quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A ARBITRAGEM NOS MUNDIAIS, 1978 – ARGENTINA (XI)

A 11ª edição efectuou-se na Argentina, durante o mês de Junho de 1978, desde o dia 1 até 25. Estiveram presentes 16 selecções (Alemanha, Argentina, Áustria, Brasil, Escócia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Irão, Itália, México, Peru, Polónia, Suécia e Tunísia) e realizaram-se 38 jogos. Nesta maratona foram utilizados os seguintes seis Estádios: António Vespuci Liberti, em Buenos Aires, por 9 vezes; Chateau Carreras, em Córdoba, 8; Cordiviola, de Rosário, 6; San Martin, em Mendonza, 6; Municipal, em Mar del Plata, 6; e José Amalfitani, em Buenos Aires, 3. Portugal voltou a não participar nesta fase final. No torneio de apuramento defrontou as selecções da Polónia, em casa (16.10.1976), derrota por 0-2 e fora, em 29.10.1977, empate a um golo; Dinamarca, em casa (17.11.1976), vitória por 1-0 e fora (09.10.1977), vitória por 4-2; Chipre, em casa (16.11.1977), vitória por 4-0 e fora (05.12.1976), vitória por 2-1. Os 12 golos portugueses foram marcados por Manuel Fernandes (4), Chalana (2), Nené (2), Jordão (1), Octávio (1), Seninho (1) e Vital (1). A selecção foi orientada no ano de 1976 por José Maria Pedroto e, em 1977, por Júlio Cernadas Pereira (Juca). NOTAS
Em 1976, a Junta Militar promoveu um golpe de estado e instalou uma ditadura na Argentina. Com isso, a comunidade internacional pressionou a FIFA para mudar a sede da competição de 1978 para outro país. Não funcionou, até porque o novo governo argentino investiu pesado no Mundial como forma de propaganda política. O que explicaria boa parte dos episódios estranhos ocorridos durante a competição. -Mascote do Mundial, o Gauchito-
Uma atmosfera de temor envolvia a realização deste mundial, já que a situação do país não era das mais calmas. Embora durante a sua realização tenha havido uma trégua, de vez em quando ouvia-se o estrondo de bombas em Buenos Aires. Momentos antes da cerimónia inaugural explodiu uma bomba no Centro de Imprensa da organização, tendo morrido um agente da autoridade, especialista, que pretendia desactivar o engenho.
-Réplica da bola oficial, a Tango-
A Holanda não pode contar com Cruyff por ter-se negado a viajar devido à situação política que existia na Argentina, pese embora tivesse recebido mais de 40.000 cartas de adeptos do seu país a solicitar-lhe que revogasse a sua decisão.
-O Estádio da final, António Vespuci Liberti-
O Brasil, para disputar suas sete partidas, percorreu 4659 quilómetros pela Argentina. Já a Argentina percorreu apenas 618 quilómetros. -Inauguração do torneio-
Eliminadas na primeira fase, as selecções da França e da Hungria proporcionaram um verdadeiro figurão, sendo que os franceses em protesto contra as más arbitragens, entrou também de camisa branca, pois a mesma estava sorteada para os húngaros. O árbitro do jogo, o brasileiro Arnaldo César Coelho recusou-se começar a partida, enquanto a questão dos equipamentos não estivesse resolvida. Os jogadores da França acabaram sendo obrigados a jogarem com camisas verdes listado de branco, cedidos por um clube amador, o Kimberley. O início jogo atrasou-se cerca de quarenta minutos, tendo os franceses vencido por 3-1.
-A equipa de arbitragem que dirigiu a final, da esquerda: O auxiliar Linemayr (Áustria), o Árbitro Gonella (Itália) e o Auxiliar Barreto (Uruguai)
O jornal inglês Sunday Times denunciou que os argentinos estavam defraudando os testes anti doping. Afirmaram que a urina para os exames após cada partida não era fornecida pelos jogadores, que inferiam fortes doses de anfetaminas. Um homem teria sido contratado só para urinar.
