quinta-feira, 12 de agosto de 2010

MARTA MAGALHÃES SOUSA ENTREVISTADA PELO SÍTIO APITO NACIONAL

Esta minha boa amiga foi convidada para dar conta do seu trabalho (excelente, digo eu) junto da elite dos Árbitros brasileiros de futebol, registo que, com a devida vénia e com as necessárias adaptações, se divulga a seguir: Na arbitragem de futebol, sempre se ouve falar: Tal árbitro não conseguiu passar no teste físico, não foi bem em tal partida ou caiu o rendimento, mas pouco se ouve dizer a respeito dos motivos que conduziram a tais acontecimentos. Pensando nisso, a CBF-Confederação Brasileira de Futebol contratou-a para desenvolver a importante tarefa de acompanhamento dos seus filiados. 1. A Psicologia do Desporto pode ajudar a Arbitragem?
R. Sim.
2. Qual o interesse da Psicologia na arbitragem?
R. O principal alcance da Psicologia do Desporto é o comportamento humano do Árbitro. No seu cenário desportivo. Este trabalho contempla a visão de Homem e do Atleta que é capaz de se auto-gerir e auto-regular, e ser protagonista de suas acções de forma criativa. 3. Desde quando esse trabalho esta sendo realizado?
R. Desde 2004 quando o presidente do Sindicato de Árbitros de São Paulo me convidou para dar uma palestra para os seus Árbitros. Logo em seguida, iniciámos um trabalho com os Observadores, cujo resultado foi publicado no Livro: Expandindo Fronteiras, Editora Livro Pleno, 2007. Também apresentei alguns estudos do ciclo de contacto para a Arbitragem na pré-temporada (2005-2006) da Federação Paulista de Futebol. Além de ter prestado atendimento psicológico em grupo e individualizado realizado no Sindicato dos Árbitros (SAFESP), no período de 2004 a 2006. 4. Quando começou o trabalho com a Arbitragem na CBF?
R. Em 2007, a Comissão de Arbitragem da CBF fez um convite para acompanhar os Árbitros num unidade hoteleira na cidade de São Paulo, data anterior ao teste físico FIFA realizado em São Caetano do Sul, acompanhando-os antes, durante e depois da referida prova. 5. Quais são as queixas mais frequentes que os Árbitros lhe transmitem?
R. A pressão do público, dos jogadores, treinadores e comunicação social. As dificuldades nos treinos, números de horas que se dedicam aos aspectos físicos, tácticos, técnicos e psicológicos; na maioria das vezes têm que laborar noutras instituições para garantir seus rendimentos mensais, a distância da família, o teste físico e algumas dificuldades que as Federações passam, entre outros. 6. Quais os eventos em participou?
R. Inúmeros. Mas passo a descrever alguns deles: 2007/Outubro - Árbitros Promissores, na Granja Comary. 2008/Maio - Árbitros das 27 Federações nacionais. 2009/Agosto - Árbitros FIFA, em Curitiba (PR), 2010/Janeiro - Instrutores CBF, em São Paulo. Abril – Mundialistas, na Granja Comary. Maio - Árbitros FIFA, Especiais e Aspirantes CBF.
E, ainda, Instrutores Futuro III. 7. Quando o árbitro precisa de ajuda psicológica o que é que ele faz?
R. Entra em contacto comigo por telefone, e-mail, skype, desloca-se ao consultório, treino de campo, enfim, da maneira mais apropriada para o momento em questão. 8. Quais são os métodos realizados?
R. São trabalhados os principais pontos psicológicos para prática da arbitragem de futebol: Auto-observação, Condutas internas e externas, Auto-Registo e as Habilidades Psicológicas tais como: Tomada de decisão, Auto-controle (controle respiratório, stress e ansiedade, comunicação, confiança, coesão, atenção e concentração, prática mental), Motivação e prevenção do esgotamento (não Burnout), entre outros. Esses trabalhos são realizados no campo de treino, na sala de aula, na fixação terapêutica, no hotel, no vestiário, antes, durante e depois da partida de futebol. 9. Como trabalhar o árbitro de futebol que é sempre exposto perante os adeptos dos clubes?
R. Ajudando-o a manter o foco. Ele é o único que não pode perder a cabeça diante das adversidades. Em contrapartida, é nele que reside à figura de ordem, autoridade, respeito, boa comunicação, o controle da agressão, impulsos e a ética. Daí a necessidade do controle emocional, do humano que é capaz de auto-gerir e auto-regular-se para agir. 10. Diante do exposto, a CBF, apoia seu trabalho?
R. Sim, uma vez que me dá autonomia para vincular aos árbitros e assistentes da forma que eles carecem - sem questionar as razões de cada um. O objectivo maior é o bem-estar do Árbitro e a realização de um trabalho efectivo. Segundo a arbitragem o trabalho faz parte do Plano de Modernização do Futebol Brasileiro idealizado pelo Dr. Ricardo Teixeira, o que sem dúvida demonstra a preocupação do mais alto dirigente na melhoria da arbitragem. 11. No seu ponto de vista o que pode e o que deve melhorar na Psicologia da Arbitragem?
R. Que os árbitros sejam capazes de desenvolver suas potencialidades no contexto do aqui e agora. Que sejam capazes de exercitar seu foco, sua liderança e suas diferentes formas de exercê-las com concentração, sempre ressaltando as funções de estar em contacto com seus sentidos e observações que podem interferir na tomada de decisão. 12. Qual ponto a Psicologia ainda não alcançou?
R. Acredito que alguns homens ainda têm preconceitos e vêem a ajuda psicológica como sendo uma fragilidade. Enquanto que a realidade é outra: Afinal os heróis das histórias morrem, enquanto os guerreiros sobrevivem e estão prontos para o combate. A psicologia visa apoia-los, dar-lhe mais personalidade - humanizá-los e habilitá-los a responder pelas suas questões, de forma criativa e focada. 13. Qual seu sonho?
R. Que as Federações contratem um Psicólogo Desportivo, que faça treinos semanais e que a CBF possa promover o treinamento uniformizado pelo menos três vezes por semestre para acompanhar de perto o quadro individual e colectivo.

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