquer vencimento.
Por fim, destacou: os desenvolvimentos que se verificaram em São Tomé, no decorrer do ano de 1939, com o aparecimento dos Estatutos da Associação de Futebol, do Andorinha Sport Clube, do Sporting Clube de São Tomé, do Sport Lisboa e São Tomé; mais duas equipas, a dos Bombeiros e dos Soldados. Construção do campo de jogos. Terminou agradecendo o trabalho feito pelo Governo da Província em prol do desporto santomense.
José Sacadura Bretes (nas três últimas imagens), nasceu em São Tomé, em 5 de novembro de 1897, na Ponta Figo, Freguesia da Nossa Senhora das Neves e veio a falecer em Casalinhos de Alfaiata, Concelho de Torres Vedras, em 1960. Depois de ter exercido atividade nos serviços alfandegários de São Tomé foi transferido, em 1949, para Angola, Moçâmedes, para ocupar lugar de Diretor da Alfândega local. Não perdeu o ensejo de reativar o Corpo dos Bombeiros de Moçâmedes, criado em 19 de maio de 1904, inativo há 45 anos, e ser o seu Comandante. A Liga dos Bombeiros Portugueses, em 1 de abril de 1955, delega-lhe a sua representatividade em Angola. Doou a história da Corporação de Moçâmedes, toda ela por si manuscrita, à Liga dos Bombeiros Portugueses, acontecimento registado em 17 de julho de 1958.

Sem comentários: