sexta-feira, 3 de setembro de 2010

CAMINHOS ESQUECIDOS – DEFICIENTES DE TODO O MUNDO DESAFIAM AS LEIS DA FÍSICA PARA SE LOCOMOVEREM

A minha boa amiga Tânia Manske, de Rio Grande do Sul (Brasil) deu uma extensa entrevista ao Diário Regional e apontou soluções para os problemas que afectam pessoas deficientes na cidade onde vive. Com a devida vénia e com as necessárias adaptações, transcrevo a seguir, não na totalidade, o resultado do diálogo que manteve com os jornalistas. Lembro que conheci a Tânia em Março de 2008 quando viajámos de Brasília para o Rio Grande do Sul e muito falámos até ao destino, facto que dei conta na net. Na altura e nas alturas quando me disse que, sozinha, visitou a Alemanha, estive quase para gritar bem alto: GRANDE MULHER! FANTÁSTICA E DESTEMIDA! Não me expressei assim mas disse-lhe de viva voz o que pensei da sua tamanha epopeia. Mais, sugeri que me relatasse esta sua viagem para divulgá-la no blogue e incentivei-a no sentido de que a sua próxima visita de longo curso fosse até Portugal! RODAS QUE FAZEM LOCOMOVER

Tânia Manske mora no Bairro Aliança com o pai de 70 anos. Ela é cadeirante desde os seus 14 anos. A eles somam-se 24 anos de lesão, esta que provavelmente foi causada por uma mielite isquémia, que se trata de um processo inflamatório, possivelmente causado por bactéria ou vírus que se instala na medula espinhal. É raro.

Tânia conta que no início foi muito difícil, a depressão permeou os seus pensamentos, não queria sair de casa, pois tinha vergonha de andar numa cadeira de rodas. Ficou muito revoltada. Depois de um tempo assimilou a ideia de que não voltaria a andar. O apoio de amigos e da família foi fundamental para que enfrentasse e voltasse às suas actividades. Só então, depois de certo tempo, ela voltou a frequentar as aulas. Nunca aceitou, mas se adaptou às novas condições de vida impostas cruelmente.

Além dos movimentos das pernas – essenciais para a locomoção – amigos foram embora, talvez com a mesma velocidade com que Tânia hoje dirige a sua vida. Ainda assim, lutando contra o inevitável e como uma guinada em sua cadeira de rodas, Tânia superou e com o seu sorriso e personalidade, conquistou novos amigos.

Em 2003 prestou vestibular. No primeiro ano os ónibus não tinham elevador, dessa forma era carregada para dentro do veículo e sentia-se muito constrangida com isso. Pois lembrava-se ainda de cenas enquanto ainda andava. “Eu era preconceituosa, olhava e sentia desprezo por pessoas que não podiam andar, via como se fosse um empecilho”, lembra. “Agora sinto na pele esse preconceito. Quando surgiram os auto-bus equipados com elevador, as dificuldades se tornam menores”. O DILEMA DO DIA-A-DIA

A rotina da Tânia é agitada e todos os dias da semana são programados. Na segunda-feira ela tem sessão com a psicóloga, terça é dia de fisioterapia, quarta realiza o seu estágio, quinta é o dia reservado aos estudos e leituras, e, na sexta, ela vai novamente ao estágio. Realiza muitos exercícios de fisioterapia em casa, além disso ela cursa a Faculdade de Nutrição da UNISC-Universidade de Santa Cruz do Sul, na qual está quase formada, ainda participa na ASPEDE-Associação Santa Cruzense de Pessoas Portadoras de Deficiência Física, mas, no momento está afastada destas actividades por falta de tempo.

Tânia realiza todas as actividades de casa, lava, cozinha, toma o seu banho sozinha, se arruma, ou seja, faz tudo o que uma pessoa “normal” pode fazer, só depende de terceiros, se realmente necessário, em questões de deslocamento. Ela conta que pede ajuda a quem está passando quando percebe algum obstáculo. “Não tenho vergonha de chamar alguém para me ajudar”, revela.

