quarta-feira, 30 de abril de 2008

MINHA MÃE, MINHA HEROÍNA



A Dona Maria Ester Henrique dos Santos, minha querida mais do que tudo, se fosse viva, neste 30 de Abril, comemorava mais um aniversário natalício. -1944, comigo e com o meu irmão-

Filha de José Henrique Frade e da Dª Maria da Conceição Cristina, veio a nascer em São Brás de Alportel, no ano de 1915, algarvia de gema, portanto. Faleceu no final da tarde do dia 11 de Junho de 1971, após ter sofrido um fulminante AVC, em sua casa e perante as suas netas, a quem estava a servir o jantar. -1946, eu e a minha irmã-

Teve três filhos, o Fernando Plácido, o mais velho (28.9.1939), eu, o do meio (18.3.1942) e a Ivone (18.10.1944), a jóia da coroa. Isto no tempo da II Grande Guerra, (1 de Setembro de 1939 a 2 de Setembro de 1945) o que não foi fácil, devido às privações, aos racionamentos, às escassez dos produtos de primeira necessidade, à mingua do ordenado do nosso pai (funcionário da Carris), enfim, só dificuldades. Vivíamos em Lisboa, num pobre rés-do-chão na rua Cecílio de Sousa (ao Jardim do Príncipe Real), que não tinha electricidade (só muito mais tarde, quase no final da década 50), logo não tínhamos frigorifico ou qualquer outro útil electrodoméstico, hoje tão em voga. Resumindo: vivíamos quase sem condições algumas. Comemos sopa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que nos sabia muito bem. Muita gente auxiliava-nos por merecimento. Éramos sociáveis, prestáveis e bons vizinhos. -1946, o trio maravilha (à frente), mais o meu avô, minha mãe e duas primas-

Esta senhora, minha querida mãe, era um portento de querer, persistência e força de vontade. Simples, humilde, católica, compreensiva, revolucionária, mas lutadora, sempre contra quem oprimia o mais pequeno, neste caso o povo. Tinha os nervos muito à flor da pele, mãe-galinha não deixava que as suas três crias fossem subjugadas por quem quer que fosse. Ai de nós se chegássemos a casa a chorar ou a fazer “queixinhas”. Havia logo sermão e missa cantada. -Minha mãe com as minhas avós paterna (Maria Gameiro dos Santos) e materna-

No Natal tinha por hábito fazer uns bolos com figuras de meninos e meninas. Aos meninos colocava mais um pouco de massa em determinado sítio. Nas meninas, era só fazer um risquinho no mesmo local. O que nós gozávamos com tal brincadeira… -1964, uma jovem amiga, minha irmã, minha noiva (actual mulher) e minha avó paterna-

Foi, também, uma mãe sofrida, para além de ter criado o “trio harmonia” numa fase muito complicada, geria tudo sempre com o objectivo dos seus filhos estarem apresentados, limpos e sem fome. Levantava-se de madrugada ia à Praça da Ribeira comprar hortaliça e fruta e vendia à porta de casa, aos vizinhos. (nota: eu era um dos seus melhores clientes, pois comia muita fruta…). Teve que fazer das tripas coração, pois ainda tinha tempo para trabalhar como costureira, quer para os da casa, quer para alfaiataria. E, de vez, em quando, lá vinha uma limpeza num escritório, que calhava muito bem receber esse dinheirinho… Enfim, sempre a laborar, a arranjar dinheiro para casa. Isto até começarmos também a trabalhar e os nossos proveitos ajudavam (muito pouco) o orçamento familiar. -Ainda em 1964, quando me encontrava em África, meu cunhado Armindo, meu pai e meu irmão-

Também foi acometida de doença do foro oncológico, pois teve que ser submetida a uma mastectomia. Mas isso foi rapidamente superado pois tinha os filhos para criar e a enfermidade, para ela, era coisa de somenos… -1966, no dia do meu casamento, com os meus pais-

