segunda-feira, 6 de julho de 2009

ENTREVISTA A "VIDA DE ÁRBITRO"

O jovem talentoso Romeu Afonso, Árbitro da 1ª categoria nacional da variante Futsal (e o primeiro do Distrito de Castelo Branco a ascender a tão elevado estatuto) é o autor do sítio VIDA DE ÁRBITRO, actividade que iniciou no passado dia 1 de Junho, tendo nesse mesmo dia publicado um diálogo que teve comigo.
Para além de recomendar este excelente órgão de comunicação (actual, dinâmico, formativo e informativo) e transcrever o que foi a referida conversa, agradeço o privilégio de ter sido o preferido nesta deferência.
O meu primeiro entrevistado é Alberto Helder.
Para quem está no “mundo” da arbitragem, dispensa qualquer apresentação.
Mas mesmo para aqueles que não sejam do nosso “mundo”, esta é uma oportunidade de conhecerem alguém que é um verdadeiro apaixonado por uma causa, daqueles que a história há-de lembrar!


Vida de Árbitro: (VDA): Caro Alberto Hélder, obrigado antes de mais por este bom momento. Afinal quem é o Alberto Hélder? Pedia-lhe uma pequena resenha biográfica…

Alberto Helder (AH): Filho de Viriato dos Santos e Maria Ester Henrique dos Santos, nasci na Freguesia do Socorro, em Lisboa, em 18 de Março de 1942. Empreguei-me logo após ter feito o exame da 4ª classe. Descontei para Segurança Social, durante 50 anos. Reformei-me em Março de 2007. Hoje dedico grande parte do meu tempo ao blogue, actividade que me fascina extraordinariamente.

VDA: E essa paixão pelo desporto e pela arbitragem. Como é que apareceu e como é que cresceu até aos dias de hoje?
AH: Desde miúdo que me senti atraído pela actividade desportiva. Desde os tenros anos que morava perto do Jardim do Príncipe Real (em Lisboa), com condições ideais para a prática do desporto, só que, na altura, era proibido e a Polícia estava lá para prender ou multar quem prevaricasse. Dentro da cidade não existiam espaços para jogar futebol, só em Monsanto e era para lá que a garotada se dirigia para usufruir da prática que tanta falta fazia aos jovens que viviam em Lisboa. Também me iniciei no hóquei patinado, nas escolas do Sport Lisboa e Benfica. Quanto em 1964 fui cumprir serviço militar obrigatório em África (São Tomé e Príncipe) também pratiquei outras modalidades. Mais tarde, enquanto empregado numa grande empresa, Rodrigues & Rodrigues, os reis dos fardamentos, é que formámos a Casa do Pessoal (1968), e também a equipa de futebol. Deu para ingressarmos no dito campeonato corporativo e lá fomos fazendo o que mais gostávamos... Quanto à arbitragem verificou-se ter actuado com Árbitro Assistente em África e num ano que não participámos no campeonato da FNAT (hoje INATEL), resolvi, a título de brincadeira inscrever-me em 1970 no Curso de Candidatos promovido por esta organização e, como gostei, fiquei até hoje. O meu monitor, que recordo com saudade, foi Francisco Ferrer Caldeira, um senhor!VDA: Na arbitragem sei que teve desempenhos vários. Deduzo que tenha começado como árbitro, mas depois disso ocupou outras funções. Como foi o seu trajecto na arbitragem?
AH: No desporto para trabalhadores, onde actuei como Árbitro de 21 de Novembro de 1970 a 7 de Junho de 1992, ininterruptamente, em 1.168 jogos de seniores, sendo 445 como Árbitro e 723 como Árbitro Assistente, dentre os quais dirigi 11 finais (5 Nacionais e 6 Distritais). Em 11 de Junho de 1986, no Estádio Nacional, arbitrei o jogo internacional França-Itália, organizado pela CSIT (Confédération Sportive Internationale du Travail).Quanto ao desporto federado, devo dizer que frequentei, com aproveitamento, o Curso de Candidatos, promovido pelo Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Lisboa, cujo exame se realizou em 7 de Maio de 1973. Fui promovido à 2ª Categoria Distrital em 1 de Agosto de 1976 e à primeira em 1 de Agosto de 1978. Na época 1980/1981, obtive o 1º lugar na classificação dos Árbitros da primeira categoria do Conselho de Arbitragem da A. F. de Lisboa.1ª Fase (percorri a escala de então: Estagiário, 3ª, 2ª e 1ª categorias distritais)Primeiro Jogo: 12 de Novembro de 1972 – Ponterrolense-Livramento, Honra, II Divisão, como Árbitro Assistente.Último Jogo: 12 de Junho de 1983 – Estrela da Amadora-Casa Pia, Juniores A, como Árbitro.2ª Fase (Árbitro Veterano, entre os 46 e 48 anos de idade, no sentido de acompanhar os alunos)Primeiro Jogo: 7 de Fevereiro de 1988 – Algueirão-Fontaínhas, Juvenis, como Árbitro.Último Jogo: 8 de Abril de 1990 – Oeiras-Alcabideche, Iniciados, como Árbitro Assistente.No conjunto das duas fases, participei em 855 jogos, sendo 364 como Árbitro e 491 como Árbitro Assistente. Destaque-se que, na época 1974/75, participei em 44 jogos da categoria de Amadores.Estive, ainda, em 237 encontros não oficiais, 123 como Árbitro e como Assistente em 114.Atingi a 3ª categoria nacional, sendo o único Árbitro que meteoricamente por lá passou! Fui aprovado, em exames de 2ª época, em Dezembro de 1982, lesionando-me gravemente logo a seguir e o meu primeiro jogo verificou-se em 10 de Abril de 1983 e o último em 29 de Maio, ou seja, estive ao serviço da Federação somente 50 dias!Resumo: Num total de 2.260 jogos, exerci a função de Árbitro por 932 vezes (41,2%) e de Árbitro Assistente, 1.328 (58,8%). Isto em futebol já que em Futsal foram para cima de 3.000, mas não tenho registo pormenorizado.
VDA: O seu blog: http://www.albertohelder.blogspot.com/ é na minha opinião, o maior arquivo sobre a arbitragem disponível on-line em Portugal. Como surgiu essa ideia de transportar todo esse conhecimento e pesquisa para a Internet?
AH: A ideia surgiu há muito tempo, antes mesmo de me reformar, mas a disponibilidade até aí era inexistente, já que o tempo dedicado à APAF ultrapassava largamente o horário comum. Graças à Internet, à Hemeroteca Municipal de Lisboa (dediquei-lhe um dos prémios MEL de 2008) e pesquisas nos mais diversos locais, tais como Conservatórias de Registo Civil, Cemitérios, Árbitros Antigos, familiares dos etc. é que consegui coligir muito material na expectativa de contribuir para a história da arbitragem portuguesa, ciência onde nunca vi ninguém preocupar-se ou dedicar-se de forma séria e rigorosa, responsabilizando por isso as entidades que superintendem no futebol português, sejam elas desportivas ou estatais. Então, em matéria de arquivos relacionados com o sector, é uma verdadeira lástima, pois quer os Conselhos Associativos ou o Federativo não conseguem corresponder ao minimamente exigível, que por obrigação deveriam ser exemplos.