Segundo ela, alguns querem ajudar, mas acabam atrapalhando, pois ao empurrarem a cadeira sem aviso e o cadeirante estiver distraído pode vir a desequilibrar-se e acabar caindo. “Às vezes nego ajuda e as pessoas ficam sentidas e me chamam de mal agradecida, mas, sei até onde posso ir sem auxílio”.

Ela considera-se privilegiada, por estar viva e poder estudar. “Não tenho do que me queixar, pois nada me impede de ser feliz, mesmo sendo deficiente”. Diz também ter descoberto novas maneiras de viver e ser feliz. Porém, ainda existe o preconceito. Segundo Tânia, não tanto quando era antes, mas alguns casos raros ainda acontecem. “Algumas pessoas fazem questão de deixar claro esse preconceito”, lamenta. A média nos ajuda muito, pois mostra as situações difíceis que enfrentamos”. “O exemplo foi a novela que retratou a vida de uma cadeirante”. PORTAS QUE NÃO SE ABREM

Os prédios antigos não são adaptados para o acesso de cadeirantes, bem como as novas construções que estão sendo feitas, porém, fora dos padrões e normas técnicas exigidas por lei. São muitos os percalços enfrentados por uma pessoa com deficiência. Calçadas mal conservadas, desníveis e irregularidades em todo o percurso, rampas em más condições ou inexistentes.

Tanto que, Tânia, revela que seguidamente comete a infracção de utilizar rampas de garagens. “As destinadas para nosso deslocamento são tão mal feitas que podemos cair e nos magoar”, explica.

Tânia lembra que as rampas das lojas não podem ser feitas em sentido à calçada mas sim, para dentro do estabelecimento. Sendo assim, o acesso a muitos pontos da cidade torna-se praticamente impossível, pois além de rampas fora do modelo, muitas lojas não foram equipadas com o declive necessário, mas dispõem de um equipamento móvel que é colocado na porta do estabelecimento, para que o cadeirante possa entrar. “Mas não é esse tipo de acesso que precisamos, queremos ter acesso livre aos locais”. A compra de um simples gelado ao ar livre pode tornar-se um obstáculo insuperável. RELATÓRIO PODE APONTAR POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Entretanto, foi realizada recentemente uma reunião com responsáveis municipais dos sectores de Planeamento e Coordenação, Obras e Viação, Arquitectos e Engenheiros da Prefeitura e membros da COMPEDE-Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência que irão trabalhar na apresentação de relatório circunstanciado quanto aos pontos mais críticos da cidade em relação a acessibilidades, tanto em locais públicos como privados.

Deseja-se que o relatório seja o divisor das águas para se tomarem as adequadas e urgentes medidas em espaços públicos mais problemáticos, tais como o rebaixamento das calçadas e a declividade. Mais, é de toda a conveniência reforçar com asfalto ou concreto o final das rampas para facilitar a descida em locais com paralelepípedo

Registe-se que em 2009 foram efectuadas 500 notificações a proprietários de comércio onde as calçadas estavam fora do padrão. Ver entrevista integral: http://www.diarioregionalrs.com.br/adm_jor/pdfs/detalhe_pdf_grande.php?id_edicao=214

2 comentários:

TÂNIA MANSKE disse...

Querido amigo Alberto.
Que alegria me deste, a reportagem no seu blog ficou perfeita, aqui todos meus amigos leram e estão divulgando, ficamos emocionados, que previlégio para nós ter uma pessoa tão especial como você para lutar conosco pela inclusão da pessoa com deficiência. Deus ilumine você e família, continue com seu belo trabalho.
PAZ E LUZ
UM FRATERNAL ABRAÇO!
TÂNIA MANSKE

Anónimo disse...

Bom dia muito bem estruturado tópico , gostei muito, penso que poderiamos tornar-nos blog palls :) lol!
Aparte de piadas o meu nome é Bruno, e parecido contigo escrevo paginas se bem que o tema principal da minha página é bastante diferente do teu....
Eu faço websites de poker sobre ofertas grátis sem ter de fazer depósito sem teres de por o teu capital......
Adorei bastante aquilo li aqui!