Nesta segunda parte poderão ser analisados os seguintes capítulos: ESTRESSE, COERÇÃO E DESEMPENHO NA ARBITRAGEM.
Para ver o primeiro episódio: http://albertohelder.blogspot.com/2009/04/arbitragem-de-futebol-estress-e.html
ESTRESSE
De acordo com Samulski, Chagas e Nitsch (1996), de modo geral a investigação do estresse começou a partir da inter-relação do indivíduo e o meio ambiente. Uma concepção compartilhada sobre o que seria o estresse por diversos autores, refere-se à desestabilização psicofísica ou a perturbação do equilíbrio entre a pessoa e o meio ambiente.
Levando-se em conta a ligação de estresse, processos adaptativos e interação do organismo com ambiente, o estresse pode ser compreendido como conceito de relação, o qual descreve determinados problemas e processos de adaptação entre um sistema e seu meio ambiente. O estresse se apresenta em um desequilíbrio entre a condição da ação individual e a condição situacional; discrepâncias entre capacidades e exigências ou entre necessidades e possibilidades de satisfação. Nesta perspectiva o nível de estresse vai depender do grau de importância pessoal do respectivo desequilíbrio.
Há de se perceber, também, que de certa forma o estresse é necessário à vida para manutenção e aperfeiçoamento da capacidade funcional, auto-proteção e conhecimentos de seus próprios limites.
Há três pontos que devem ser considerados para se considerar o desenvolvimento do estresse: processos biológicos, psicológicos e sociais. Estes conceitos devem ser pensados numa dependência recíproca, pois existe uma inter-relação entre eles. Ainda de acordo com Samulski (2000), a concepção biológica iniciou-se com os trabalhos de Cannon em 1914, nos quais analisava o estresse sob a diferenciação da concepção do equilíbrio biológico (homeostase). Ele aceitava a hipótese de uma inespecífica reação de estresse, tanto de estímulos internos, como externos. Acreditava no estresse como, mobilização de energia para restauração da homeostase.
Convergente com este conceito está a idéia de que a relação fisiológica está ligada a dois sistemas: sistema nervoso e o sistema de glândulas endócrinas, sistemas esses ligados a reação fisiológica do estresse (Nitsch, 1981).
Já a concepção psicológica do estresse, enfatiza sintomas psíquicos do estresse, modificações do bem-estar, decursos das funções cognitivas e da execução da ação. O estresse se configura como uma forma especial de ativação, que pode aparecer como possível reação ao estresse, agindo como propulsor da ansiedade. São reconhecidas duas correntes na pesquisa sobre o estresse psicológico (Nitsch, 1981), uma na psicanálise, que destaca principalmente os trabalhos de Freud sobre ansiedade e teoria dos mecanismos de defesa. Outra corrente, a cognitivista, que se destacou principalmente pelos trabalhos de Lazarus, veio influenciar diretamente estudos sobre estresse. O ponto básico destas teorias se dá pela relação entre a pessoa e o meio ambiente, esta relação é compreendida como um mediador psíquico e um realizador ativo.
Retomando o conceito de estresse como uma perda de equilíbrio interno ou externo, ainda de acordo com Nitsch (1981), ele é característico nas seguintes situações: o estado atual diverge de um estado desejado, ou seja, há uma discrepância entre a situação que deveria ser e a realidade concreta, onde há perturbação de equilíbrio. O estado atual corresponde ao estado desejado, mas a situação mostra-se insegura e incerta e que poderá surgir o desequilíbrio. Estas circunstâncias podem aparecer tanto por exigências externas, como pelas próprias expectativas, estes acontecimentos corroboram o papel ativo da pessoa no estresse, ou seja, o estado de desequilíbrio varia com o aumento de exigência, quanto maior os níveis de exigência, maior a probabilidade de frustração.
Em uma perspectiva sócio-psicológica do estresse, de acordo com Nitsch (1981), o estresse pode ser determinado socialmente, manifestando-se no comportamento social, sendo o seu controle um acontecimento social. Para compreensão do estresse se faz necessária a seguinte afirmação: uma numerosa quantidade de estressores resulta de um determinado meio social e por conseqüência refletem as condições culturais e sócio-econômicas da vida e do trabalho; tais condições podem ser evidenciadas nos seguintes tópicos: massificação da sociedade, sociedade de rendimento, de concorrência, de consumo e industrializada, e outros. A influência dos fatores culturais, assim como mudança sócio-cultural tem indicado uma relação com os acontecimentos de estresse, o que significa que o modo de vida contemporâneo pode ser uma forte fonte de influência para o desencadeamento do fenômeno.
