segunda-feira, 23 de junho de 2008

E DEPOIS DO ADEUS?

Quando um Árbitro termina a sua carreira activa o que fazer, ou melhor, o que lhe é proporcionado para continuar a desenvolver as suas capacidades e transmitir os seus conhecimentos no seio do futebol? Em Portugal, pouco ou quase nada.
-Equipa que muito brilhou: Amaral Dias, Vítor Pereira e Antonino Silva-

Para já a hierarquia não tem a devida sensibilidade para que seja aproveitado o manancial de saberes que poderão ser úteis na divulgação das regras do jogo e da legislação correspondente junto dos clubes, junto dos jogadores, jovens ou seniores, no sentido de enriquecerem a sua formação, que, como se sabe, só poderão ter vantagens se conhecerem os pormenores que escapam não só ao grande público, como a muitos praticantes, alguns até já vestiram a camisa da selecção principal do seu país.
-A arbitragem não é só mostrar cartões-

Sem dúvida que é pena que tal aproveitamento não seja uma constante, uma normalidade num meio onde a ignorância serve mesmo à medida quando convém a cada qual.
-Há que aproveitar a experiência-

É bem verdade que o Árbitro quando pune sabe o que faz. Frequentou curso adequado, é testado periodicamente e tem noção plena do que está a fazer. Está preparado para isso. E o infractor? Terá a mesma leitura? Na maioria, senão na esmagadora maioria, desconhece as causas (e os efeitos) do que acabou de infringir (ou diz que desconhece, mas sabe o que fez), não deixa de reclamar ou exorbitar perante o juiz que entendeu mal o que acabou de ajuizar. Mais, protesta até pelo facto de que não é passível de tal admoestação, seja ela técnica (pontapé livre indirecto ou directo ou grande penalidade) ou disciplinar (exibição do cartão amarelo ou vermelho), porque julga que tem o direito a expressar o que quer, o que lhe vai na mente. O que sabe é que, na sua opinião – baseada nos princípios que defende ou na sua santa ignorância – o que o Árbitro sancionou não está bem, que errou e que o prejudicou não só a ele, como ao seu clube. Coisas…
-Os saberes não ocupam lugar-

Os praticantes deveriam praticar a velha máxima: Nós jogamos (bem ou mal), o Árbitro dirige (a quem exigem que esteja sempre excelentemente, que não pode ter dias menos bons…).

Para superar este género de infundadas reclamações haverá que actuar em duas grandes áreas:

1-Junto de todos os Árbitros de cada país para que os seus critérios de avaliação da lei que regula as faltas e respectivos castigos tenham somente uma interpretação, evitando-se que hoje seja assim e amanhã de outra forma. As disparidades são palpáveis quando determinado Árbitro diligenciou duma maneira e outro, no jogo a seguir e com a mesma equipa, para a mesma incorrecção, arrumou diferentemente. Isto ainda acontece frequentemente, mas não pode ser assim.
-Que não se fechem as portas aos conhecimentos adquiridos-

2-Que todos os clubes arregimentem para os seus quadros antigos Árbitros que sejam estudiosos e que se mantenham actuais para instruírem o plantel quanto ao que podem e não podem fazer – e há tanto por começar, casos das cargas, das rasteiras, das entradas perigosas (tacles), do agarrar, dos empurrões, das obstruções, do comportamento antidesportivo, enfim, uma montanha de acontecimentos que, no sossego duma sala de aula, com tempo e vagar, poderão ser dissecadas por quem sabe, para que os que desconhecem fiquem a saber e aplicarem os seus conhecimentos na valorização das suas prestações nas turmas onde jogam.
Quando isto acontecer, veremos um futebol mais limpo, mais leal, mais puro e não haverá as tais jogadas maldosas que, normalmente, lesionam colegas do mesmo ofício e que podem até incapacitá-los para a sua vida normal. Há que meditar nestas simples sugestões que têm muito valor para o futebol que queremos, jogado sob os auspícios do fair-play, como a FIFA exige.

Até breve.

Aquele abraço do

Alberto Helder

Nota: Esta minha crónica foi publicada no categorizado e recomendado sítio cartaovermelho.esp.br no passado mês de Maio.

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