domingo, 26 de agosto de 2018

TEATRO DE SÃO TOMÉ EM LISBOA!

Faz hoje precisamente 45 anos (já lá vai uma montanha de tempo…) que 4 veteranos militares, que estiveram em São Tomé nos anos sessenta, e suas esposas, assistiram no auditório ao ar livre da Fundação Gulbenkian, em Palhavã (Lisboa), ao espetáculo de Tchiloli, protagonizado pelo grupo de Teatro Formiguinha, do Terreiro de Boa Morte, daquela cidade africana, acontecimento único e inédito na Cultura Portuguesa, que atraiu imensos espetadores ao Festival de Teatro Tradicional Popular organizado por aquela prestimosa entidade lisboeta. 
Tchiloli, em crioulo, é a tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carloto Magno, obra escrita no século XVI, por Baltazar Dias, poeta cego madeirense e recriada pelas populações da ilha de São Tomé. 
É, sem duvida, a máxima expressão da cultura teatral santomense, muito considerada e aplaudida pelos seus seguidores, quer localmente quer na diáspora. A sua representação pode durar 6 horas. 
-Fernando Lima e Carolina-
 
A enredo desta fantástica e emblemática obra, resume-se nos seguintes pontos: 
-Luís Serra, Ermezinda e eu-
 
1. O Príncipe Carloto Magno, filho de Carlos Magno, convida o Príncipe Valdevinos, sobrinho do Marquês de Mântua, para uma caçada, onde o mata.
-Eu, Maria de Lourdes, José António e Maria Júlia-
 
2. Dizia-se que D. Carloto se apaixonara secretamente por Sibila, esposa do Príncipe Valdevinos, sobrinho do Marquês de Mântua.
 
-Eu, Maria Júlia e o croquete…-
 
3. O Duque Amão e Reinaldos de Montalvão transportam o caixão de Valdevinos e colocam-no a meio da cena, em frente dos músicos e face às duas casas rivais. Os Mântuas executam uma dança fúnebre em volta do caixão.

4. O Marquês de Mântua pensa que uma afronta nunca deve ficar impune. O Capitão de Montalvão sente que o sangue exige sangue. O Marquês decide apresentar queixa a Carlos Magno. Todos concordam, a Marquesa, Ermelinda, Beltrão e Reinaldos.

5. O Marquês começa a dança da justiça.

6. Beltrão apresta-se para o combate. Por isso, toma parte na dança. As mulheres da família dançam e choram.

7. Carloto, vestido com a sua farda mais engalanada, dirige-se ao palácio do seu pai, o Imperador.

8. Mas rápido, porém, o terrível Capitão Montalvão precipita-se e denuncia a Carlos Magno a identidade do assassino.

9. D. Carloto confessa o crime a Carlos Magno e justifica-se.

10. O notário do Imperador e o advogado, o conde Anderson, preparam a defesa de D. Carloto.

11. O advogado de Carlos Magno negoceia com os Mântua. Tem uma conversa com o Capitão Montalvão. Este mantém o preço do sangue.

12. O filho de Carlos Magno, sentindo as coisas lhe correrem mal, envia um mensageiro com uma carta a seu tio.

13. Chega a esposa do Imperador, que tem de passar diante do caixão. A Imperatriz entra em palácio com as damas de honor.

14. O Ministro do Interior e notário leem uma nova disposição legal que condena o assassínio por ciúmes. O Príncipe escuta em silêncio.

15. Todos condenam o assassino, mas calam-se por amor do príncipe. 

Contudo, naquele 26 de Agosto de 1973 (todos os anos, nesta data, quase sempre, reunimos em convívio), depois de jantarmos em ambiente familiar, de amizade e confraternização, o nosso grupo dirigiu-se para as instalações da Gulbenkian, para assistir à representação teatral santomense. 

Assistiram, então, Fernando Lima e esposa, a Carolina, Luís Serra e esposa, a Ermezinda, José António Chagas e esposa, a Maria de Lourdes, eu e minha mulher, a Maria Júlia. 

Foi uma noite muito agradável, para mais com gente fantástica e genuína de São Tomé, que nos deliciou com um esplendoroso espetáculo fora do comum, muito aplaudido pelos presentes que lotavam o recinto. 

Para memória futura aqui ficam os nomes e as figuras que representaram dos 35 elementos que viajaram de São Tomé para Portugal, onde, em diversas localidades, como Aveiro, Braga, Coimbra, Costa de Caparica,

Estoril, Marinha Grande, Porto, Santarém, Sines e Sintra, exibiram os seus talentos e capacidades artísticas: 

CORTE ALTA
Abel Neto Rodrigues Pita (2º pajem), António Francisco Salvaleque (Imperatriz), Damião Fernandes Baptista Júnior (Conde Advogado Anderson, defensor do Príncipe D. Carloto), Fernando Lima Alves de Carvalho (1ª Criada), Gastão Vaz Soares (Secretário), Gregório Fernandes Baptista (Conselheiro da Coroa), Hilário do Espírito Santo (1º Pajem), Humberto Luís Francisco Dias (Algoz), João Manuel Alves de Carvalho (Ganalão, irmão da Imperatriz), Jorge da Silva Alves de Carvalho (Pajem, moço Cata), Manuel Alves de Carvalho (Imperador), Manuel da Assunção Neto Pita (2ª Criada), Manuel da Madre de Deus Alves de Carvalho (Príncipe D. Carloto), Manuel do Rosário Baptista das Neves (Notário) e Simão Alves de Carvalho (Ministro da Justiça).

CORTE BAIXA
Alberto Pereira dos Santos Lima (Advogado Dr. Barnard), Amâncio da Silva Alves de Carvalho (Marquês de Mântua II), Domingos Pereira Lourenço (Ermelinda, mãe de Valdevinos), Fortunato Eleutério Vaz da Conceição (Reinaldos de Montalvão, sobrinho do Marquês Mântua, encarregado da defesa da Família de Mântua), Germino Quaresma (Beltrão, sobrinho do Marquês de Mântua), Izequiel da Conceição Fernandes Baptista (Sibila, mulher de Valdevinos), João Fernandes Baptista (amigo da Família de Mântua), João Salvaleque (Duque Amão, sobrinho do Marquês de Mântua), Manuel Alves de Carvalho (Marquês de Mântua I), Nascimento Godinho Alves de Carvalho (Ermitão) e Simão Alves de Carvalho (Valdevinos, sobrinho do Marquês de Mântua).

ORQUESTRA
Adérico Borges Viegas de Abreu (Flauta de bambu), André (Flauta de bambu), Augusto Fernandes (Flauta de Bambu), Manuel da Assunção (Tambor pequeno), Manuel da Assunção Rodrigues Pita (Porta-bandeira), Manuel do Espírito Santo (Chocalhos), Manuel do Nascimento Luís Pereira (Chocalhos), Manuel Ferreira da Rocha (Tambor grande), Mengó Soares (Flauta de bambu) e Simão José Lourenço (Tambor grande).

A chefia desta representação esteve a cargo do Prof. Álvaro Ferreira da Silva, Subdiretor da então Escola Técnica Silva Cunha.

Uma nota muito curiosa: como se constata as personagens femininas são representadas por homens. Conta-se que, um dia, no tempo da Monarquia, o inicio de um espetáculo estava atrasado e o Rei quis saber o porquê. Logo lhe disseram que a Imperatriz estava a acabar de fazer a barba… 

Em 1990 (25 a 28 de maio) volta o grupo a atuar em Portugal, graças à Fundação Calouste Gulbenkian e ao protocolo celebrado com Maison des Cultures du Monde (Paris, França).

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