Em uma perspectiva cognitivo-comportamental Lipp & Novaes (1998), afirma que o estresse pode ser um dos maiores fatores de risco para a vida e para qualidade do viver de todos; a pessoa estressada não consegue produzir de acordo com seu potencial, não tem motivação necessária para atingir metas difíceis, correndo o risco de adoecimento. De acordo com a autora o primeiro cientista a estudar o estresse foi Hans Selye, um médico austríaco na década de 20, o qual chamou esse fenômeno de "síndrome de estar apenas doente" ou "síndrome de adaptação geral", termo mais tarde simplificado por "stress". Esta síndrome envolve uma série de sintomas que o indivíduo apresenta quando submetido a situações que exijam uma importante adaptação do organismo para enfrentá-las.
De acordo com Selye (1952) a síndrome de estresse se divide em três fases: primeira é chamada fase de alerta, na qual o indivíduo entra em contato com sua fonte de estresse. Nesta fase há algumas sensações típicas: sudorese excessiva, taquicardia, respiração ofegante, entre outras. Há neste momento uma perda do equilíbrio do organismo à medida que se prepara para enfrentar a situação à qual precisa se adapta. Na segunda fase, a de resistência, ocorre quando o organismo tenta se recuperar do desequilíbrio sofrido na primeira fase. A terceira fase é da exaustão, nela aparecem alguns sintomas da primeira só que mais agravados, havendo maior comprometimento físico em forma de doenças. Ainda de acordo com as autoras as fontes de estresse podem ser internas e externas: as pessoas com as quais convivemos no cotidiano podem se configurar agentes externos; os internos podem se características pessoais, valores, crenças e formas de interpretar situações.
Na área emocional o estresse pode produzir apatia, depressão, desânimo, sensação de desalento e hipersensibilidade emotiva, até a raiva, a ira, a irritabilidade e a ansiedade (Selye, 1976). O estresse surge quando a quantidade de exigências e de tensões é excessiva para resistência da pessoa. O estresse também apresenta relação com a resistência às pressões, com habilidade de lidar com demandas e mudanças do ambiente.
Comparando os autores citados (Samulski, Chagas e Nitsch, 1996; Nitsch, 1981; e Lipp & Novaes, 1998) percebe-se que os conceitos apresentados são complementares. Uma perspectiva meramente biológica, ou apenas psicológica, ou ainda simplesmente social não é suficiente para a compreensão do fenômeno do estresse. O estresse parece apresentar determinantes em cada uma das três perspectivas, de modo que a conjunção dos três fatores causais em níveis críticos pode gerar uma desadaptação do organismo em termos das exigências do ambiente. Em outras palavras aparentemente não é suficiente atribuir o surgimento do estresse a apenas uma das possíveis fontes para o seu desencadeamento. No nível biológico a constituição genética do indivíduo pode apresentar-se mais ou menos favorável para o surgimento do estresse. Porém somente este viés não é suficiente para explicá-lo. Torna-se necessário identificar o desenvolvimento das habilidades psicológicas, tanto no que se refere à percepção que o indivíduo tem do seu próprio organismo e de alterações neste, assim como das mudanças e exigências do ambiente no qual está inserido. O terceiro nível de compreensão do estresse refere-se ao ambiente no qual este indivíduo se encontra e o modo como ele está organizado. Parece ser inquestionável o fato de que um ambiente repleto de estímulos que mudam constantemente, e que sinalizam situações de ameaça, exigem uma rápida e constante adaptação por parte do organismo. Portanto uma análise do estresse apresentado por um organismo exige também o entendimento do ambiente à sua volta.
COERÇÃO
Parte-se do ponto de que a composição e qualidade da estimulação presente em um ambiente se fazem necessária para compreender o surgimento do estresse. Para tal é útil o conceito de "coerção", apresentado por Sidman (1995). De acordo o autor, na linguagem cotidiana, ser coagido é ser compelido sob julgo ou ameaça a fazer algo "contra vontade". Analistas do comportamento afirmam que todo nosso comportamento é controlado e, levando-se em conta esta afirmação, tudo que fazemos é "contra nossa vontade". "Jugo" e "ameaça", se aproximam de uma definição de coerção, pois se referem a classes de estímulos que controlam nosso comportamento. Há três tipos de relações controladoras entre conduta e conseqüências: reforçamento positivo, reforçamento negativo e punição. O controle por reforçamento positivo é não-coercitivo, a coerção existe quando há reforçamento negativo ou punição.
