domingo, 30 de abril de 2017

MINHA SAUDOSA MÃE, MEU AMOR...




 Querida Mãe, que saudades, que saudades…


Nasceste neste dia há muito tempo, mas as saudades continuam vivas, bem presentes e profundas.

Foste um exemplo, uma guerreira, uma lutadora por ideais que, em boa hora, transmitiste fielmente às tuas crias, defendendo-as acerrimamente em todas e quaisquer circunstâncias, na saúde, na educação, na vivência ou sobrevivência do dia-a-dia, mas também sabia fazer-se sentir quando chegávamos a casa a choramingar porque outros meninos ou meninas eram mais fortes mais possantes e no confronto ficávamos a perder. Aí, tínhamos que levar com o seu raspanete, bem conselheiro, que por vezes era acompanhado com uma palmada (ou mais). Tínhamos que saber defender-nos, pois o futuro, já ali, só é alcançado com gente preparada.  

Vivíamos no centro de Lisboa, perto da praça do Príncipe Real, na Cecílio de Sousa, numa casa sem as mínimas condições, sem electricidade, logo sem frigorífico e outros hoje vulgares electrodomésticos, sem casa de banho, sem cozinha (ainda se utilizava a máquina a petróleo, que por vezes enguiçava e lá vinha a tua mais conhecida expressão: “com caraças…”, e dado o diminuto espaço existente, tive que dormir com o meu irmão até aos vinte anos. A nossa irmã dormia no mesmo quarto separada por uma cortina de tecido! 

Enfim, gerias superiormente todo o agregado familiar, já que o nosso pai (o sr. Viriato), trabalhador da Carris, nos eléctricos, por ter horários diferenciados a confecção das refeições era, para ti, um quebra cabeças diário.  

Eras a nossa heroína em toda a linha!

Quando te levantavas de madrugada, estivesse o tempo bom ou mau, e ias à Praça da Ribeira adquirir frutas e hortaliças e vinhas carregada até mais não para fazeres a sua venda aos vizinhos, angariando, assim, alguns tostões suplementares; quando se soube que o Fernando iria fazer parte dum contigente militar que seguiria para a Índia Portuguesa que depois foi invadida e dele, durante seis meses, nada sabíamos, se vivo ou morto, o que tu sofreste; os graves problemas de saúde que te afectaram, principalmente a mastectomia a que foste sujeita, e que, no dia que nos deixaste, sofreste um violento e mortal AVC quando estavas a dar o jantar às tuas netas, foram provas do teu sacrifício, da tua abnegação, do teu querer. Sempre em frente, era o lema que nos passavas. 

Passaste as passas do Algarve, pese embora fosses natural de São Brás de Alportel, quando viemos ao mundo - Fernando, em 1939 (entretanto falecido), eu, em 1942 e a Ivone em 1944 - na época da segunda grande guerra. Andavas comigo ao colo, o Fernando pela mão e a Ivone no teu ventre. Nesse tempo, as senhas de racionamento necessárias para se obter os víveres acompanharam-nos durante anos com as respectivas consequência, mas nunca passámos fome ou andávamos maltrapilhos. Comemos sopa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e, por vezes, das ajudas dos que moravam perto de nós. Fomos sempre respeitadores e respeitados. Aliás, os meus dois primeiros empregos resultaram das ajudas recebidas dos senhores João Mourão e do Comendador Augusto Rodrigues, a quem eu ia entregar as compras que te faziam. 

Para nós estás sempre presente no nosso pensamento, vemos-te com a garra que te caracterizou, a vontade de servir e vencer, superando qualquer dificuldade, razão porque quero expressar o muito obrigado por tudo o que nos deste e ensinaste.

Dona Ester, eras uma Mãe a sério!

Beijão de saudade…  

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