Mais tarde voltou a sofrer quando o meu irmão foi cumprir serviço militar em Outubro de 1960, soube logo que estaria mobilizado para viajar até à antiga possessão portuguesa na Índia e, na noite de 17 de Dezembro de 1961, verificou-se a sua invasão pelas tropas da União Indiana. Só ao fim de seis meses é que soubemos que tinha sobrevivido, que tinha estado preso, pese embora morássemos perto do Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Coronel Mateus Cabral, e pedíssemos insistentemente notícias do Fernando, nunca nos foi possibilitada qualquer informação. Dizia-nos que a dificuldade de comunicação era o facto do meu irmão ser soldado e dado o seu apelido (Santos). Como se isso tivesse alguma relevância… Felizmente voltou, são e salvo, mas foi repudiado pelos governantes de então, como já disse na data do seu aniversário, neste blog. -Meu irmão, em Goa (Índia)-

Depois fui eu para São Tomé, mas aí, como não havia conflito (na Índia, inicialmente, também não), a situação foi mais tolerada. -Eu, em São Tomé-

A ela lhe devo tudo o que sou. As suas virtudes, a sua honestidade, a sua fidelidade, a sua revolta contra a mentira, injustiça e subserviência, os seus exemplos são valores que me acompanham desde que me conheço. Tento transmitir a todos aqueles a quem tenho partilhado os meus conhecimentos, os meus saberes. A minha mãe foi uma mãe à maneira. Uma das grandes penas que teve, confessou-me, era o de nunca ter tido hipóteses financeiras de nos mandar estudar os três… -Uma das última fotos de minha mãe, à porta de casa, com o seu gato de estimação, o Salmonete-

Um beijão pelo dia de hoje e por todos aqueles que me ensinou a ser o que sou, a ser alguém considerado e respeitado.

terça-feira, 29 de abril de 2008

ALBERTO HELDER, MOTOQUEIRO?


Claro que não! A motorizada, que era do Alcântara, um fotógrafo simplesmente admirável, só serviu para o efeito, nada mais.

Esta foto foi tirada em São Tomé, no dia 30 de Abril de 1966, fardado, quando cumpria o serviço militar obrigatório. Faz amanhã 42 anos…

Falando do Alcântara, respeitando a sua memória, deixem-me contar este episódio, que presenciei na sua loja:

Naquela altura de penúria alugava aos seus patrícios casacos, gravatas e camisas somente para posarem para a máquina fotográfica. Também por questões económicas aproveitava colocar duas pessoas, assentadas uma ao lado da outra, para aproveitar um só negativo. Depois de reveladas cortava as fotos ao meio e servia, assim, os dois clientes. Mais tarde, um deles ao ver que as fotografias que recebeu não eram as dele, dizendo que ali estava uma pessoa com gravata, o bom do Alcântara aproveitava a oportunidade para fazer negócio e não desarmava. Afirmou logo: Com gravata é mais tanto… Independentemente fosse ou não o interessado que estivesse na foto…

Um camaradão esse Alcântara, sempre prestável e amigo. Todas as fotos que tirei em São Tomé se devem ao seu talento, à sua disponibilidade. Que descanse em paz!

segunda-feira, 28 de abril de 2008

CALHARIZ BENFICA-FALAGUEIRA E FUTEBOL BENFICA-LOUREL, OS JOGOS QUE VI NESTE FIM-DE-SEMANA

DIA 26
-Hernâni Fernandes-

No sábado, desloquei-me ao ringue da Junta de Freguesia de Benfica, baptizado de António Livramento, sito na avenida Gomes Pereira, onde assisti ao encontro de futsal, 24ª jornada, entre as equipas de juniores do Grupo Desportivo Calhariz de Benfica (fundado em 1.7.1935) e o Falagueira Atlético Clube, tendo este ganho por 5-3. Antes deste jogo, a classificação de ambos era a seguinte:



-Há que saber se tudo está operacional-
Calhariz, 17 pontos conseguidos em 23 jogos, 4 vitórias, 5 empates, 14 derrotas. Marcou 72 golos e sofreu 105.
Falagueira, 44 pontos, em 22 jogos, 14 vitórias, 2 empates e 6 derrotas. Marcou 86 golos e sofreu 62.