-Sérgio Gonella, Árbitro FIFA-
O jogador da seleção da Holanda, Rob Rensenbrink marcou o golo 1000 da história dos Campeonatos do Mundo, convertendo uma grande penalidade no jogo Escócia-Holanda, 3-2.
-Golo da Holanda-
O Brasil autoproclamou-se "campeão moral" por ter sido a única selecção invicta deste mundial e porque o goleiro do Peru, Quiroga, teria facilitado a partida contra a Argentina (facto confirmado já nos anos 2000 pelo próprio Quiroga, que confessou, chorando e envergonhado, ter entregue o jogo à Argentina). A Argentina precisava ganhar de uma diferença superior a quatro golos e fê-lo por 6. Pormenor: Ramón Quiroga Arencibia nasceu na Argentina (23.07.1950) e naturalizou-se peruano. -Fase do jogo-
Fernando Rodríguez Mondragón, filho de um chefe do tráfico de drogas colombiano, declarou em 2007 à Rádio Caracol (Colômbia) que o desarticulado cartel de Cali subornou a seleção do Peru, com uma cifra que rondava os 50 milhões de pesos, para que deixasse a Argentina ganhar o decisivo jogo da segunda fase e assim aconteceu.
-Golo da Argentina-
Foi a única edição em que o Brasil terminou sem ser derrotado e não foi campeão.
Houve rumores de que a ditadura militar, que governava a Argentina, desejava o título a todo custo, o que, segundo algumas pessoas, explicaria boa parte dos episódios estranhos ocorridos durante o torneio.
-Novo golo dos futuros campeões-
Depois de encantar o mundo em 1974 e de se mostrar eficiente em 1978, a Laranja Mecânica ficaria ausente dos mundiais de 82 e 86 e nunca mais atingiria uma final desse porte.
Na primeira fase, o melhor marcador, Mário Kempes, não marcou um único tento. Preocupado, o técnico César Menotti solicitou que ele tirasse o bigode. Resultado: nos quatro jogos seguintes, Kempes marcou seis golos.
-Festa-
A vitória da Tunísia sobre o México (3 a 1) foi a primeira de um seleccionado africano na história dos mundiais.
-Proclamação-
Antes do encontro final começar, o capitão argentino, Daniel Passarella, fez reclamações ao árbitro italiano Sérgio Gonella a respeito da protecção que Rene van de Kerkhof usava no braço direito. O juiz acolheu o protesto, embora o holandês tivesse utilizado a mesma protecção nas cinco partidas anteriores.
-É nossa, dizem os argentinos!-
Poucas semanas antes do começo da competição, os órgãos de comunicação social argentinos receberam uma circular oficial onde se lia que estavam proibidas as críticas negativas à organização do evento e à própria selecção de Menotti.
Brasil não deslumbrou. A Argentina tinha a crença de quem joga em casa – e, suspeitava-se, um reforço de doping – mas não passava muito disso. O Brasil era um arremedo de seleccionado, perdido entre o passado de glórias e o rigor táctico futurista de Cláudio Coutinho. A Holanda não exibia mais o arrebatador jogo colectivo de 74, tanto que vários de seus golos resultaram de bombas de fora da área. Os golos do médio Arie Haan figuram entre os mais espectaculares de todas os torneios.
A postura política dos holandeses trouxe-lhes até mais destaque que o futebol praticado. Eles cogitaram boicotar o evento, em repúdio às violações dos direitos humanos. Recusaram-se a receber as medalhas referentes ao segundo lugar das mãos dos militares argentinos. O guarda-redes sueco Ronnie Hellström também marcou sua posição visitando as Mães da Praça de Maio (movimento organizado por mulheres que perderam seus filhos na repressão brutal) na exacta hora em que cerimónia de abertura ocorria.

