Este Campo, designado pelos indianos como “Bravo Deteneu’s Camp”, começou a funcionar no dia 31 de janeiro de 1962, inicialmente com 500 presos, pertencentes às Companhias de Caçadores 2, 6, 7 e 8, agentes da Polícia do Estado da Índia e da Guarda Fiscal e os 11 Oficiais envolvidos na tentativa de fuga de 16 de janeiro.
De 24 a 27 de fevereiro de 1962, cerca de 250 elementos da Polícia e da Guarda Fiscal juntaram-se aos presentes, vindos de Pondá, o que deu que a população prisional atingisse os 750 detidos.
O comando português foi desempenhado pelo Capitão Joaquim Pinto Brás, que superentendia a Polícia do Estado da Índia.
As condições desta Campo eram simplesmente deploráveis. A lotação do presídio era para 100 pessoas e albergava 750!
A água não era abundante, mas os presos, podiam ir até ao cais para tomarem banho, naturalmente de água salgada. A alimentação era péssima e o pão intragável, duro e bolorento.
Apareciam comerciantes a quem se podia adquirir alimentação e artigos de higiene, mas tudo a preços astronómicos.
A espoliação dos bens dos presos por parte dos indianos foi brutal.
Tudo arrecadaram, exceto alianças, relógios de pulso e roupa de vestir.
Dia 3 de março de 1962 registou-se a única visita do representante da Cruz Vermelha Internacional, um cidadão suíço.
De Lisboa veio a autorização de que se poderia contrair empréstimo para o Campo de Prisioneiros do Forte da Aguada até 100 contos.
O Internúncio de Nova Deli, foi o que mais se destacou na ajuda aos presos com a entrega de calçado e agasalhos.
Os prisioneiros tiveram de angariar formas de auxílio, juntando dinheiro para comprar bens, como sapatilhas para os que já não tinham que calçar.
A 24 de março de 1962 circulou o convite para os presos aderirem às Forças Armadas da União Indiana, mas não houve grande reação da população prisional metropolitana.
O correio enviado e recebido só circulava com o controlo de censor goês.
No Campo existiam dois rádios, cedidos por empréstimo pelos indianos, onde se escutavam os programas da Emissora Nacional.
As visitas civis levavam comida e tabaco e, por vezes, aparecia vinho e whisky, sem se saber como era possível a sua origem, assim como galinha, aguardente de caju ou camarão.
Um alfaiate fazia roupas para os detidos.
A livraria Académica oferecia livros.
O serviço religioso era assegurado por um padre a tempo inteiro, que celebrava missa em dias específicos, com presença de imensos fiéis . O Capelão Ferreira da Silva também esteve com os presos do Forte da Aguada.
No final do mês de abril de 1962 a visita do Secretário da Embaixada do Brasil atira culpas ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português pelo atraso nas negociações do repatriamento.
Na Páscoa, a Cruz Vermelha de Goa proporcionou alimentação melhorada, sendo servidos 2 pratos aos Oficiais, uma cabidela e bifes com batatas cozidas e cerveja.
O Fundo Police Bank aqui também funcionou e bem.
A camaradagem entre os presos era excelente. Quem fazia anos recebia chocolate, caixa de fósforos e sabonete e os amigos goeses traziam-lhe um bolo, velas e garrafas de bebidas e, assim, se cantavam os parabéns!
A 13 de abril, pelas 22H00, chegou a notícia do repatriamento.
Em 25 de abril, nas vésperas da saída, os detidos tiveram de assinar uma declaração em como davam perdidos os objetos que não lhes foram devolvidos, o que deu mais confusão, principalmente junto dos agentes da Polícia do Estado da Índia, pelo tempo que já estavam no território e pelo que tinham conseguido juntar.
O relacionamento entre os prisioneiros e quem os guardava era excelente, havendo situações de autêntica cumplicidade, o que designava este Campo de Prisioneiros como o melhor de todos.
A mesma intimidade com os civis que os visitavam e apoiavam era fantástica.
A 1 de maio de 1962 os presos aqui detidos começaram a sair para Dabolim.
Recorda-se que, no dia 2 de maio de 1962, a audição na rádio da vitória do Benfica na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus ao Real Madrid, por 5-3, foi motivo de muitos festejos e comemorações em todo o Campo do Forte de Aguada.
A 2
e 3 de maio de 1962 os presos começaram a partir para Dabolim, sendo este o
segundo Campo a ser evacuado, quando se iniciou o repatriamento.
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