-Saudação-

Quem dirigiu a partida foi o Hernâni Jesus Fernandes.

-Mas que estilo... Teria sido jogador?-

Quanta recordação me deu ao voltar a um local onde aprendi a jogar hóquei em patins (nas escolas do Benfica) e tendo sido contemporâneo do patrono do recinto, o maior mago que até hoje vi nesta maravilhosa modalidade…


DIA 27

-Saudação-

Na tarde de domingo, fui até ao Estádio Francisco Lázaro e presenciei o encontro entre o Clube Futebol Benfica (fundado em 21.4.1916) e o Sporting Clube de Lourel (f. 11.10.1920), cujo resultado final foi de 1-0 a favor dos visitados.

-Jorge Marques-

Eis a classificação das equipas até à jornada anterior, a 28ª:
Fófó (como carinhosamente é reconhecido o popular clube de Benfica), 3º lugar com 52 pontos, resultante de 14 vitórias, 10 empates e 4 derrotas. Marcou 44 golos e sofreu 21.
Lourel, 14º lugar com 9 vitórias, 7 empates e 12 derrotas. Sofreu 40 golos e marcou 29. 34 pontos.
-Graciano Gomes-

A equipa de arbitragem: Jorge Filipe Alexandre Marques (Árbitro), Luís Filipe Duarte Brás e Graciano Manuel Marques Gomes.
-Luís Brás-

Neste Estádio encontrei uma “montanha” de gente amiga dos quais destaco, para além dos elementos da equipa de arbitragem, o ex-Presidente do Conselho de Arbitragem de Lisboa, Emílio Fernandes, o Presidente do Futebol Benfica, Domingos Estanislau e o director Climério Ferreira (também ex-Árbitro), José Pires Alves e Luís Filipe Ferreira, antigos colegas da arbitragem, Pedro Garcia, Árbitro Assistente da Liga, os antigos jogadores internacionais Artur Correia (o Russo) e Augusto Matine.

domingo, 27 de abril de 2008

URIAS CRESCENTE – UM MESTRE, QUE DIZ SER UM ETERNO APRENDIZ…


Este meu bom Amigo, pessoa profundamente conhecedora da matéria de arbitragem de futebol, foi um excelente Árbitro de futebol tendo atingido as mais elevadas posições na carreira, destacando-se as suas qualidades impares, pela coerência, personalidade, dedicação e muito gosto pela causa. Foi Formador de referência e, actualmente, exerce a função de observador da Comissão de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol. Tive a felicidade de com ele partilhar a sua vivência os três congressos onde estivemos presentes: Caldas Novas (2004), São Paulo (2006) e, agora, Rio Grande do Sul (2008).

Urias Crescente Alves Júnior, nascido em 19 de Janeiro de 1923, é o Árbitro com mais tempo de arbitragem no Brasil. Quando a FIFA limitou os 50 para paragem total, Urias já tinha 60 e apitando bem. Continuou até aos 67. Por ser um Árbitro respeitado em todo o Estado de Goiás, os clubes só o queriam a ele. Os dirigentes diziam que o preferiam a arbitrar andando do que os outros correndo sem saber apitar. Só dava Urias!

Sempre muito bem disposto e comunicativo, tem recebido os mais elevados encómios pelo seu empenhamento à arbitragem brasileira, das quais destaco a comenda atribuída pelo Governo do Estado de Goiás, a Ordem do Mérito Anhanguera, somente aos ilustres goianios.

