quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

FILIPA SANTOS - ÁRBITRA DE FUTSAL CONCEDE-NOS ENTREVISTA

Hoje temos o grato prazer de dar a conhecer algo desta nossa consagrada colega, onde se mantém ininterruptamente há 7 épocas na 1ª Categoria Nacional.

Dados biográficos: Nome completo: Filipa Isabel Sousa Pereira dos Santos, filha de Armindo Teixeira dos Santos e de Maria Filomena Sousa Pereira dos Santos, nasceu na Freguesia de Paranhos (Porto), em 22 de Junho de 1978, Professora do 1º ciclo (a leccionar na Escola Francesa do Porto), Licenciada, actualmente a frequentar um curso de Mestrado. Línguas estrangeiras que domina: Inglês e Francês.

Currículo desportivo: 1995/96-Frequenta, com aproveitamento, o curso de candidatos a Árbitra de F.11. Na época seguinte o de Futsal, obtendo o mesmo rendimento. 1997/98- Como Árbitra Distrital presta provas para ascender à recém criada 3ª Categoria nacional de Futsal. 1998/99-Ingressa na 3ª categoria e, no final da época, faz exame para a 2ª Categoria, sendo aprovada. 1999/2000-Árbitra da 2ª Categoria. 2000/01, no final da temporada é promovida à 1ª Categoria Nacional, onde se mantém até à actualidade. 2003/04-Obtém o diploma da Federação Portuguesa de Futebol como Formadora (Monitora) de Árbitros de Futsal. 2004/05-Inicia esta sua última actividade na Comissão de Apoio Técnico do Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Porto, colaborando nos vários cursos entretanto realizados. 2005/06-A FIFA requer a sua presença na República do Irão para formar Árbitras de Futsal com vista à sua participação para os IV Jogos Islâmicos da Solidariedade. 2006-A FIFA notabiliza-a como sua Instrutora para a Área do Futsal!

Eis as suas respostas às seguintes questões

Como se iniciou na arbitragem?

Na altura tinha 17 anos, estava no 12º ano e tencionava seguir Comunicação Social. Estava a iniciar um curso para candidatos de futebol de 11 na Associação de Futebol do Porto e o meu Pai (antigo árbitro de Futebol de 11) convenceu-me a frequentá-lo, pois poderia vir a ser uma mais-valia com os estudos que eu pretendia seguir. Recordo-me de entrar numa sala cheia de homens e eu era a única mulher; o monitor desse curso foi o antigo árbitro Martins dos Santos. Ao longo de todo o curso (que durou cerca de três meses) ouvi várias pessoas repetirem vezes sem fim que eu apenas queria o curso para o Curriculum e que não havia de arbitrar nenhum jogo. Aí o orgulho e a condição feminina falou mais alto e, no final do curso, constitui equipa, comprei equipamentos e participei num jogo como árbitro assistente. Nesse dia choveu muito, tanto que quase nem via a bola!... Mas a vontade de voltar a participar num jogo ficou!
Os fins-de-semana foram-se sucedendo e o medo de desiludir os meus colegas de equipa foi sendo pretexto para estar sempre presente nos jogos para os quais era nomeada. O gosto pela arbitragem tinha entrado em mim!

Quais as motivações que sente para estar na arbitragem?

Sou mulher e consegui provar que mereço estar onde estou!
Quando iniciei na arbitragem ainda não sabia muito bem o que esperar, até onde me era permitido chegar. Mas rapidamente as oportunidades foram chegando, o apoio dos colegas foi imenso e, muito cedo, acreditei que podia chegar a um patamar de privilegiados, se assim me é permitido dizer!
Estou agora a atingir a barreira dos dez anos na arbitragem do Futsal. Penso ter quebrado e rompido com preconceitos e atitudes, e acredito que comigo foi possível proporcionar a todas as mulheres a expectativa de que também temos um lugar no Futsal! Estamos numa salutar competição de igual para igual e temos o mesmo valor que os homens. Na superfície de jogo somos todos seres humanos que querem valorizar a modalidade de que tanto gostam praticar.
Com muitos objectivos cumpridos, hoje o que me faz estar na arbitragem são os amigos, as pessoas, o jogo.


Quais as suas referências?