Os reforçadores têm duas principais características, primeiro ele deve seguir uma ação e em segundo deve fazer com que a ação se repita que seja mais freqüente. Os reforçadores não são predefinidos, devem ser descobertos, o que significa que a princípio nenhum tipo de conseqüência pode ser considerada reforçadora. Apenas após observarmos os efeitos de uma conseqüência sobre o comportamento é que podemos tirar tal conclusão.
O reforçamento pode ser positivo e negativo. No reforçamento positivo a ação da pessoa é seguida de adição, produção de algo novo. No reforçamento negativo uma ação subtrai, algo desaparece, fazendo que uma condição presente antes do ato desapareça.
O reforçamento negativo é uma forma de controle coercitivo. Outra forma coercitiva de controle do comportamento é a punição. A punição ocorre quando uma ação seja seguida ou pela perda de reforçadores positivos ou ganhos de estímulos aversivos. Os punidores quando são contingentes às ações, fazem com que estas se tornem menos prováveis em situações futuras.
Em sua argumentação Sidman (1995), baseado em Skinner (1953), afirma que apesar de podermos ser controlados tanto por reforçamento positivo quanto pela coerção há diferenças significativas no que se refere à qualidade dos tipos de controle. O reforçamento positivo geralmente necessita de um período de tempo maior, se comparado à coerção, para estabelecer o controle do comportamento. A isto se soma o fato de que, em nossa cultura, geralmente dispomos de cada vez menos tempo para as tarefas do cotidiano. Dessa forma a opção pelo controle coercitivo se faz em função de questões práticas do dia-a-dia. Porém, como afirmam Skinner (1953), e Sidman (1995), o controle coercitivo gera subprodutos bastante nocivos aos indivíduos envolvidos. Medo, ansiedade, tensão, apatia (e depressão), contracontrole agressivo ou dissimulado são efeitos colaterais do uso contínuo de controle aversivo. Dessa forma, afirma os autores, o controle coercitivo, apesar dos resultados imediatos, vem envenenando nossas instituições e a sociedade de uma maneira geral.
Muito de nossa vida é dedicado a eliminar ou prevenir fontes de coerção atuais e futuros, impostos pela natureza e sociedade. Freqüentemente, existem poucas opções para prevenir ou evitar desprazer, de forma a fugir ou esquivar de pressões físicas e interpessoais. Ainda segundo Sidman (1995) o controle coercitivo é a forma mais comum de controle comportamental em nosso ambiente social. Deste modo podemos compreender porque a maioria de nossas ações destina-se a evitar a perda de reforçadores positivos ou o acréscimo de estímulos aversivos.
Torna-se plenamente compreensível a possibilidade do estresse como um dos subprodutos do controle coercitivo. Assim sendo, a perspectiva do estresse como fonte de três conjuntos de determinantes (biológico, psicológico e social) ganha uma nova conotação: devemos olhar para o ambiente social com um cuidado maior na medida em que boa parte da determinação do estresse parece estar relacionada a forma como desenvolvemos o nosso modo de vida. Um modo de vida repleto de controles coercitivos produz um aumento do aparecimento de casos de estresse.
DESEMPENHO NA ARBITRAGEM
Segundo Rech, Daronco e Paim (2002) o papel da arbitragem deve estar direcionado para quatro responsabilidades principais: assegurar que o jogo decorra de acordo com suas regras, interferir o menos possível, estabelecer e manter uma boa atmosfera para o jogo e mostrar preocupação com os jogadores. Neste sentido cabe refletir sobre o processo de desenvolvimento de habilidades coerentes com tais responsabilidades.
Segundo Cruz (1997), a maioria dos livros de árbitros consideram que para ser um bom árbitro é necessário apenas um bom entendimento das regras, boa forma física e bom posicionamento tático. Mas um grande número de árbitros ressalta a importância de boas condições psicológicas para boa atuação. De acordo com estes, o que diferencia um bom árbitro dos demais, são características como: ser consciente em suas decisões, estabelecimento de boa relação com os outros, atuar com rapidez e decisão, mostrar domínio e controle emocional, atuar com integridade, atuar com auto confiança, estar motivado durante as competições. Condições estas que poucos árbitros se dedicam à preparação necessária.
