domingo, 15 de janeiro de 2012

NAQUELE TEMPO (LIII) – JANEIRO DE 1962

No Boletim “O Árbitro” nº 55 (ano V), de há cinquenta anos, os temas em destaque, foram: ANO NOVO – José Manuel da Silva, Árbitro lisboeta, escreve sobre as vicissitudes das perspectivas de nova vida no período que agora começa. AINDA O FALECIMENTO DE RIBEIRO DOS REIS - A Associação de Futebol de Lisboa, em sua memória, realizou uma cerimónia simples mas muito sentida onde muitas gradas figuras do futebol marcaram presença, casos de Pedro Escartin, colega de Ribeiro dos Reis no Comité de Arbitragem da FIFA, D. Santiago Barnabéu, ambos espanhóis, General Correia Leal, Dr. Fernando Pimenta, Dr. Vicente Melo e Engº Maurício Vieira de Brito, entre outros. Mas o momento mais marcante foi a entrega da medalha de mérito desportivo à viúva pelo ministro da Educação Nacional, Dr. Lopes de Almeida, acto acompanhado por Justino Pinheiro Machado, presidente da Associação lisboeta e José Castilho dirigente do Sport Lisboa e Benfica. PÁGINA DA COMISSÃO CENTRAL – Avisa os filiados de que com a entrada em vigor do Regulamento do Imposto de Selo passam os recibos das despesas e dos prémios de jogo a serem selados da seguinte forma: De 200$00 a 1.000$00, 1$00. Superior a 1.000$00, 1 por mil. Valores inferiores a 200$00, isentos de imposto de selo. Informa que a Companhia de Seguros Sagres, que cobre os riscos da actividade de Árbitro de futebol, mudou de instalações.
A Comissão Central pretende ainda que obrigatoriamente os seus filiados anotem na documentação do jogo a hora de saída e de chegada à residência do Árbitro, isto para efeitos de pagamento da diária, quando tal é considerado… Visitas, falecimentos, demissões, regressos, curso de candidatos em Braga, viagens, transferências de Conselho de Arbitragem, agradecimento e previsão de deslocação profissional foram os destaques nesta rúbrica. A Federação Grega de Futebol promoveu o Congresso de Arbitragem em Atenas e Portugal esteve representado por Fernando Pimenta, presidente da Comissão Central. Principais assuntos focados: 1-Tratamento desigual dos Árbitros internacionais de certos países afastados do centro da Europa. 2-Atribuição problemática das insígnias FIFA aos Árbitros internacionais de certos países da Europa. 3-Permuta de Árbitros. As agressões continuam e, infelizmente, Samuel de Abreu, em Sacavém, e Leopoldo Pereira, no Restelo, foram as últimas vítimas. A Madeira está a organizar pormenorizadamente a recepção aos colegas do continente para que nada falte na grande jornada de confraternização que se realizará no Verão. Edgar Castelo Branco, de Lourenço Marques, ofereceu uma medalha a ser entregue ao Árbitro que se distinguisse no Campeonato Distrital local. A Direcção do Valência Clube de Futebol, simpática agremiação do país vizinho, enviou à Federação Portuguesa de Futebol carta a manifestar o seu agrado pelas actuações dos Árbitros Joaquim Campos e Dr. Décio de Freitas, nos jogos que contavam para a Taça das Cidades com Feiras, e que intervieram O Nottingham e Lausanne. O espanhol Pedro Escartin, um dos mais conceituados técnicos mundiais em leis do jogo, está a concluir a 19ª edição do “Reglamento de Futbol”, obra ansiosamente esperada pois conterá as novidades dos cursos realizados em Florença (Itália) e Lima (Peru). Regista-se que o Sport Clube de Vila Real faz referências elogiosas ao Boletim “O Árbitro”. Recebeu-se e agradeceu-se mais alguns cartões com votos de Boas Festas.Chama pormenorizadamente a atenção do comportamento do público nos campos de futebol que “actua” com uma incongruência de gestos, de modos e de palavras, verdadeiramente chocante e elucidativa. A falta de escola e o desconhecimento quase pleno das leis do jogo por parte dos espectadores, induzem esse mesmo público ao erro e deste aos apupos e às atitudes de revolta e violência não vai um passo de gigante.
Pensa a FIFA organizar o Campeonato Mundial de Jogadores Amadores, fixando a Taça Jules Rimet somente para competição profissional, assim como conseguir a uniformidade na aplicação das Leis do Jogo pelos Árbitros, eliminando, assim, com divergências de opiniões e os critérios díspares que proliferam. Dá-se conta que a equipa de arbitragem espanhola que dirigiu o encontro entre o Albacete e o Málaga foi vítima de acidente rodoviário por ter saltado uma das rodas da sua viatura quando regressavam a casa, ocasionando ferimentos graves em todos eles. A cidade de Arica (Chile) está a fazer um esforço enorme na poupança da água pois ela será necessária para que o relvado do Estádio Carlos Dittborn, fique apresentável para o Mundial. Está prevista a realização de sete jogos. Em Espanha, onde existe o sorteio dos Árbitros, está a ser estudada fórmula para que se verifiquem alterações, isto é, que deixe de ser puro, para que não haja filiados prejudicados e beneficiados no final da época, pelo número de jogos que cada um faz. Na mensagem de ano novo formula-se os