Arbitro, fiel interprete e zelador pelo cumprimento e aplicação das leis impressas em código e teoria. É o homem que torna o futebol bonito e não permite que o mesmo se torne agressivo. É, quer queiram quer não, é ele que manda e comanda. É ele que, dia após dia, semana após semana, mês após mês e ano após ano, estuda e treina para chegar o mais próximo da perfeição e luta para que o seu digno trabalho seja minimamente considerado, contentando-se simplesmente com a ausência de críticas negativas. É ele que larga a família, os amigos e o trabalho, é ele que se preza e procura a beleza do espectáculo… e, como se disse, é o único que raramente vê o seu trabalho reconhecido.
Rectidão e resistência, são palavras que o Árbitro ter sempre presente e sempre “activas” aquando do desempenho do seu trabalho. Um Árbitro deve ser recto e cumpridor das leis. Também a resistência é muito importante, não só a física, uma vez que isso nem se põe em causa, mas a resistência psicológica. Psicologicamente um Árbitro tem de ser muito forte, ter uma personalidade capaz de se defender de pressões e manter a dignidade. E resistir às glórias e aos fracassos para que ande sempre de cabeça erguida sem recear o mais terrível dos temíveis.
Bom senso, é a lei 18, não vem no livro mas é das mais importantes e deve ser cumprida à risca pelo Árbitro. Este deve ter sempre o bom senso presente, reconhecer que somos humanos, nunca se enaltecer a ele próprio querendo abarcar os louros que não lhe pertencem e sendo a figura principal. Deve estar do lado da razão defendendo com unhas e dentes a arbitragem e aplicando com firmeza a lei.
Imparcial, é aquilo que o Árbitro deve ser, e é. Quando se entra para um campo de futebol a primeira preocupação do Árbitros deve ser fazer o seu melhor trabalho. Ora então, se está a fazer o seu melhor trabalho é impossível estar a beneficiar ou a prejudicar alguém. Se não estivesse a fazê-lo não só não estaria a cumprir a lei mas a ser parcial. Imparcial=cá está a tão importante palavra que os Árbitros transportam para dentro das quatro linhas.
Trajectória. É aquilo que um Árbitro passa ao longo da sua carreira. É o curso inicial, é a subida de categoria a nível distrital, passando-se pela ascensão ao nacional e atingindo-se o auge quando se chega a internacional. Todos os Árbitros têm o seu historial: são amigos que se ganham, outros que se perdem; são coisas que se dizem outras que ficam por dizer; são alegrias que se têm e desgostos que se vão. Talvez seja melhor dizer que todas as carreiras têm um currículo do qual o Árbitro deve ter o maior orgulho.
Razão. O Árbitro tem sempre razão! E quando não tem e erra deve reconhecê-lo. Se o Árbitro julgou determinado lance foi porque achou acertada essa decisão, foi o seu raciocínio que prevaleceu. Errar é humano e nós não somos máquinas, logo não estamos isentos de cometer equívocos. Ao assumirmos o mais pequeno lapso que seja a razão passa a estar no nosso lado e nós ao lado dela.
Amor à causa. Não são só os jogadores que têm amor ao seu clube e que defendem com toda a garra a cor da sua camisola. Também o Árbitro tem amor à arbitragem e defende a sua camisola que tem por cor a dignidade. É o amor à causa que permite suportar as suas próprias derrotas e vangloriar-se dos seus êxitos; é o amor que lhe permite ouvir e calar-se quando o caluniam injustamente. É nas alturas em que baixamos os braços que o amor à arbitragem nos faz reagir e permanecer fiéis a nós próprios.
Génio, palavra que subtilmente se define como sinónimo de Árbitro. O Árbitro é um génio, é ele que conhece por dentro e por fora as leis do jogo, é ele que as cumpre e faz cumprir com a sua astúcia. Muitos são os que não imaginam quanta força de vontade é necessária para se ser Árbitro, dando-se ao luxo de gozar aquele que corre entre os jogadores, que se move habilmente para estar no local certo no momento exacto. O Árbitro é mesmo um génio!
Empenho. Não se pode definir como empenhado o Árbitro que chega ao campo, equipa-se e dirige o jogo. Este não é um Árbitro dedicado. Será aquele que não é apenas Árbitro aos fins-de-semana, mas também durante todos os dias. É aquele que treina, que estuda, que vai às sessões técnicas do seu Núcleo, que quer saber mais e nunca se contentando com o que já sabe. É este o verdadeiro interessado, porque só com devoção é que se pode fazer um bom trabalho.
Mérito. É tudo o que um Árbitro espera em troca depois do que foi dito até agora. É o reconhecimento de um árduo trabalho realizado ao longo dos tempos e que não se conquista de um dia para o outro. É a recompensa de se ter dado a cara pela causa. Mérito é o que eu espero que todos os Árbitros tenham; no entanto não esqueçam… mérito é só para quem o merece, mesmo que sejamos nós a atribuí-lo a nós próprios pelo que tentamos fazer, pois… não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar…
Este texto, agora revisto, foi publicado na Revista O Árbitro de Maio/Junho de 2000.
* Sara Alexandra Caeiro Cruz Fulgêncio (nasceu em 13.11.1976), na foto, é professora de Geografia no Ensino Secundário e foi Árbitra dos Quadros da Associação de Futebol de Setúbal, iniciando-se na função em Março de 1995 e na época seguinte formou equipa com Sandra Mira. Fez parte do primeiro trio feminino existente em Portugal em provas oficiais, assim como integrou o Quadro Nacional das Árbitras de Futebol. Gostava de actuar com Assistente. Nesta função foi a primeira mulher que actuou nos Açores, integrada numa equipa de arbitragem que dirigiu um desafio da 3ª categoria nacional. Retirou-se da actividade na temporada de 2005/2006.
3 comentários:
Já que o Márcio Rezende de Freitas é seu amiguinho especial, mande um recado pra ele - que não venha a Porto Alegre e se vier, ande escoltado pois caso não o faça, levará uma surra que ele nunca vai esquecer. Ladrão safado e incompetente. Um dia ainda quebro ele ao meio pode escrever, nem que eu tenha de ir a Minas.
Estou contigo. Se souber que este safado vem pra cá já espero ele no aeroporto mesmo. Lesão corporal média, não tô nem aí. Vou moer esse corrupto, Márcio Rezende de Freitas.
Boa noite,
mais uma vez muito obrigada pela sua lembrança e parabéns pelo trabalho que tem desenvolvido no seu blog.
Agradecida também por me ter feito voltar atrás no tempo, dando-me a possibilidade de ter o prazer de relembrar os tempos em que fui feliz na arbitragem.
Muito grata.
Cordialmente,
Sara Fulgêncio
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