Como disse anteriormente, é com muito gosto que vou tentar expressar três pequenas histórias que me contou, as quais, exceptuando a última, são contadas na primeira pessoa:

1-Estava dirigir um desafio em que os adeptos de um dos clubes não estavam nada a gostar da sua actuação, razão por começaram a ofendê-lo, a chamar-lhe nomes e atingirem a honra a reputação da senhora sua mãe. Esta, ao ouvir na rádio o que se estava a passar no jogo do seu filho Urias, correu para lá e, no local, perguntou em alta voz quem é que estava a enxovalhá-lo. Ninguém, mas mesmo ninguém se manifestou… Pudera, pois a senhora sua mãe levava um revolver na mão!...

2-Naquele tempo, as estradas não eram lá grande coisa, razão porque partiam para os jogos com muita antecedência. Num dos trajectos a camioneta onde viajava avariou e já não seguiu viagem. Urias, apreensivo, só consegue boleia muito mais tarde num camião carregado de toros de madeira. Lá foi na caixa da carga e muito mal acomodado, como se compreende. Mais à frente o seu novo transporte também pifou. E as horas a passarem-se. Vinha um rapaz a cavalo e trazia outro pela trela. E não vai de modas. Pediu a montada emprestada e galopou para o local do jogo, tão depressa quanto possível. Conclusão: Pensa-se que deve ter sido o primeiro Árbitro no mundo a chegar ao campo montado num cavalo… E foi muito mal recebido, pois a hora prevista do jogo, já lá ia!

3-No Brasil os clubes que jogavam em casa é que pagavam directamente aos Árbitros que dirigiam os seus encontros. Um trio deslocou-se a uma cidade do interior e veio de lá com as mãos a abanar, pois não receberam. Como também não tinham dinheiro para a viagem de regresso, o chefe de equipa, que era polícia, arranjou um estratagema que resultou: Algemou os seus colegas, os Assistentes, e pediu transporte oficial para 2 perigosos bandidos que foram si apanhados…

Urias Crescente está a elaborar um livro de memórias e estou expectante quando sair, pois não quero perdê-lo de forma alguma.

Entretanto, já depois de ter este texto elaborado, e graças aos meus bons Amigos José Alberto Braga (que me cedeu a foto da época) e Teodoro Castro Lino, vim a saber, entre outras importantes informações, que Urias Crescente inaugurou o Estádio da Serra Dourada, em Goiânia, Capital do Estado de Goiás, donde é natural, no dia 9 de Março de 1975, com a presença de 79.610 espectadores. Um recorde que ainda não foi superado. E, surpresa das surpresas, o jogo que se disputou nessa data foi entre a selecção do seu Estado e a selecção portuguesa, que terminou com a vitória dos nossos irmãos brasileiros por 2-1… José Maria Pedroto era quem treinava a equipa de todos nós e foi Octávio que marcou o golo português.

sábado, 26 de abril de 2008

25 DE ABRIL, POIS ENTÃO!

1974
-Marquês de Pombal-

A cronologia deste dia de liberdade, que calhou a uma quinta-feira, foi por mim passado assim…
-Na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro com o Coronel Manuel Correia a discursar e o Prof. Dr. Jorge Valadares a dar-lhe toda a atenção e sob a égide da fotografia do General Costa Gomes, antigo Presidente da República-

Como habitualmente saí pelas 7H30 de minha casa, do Bairro das Pedralvas (Benfica) no meu morris mini (IE-44-33) com a mulher (Maria Júlia) e o nosso filho (Rui Fernando, com 22 meses de idade) a caminho da residência de meus sogros, no Areeiro. O “puto” ia a dormir, embrulhado em cobertores, para acabar por acordar noutra sua cama, na casa dos avós.
-Entoando as canções de Abril-

A cerca de novecentos metros da saída de casa, nas traseiras do Cemitério de Benfica, já havia uma barreira militar que impedia o trânsito de seguir em frente, para a Pontinha (onde estava o quartel-general dos capitães).
-Viatura Chaimite, um símbolo do 25 de Abril-
Tomei outro percurso e no trajecto fomos ouvindo na rádio músicas militares. Espaçadamente o Movimento das Forças Armadas comunicava e recomendava que as pessoas deviam manter-se nos seus lares e que aguardassem mais informações do MFA.
-Em quem confio-

Deixei a Maria Júlia e o Rui no Areeiro e segui, de carro, para o meu local de emprego, que ficava na “baixa”. Não pude passar pelo habitual percurso pois a movimentação de tropas no centro da cidade assim determinava.

