sábado, 4 de maio de 2013

NAQUELE TEMPO – MAIO DE 1963 (EPISÓDIO 69)

O Boletim “O Árbitro” nº 71 (Ano VI), de há exactamente cinquenta anos, divulgou, entre outros, os seguintes assuntos:
LANÇAMENTO DA LINHA LATERAL
A Comissão Central regulou a determinação da obrigatoriedade da execução desta reposição da bola em jogo que não deveria de ser feita a distância superior a um metro da referida linha. Assim, se o arremesso não for executado nas condições estabelecidas deverá ser repetido pela mesma equipa, considerando-se semelhança com o pontapé de baliza ou ao pontapé de canto, por exemplo, quando não executados em condições regulamentares. Poderia vir a acontecer que o atleta que não fizesse o lançamento nas condições indicadas seria advertido e, em caso de reincidência, expulso por comportamento incorrecto.
-RICARDO ORNELAS-
A ARBITRAGEM E OS SEUS PROBLEMAS – O jornal Record entrevistou duas gradas figuras do futebol português, o distinto jornalista e mestre Ricardo Ornelas (n. 31.12.1899/f. 04.09.1967) e Acácio Rosa (04.09.1912/04.02.1995), grande desportista, belenenses do coração e antigo presidente da Comissão Central de Árbitros. A primeira questão, foi: Devem os Árbitros continuar a dispor dos poderes discricionários que a lei lhes faculta em questões de facto? Ou carece-se de constituir outra entidade que julgue os próprios juízes e se pronuncie sobre a regularidade e honestidade do seu trabalho? Ricardo Ornelas, respondeu: “Entre dois males deve sempre escolher-se o menor. Tudo quanto se faça para lhes assegurar a autoridade máxima que as leis do jogo lhes conferem dentro dos campos é pouco. Se o recrutamento dos Árbitros é defeituoso há que melhorar o processo de o fazer. Se o considerarem mau ou defeituoso há que remediá-lo sem deixar de reconhecer, por outro lado, que eles são, afinal, os Árbitros que temos. Mas tudo será incompleto se o espírito do espectador se fizer mover pela clubite. As leis referem-se ao jogo. E é um jogo que nós seguimos. Por muito respeitáveis que sejam os desejos dos sócios e adeptos dos clubes o jogo é o que manda, devendo todos aceitar o que dispõem as leis se não se quiser minimizar o espectáculo. Em menos palavras, toda a ajuda que os jogadores, os clubistas e a própria crítica derem será proveitosa ao próprio jogo. No ponto a que as coisas chegaram não podemos deixar de concluir que a má preparação do público e dos jogadores é que está na origem de muitas coisas que se vêem por aí. Sem essa contrariedade tudo seria melhor”. Atalha o jornalista: Por exclusão de partes deve considerar-se dispensável a criação de outra entidade? Ricardo Ornelas rematou: “O futebol tem por toda a parte a organização que ele próprio criou ou tornou indispensável. Ir ao encontro de exigências que vêm de fora dos rectângulos só pode aumentar a confusão. E é tudo!”
-ACÁCIO ROSA-
Sobre o tema inicial, Acácio Rosa, disse: “Os Árbitros têm grandes e graves responsabilidades no que geralmente acontece de mau nos nossos campos e isso porque transigem mais do que seria desculpável em certas ocasiões. Transigem umas vezes com a vontade do público, noutras com a conduta dos jogadores e, infelizmente, algumas vezes, deixam-se comandar pelos seus dois auxiliares. Ora, quando o Árbitro transige perante isto ou aquilo falseia desde logo a sua missão. Penso que o motivo principal é porque a missão do Árbitros não é devidamente compreendida nem está convenientemente protegida. O seu primeiro inimigo, porventura o principal ou o maior de todos, é a clubite que campeia por aí desenfreadamente, e é até apoiada por alguns dirigentes que por motivos óbvios, se habituaram a lançar sobre o Árbitro as culpas de tudo quanto de mau acontece às suas equipas. Há necessidade de rodear os Árbitros da maior protecção de natureza moral, procurando defender-lhe o prestígio e impô-lo ao respeito de todos de modo a neutralizar todas as ofensivas venham elas de onde vierem. Mas o que acontece? Público, jogadores, treinadores, dirigentes, todos quantos se sentem pretensamente lesados, aproveitam os erros mais insignificantes para lançar ataques de toda a espécie, provocando o descrédito da arbitragem e da causa em ela se integra! E o pobre Árbitro, qual inocente arrojado às feras, nos circos romanos, fica entregue ao desenrolar dos acontecimentos, temente de vir a sofrer a consequência das influências que se movem contra ele. Este é, quanto a mim, o pior mal de que os Árbitros têm que lamentar-se. É frequente ver acusar este ou aquele Árbitro de falta de personalidade ou de autoridade. A verdade é que os acusadores, em grande parte dos casos, deviam ser réus, esquecidos como se mostram, na maioria das vezes, de que as causas pelas quais condenam os Árbitros são da sua própria culpa pelo nulo apoio e protecção que lhes dispensam”. Quanto saber se considerava irregular a intromissão de entidade estranha à organização, Acácio Rosa, proferiu: “A organização não as pode admitir quando não seja para ajudar a remediar o que estiver mal na medida que todos o ambicionamos. A melhor forma de elevar o nível das arbitragens é contribuir para dignificar os Árbitros não está em restringir-lhes a autoridade e pôr em dúvida a sua personalidade de homens do desporto. Pelo contrário, o Árbitro carece de absoluta liberdade de acção para dirigir e ser obedecido”.
