14.05.1937 – O governador da então Província Ultramarina de
São Tomé e Príncipe, Ricardo Vaz Monteiro, tendo em atenção a existência de
algum material de combate a incêndios espalhado por diversos locais (Repartições
e Câmara Municipal), e sendo absolutamente indispensável dotar a cidade com uma
corporação especializada no assunto, facto detetado há algum tempo, apadrinhou
a decisão municipal de 13 de maio de 1937, determinando a criação do Corpo de
Bombeiros de São Tomé, encarregando o 2º oficial da Repartição de Serviços
Aduaneiros, José de Sacadura Bretes, Vereador municipal, que tinha a seu cargo
o pelouro dos incêndios, de assumir desde logo a Direção e Comando deste Corpo,
com o compromisso de lhe apresentar um relatório onde constasse um projeto de
regulamento, o estado atual do material existente e disperso, assim como as prioridades
e orçamento para futuras aquisições, o que fez.
-1938-
Entretanto, foi
implantado um conjunto de normas importantes, das quais se destacam:
1 – O efetivo, num
total de 40 elementos, teria a sua proveniência do pessoal braçal e assalariado
da Repartição dos Serviços Aduaneiros (20), da Câmara Municipal (15) e da Capitania
dos Portos (5).
2 – No quartel haverá
um livro de inscrição para os interessados que queiram alistar-se.
3 – Antes de
integrarem o Corpo de Bombeiros teriam de ser inspecionados pelo Delegado de
Saúde.
4 – O pessoal será
mandado apresentar no quartel do referido Corpo de Bombeiros (perto do
Matadouro Municipal), sempre que haja exercícios.
5 – Estes treinos
serão aos sábados das 14 às 16 horas e, aos domingos, das 7 às 9 horas.
6 – Em caso de
incêndio, ao toque de alarme, os bombeiros inscritos, apresentar-se-ão
imediatamente no quartel.
7 – As faltas aos
exercícios, assim como nos casos de incêndio, só poderão ser justificadas por
motivo de doença (atestado médico) ou por motivo imperioso de serviço.
8 – As faltas não
justificadas serão punidas com a pena de 1 a 5 dias de multa.
9 – Quem sair da
Corporação deverá ser substituído por elemento que deverá morar na área da
cidade.
10 – As regalias a
conceder aos alistados como bombeiros, farão parte integrante do regulamento a
elaborar.
-1938-
10.09.1938 – O Comandante do Corpo de Bombeiros, José de
Sacadura Bretes, entre outras personalidades, e, dado o cargo que desempenha, é
nomeado para integrar a Comissão de Receção ao então Ministro das Colónias,
Francisco José Vieira Machado e ao Presidente da República, António Óscar
Fragoso Carmona, que simultaneamente visitaram o arquipélago, por duas vezes,
em 1938 (24.07.1938, Ilha do Príncipe, e 25 e 26.07.1938, ilha de São Tomé) e
em 1939, nos dias 02 e 03.07.1939 (somente São Tomé), tendo a Corporação de
Bombeiros de São Tomé o privilégio de ter feito parte da guarda de honra ao
magistrado, nos dois anos, como se pode ver nas imagens que se anexam.
-1939-
05.02.1939 – A revista “Humanidade”, na sua edição 96,
dedica uma página à Corporação dos Bombeiros de São Tomé, destacando o desejo
do seu comandante, José Sacadura Bretes, dotar São Tomé com uma organização
especializada e operacional apta a enfrentar os casos de sinistros que possam
advir. Fez o milagre de recolher material arcaico e desajustado que se
encontrava espalhado por diversos locais, recrutou e preparou um grupo de homens
decididos a esmerarem-se e a superarem situações adversas, encetou contatos com
os Sapadores de Lisboa no sentido de obter informações e apetrechos que fazem
falta na sua corporação.
-1939-
Uma das suas felizes
iniciativas foi a criação da seção de educação física para os seus formandos,
possibilitando a prática de desporto. E nas últimas festas da cidade a sua
colaboração foi efetiva, onde se viu um espetacular salto executado pelo
bombeiro João Batista. Também a sua equipa de futebol deu um ar da sua graça,
pois venceu o grupo mais forte da ilha, o Andorinha Sport Clube, por 2-1. No
final, os elementos das duas turmas, brindaram com um “Porto de honra”, na
parada do quartel.