VDA: Tem uma média superior a uma publicação (no blog) por dia, é obra! Ainda têm vontade e material para continuar a publicar durante muito tempo?
AH: Na verdade não é bem assim. Não "trabalho" quando tenho que fazer deslocações ao estrangeiro e não só, casos: Novembro 2007, fui à Guiné-Bissau, por 3 dias. Janeiro e Fevereiro de 2008, ausente por 8 dias em Cuba. Março 2008, Brasil, 6 dias. Julho 2008, 2 dias estive "de férias" no Hospital de Santa Maria, com um problemazito na "canalização". Março e Abril de 2009, Brasil, 8 dias. Contudo, os temas divulgados até agora, desde Agosto de 2007, totalizam 635. Quanto à vontade devo dizer que é rigorosamente igual ao entusiasmo e à dedicação do primeiro dia e o material para divulgar é bastante, diverso e está sempre organizado e pronto para ser conhecido em todo o mundo!
VDA: Tem feito um trabalho de cidadania a todos os títulos notável! Desde petições, criação de prémios, envio de cartas às entidades máximas do desporto e da republica ou simplesmente defender causas ou princípios elementares. Um dia, espera que o Alberto Hélder tenha o reconhecimento merecido?
AH: Dizem que ser-se modesto de mais é ser-se vaidoso... Então sou um acérrimo defensor da vaidade! O reconhecimento já eu sinto desde há muito quando vou a qualquer campo de futebol e sou cumprimentado por gente que me olha nos olhos e que me respeita da mesma forma como os sempre tratei: com lisura, responsabilidade e dignidade. Não há melhor recompensa do que esta. Acrescento que já recusei honrarias por considerar fazer as coisas sem estar a pensar em retorno pessoal, mas sempre com gosto e com um gozo superior que me dá um alento para continuar na mesma linha de objectivos: servir qualquer causa justa, digna e credível!

VDA: A APAF atribui o seu nome ao VII Torneio Inter Núcleos. Falando de APAF e sabendo do se trabalho durante muito tempo no seio da mesma, como classifica o trabalho desta na actualidade?
AH: Sim, foi um convite de Luís Guilherme (actual presidente da Direcção) e que aceitei com muita honra. Pese embora tivessem-me convidado em Direcções anteriores mas recusei por motivos de ordem pessoal e só. A APAF necessita que os agentes da arbitragem portuguesa (Árbitros, Árbitras, Assistentes e Observadores e demais companheiros de percurso) estejam de alma e coração com ela, nos bons e maus momentos. Quantos mais gente estiver envolvida mais o poder reivindicativo será fortalecido e justificado. Esta Direcção foi encontrar a APAF debilitada e carente de um acompanhamento responsável que não teve nestes últimos tempos. Entre matérias sensíveis que foram olvidadas ou simplesmente ignoradas, a da quotização por receber dos sócios ultrapassa os 180.000 euros (!?). Para já a casa terá de ser arrumada, depois, penso, vão ser criadas condições para poder desempenhar cabalmente o seu Plano de Actividades aprovado em Assembleia-geral e em benefício dos seus associados (homens ou mulheres), seja qual a sua proveniência: distritais, nacionais ou internacionais de futebol de 11, futsal ou futebol de praia.

