sexta-feira, 4 de setembro de 2009

SÍTIO CARTÃO AMARELO - ENTREVISTA ALBERTO HELDER

1 - Todos ouvimos falar muito no Alberto Hélder. Quem é o Alberto Hélder e qual a (s) sua (s) ligação/ ligações com o mundo da arbitragem?

Filho de Viriato dos Santos e Maria Ester Henrique dos Santos, nasci na Freguesia do Socorro, em Lisboa, em 18 de Março de 1942. Empreguei-me logo após ter feito o exame da 4ª classe. Descontei para Segurança Social, durante 50 anos. Reformei-me em Março de 2007. Hoje dedico grande parte do meu tempo ao blogue, actividade que me fascina extraordinariamente. A minha ligação à arbitragem existe há mais de 35 anos, primeiro como Árbitro e depois como dirigente e Secretário-geral da APAF. E irei continuar nesta senda enquanto tiver força e motivo para denunciar tudo aquilo que a afecta, independentemente da personalidade ou entidade que a queira desprestigiar.

2 - Sabemos que conhece a realidade das arbitragens no país melhor que ninguém, uma vez que convive de perto com as diversas realidades, ou em representação da APAF ou a título pessoal. Como avalia a arbitragem em Portugal, aquela que a comunicação social não dá atenção, isto é, as distritais, nacionais dos escalões inferiores?

É verdade. Em 2006/07 tomei a iniciativa de ver um jogo do escalão sénior de cada uma das 22 Associações Distritais/Regionais e vi muito boa gente empenhada em dar o seu melhor na direcção dos jogos para que foram nomeados. Isso não interessa aos órgãos de comunicação social. Já dizia Fernando Vaz, um insigne jornalista que, quando nas suas crónicas dizia bem do Árbitro só se vendiam aqueles que a equipa de arbitragem comprava. Agora dizendo mal é sempre a aviar, o que acontece, infelizmente ainda hoje… Como registo devo dizer que dos 44 Árbitros Assistentes que vi foi o jovem açoriano Nuno Filipe Goulart Silveira (Horta-Faial) aquele que mais me impressionou quanto à perfeição da sinalética que executou. Um espanto!

3 - Falando da arbitragem que toda a gente fala (1ª liga), como avalia os actuais árbitros!? A profissionalização e um caminho inevitável ou evitável?

Considero-os pessoas de bem que pretendem elevar a qualidade do futebol com os seus desempenhos, o que registo. Quanto à profissionalização será, sem dúvida, um valor acrescentado. Defendo, desde há muito, a efectiva profissionalização dos Árbitros e Árbitros Assistentes, conforme entrevista publicada no Boletim Off-Side, órgão do Núcleo de Árbitros de Futebol Américo Barradas (Lisboa), referente ao mês de Fevereiro de 1994, edição nº 9. Seria, pois, uma melhoria para o desporto-rei, área actualmente bastante profissionalizada, pois não entendo que a questão importantíssima, a decisória, continue entregue a amadores... A ideia que eu tenho é a de celebração de contrato época a época. Seriam seleccionados e em número restrito.

4 - As actuais formas e regras de subida de categoria são as mais indicadas!? Ou deveriam ser alteradas?

O sistema actual, que dura há decénios, está esgotado. Existem outras fórmulas mais eficientes que poderão dignificar a arbitragem, seus dirigentes e o próprio desporto-rei.

5 - Jorge Sousa foi actualmente considerado pelo 2º ano consecutivo não só pela classificação da FPF mas também por vários meios de comunicação social. Qual a sua opinião sobre este árbitro? E sobre Bertino Miranda (melhor árbitro assistente)? Para si qual o melhor árbitro da época transacta?

Ambos são uma referência no sector, que é extensível ao grande público amante do futebol.

6 - Vítor Pereira, foi ao longo da época passada, bastante contestado! Como avalia o seu trabalho?

O facto de ter sido contestado – como outros presidentes da Comissão de Arbitragem já o foram – nada tem a ver com o seu perfil ou com a sua maneira de ser. Pessoa séria e competente está acima de qualquer comentário que queira denegri-lo.

7 - Voltando às suas viagens o que pensa do apoio que os núcleos e conselhos de arbitragem dão aos seus associados e árbitros respectivamente?

A crise que apareceu serve para muita coisa, mas as ajudas destas entidades aos seus filiados é a possível, já que a hierarquia pouco mais pode fazer quando o dinheiro escasseia.

8 - O que pensa da extinção da III DIVISÃO. Que fazer com todos aqueles árbitros! Acha que os núcleos deveriam ser mais activos no que a isto diz respeito?

Ao desaparecer a III Divisão é mais uma dificuldade para a arbitragem. Contudo, há que encontrar antídotos para superar este problema muito sério. Os Núcleos, neste caso, nada podem fazer, uma vez que estão subordinados à hierarquia.

9 - A sua opinião sincera: acha que a liga precisava de sangue novo ou os árbitros que lá estão, fazem um bom trabalho?

Não é a este patamar que esta pergunta se coloca, mas sim na base, na formação. Não há nenhum dos 22 Conselhos de Arbitragem das Associações de Futebol que faça trabalho unificado, com a mesma carga horária ou conteúdos idênticos. Cada qual escolhe a época que pretende fazer o seu curso de candidatos, caso hajam inscrições suficientes. Será justo que o Árbitro faça o psicotécnico quando vai fazer provas para o quadro nacional, quando deveria fazê-lo quando se inicia? É que aqui, face à gritante falta de Árbitros, todos aqueles que aparecem são sempre bem-vindos. O pior é depois…

10 - Pedro Proença foi promovido a categoria de elite da UEFA e Olegário Benquerença pode apitar o Mundial 2010. Que pensa deste dois árbitros.

Pessoas com carácter, dignas e bons árbitros. Merecem a distinção, pelas provas dadas a nível internacional. Pedro Proença, entre outros que estão no activo, foi meu formando, o que muito me honra, não só por ter atingido o top como o seu nome está limpo no processo Apito Dourado.

11 - Finalmente, a arbitragem em Portugal está a precisar de uma grande reviravolta ou só precisa de uns ajustes? Quais?

Que se reúnam todos aqueles que, sem excepção, se interessem pela arbitragem, empenhados em contribuir com os seus conhecimentos, ideias e sugestões no sentido de elaborarem documento sério, digno e exequível para, a partir daí, se dizer que a arbitragem está no bom caminho, com Árbitros, dirigentes e formadores à altura do Futebol. Até lá, só remendos, ajustes e outras “virtudes” que vão fazendo de conta. É na Formação que se situa o problema da arbitragem. Estou disponível para ajudar e graciosamente!

1 comentário:

João Manuel Roma disse...

Alberto Hélder, uma figura do desporto em Portugal e que tive a honra de conhecer em Lisboa, aquando da estreia do FC Crato no Nacional da 3ª Divisão, ante o Clube Futebol Benfica.
Um "expert" em matéria de arbitragem;na época transacta trocámos alguns e-mails de onde destaco a sua superior formação como pessoa e o seu contributo inequivocamente esclarecedor, acerca de um lance polémico no Casa Pia-FC Crato, contributo esse que para mim e muitos mais, terá sido decisivo para a interpretação das leis do jogo.
Um abraço
João M. Roma