Justifica-se o atraso de duas semanas que se verificou na sua distribuição, por entrega tardia de colaboração. Regista-se e saúda-se o recebimento das revistas do Sporting Clube Olhanense e do Clube Desportivo da Cova da Piedade. Deseja-se a Artur Agostinho, novo director do jornal Record, as maiores felicidades, assim como o seu antecessor Prof. Fernando Ferreira pelas atenções que dispensou ao Boletim. Com alguma ironia dá-se conta que, perante a determinação da FIFA que obriga a que o Árbitro actue “quando um livre estiver para ser marcado, qualquer jogador que se mexer ou tentar distrair um adversário será punido com advertência (!?), o juiz da partida teria de fazer incidir a sua atenção sobre todos os jogadores adversários, e para isso o lugar ideal seria o de se instalar na bancada, onde mais facilmente o seu ângulo de visão poderia abarcar toda a área onde foi cometida a infracção… Quanto à presença na televisão para esclarecer e divulgar as regras do jogo de futebol entende-se ser benéfica pelo alcance que se pretende atingir junto do grande público, jogadores, treinadores e todos aqueles interessados no futebol. Agradece-se a Alves dos Santos, jornalista, cuja presença no programa tem sido benéfica e importante.
-DR. ANTÓNIO DA SILVA PITTA-
REGRAS DO FUTEBOL DE 5 - António Gonçalves Rebelo, de Viseu, dá conta que nos campeonatos realizados na sua terra as regras não iguais às que foram divulgadas no Boletim, apontando as seguintes: 1-O campo não tem zona vedada atrás da baliza. 2-A área do guarda-redes tem 4 metros de raio e não 5,40 mts. 3-Proibem a entrada dos jogadores na área do guarda-redes adversário. 4-Têm um limite de substituições. 5-Permite o pedido de tempo. 6-O jogador que cometer cinco faltas técnicas, além dos castigos correspondentes, será expulso por cinco minutos. 7-Dentro da área de baliza, o guarda-redes não pode passar a bola a qualquer companheiro que nela se encontre. 8-O guarda-redes não pode jogar a bola fora da sua área, quer no decorrer do jogo, quer na execução de livres. Contudo, a Federação Portuguesa de Futebol emitiu uma circular a estabelecer as normas (oficiais e uniformes) para serem cumpridas pelas Associações Distritais, conforme determinação da Direcção-geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar que exige autorização da Federação na realização de qualquer torneio, cujo regulamento terá de ser apresentado, assim como limita a idade mínima para jogadores e obriga a adequada inspecção médica. Proíbe, ainda, que os praticantes participem no mesmo dia em mais de que uma partida. Por fim fixa a duração dos tempos de cada jogo, de harmonia com as idades dos atletas, como se descreve: de 12 a 15 anos, 25 minutos, duas partes de 12 minutos e 30 segundos. De 16 e 17 anos, 30 minutos, divididos em duas fracções iguais. Mais de 18 anos, 40 minutos, 20 cada período.
-CARLOS CANUTO-
GALERIA DO PASSADO - Luís Gaspar, o responsável por esta rubrica, destaca o Árbitro lisboeta Carlos Canuto Júlio de Almeida (08.02.1898/09.03.1976), antes um exímio jogador do Carcavelinhos, no qual se sagrou campeão nacional na época 1927/28, derrotando na final o Sporting por 3-1. Na arbitragem atingiu alto padrão face aos conhecimentos e experiência adquiridos enquanto atleta. Alcançou a internacionalização num encontro em Valência, entre as selecções de Espanha e a Suíça (3-2), jogo disputado no dia 28.12.1941.
TÍTULOS
Joaquim Campos assina “Os Segredos da Arbitragem”. Carmo Lourenço escreve sobre “A colocação da bola para o pontapé de canto”. No espaço “Recordar é Viver…” volta a ser publicado o trabalho subscrito por João Banheiro, intitulado “Consequências de uma autoridade exagerada e benefício de uma aplicação justa e compreensiva da lei no aspecto disciplinar” que veio a receber o primeiro prémio do ciclo de palestras promovido em 1957 pela então Comissão Central de Árbitros. André de Oliveira Santos, Árbitro lisboeta, certifica “Arbitrar é tão difícil…”, trabalho que foi noticiado na revista do Clube Desportivo Cova da Piedade. O Dr. António da Silva Pitta desenvolve um tema muito querido à arbitragem “Ética”. O jornalista desportivo do Porto, Carlos Martins, explica em “Um apito e duas bandeiras”, o que é uma equipa de arbitragem. “O desporto profissional e o seu espectador” produção extraída do Boletim do Sporting Clube Olhanense e da autoria de J.R.C. Dourado.
HENRI FAUCHEUX – O ÁRBITRO MASCOTE…
Pelo facto de ter dirigido o encontro entre as selecções portuguesa e brasileira (1-0), Sporting-Dundee (1-0) e Portugal-Bulgária (3-1), onde só se verificaram vitórias para as nossas cores, é uma espécie de talismã.
ALTO CARGO NO GOVERNO PORTUGUÊS
O Dr. Armando Rocha proferiu importantes declarações na cerimónia da sua tomada de posse como novo responsável governamental no desporto.
HOMENAGEM A VALADÃO CHAGAS
A Federação Portuguesa de Futebol ofereceu banquete de honra em veneração ao ex-Director-geral dos Desportos, ilustrado com as duas últimas imagens.

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