Em mais um dia de pesquisas de matéria para o trabalho que
estou a desenvolver e relacionado com a presença das 121 unidades da Polícia
Militar que cumpriram a sua missão nas então sete províncias ultramarinas, contatei, em 5 de outubro de
2017, o senhor António Sebastião Morais, nascido em Cumieira (Santa Marta de
Penaguião, distrito de Vila Real), no dia 1 de novembro de 1939, o qual fez
parte do Pelotão da Polícia Militar nº 1, como sendo o soldado 258/59, agrupamento
que seguiu para a então província ultramarina da Guiné-Bissau, sendo o primeiro
contingente em toda a história da PM a deslocar-se para as antigas colónias.
O PPM 1, comandado pelo Alferes Rui Eduardo Anselmo Oliveira
Soares (constituído por 41 lanceiros, um segundo sargento, 2
furriéis, 10 primeiros cabos e 27 soldados), foi mobilizado pelo Regimento de
Cavalaria 6, do Porto. Estes militares, animados que estavam por forte e
inquebrantável fé para que o cumprimento do dever na Guiné-Bissau decorresse
sem sobressaltos, foram oferecer o guião da unidade à Igreja de Nossa Senhora
de Fátima, bem perto da avenida da Boavista, no Porto. O PPM 1 fez a viagem
para Lisboa em 12 jeeps. No trajeto, na estrada Lisboa-Porto, perto de Fornos, Trouxemil,
Coimbra, uma das viaturas, conduzida pelo Soldado 181/59, senhor Edgar
Francisco da Cunha, de 20 anos de idade, despistou-se, bateu num poste e colheu
mortalmente a Dª Albertina Carminda, de 50 anos, vendedora de peixe. Contudo, o
PPM embarcou em Lisboa para Bissau, por via aérea, a 3 de novembro de 1959. Ainda
lá do alto o pessoal chegou a ver o navio que transportava os jeeps para a
Guiné-Bissau! Até ao regresso (a chegada do navio Manuel Alfredo a Lisboa
verificou-se a 18 de novembro de 1961), o PPM 1 esteve mobilizado por 747 dias.
O senhor António Sebastião Morais, filho de Abílio Morais e
Maria da Graça Morais, teve quatro irmãos (Celeste, Alberto, Acácio e Luís) e
uma infância normal, considerando o tempo e os modos de vida dos portugueses do
interior, mas, pouco depois ficou ligado à construção civil por o senhor seu
pai ser um excelente encarregado dessa área especializada. Apurado para o
serviço militar foi-lhe destinada a Arma de Cavalaria e foi o Regimento de
Cavalaria 6 que o acolheu e lhe deu a instrução militar, preparando-o, assim,
para marchar até à Guiné-Bissau, integrado no PPM 1.
Na Guiné-Bissau, passado que foi o período crítico pelos
graves, tumultuosos e fatídicos acontecimentos de Agosto, tudo foi correndo ao
sabor da existência que se levava, tendo em consideração as terríveis saudades,
o estar longe dos seus mais próximos, o calor, a humidade, a fraca alimentação,
o muito serviço, o pouco descanso e por aí fora. Foi vítima de um acidente de
viação que, por pouco, podia acabar com a sua vida, não fora o capacete que
evitou consequências trágicas. Após o regresso, em novembro de 1961, e ter
passado à disponibilidade no Porto (RC6), voltou à construção civil, o que
acontece ainda hoje, mas moderadamente. Aos 58 anos reformou-se, por doença,
mas mantém-se à frente de uma pequena empresa do ramo. Atualmente, aufere uma
pensão à volta de 300 euros, onde se inclui uma pequena verba proporcionada
pela Lei dos Combatentes, de 2002, o que é, sem dúvida, um valor extremamente exíguo
para o muito que fez na vida! Os seus entretenimentos preferidos são a
televisão e a condução automóvel. Desportivamente é adepto do Futebol Clube do
Porto. Regista que, desde 1961, nunca alguém o contatou quanto à sua vida
militar, dado que, sendo um dos primeiros lanceiros que esteve em África,
poderia colaborar em diversos estudos que foram feitos, dando conta de experiências,
saberes, conhecimentos e realidades que viveu bem de perto. Enfim…
Também destaca que, desde sempre, o PPM 1 nunca promoveu
qualquer convívio anual entre os seus elementos, mas tem como amigo muito
chegado o camarada de armas e de Pelotão, o soldado 282/59, senhor Porfírio
Azevedo Melo, de Felgueiras, com quem contata e promovem encontros
regularmente.
Entretanto, devo dizer que em 2017, quando o contatei
telefonicamente, pediu-me que lhe facultasse tudo o que pudesse recolher do seu
Pelotão. Assim, fiz seguir para a sua morada, na passada terça-feira, dia 26 de
março, por correio postal cópias de dois temas já divulgados neste blog: a
apresentação do trabalho sobre a PM na Guiné-Bissau e as referências propriamente
ditas ao PPM 1, e as 4 fotografias do PPM 1 (já na Guiné-Bissau) que ilustram este registo, o que
farei, igualmente e na próxima semana, para Felgueiras e para o seu camarada,
senhor Porfírio Azevedo Melo, o qual, por sua iniciativa contatou-me e abordamos
alguns pontos referentes à unidade militar a que pertenceram. Gente fantástica,
gente amiga!
Duas últimas notas:
1-Direi que seria empolgante e gratificante que se
realizasse o primeiro encontro do PPM 1, num almoço-convívio, onde quer que
seja e com qualquer número de participantes, 2, 3, 4, etc., incluindo os familiares, comprometendo-me a
estar presente, facto que muito me sensibilizaria e orgulhava e ter o privilégio de conhecer novos amigos, pessoas de bem!
Vamos a isso?
Vamos a isso?
2-Por fim expresso a minha gratidão ao nobre amigo António Sebastião
Morais pela franca e fraterna disponibilidade em facultar estes dados para
memória futura.
Bem haja!
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