VDA: E a arbitragem portuguesa no geral? Da Liga à Federação, passando pelo Futsal?
AH: Não bem nem mal! Normal, portanto... Erros existem desde os primórdios. Só que agora, com tantos jornais da especialidade, tantas televisões, tantos programas específicos a viverem das situações, essas personalidades têm de falar muito para nada dizerem!

VDA: Na sua opinião existem diferenças substanciais na arbitragem, quando se fala em litoral e interior?
AH: Já constatei isso, mas entendo que actualmente as diferenças não são tanto assim. A arbitragem só poderá ser uniforme quando se pensar, elaborar e executar planos credíveis e objectivos a partir da formação. Até lá continua cada Conselho de Arbitragem (e são 22) a fazer o que pode, quer e sabe. Não existe uma orientação exacta e regular que seja capaz de proporcionar uma formação igual em todo Portugal. É frustrante ouvir os Treinadores a queixarem-se de que não querem Árbitros de determinados locais, pelas deficiências e insuficiências demonstradas, nada tendo a ver com honestidade ou verticalidade.
VDA: Na estrutura da arbitragem, que como sabemos terá de ser alterada com a entrada em vigor do novo estatuto das federações desportivas, que mudança preconiza para uma melhor arbitragem no seu todo?
AH: A Arbitragem entregue aos Árbitros. E, como já ouvi dizer, que a APAF seja a entidade certificadora de toda a classe, para dar garantias da formação que, como disse atrás, preconizo.

VDA: Como não podia deixar de ser, a pergunta da ordem: concorda com a profissionalização dos árbitros? Em que condições?
AH: Será, sem dúvida, um valor acrescentado. Defendo, desde há muito, a efectiva profissionalização dos Árbitros e Árbitros Assistentes, conforme entrevista publicada no Boletim Off-Side, órgão do Núcleo de Árbitros de Futebol Américo Barradas (Lisboa), referente ao mês de Fevereiro de 1994, edição nº 9. Seria, pois, uma melhoria para o desporto-rei, área actualmente bastante profissionalizada, pois não entendo que a questão importantíssima, a decisória, continue entregue a amadores... A ideia que eu tenho é a de celebração de contrato época a época. Seriam seleccionados e em número restrito.

VDA: Voltando ao Alberto Hélder. Gostava de ser Presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol?
AH: É um lugar “político”. É um cargo que só será exercido por gente de confiança do Presidente da Direcção. Logo subordinado a regras e ideais preconizados por quem manda. Sou um homem livre e quero continuá-lo a sê-lo. Como nunca me deixei manipular por quem quer que seja ou estou subjugado ao poder, a resposta está dada…

VDA: Em jeito já de despedida, gostava de deixar alguma mensagem em especial a todos os que possam ler esta entrevista?
AH: Sim senhor! Que acreditem na arbitragem portuguesa! Havendo princípios e valores os êxitos têm de surgir. Foi o que transmiti aos meus formandos – foram centenas e centenas – durante os 17 anos que exerci a função em Lisboa. Tenho o orgulho de dizer que alunos meus atingiram a internacionalização, casos de Vítor Pereira, Duarte Gomes, Pedro Proença, Gustavo Sousa, João Almeida e Tiago Trigo, mas mais agradado estou em saber que nenhum deles esteve envolvido no processo do Apito Dourado. Para que conste!

VDA: Para finalizar mesmo, vou lançar-lhe um desafio. A cada uma das seguintes perguntas, responda apenas com um nome ou palavra:

Melhor árbitro de futebol português actual: Jorge Sousa
Melhor árbitro de futebol português de sempre: Mestre Joaquim Campos
Melhor árbitro de futsal português actual: Francisco Parrinha
Melhor árbitro de futsal português de sempre: António Cardoso
Melhor árbitro de futebol do mundo actual: Paulo César Oliveira
Melhor árbitro de futebol do mundo de sempre: Pierluigi Collina
Melhor jogador do futebol do mundo actual: Lionel Messi
Melhor jogador de futebol do mundo de sempre: Eusébio
Melhor árbitro de futebol de praia português actual: Carlos Frazão

Melhor árbitro de futebol de praia português de sempre: João Almeida
Melhor árbitro de futebol de praia mundial actual: João Almeida
Melhor árbitro de futebol de praia mundial de sempre: João Almeida
A minha cidade preferida: Lisboa

A minha rádio: Antena 2
O meu canal de TV: Eurosport
O meu carro de sonho: BMW
A minha estação do ano favorita: Verão
A minha marca de telemóvel: Sharp
O meu clube (se não for segredo): Sport Lisboa e Benfica

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