-O desfile vai começar-

Chegado à firma onde trabalhava (Estabelecimentos Rodrigues & Rodrigues), isto por volta das 8H30, encontrei algumas das minhas colegas costureiras a chorarem dado que vindas de diversos locais, principalmente da outra banda (Almada, Seixal, Barreiro, etc.), tinham visto o aparato militar e não sabiam o que poderia vir a acontecer-lhes assim como aos seus familiares mais próximos, filhos, cônjuges, etc.

-Avenida da Liberdade-

Uma cena que mais as afligiu (que eu não vi) foi terem visto os carros de combate (os prós e os contra) na rua do Arsenal, estarem frente-a-frente em posição de fogo e se não fosse o bom senso e a frieza dos seus comandantes e comandados não se sabe o que poderia daí resultar.

-Palco no Rossio-

Nas instalações da Empresa andei sempre com um rádio portátil a ouvir os noticiários, e com o colega Mário Carvalho Fernandes andámos a acalmar as mais pessoas sensíveis. Resolvi falar telefonicamente com os responsáveis da Administração da Empresa – que não compareceram no local de trabalho – que decidiram encerrar as instalações até nova indicação, ordem transmitida a todos os que tinham comparecido até ali e que prontamente foram embora.
-Da esquerda: irmã da Miriam Cardoso que está a seu lado, esposa do Tenente-Coronel Jacinto Montezo e a mãe de Miriam-

Não foram abertas as lojas e os escritórios e também saímos de seguida para nossas casas. Não sem antes, na companhia de um outro colega, João de Jesus Rebelo, o “caixa” e antigo ciclista credenciado, termos ido adquirir alguns (poucos) géneros alimentícios à nossa mercearia fornecedora (Coutinho & Coutinho). Aproveitou a minha boleia e fui levá-lo a onde morava, na rua Guilherme Faria, em Alvalade.
-Miriam Cardoso, sorridente-

Daí dirigi-me ao Areeiro onde apanhei a minha mulher (que não foi trabalhar – era telefonista na Câmara Municipal de Lisboa, na rua da Palma) e o nosso filho e regressamos a casa, a Benfica, sem qualquer problema.

-O Maestro vai iniciar o concerto-

Com eles em segurança voltei a ir para o centro nevrálgico da crise, a baixa da cidade, mas já sem conduzir a viatura, e percorri a parte nobre de Lisboa, Restauradores, Rossio, Carmo, Avenida da Liberdade, enfim, andei, caminhei, parei e vivi momentos de alegria, liberdade e de fraternidade entre as pessoas que se sentiam libertas do peso da ditadura que oprimia os portugueses e os povos irmãos que pretendiam a independência dos seus países subjugados pela prepotência arrogante de meia dúzia de senhores poderosos que tinham a polícia política (PIDE) a proteger-lhes os seus desmandos e cretinices.

-Acção-

Mais tarde filiei-me no Partido Socialista – sou o militante 4587 - e, como seu apoiante, nos bons e maus momentos, estive anonimamente com tantos milhares de camaradas nas campanhas da defesa da liberdade, direitos e garantias dos cidadãos, quer em manifestações, concentrações ou protestos, quer noutras acções que, até, envolveram o risco da própria vida. Valeu a pena, digo eu.