Numa observação de Anshel (1995), revelaram-se alguns fatores que contribuem para competência de árbitros. Dentre eles a habilidade de comunicação verbal parece ser muito importante: falar com o tom adequado; não depreciar jogadores, treinadores e colegas; não dizer palavrões; não utilizar sarcasmos; se relacionar com jogadores, técnicos e colegas de forma clara, concisa e positiva; e utilização de humor em momentos adequados.
Ainda de acordo com Cruz (1997) as competências necessárias para um bom árbitro são: domínio das regras; boa comunicação verbal; habilidade de comunicação não verbal; utilização adequadas das técnicas; boa forma física; profissionalismo; contribuição ativa na partida; melhora contínua de suas habilidades e atuações; autocrítica; bom relacionamento com os colegas; credibilidade; e realização adequada de preparação física e psicológica.
Sobre intervenções psicológicas, o autor afirma que poderiam auxiliar os árbitros a ter mais recursos para executar um papel educativo no esporte, evitando alguns conflitos; contribuindo também para que o árbitro enfrente de forma mais adequada a pressão que é inerente à sua função.
Weinberg e Richardson (1990), afirmam que é necessário para bom desempenho o estabelecimento de rotinas previas e preparação psicológica para competição. Os árbitros devem seguir um estilo de vida saudável, com descanso e atividade física; devem ficar concentrados nos jogos antes de começá-los, adaptando-se a possíveis imprevistos.
Um bom árbitro, segundo Rech, Daronco e Paim (2002), deve através de sua simples presença influenciar o jogo, levando os atletas a evitarem cometer violações às regras. Não existe um modelo de bom árbitro, pronto e definido; os árbitros como seres humanos que são, devem encontrar seus caminhos, recorrendo a caminhos distintos. Afirmam, ainda, que um árbitro, para ter uma boa atuação, deve manter certas características em campo: consistência, comunicação, capacidade de decisão, equilíbrio, integridade, capacidade de julgamento, confiança, prazer e motivação.
Comparando as características sugeridas por Cruz (1997) com as apresentadas por Rech, Daronco e Paim (2002), não se pode dizer que existe exatamente um consenso. Porém, o ponto mais relevante refere-se à possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento de tais habilidades. Neste sentido o desenvolvimento destas habilidades poderia ficar a cargo de profissionais da psicologia do esporte.
Para Rech, Daronco e Paim (2002) é fundamental que se desenvolva um trabalho com os árbitros, promovendo a aquisição, por parte deles, de autocontrole e outras habilidades.
Em uma perspectiva comportamental poderíamos compreender a relação entre comportamentos encobertos, como o nervosismo e comportamentos públicos, como o erro em campo, ou seja, o mau desempenho da arbitragem. O mais importante, como já afirmado, é que tais características podem ser treinadas.
De acordo com Nitsch (apud Samulski, 2000) modificações no pensamento, motivação e percepção são alcançadas com a ajuda de procedimentos psicológicos, como treinamento mental e concentração. Mesmo diante desta necessidade de uma boa condição psicologia, a ênfase dada aos treinamentos é dada muito mais, a área física do que mental. O que seria realmente necessário é uma combinação entre competências mentais e capacidades físicas, para se ser um bom árbitro.
-termina no próximo capítulo-
Para ver o primeiro episódio: http://albertohelder.blogspot.com/2009/04/arbitragem-de-futebol-estress-e.html
ESTRESSE
De acordo com Samulski, Chagas e Nitsch (1996), de modo geral a investigação do estresse começou a partir da inter-relação do indivíduo e o meio ambiente. Uma concepção compartilhada sobre o que seria o estresse por diversos autores, refere-se à desestabilização psicofísica ou a perturbação do equilíbrio entre a pessoa e o meio ambiente.
Levando-se em conta a ligação de estresse, processos adaptativos e interação do organismo com ambiente, o estresse pode ser compreendido como conceito de relação, o qual descreve determinados problemas e processos de adaptação entre um sistema e seu meio ambiente. O estresse se apresenta em um desequilíbrio entre a condição da ação individual e a condição situacional; discrepâncias entre capacidades e exigências ou entre necessidades e possibilidades de satisfação. Nesta perspectiva o nível de estresse vai depender do grau de importância pessoal do respectivo desequilíbrio.