desejos pela continuidade da boa ética desportiva, considerando factores como o progresso dos Árbitros, maior respeito e compreensão por parte do público e jogadores pela sua missão, já de si tão espinhosa e difícil, estreita colaboração entre os elementos das equipas de arbitragem, sem esquecer a conduta irrepreensível quer dentro quer fora dos rectângulos de jogo, acatar as deliberações superiores, evitar considerações sobre os jogos que vão dirigir nos cafés, tertúlias, ou outros locais onde possam comprometer os seus trabalhos, desporto e correcção de mãos dadas para diminuir o número de castigos, a aplicação das leis do jogo com critério firme e uniforme para que não haja protesto e reclamações que bastante incomodam, que os críticos procurem ser justos e objectivos para elevar ao mais destacado nível o prestígio da arbitragem e que, a nível internacional, todas as modalidades desportivas atinjam um plano de saliente sempre dentro daquele aprumo e lealdade que tanto nos tem caracterizado. EM DEFESA DA ARBITRAGEM – O madeirense António Ferreira (na imagem) realça o dinamismo e empenho no vogal da Comissão de Árbitros do Funchal que contribuiu para o aumento de filiados na região, perto de 30, mas que foi alvo de incompreensão e ofensas por parte de incrédulos, o que levou a pedir a demissão do cargo.PRESIDÊNCIA DA FIFA - Sir Stanley Ford Rous (nas duas fotos), empossado recentemente como o 6º presidente da entidade que superintende no futebol mundial teve honras de foto na primeira página do boletim, como se constata. Este inglês, nasceu em Watford em 25.04.1895 e veio a falecer em Guildford em 18.07.1986, com 91 anos de idade. Foi Árbitro no período de 1927 a 1934, dirigiu 36 jogos internacionais e, curiosamente, foi o “pai” do sistema diagonal, que ainda hoje é praticado pelos Árbitros na direcção dos jogos. Exerceu o seu cargo na FIFA entre 1961 e 1974. Foi-lhe concedido, a título póstumo, a comenda de Presidente Honorário da entidade. AS NOSSAS CONTAS – Conforme mapa, é apresentado o movimento de caixa do ano de 1961. João Nascimento Correia Tavares, de Bissau, coloca duas questões: 1-Poderá um jogo oficial ser dirigido por equipa de arbitragem que não tenha a sua ficha de inspecção médica legalizada? 2-É legal o Árbitro expulsar do banco o Treinador pelo simples facto de estar a dar instruções aos seus jogadores?
Respostas dadas: No primeiro caso, deva-se dizer que não existe a obrigatoriedade de inspecções anuais. Atente-se ao que, na altura estava regulamentado, através do Estatuto e Regulamento das Comissões Central e Distrital dos Árbitros de Futebol, como determinava o Decreto-Lei 32.946, de 3 de Agosto de 1945: “Artigo 28º, b) Apresentar documentos comprovativos de aptidão física e de boa visão”.
Quanto ao segundo caso, o Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol, em vigor naquela época, determinava no artigo 11º, alínea 2-É rigorosamente proibido a pessoas ou entidades que se encontrem no banco dar instruções por palavras, sinais ou quaisquer outros meios, aos jogadores em campo (!). Mais: no parágrafo único diz “no caso do não cumprimento destes preceitos o Árbitro deverá suspender o jogo e mandar retirar o prevaricador, recorrendo, se necessário, à força pública… (Outros tempos, outros entendimentos!).
De Vila Real, Óscar Gomes de Barros, expõe dois casos: 1-Um jogador que estava fora do rectângulo de jogo a receber assistência clínica volta ao jogo sem pedir autorização ao Árbitro. Este apercebe-se, interrompe o desafio para fazer advertência ao atleta em falta e manda recomeçar o jogo com um pontapé livre indirecto no local onde o jogador foi advertido. Não seria bola ao solo, pergunta o leitor. No caso seguinte diz que o guarda-redes de determinada equipa tem a bola em seu poder e com o jogo a decorrer o Árbitro interrompe a partida para autorizar uma substituição. Depois deste procedimento o Árbitro acena com a mão para o guarda-redes bater a bola como se nenhuma suspensão de jogo tivesse havido. Não será de executar bola ao solo? Não será considerado erro técnico?
Esclarecimentos prestados: No primeiro episódio, tecnicamente, o Árbitro deveria ter executado bola ao solo no local da infracção. No segundo, na verdade, foram cometidas duas faltas técnicas e graves (substituição indevida e recomeço de jogo incorrecto.
BIBLIOTECA – São divulgados mais 69 títulos de obras que estão ao dispor dos assinantes do Boletim.
TÍTULOS – Carmo Lourenço, assina: Assim é impossível… “A propósito de jogo perigoso ‘passivo‘, Carlos Carvalho esclarece. “Porquê?”, por António Augusto Santos. “Apontamentos minhotos”, de Diogo Manso. “Notícias de Évora”, artigo subscrito por Lourenço José Simões. Vítor Real, de Lourenço Marques (Moçambique), é o autor de “À Face da Verdade e uma Justa Pretensão”.
LEGISLAÇÃO E DOUTRINA – Continua a publicar-se o Regulamento, desta feita até ao artigo 27º.

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