-Interpretes-

Contudo, passados que foram 34 anos do dia da Liberdade, encontro algum desalento naqueles que, comigo, viveram o movimento de libertação pois o trilho que Portugal seguiu não foi o mais consentâneo com as aspirações dos amantes duma vida estável, justa e de futuro. Alguns governos não puderam ou não quiseram dar melhores condições de vida a todos nós. Por aselhice, por incompetência, por falta de sensibilidade dos ditos governantes, enfim, por algo que o povo não entende, mas sente no seu dia-a-dia e, principalmente, quando vai adquirir os bens essenciais à sua existência.

-Enquadramento-

Continua-se a pedir contenção, privação e paciência aos portugueses. A título pessoal devo dizer que também já cumpri a minha parte para com a Segurança Social, para onde descontei desde Abril de 1957. Quer isto dizer que já podia estar reformado quarenta anos depois de ter sido inscrito, facto que ocorreu em 1997. Conscientemente não o fiz, pois só vim a reformar-me quando perfiz os 65 anos de idade, em 2007. Estar a trabalhar, receber o ordenado e a reforma não é para o meu feitio. Estaria mais rico? O que estou é bem com a minha maneira de ser, aliada aos princípios que sempre me têm acompanhado na minha vida. Hoje recebo unicamente a pensão, pese embora objectivasse auferir os tais 100% para os quais trabalhei afincadamente mas face às contingências estruturais (mas que palavrão…) nem de perto isso acontece.

-Concentrada-

Outra mágoa que sinto é o facto de ter ido cumprir o serviço militar (obrigatório, diga-se) em África e Portugal, o meu país, não ter tido ainda a consideração devida a todos aqueles que, como eu, estiveram noutras paragens, casos de Cabo Verde, Timor, Macau e São Tomé e Príncipe (locais onde não se verificaram confrontações com os povos que pretendiam a sua justa liberdade), pois o seu sacrifício e o cumprimento do dever exigido pelo poder instituído, não foram objecto de qualquer benesse na reforma. Foram tratados como os restantes que não chegaram a ser mobilizados para o Ultramar. Uma injustiça, direi eu!

-Pormenor-

Aguardamos melhores dias, pese embora já tenham decorrido três gerações…

-Missão cumprida, feliz por isso...-

2008

-Agradecimento pelos aplausos recebidos-

Nas comemorações deste ano estive na passada quarta-feira, dia 23, num jantar na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Lisboa, onde foi evocada a data da liberdade, com um excelente convívio e as sábias palavras do seu Presidente Prof. Dr. Jorge Valadares e do representante da Associação 25 de Abril, Coronel Manuel Antunes Borges Correia. Foi bonito entoarmos as duas canções que se destacaram das 157 criadas na altura, “Grândola, Vila Morena” e “Uma Gaivota Voava, Voava…”

-O cerimonial das bandeiras-

Ontem, no próprio dia 25 de Abril, estive no Marquês de Pombal, desci a Avenida da Liberdade e passei no Rossio e, para acabar o dia em beleza, assisti no Largo do Carmo ao concerto da Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana, onde o meu bom Amigo e Maestro, Tenente-Coronel Jacinto Montezo e os seus músicos (onde se inclui a jovem flautista Miriam Cardoso) brindaram os presentes com um deslumbrante festival harmonioso que a todos sensibilizou e, em retribuição, aplaudiram de tal forma que tiveram ainda direito a mais uma (única) interpretação extra, dado que, a seguir, íamos presenciar a cerimónia protocolar do arriar das bandeiras no Quartel-General da Guarda Nacional Republicana, como se pode verificar nas fotos.

-Guarda de Honra-

E assim passei o dia da liberdade, percorrendo, outra vez e a pé, os sítios por onde andei há 34 anos, quando eu era mais leve, tinha cabelo e um grande arcaboiço físico para suportar a canícula extemporânea que hoje se fez sentir em Lisboa (30 graus) …

-Perfilamento-

Para o ano lá estarei gritando: 25 DE ABRIL SEMPRE!

-Pela Lei pela Grei-