Bairro das Pedralvas, 18 de janeiro de 2023, às 14H02
Exmº Senhor
Engenheiro Carlos Manuel Félix
Moedas
Ilustre Presidente da Câmara
Municipal de Lisboa
Boa tarde.
Com os melhores cumprimentos
dou conta que fui testemunha direta num acidente de viação (atropelamento) que
ocorreu na passada segunda-feira, dia 16, do presente mês, na avenida do
Uruguai, em Lisboa, por volta das 15 horas, quando um camião de recolha de lixo
atropelou a Dª Manuela, que atravessava a referida via, a qual ficou sob a
viatura até à chegada dos Bombeiros, que promoveram a sua retirada e condução
ao Hospital.
O senhor Urbano José de Jesus,
Assistente Operacional de Máquinas Especiais, funcionário da Câmara Municipal
de Lisboa, era quem conduzia o veículo, que, como se compreende, após ter
acontecido a fatalidade, ficou muito, mas muito afetado pelo ocorrido, mas,
afetado como estava, nunca perdeu o sentido de responsabilidade e de profissionalismo,
respondendo e procedendo a tudo o que foi necessário, com postura, dignidade e,
acima de tudo, um elevado carácter de humanidade, perante as consequências da
tragédia que assistia, assim como alguns cidadãos anónimos.
A sua excelente, sentida e
fantástica atuação ao desbloquear a posição inicial do camião, já que o teve de
o movimentar uns poucos centímetros, uma vez que um dos seus ferros estava
sobre a Dª Manuela, ficando um pouco mais confortável, pese embora estivesse
todo o tempo (até à chegada do socorro), com o corpo virado para o alcatrão e
com uma poça de sangue à volta da cabeça, mas, graças à situação que se vivia,
esteve sempre consciente, ao ponto de me informar, quando a contatei debaixo do
camião, onde permaneci a apoiá-la, o número de telefone de sua casa para avisar
o seu esposo, o senhor Fernando, para além de me dizer que mexia os dedos dos
pés e que era o seu braço direito que mais mal tratado estava – e, na
realidade, assim era – pois vi o estado em que se encontrava, nada bom.
Já agora aproveito para dizer
que graças ao Curso de Socorrismo que frequentei com aproveitamento, os
conhecimentos adquiridos e postos em prática ao longo dos anos, foi uma
mais-valia nesta circunstância, pois cumprindo o protocolo foi importantíssimo
para transmitir o ponto de situação a quem chegou para socorrer a Dª Manuela.
Portanto, senhor Presidente,
esta minha mensagem destina-se a comunicar-lhe que o senhor Urbano José de
Jesus, ilustre colaborador da C.M.L. foi, durante todo o tempo em que estive a
acompanhar a Dª Manuela, um digno profissional, sempre prestável, afetado é
certo, nunca tendo qualquer desfalecimento para as ajudas que pudesse valer,
mas é um ser humano de elevado carácter e de uma estatura que apraz realçar,
merecedor de todos os encómios.
Saudações de apreço,
consideração e respeito
Alberto Helder Henrique dos
Santos
Rua Ary dos Santos, 1-4º andar,
letra A
1500-062 LISBOA
913 671 154
Nasci em 18 de março de 1942
Ainda sobre este triste incidente,
adianto as seguintes observações:
1. A Câmara Municipal de Lisboa
jamais poderia ter adquirido este género de viatura, por um defeito que salta à
vista: a existência de considerável altura da cabina de condução do solo,
causando desagradáveis “pontos cegos” ao condutor. O habitáculo deverá situar-se
sempre o mais próximo do piso para evitar acidentes, como o que se verificou.
Aliás, já não é o primeiro atropelamento, que me lembre já se verificou um
outro, com as mesmas caraterísticas, na Estrada dos Arneiros, em Benfica,
Lisboa. Os construtores que compreendam e privilegiem as condições de
segurança. O camião poderá ter a altura que tiver, o lugar de trabalho do
condutor, não!
2. Entendo que a equipa de socorro
deveria ter determinado que o camião do lixo precisaria ter sido içado e
retirado do local, onde estava parado, para proporcionarem um melhor cuidado no
atendimento para com a Dª Manuela já que, assisti, à sua deslocação
(arrastamento?), pelos operacionais, por 2/3 metros. Evitava-se, assim, mais
dor a quem estava a sofrer e muito.
3. Dois senhores elementos que
integravam as equipas de socorro, um Bombeiro e um Polícia, não foram nada
simpáticos para comigo, tratando-me como se fosse um empecilho, de difícil
trato, quezilento, isto, imediatamente depois de ter estado largos minutos –
que mais me pareceram horas – debaixo do camião a auxiliar a Dª Manuela,
apoiando-a, e a transmitir importantíssimos dados da vítima aos Bombeiros,
quando os referidos elementos me interpelaram com arrogância e autoritarismo,
para me colocar para além do espaço marcado onde não podia estar o público,
afetando bastante o meu estado emocional. Aqui era bom que imperasse a calma, a
compreensão e a tolerância, pois reagi com lisura, tranquilamente e em baixo
tom de voz. Denotaram falta de preparação para enfrentarem este género de ocorrências
ou, então, estavam mais nervosos do que eu.
4. Já contatei telefonicamente com
os senhores Fernando e Urbano, a quem manifestei a minha solidariedade e disponibilidade
para o que acharem por bem, assim como já me desloquei à Divisão de Trânsito da
Polícia de Segurança Pública de Lisboa onde expressei, por escrito, o meu
testemunho do que se passou naquele momento fatídico, na avenida do
Uruguai.
5. Porque não estive sozinho a tentar
solucionar esta triste situação, direi que houve outras pessoas de bem,
anónimas e de extremo e impressionante voluntarismo, que me assistiram superiormente
não só a solicitarem ao 112 para que enviassem rapidamente socorro, como me
arranjaram um par de luvas de borracha, que utilizei, dado o sangue que se
encontrava espalhado junto à Dª Manuela. Destaco, também o facto de terem
arranjado um cobertor para que a Dª Manuela não arrefecesse e o terem
telefonado para o senhor Fernando, esposo da Dª Manuela, a avisá-lo do sucedido.
Colaboração fantástica, dinâmica, dedicada e muito prestável. O meu bem-haja!
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