-Argentina selecção vencedora do mundial de 1978-
Do lado oposto, João Havelange declarou que o planeta “pôde ver a verdadeira imagem da Argentina” e ofereceu a vice-presidência da FIFA ao almirante Carlos Lacoste, que administrou (muito mal!) as verbas destinadas ao mundial. Os desperdícios foram apontados pelo Ministro das Finanças Juan Alemann, em cuja casa explodiu uma bomba no momento em que a Argentina fez o quarto golo contra o Peru, naquele polémico 6 a 0. Não deve ter sido coincidência.
-Tunísia, 3 - México, 1-
Política à parte, a FIFA elegeu Mário Alberto Kempes o homem do mundial, e daí se pode concluir que, além de não ter visto esquadrões eternos, 78 não primou pelo esplendor individual. Menotti não levou o garoto Maradona, Cruyff preferiu não ir, Platini ainda não estava no auge. A honra de melhor jogador caiu, então, no colo de Kempes. Perto de Meazza, Pelé e craques de outros Mundiais, Kempes destoa de forma grotesca. No entanto, num torneio opaco, ele foi um dos raros raios de luz.
-Brasil, 2 - Itália, 1-
O atacante brasileiro Reinaldo estava em tratamento e precisava realizar sessões de musculação. Para que o aparelho de musculação necessário ao jogador pudesse acompanhar a Selecção pela Argentina, a CBD-Confederação Brasileira de Desportos providenciou um camião, que foi apelidado de “Reinaldão”.
-Peru, 3 - Escócia, 1-
A final entre Argentina e Holanda deveria ser apitada pelo israelita Abraham Klein. Porém, os dirigentes argentinos vetaram o árbitro por suposta falta de parcialidade. O argumento é que a Holanda era reconhecidamente um dos maiores defensores da causa judaica na comunidade internacional.Diego Maradona, então com 17 anos, não jogou nesse Mundial porque o técnico Argentina, César Luis Menotti, o considerava muito imaturo.Na final a Argentina venceu a Holanda por 3-1, mas no prolongamento. -França, 3 - Hungria, 1 (o tal jogo...)-

