Este Campo de Prisioneiros foi instalado num espaço contíguo ao Campo de Prisioneiros de Pondá. O local era composto por um conjunto de tendas, alojamentos deficientes e improvisados, pese embora a água fosse abundante.
Recebeu cerca de 400 presos de Diu, os integrantes do Agrupamento António da Silveira. Os sanitários eram comuns aos dois Campos, mas separados por arame farpado e uma divisória que impedia qualquer contacto. Utilizava-se papel higiénico para transmitir mensagens entre os portugueses. Devido às precárias condições, foi este o primeiro Campo a ser evacuado durante o repatriamento. A comida era má e sempre a mesma ementa diária: às 12H30 sopa de legumes e arroz com massa às 18H30, facto que atingia mais os Praças do que os Oficiais e Sargentos que tinham uma sopa mais reforçada.
Três militares detidos e doentes, do Destacamento de Engenharia da Índia, recebiam leite, tabaco e dinheiro dos seus camaradas de outros campos.
Com fraca alimentação piorou a saúde, com perda de peso generalizada, casos de tuberculose pulmonar, a acrescentar às indesejadas mordeduras de cobras. A cantina que existia no Campo, por vezes assaltada, era gerida por comerciantes goeses que abusavam (e de que maneira) nos preços que nem todos podiam suportar, pese embora os indianos tivessem entregado o vencimento mensal aos prisioneiros, conforme o estipulado pela Convenção de Genebra, em 1949.
O Internúncio de Nova Deli levou roupas, alimentos, tabaco e produtos de higiene, como a Caritas e religiosos que visitavam assiduamente os detidos. Já as visitas da Cruz Vermelha levavam artigos de higiene, leite, bolos, rebuçados, livros, revistas e tabaco, mas apenas contatavam os Oficiais e raramente distribuíam as ofertas aos Soldados. Cartas e telegramas eram enviadas com facilidade. A rádio também era muito ouvida no Campo (era proibida em Diu), principalmente os programas da Emissora Nacional e da All Índia Rádio.
Os comandos portugueses dos Campos de detidos foram autorizados a contrair empréstimos para a aquisição de medicamentos, artigos de higiene, expediente postal, fardamento e calçado e reforçar a alimentação. Do total de 500 contos, 50 foram para este Campo. Aos domingos os relatos dos jogos de futebol pela Emissora Nacional eram escutados com atenção e entusiasmo e muito participativos pelos interessados pelo desporto. A 28 de dezembro os presos faziam trabalhos dentro e fora do Campo, sendo os exteriores: a limpeza dos escombros das pontes que foram demolidas, carregar e descarregar camionetas de géneros alimentícios, assim como o armamento apreendido às Forças Armadas do Estado da Índia, sempre na companhia de guardas da União Indiana, fortemente armados. Já as tarefas interiores, baseavam-se nas habituais limpezas e com obras, como a construção de latrinas, balneários ou abertura de valas, nem que fossem para tapar de seguida, só para manter os prisioneiros ocupados. Nestas circunstâncias havia uns privilegiados que desempenhavam as funções de enfermeiros, pessoal da cozinha, interpretes e motoristas, os quais, por vezes, acompanhavam os indianos fora do Campo onde tinham a possibilidade de beberem umas cervejas e não só. A leitura, escrever diários, tirar fotos clandestinas eram outras actividades a que muitos se dedicavam.
A prática do futebol era de manhã à noite, apesar da alimentação deficiente, sendo os jogadores criticados por despenderem energias a correr atrás de uma bola…
Por vezes, à noite, havia animação musical com a atuação de
duas bandas formadas pelos detidos e que se designavam: “Conjunto Alfa” e o
“Trio Quadrúpede”. O serviço religioso não foi famoso. Contudo a imagem da
Nossa Senhora do Monte esteve sempre presente e os Soldados madeirenses veneravam-na.
Em 18 de abril de 1962 foi celebrada missa pelos Camaradas mortos em Diu. O
Capelão do Campo não era bem visto, principalmente depois da cena dos 75
pãezinhos doces que não foram entregues aos presos, mas que foram encontrados
no lixo alguns desses pães, o que deixou os portugueses indignados. A oferta
aos detidos para ingressarem nas Forças Armadas da União Indiana não foi muito
bem aceite pelos portugueses, mas aqueles que nasceram no território aceitaram.
O relacionamento presos/guardas nunca causou problemas, tendo, até, os indianos
devolvido rádios e gira-discos que foram apreendidos aos presos. A 30 de abril,
iniciando-se o repatriamento, os detidos marcharam para Dabolim, onde
aguardaram os voos para Karachi, donde partiriam para Lisboa. A última noite
passada no Campo de Pondá II foi de festa. Muita música e muita loucura, também
fogueiras de todos os trapos existentes, que eram muitos…
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