-EXERCÍCIO-
Outras provas
desportivas ocorreram, como corridas de sacos, corridas de bicicletas, de
obstáculos e luta de tração. O público pagante acorreu em grande número,
contribuindo assim para a Misericórdia de São Tomé, para o Cofre de Previdência
da Associação dos Empregados do Comércio e Agricultura e para a Corporação dos
Bombeiros.
14.05.1939 – Na cidade de São Tomé, aquando da inauguração
da sede do Sport Lisboa e São Tomé (mais tarde, Sport São Tomé e Benfica), sita
na avenida Dr. António José de Almeida, nºs 2 a 6, cerimónia que ocorreu com
pompa e circunstância e com muitos convidados, na altura de discursar, o
comandante José Sacadura Bretes, dá conta que também é dirigente do Grupo
Desportivo dos Bombeiros, cuja equipa de futebol jogou com a do clube em festa
e, segundo suas palavras, “empatou” por 4-0, e viu os jogadores de ambas as turmas
a abraçarem-se. Prova, disse, que os praticantes vão aprendendo a saber ganhar,
a saber perder, a saber jogar.
Mais adiantou: que o
público está interessado cada vez mais no desporto, o que é uma realidade. A
razão desse interesse provém do facto dos poderes públicos – Câmara Municipal e
Governo da Província – terem construído um campo de jogos decente, um espaço
que em breve será qualquer coisa de bom e de bonito. Antigamente jogava-se o
futebol num pântano perto da cadeia, sem conforto, nem para os espetadores nem
para os futebolistas.
Hoje existe um
retângulo vedado que permite aos clubes realizarem algumas receitas para
atender à grande despesa da manutenção das suas equipas. Julgarão muitas
pessoas que fazer desporto é apenas chegar ao campo e dar pontapés na bola
(isto quanto ao futebol que para isso não é preciso dinheiro), é um engano. Só
o calçado para um grupo de futebol custa perto de mil escudos. Cada marcação de
campo para um desafio leva 30 quilos de cal. E é preciso contar que os praticantes
após o desafio precisam ter à sua disposição, álcool puro, tintura de arnica,
vinagre aromático, etc., quando não necessitam de socorros mais caros.
Realçou: ainda há
poucos dias um futebolista do Grupo Desportivo dos Bombeiros teve a
infelicidade de fender o perónio da perna direita. Baixou ao hospital onde
esteve uns tempos. Teve alta, mas durante muitos dias não pode ir trabalhar, no
entanto não perdeu qualquer vencimento.
Por fim, destacou: os
desenvolvimentos que se verificaram em São Tomé, no decorrer do ano de 1939,
com o aparecimento dos Estatutos da Associação de Futebol, do Andorinha Sport
Clube, do Sporting Clube de São Tomé, do Sport Lisboa e São Tomé; mais duas
equipas, a dos Bombeiros e dos Soldados. Construção do campo de jogos. Terminou
agradecendo o trabalho feito pelo Governo da Província em prol do desporto
santomense.
José Sacadura Bretes (nas três últimas imagens), nasceu em São Tomé, em 5 de novembro de 1897, na Ponta Figo, Freguesia da Nossa
Senhora das Neves e veio a falecer em Casalinhos de Alfaiata, Concelho de
Torres Vedras, em 1960. Depois de ter exercido atividade nos serviços
alfandegários de São Tomé foi transferido, em 1949, para Angola, Moçâmedes,
para ocupar lugar de Diretor da Alfândega local. Não perdeu o ensejo de
reativar o Corpo dos Bombeiros de Moçâmedes, criado em 19 de maio de 1904,
inativo há 45 anos, e ser o seu Comandante. A Liga dos Bombeiros Portugueses,
em 1 de abril de 1955, delega-lhe a sua representatividade em Angola. Doou a
história da Corporação de Moçâmedes, toda ela por si manuscrita, à Liga dos
Bombeiros Portugueses, acontecimento registado em 17 de julho de 1958.
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