Prémio Fair Play (instituído pela primeira vez): Argentina. -Prémio Fair Play-
Golos: 102 -Bota de Ouro, que premeia o melhor marcador-
Melhor marcador: O argentino Mário Kempes (15.07.1954), com 6 golos. -Mário Alberto Kempes, o artilheiro-
Advertências: 58 (Brasil, 9. Holanda e Peru, 7 cada. Itália, 6. Alemanha, Argentina e Hungria, 4 cada, França, Irão e Polónia, 3 cada. Áustria e Suécia, 2 cada. Escócia, Espanha, México e Tunísia, 1 cada). -Contestação ao regime ditatorial argentino-
Expulsões: 3 (Hungria, 2 e Holanda, 1). -Boicote ao Campeonato do Mundo 78-
Espectadores: 1.526.151 -Edição filatélica italiana-
ARBITRAGEM
Foram escolhidos 35 Árbitros de 31 países. A saber: Alemanha (2), Argentina (4), Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Escócia, Espanha, Etiópia, França, Gales, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irão, Israel, Itália, Jugoslávia, México, Peru, Polónia, Portugal, Roménia, Russia, Senegal, Síria, Suécia, Suiça, Tunísia e Uruguai. -Postais argentinos alusivos à competição-
Vinte e oito exerceram a função de Árbitro e os restantes 7 actuaram como auxiliares. -Anverso da moeda alusiva-
Repetentes:
1970 e 1974 = Barreto (1).
1974 = Archundia, Linemayr, Biwersi, Thomas, Palotai, Pestarino, Rainea, Winsemann e Ndiaye (9) recorde. -Verso-
ABRAHAM KLEIN, 29.03.1934, ISRAEL, AR=3 e FL=1.
ADOLF PROKOP, 02.02.1939, ALEMANHA, AR=1 e FL=2.
ALFONSO GONZALEZ ARCHUNDIA, 14.06.1934, MÉXICO, AR=1 e FL=4
ALOJZY JARGUZ, 19.03.1934, POLÓNIA, AR=1 e FL=2.
ANATOLY IVANOV, 17.05.1928, RUSSIA, AR=0 e FL=3.
ANGEL FRANCO MARTINEZ, 31.10.1938, ESPANHA, AR=2 e FL=1.
ANTÓNIO GARRIDO, 03.12.1932, PORTUGAL, AR=1 e FL=2.
ARNALDO COELHO, 15.01.1943, BRASIL, AR=1 e FL=2.
ARTURO ANDRES ITHURRALDE, 06.03.1934, ARGENTINA, AR=0 e FL=4.
CESAR GUERRERO OROSCO, 14.04.1930, PERU, AR=1 e FL=2.
CHARLES CORVER, 16.01.1936, HOLANDA, AR=1 e FL=2.
DJAFFAR NAMDAR, 02.07.1934, IRÃO. AR=1 e FL=2.
DUSAN MAKSIMOVIC, 06.01.1940, JUGOSLÁVIA. AR=1 e FL=2.
ERICH LINEMAYR, 24.01.1933, ÁUSTRIA, AR= 1 e FL=3.
FAROUK BOUZO, 03.03.1938, SÍRIA, AR=1 e FL=2.
FERDINAND BIWERSI, 24.06.1934, ALEMANHA, AR=1 e FL=2.
FRANCIS RION, 10.06.1933, BÉLGICA, AR=1 e FL=2.
HEDI SEOUDI, 25.11.1932, TUNÍSIA, AR=0 e FL=2.
JEAN DUBACH, 28.02.1930, SUIÇA, AR=1 e FL=2.
JOHN GORDON, 10.02.1930, ESCÓCIA, AR=2 e FL=1.
JOHN CLIVE THOMAS, 22.06.1936, GALES, AR=1 e FL=2.
JUAN SILVAGNO CAVANNA, 29.07.1934, CHILE, AR=1 e FL=2.
KAROL PALOTAI, 11.09.1935, HUNGRIA, AR=2 e FL=2.
LUÍS PESTARINO, 28.05.1928, ARGENTINA, AR=0 e FL=3.
MIGUEL COMESANA, 03.04.1928, ARGENTINA, AR=0 e FL=5.
NICOLAI RAINEA, 19.11.1933, ROMÉNIA, AR=2 e FL=1.
NORBERTO ANGEL COEREZZA, 24.10.1933, ARGENTINA, AR=1 e FL=2.
PATRICK PARTRIDGE, 30.06.1933, INGLATERRA, AR=1 e FL=2.
RAMON BARRETO, 14.09.1939, URUGUAI, AR=2 e FL=2.
ROBERT WURTZ, 16.11.1941, FRANÇA, AR=2 e FL=1.
SÉRGIO GONELLA, 23.05.1933, ITÁLIA, AR=2 e FL=2.
TESFAYE GEBREYESUS, 25.09.1943, ETIÓPIA, AR=0 e FL=3.
ULF ERIKSSON, 26.05.1942, SUÉCIA, AR=2 e FL=1.
WERNER WINSEMANN, 15.01.1933, CANADÁ, AR=0 e FL=3.
YOUSSOU NDIAYE , 20.06.1932, SENEGAL, AR=1 e FL=2.

António José Silva Garrido, o representante português, foi o primeiro Árbitro a expulsar num jogo 2 jogadores, facto que se verificou em 2 de Junho no encontro que dirigiu: Argentina Hungria (3-2). Assistiram 71.615 espectadores. Ainda actuou como auxiliar no Alemanha-México (6-0), em 06.06 e em 21.06, no Áustria-Alemanha (3-2). Como curiosidade, diga-se que Garrido, nos documentos da FIFA, está identificado como sendo de nacionalidade espanhola!

O Árbitro israelita Klein foi o que mais cartões amarelos exibiu. Nos 3 jogos que dirigiu mostrou 7.

Vídeo da final:

http://www.youtube.com/watch?v=rmXdIyRwAfU&feature=related

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