domingo, 31 de março de 2019

A HISTÓRIA (BREVE) DE UM DOS PRIMEIROS LANCEIROS NO ULTRAMAR…

Em mais um dia de pesquisas de matéria para o trabalho que estou a desenvolver e relacionado com a presença das 121 unidades da Polícia Militar que cumpriram a sua missão nas então sete províncias ultramarinas, contatei, em 5 de outubro de 2017, o senhor António Sebastião Morais, nascido em Cumieira (Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real), no dia 1 de novembro de 1939, o qual fez parte do Pelotão da Polícia Militar nº 1, como sendo o soldado 258/59, agrupamento que seguiu para a então província ultramarina da Guiné-Bissau, sendo o primeiro contingente em toda a história da PM a deslocar-se para as antigas colónias.
O PPM 1, comandado pelo Alferes Rui Eduardo Anselmo Oliveira Soares (constituído por 41 lanceiros, um segundo sargento, 2 furriéis, 10 primeiros cabos e 27 soldados), foi mobilizado pelo Regimento de Cavalaria 6, do Porto. Estes militares, animados que estavam por forte e inquebrantável fé para que o cumprimento do dever na Guiné-Bissau decorresse sem sobressaltos, foram oferecer o guião da unidade à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, bem perto da avenida da Boavista, no Porto. O PPM 1 fez a viagem para Lisboa em 12 jeeps. No trajeto, na estrada Lisboa-Porto, perto de Fornos, Trouxemil, Coimbra, uma das viaturas, conduzida pelo Soldado 181/59, senhor Edgar Francisco da Cunha, de 20 anos de idade, despistou-se, bateu num poste e colheu mortalmente a Dª Albertina Carminda, de 50 anos, vendedora de peixe. Contudo, o PPM embarcou em Lisboa para Bissau, por via aérea, a 3 de novembro de 1959. Ainda lá do alto o pessoal chegou a ver o navio que transportava os jeeps para a Guiné-Bissau! Até ao regresso (a chegada do navio Manuel Alfredo a Lisboa verificou-se a 18 de novembro de 1961), o PPM 1 esteve mobilizado por 747 dias.
O senhor António Sebastião Morais, filho de Abílio Morais e Maria da Graça Morais, teve quatro irmãos (Celeste, Alberto, Acácio e Luís) e uma infância normal, considerando o tempo e os modos de vida dos portugueses do interior, mas, pouco depois ficou ligado à construção civil por o senhor seu pai ser um excelente encarregado dessa área especializada. Apurado para o serviço militar foi-lhe destinada a Arma de Cavalaria e foi o Regimento de Cavalaria 6 que o acolheu e lhe deu a instrução militar, preparando-o, assim, para marchar até à Guiné-Bissau, integrado no PPM 1.
Na Guiné-Bissau, passado que foi o período crítico pelos graves, tumultuosos e fatídicos acontecimentos de Agosto, tudo foi correndo ao sabor da existência que se levava, tendo em consideração as terríveis saudades, o estar longe dos seus mais próximos, o calor, a humidade, a fraca alimentação, o muito serviço, o pouco descanso e por aí fora. Foi vítima de um acidente de viação que, por pouco, podia acabar com a sua vida, não fora o capacete que evitou consequências trágicas. Após o regresso, em novembro de 1961, e ter passado à disponibilidade no Porto (RC6), voltou à construção civil, o que acontece ainda hoje, mas moderadamente. Aos 58 anos reformou-se, por doença, mas mantém-se à frente de uma pequena empresa do ramo. Atualmente, aufere uma pensão à volta de 300 euros, onde se inclui uma pequena verba proporcionada pela Lei dos Combatentes, de 2002, o que é, sem dúvida, um valor extremamente exíguo para o muito que fez na vida! Os seus entretenimentos preferidos são a televisão e a condução automóvel. Desportivamente é adepto do Futebol Clube do Porto. Regista que, desde 1961, nunca alguém o contatou quanto à sua vida militar, dado que, sendo um dos primeiros lanceiros que esteve em África, poderia colaborar em diversos estudos que foram feitos, dando conta de experiências, saberes, conhecimentos e realidades que viveu bem de perto. Enfim…
Também destaca que, desde sempre, o PPM 1 nunca promoveu qualquer convívio anual entre os seus elementos, mas tem como amigo muito chegado o camarada de armas e de Pelotão, o soldado 282/59, senhor Porfírio Azevedo Melo, de Felgueiras, com quem contata e promovem encontros regularmente.
Entretanto, devo dizer que em 2017, quando o contatei telefonicamente, pediu-me que lhe facultasse tudo o que pudesse recolher do seu Pelotão. Assim, fiz seguir para a sua morada, na passada terça-feira, dia 26 de março, por correio postal cópias de dois temas já divulgados neste blog: a apresentação do trabalho sobre a PM na Guiné-Bissau e as referências propriamente ditas ao PPM 1, e as 4 fotografias do PPM 1 (já na Guiné-Bissau) que ilustram este registo, o que farei, igualmente e na próxima semana, para Felgueiras e para o seu camarada, senhor Porfírio Azevedo Melo, o qual, por sua iniciativa contatou-me e abordamos alguns pontos referentes à unidade militar a que pertenceram. Gente fantástica, gente amiga!
Duas últimas notas:
1-Direi que seria empolgante e gratificante que se realizasse o primeiro encontro do PPM 1, num almoço-convívio, onde quer que seja e com qualquer número de participantes, 2, 3, 4, etc., incluindo os familiares, comprometendo-me a estar presente, facto que muito me sensibilizaria e orgulhava e ter o privilégio de conhecer novos amigos, pessoas de bem!
Vamos a isso?
2-Por fim expresso a minha gratidão ao nobre amigo António Sebastião Morais pela franca e fraterna disponibilidade em facultar estes dados para memória futura.
Bem haja!


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