quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

ESTADO DA ÍNDIA – V SÉRIE – PERSONALIDADES – CAPELÃO FERREIRA DA SILVA – 52º EPISÓDIO

 

MAIS VALE TARDE DO QUE NUNCA!

O Padre Joaquim Ferreira da Silva, Tenente Capelão, religioso da Companhia de Jesus, natural de Aves, Santo Tirso, alistou-se no Exército português em 6 de Maio de 1958, como alferes graduado Capelão. Tendo sido graduado no posto de Tenente Capelão em 1 de Dezembro de 1960, viria a falecer em 9 de Dezembro de 1987, na Póvoa do Varzim.

O Governo da República Portuguesa considerou, como provado - por investigação realizada no Arquivo Geral do Exército e no Arquivo Geral da Marinha, com análise de documentação original e bibliografia sobre o período, bem como através da audição de várias individualidades envolvidas - que na tarde de 19 de Março de 1962, o Capelão Joaquim Ferreira da Silva, deu solução, com indómita coragem, a um grave incidente ocorrido no campo de prisioneiros portugueses de Pondá, no antigo Estado da Índia, arriscando a sua própria vida.

Foram avaliadas as circunstâncias de grande instabilidade emocional, tensão e risco vividos nesse dia, o acto heroico e abnegado protagonizado pelo Capelão Joaquim Ferreira da Silva evitou que a situação tivesse uma escalada imprevisível pondo em risco a vida dos cerca de 1750 militares portugueses e civis presentes.


Assim, é louvado pelo Governo Português, a título póstumo, o Tenente Graduado Capelão Joaquim Ferreira da Silva pelo extraordinário acto heroico por si praticado no campo de prisioneiros de Pondá, na antiga Índia Portuguesa, em 19 de Março de 1962, revelador de raras e notáveis qualidades de abnegação, coragem moral, firmeza de carácter e virtudes militares, dignas de serem apontadas como exemplo, classificando-o como distintíssimo e relevante, do qual resultou honra e lustre para as Forças Armadas Portuguesas. Louvor outorgado a 7 de dezembro de 2007 e publicado na Ordem do Exército 2, II série, de 29 de fevereiro de 2008, páginas 122 e 123.


 Também lhe é concedida, a título póstumo, a Medalha Militar de Serviços distintos, grau ouro, com palma, ao Tenente Graduado Capelão Joaquim Ferreira da Silva. Distinção outorgada em 7 de dezembro de 2007, conforme Portaria 1217/2007, e publicada no Diário da República 251, II série, de 31 de dezembro de 2007, página 38177;  na Ordem do Exército 2, II série, de 29 de fevereiro de 2008, página 105.

Contudo, tudo começou quando três soldados portugueses da brigada de limpeza tentaram evadir-se no carro do lixo. O Furriel português que comandava a brigada denunciou a situação e um dos evadidos fugiu e misturou-se com o restante pessoal prisional, não sendo detetado. Os dois seus colegas de fuga foram apanhados. Perante a confusão o Furriel teve para ser linchado. O comando indiano ordenou uma formatura com todos os prisioneiros. O Brigadeiro indiano Sagat Dingh (1918/2001), ordenou montar um grande cenário, com metralhadoras em toda a volta do Campo de Prisioneiros de Pondá, nas varandas, dentro e fora da porta de armas, um pelotão armado. Perante os presos perguntou se alguém queria castigar o delator, tendo recebido a resposta: “Todos!” O Oficial ficou desorientado e voltou a questionar, tendo recebido a mesma afirmação de todos os que estavam perfilados. Manda, então, preparar o pelotão de fuzilamento e ordena o carregamento das metralhadoras. Fora do perímetro, em frente e por trás, manda colocar bazucas e morteiros. Naturalmente que todos os prisioneiros estavam numa enorme e incalculável tensão, bastando o mais pequeno incidente para que tudo acabasse muito mal. Ouve-se até: “Quem se mexer será abatido já!”. Alguns desmaiaram. De repente o Capelão Ferreira da Silva dirige-se ao Brigadeiro que o identificou e disse-lhe se podia dizer alguma coisa aos seus camaradas de armas detidos. “Que não, era demasiado tarde, era preciso dar uma lição a todos!” O Capelão evocou que os militares portugueses nunca tinham sido maltratados e que mereciam uma oportunidade. Recebeu o “sim”, ouvindo, ainda, dizer que “esta a última oportunidade.” Com o pedido de desculpas coletivo a tempestade terminou. O Furriel delator foi retirado do Campo, mas mais tarde voltou a Pondá. Os dois soldados fugitivos foram punidos com 21 dias de prisão, regressando a 8 de abril de 1962 para junto dos restantes colegas prisioneiros. Como represália foram canceladas as visitas e a assistência da Cruz Vermelha. Após este episódio a moral dos prisioneiros foi muito afetada e os presos deixaram de obedecer a ordens dos superiores e o aprumo militar desapareceu.

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