Sem dúvida os excelentes colegas com quem tive e tenho o privilégio de estar! E o meu Pai! O qual ajudou-me a compreender que o jogo não se esgota em si próprio pois há sempre aspectos a corrigir, outros a melhorar e outros ainda a eliminar. Era com ele que esclarecia e clarificava dúvidas, discutíamos de forma exaustiva as Leis do Jogo, situações, erros, sinaléticas… Às refeições a minha Mãe, por vezes, saía da mesa porque dizia não entender o que tanto falávamos!
Os meus companheiros são aqueles que desde o início sempre me apoiaram e nunca me deixaram ficar para trás: o Moutinho que me ensinou muito daquilo que eu hoje sei, o Henrique Ramos e Joaquim Castro que me incutiram o ritmo do treino, o Sr. Albino Nogueira e o Presidente do Conselho de Arbitragem que sempre acreditaram em mim e me apoiaram, a própria Associação de Futebol do Porto. E tantos outros que não esqueço e hoje são meus amigos como o António Brito, José Henrique Ramos, Vítor Rocha, Couto e Pedro Paraty.
É fundamental encontrar os colegas certos e entendermo-nos bem. Por vezes estamos com bons árbitros mas a equipa não funciona. Pode demorar até algum tempo, mas a finalidade é que tudo corra como desejamos: Sempre bem! Actualmente tenho uns excelentes colegas e, na nossa equipa, tudo funciona. Em especial a boa disposição!

Quais os jogos que pretende destacar?

Para mim todos os jogos são importantes mas há sempre aqueles que nos marcam por diversas razões…
Recordo o primeiro jogo em que participei como árbitro do Nacional: foi um jogo a contar para o campeonato da 3ª divisão e foi entre duas equipas do Porto, os Ases de Leça com o Luso-Académico; o meu primeiro jogo da 2ª divisão em que aconteceu de quase tudo um pouco e a equipa da casa decidiu protestar o jogo; o primeiro jogo com equipas de 1ª divisão a contar para a Taça de Portugal (Miramar-Junqueira); e sem dúvida, o meu primeiro jogo de 1ª divisão em que era a primeira época em que o Benfica participava numa competição do futsal e logo com a Fundação Jorge Antunes.
Também não posso esquecer a minha participação como 3º árbitro, talvez pela mediatização desses mesmos jogos, no 2º jogo da final dos play-off na última época entre o Benfica e o Sporting e, já esta época, e jogo da Supertaça entre o Benfica e o Braga.
Mas é claro que os jogos que mais prazer me dão são os dos escalões jovens, em especial Juniores E (escolas)!


Já sentiu alguma decepção?

Eu pensava que a minha maior desilusão na arbitragem tinha sido no ano em que fui prestar provas para subir ao Nacional e ter visto as minhas provas a não serem aceites… mas não! A maior desilusão que eu tive foi esta época, no curso de início de época, quando inexplicavelmente, não consegui atingir a pontuação mínima e necessária para poder actuar…
Sempre estabeleci para a minha carreira certos requisitos e não fazer o exigível num teste escrito, apesar de grave, é inconcebível para mim. Por isto tudo, senti um tremendo desencanto…


Diga-nos como foi a sua experiência no Irão

O convite para ir à República do Irão surgiu do nada daí a minha surpresa. É claro que fiquei muito contente, mas sempre o considerei como algo pontual.
No início senti algum receio pela escassa informação de que dispunha sobre o país e a sua vertente desportiva. Estava um tanto ou quanto assustada…
A programação inicial seria para dar formação a mulheres que, pensava eu, teriam conhecimentos muito escassos de arbitragem. Engano total pois quando lá cheguei elas estavam sequiosas por saberem algo de novo. Com tanta vontade assim comuniquei-lhes a grande alteração daquela época, mas não a queriam aplicá-la pois alegavam que se os homens não sabiam da alteração, elas então não podiam ministrar, pois eles ainda não sabiam! Foi este choque cultural que mais me impressionou pois aqui, no mundo ocidental, as alterações são comunicadas de igual para igual e não há diferenças.
Os jogos correram muito bem, sem incidentes, e até acabei por arbitrar três jogos. Hoje voltaria lá e, agora, sem nenhuma incerteza
!

Ao atingir o topo na Formação Internacional do Futsal, como Instrutora FIFA, o que é para si?

Da minha prestação como Formadora no Irão até ser nomeada instrutora da FIFA foi um saltinho e, para mim, foi uma enorme surpresa. Não contava com tal distinção mas é claro que fiquei muito feliz! A formação é um dos pontos de interesse para um dia mais tarde, quando deixar a actividade de Árbitra.

Nota: Foto obtida no Porto com o actor NicolauBrayner, na véspera de viajar para o Irão.

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