Há de se perceber, também, que de certa forma o estresse é necessário à vida para manutenção e aperfeiçoamento da capacidade funcional, auto-proteção e conhecimentos de seus próprios limites.
Há três pontos que devem ser considerados para se considerar o desenvolvimento do estresse: processos biológicos, psicológicos e sociais. Estes conceitos devem ser pensados numa dependência recíproca, pois existe uma inter-relação entre eles. Ainda de acordo com Samulski (2000), a concepção biológica iniciou-se com os trabalhos de Cannon em 1914, nos quais analisava o estresse sob a diferenciação da concepção do equilíbrio biológico (homeostase). Ele aceitava a hipótese de uma inespecífica reação de estresse, tanto de estímulos internos, como externos. Acreditava no estresse como, mobilização de energia para restauração da homeostase.
Convergente com este conceito está a idéia de que a relação fisiológica está ligada a dois sistemas: sistema nervoso e o sistema de glândulas endócrinas, sistemas esses ligados a reação fisiológica do estresse (Nitsch, 1981).
Já a concepção psicológica do estresse, enfatiza sintomas psíquicos do estresse, modificações do bem-estar, decursos das funções cognitivas e da execução da ação. O estresse se configura como uma forma especial de ativação, que pode aparecer como possível reação ao estresse, agindo como propulsor da ansiedade. São reconhecidas duas correntes na pesquisa sobre o estresse psicológico (Nitsch, 1981), uma na psicanálise, que destaca principalmente os trabalhos de Freud sobre ansiedade e teoria dos mecanismos de defesa. Outra corrente, a cognitivista, que se destacou principalmente pelos trabalhos de Lazarus, veio influenciar diretamente estudos sobre estresse. O ponto básico destas teorias se dá pela relação entre a pessoa e o meio ambiente, esta relação é compreendida como um mediador psíquico e um realizador ativo.
Retomando o conceito de estresse como uma perda de equilíbrio interno ou externo, ainda de acordo com Nitsch (1981), ele é característico nas seguintes situações: o estado atual diverge de um estado desejado, ou seja, há uma discrepância entre a situação que deveria ser e a realidade concreta, onde há perturbação de equilíbrio. O estado atual corresponde ao estado desejado, mas a situação mostra-se insegura e incerta e que poderá surgir o desequilíbrio. Estas circunstâncias podem aparecer tanto por exigências externas, como pelas próprias expectativas, estes acontecimentos corroboram o papel ativo da pessoa no estresse, ou seja, o estado de desequilíbrio varia com o aumento de exigência, quanto maior os níveis de exigência, maior a probabilidade de frustração.
Em uma perspectiva sócio-psicológica do estresse, de acordo com Nitsch (1981), o estresse pode ser determinado socialmente, manifestando-se no comportamento social, sendo o seu controle um acontecimento social. Para compreensão do estresse se faz necessária a seguinte afirmação: uma numerosa quantidade de estressores resulta de um determinado meio social e por conseqüência refletem as condições culturais e sócio-econômicas da vida e do trabalho; tais condições podem ser evidenciadas nos seguintes tópicos: massificação da sociedade, sociedade de rendimento, de concorrência, de consumo e industrializada, e outros. A influência dos fatores culturais, assim como mudança sócio-cultural tem indicado uma relação com os acontecimentos de estresse, o que significa que o modo de vida contemporâneo pode ser uma forte fonte de influência para o desencadeamento do fenômeno.
Em uma perspectiva cognitivo-comportamental Lipp & Novaes (1998), afirma que o estresse pode ser um dos maiores fatores de risco para a vida e para qualidade do viver de todos; a pessoa estressada não consegue produzir de acordo com seu potencial, não tem motivação necessária para atingir metas difíceis, correndo o risco de adoecimento. De acordo com a autora o primeiro cientista a estudar o estresse foi Hans Selye, um médico austríaco na década de 20, o qual chamou esse fenômeno de "síndrome de estar apenas doente" ou "síndrome de adaptação geral", termo mais tarde simplificado por "stress". Esta síndrome envolve uma série de sintomas que o indivíduo apresenta quando submetido a situações que exijam uma importante adaptação do organismo para enfrentá-las.
De acordo com Selye (1952) a síndrome de estresse se divide em três fases: primeira é chamada fase de alerta, na qual o indivíduo entra em contato com sua fonte de estresse. Nesta fase há algumas sensações típicas: sudorese excessiva, taquicardia, respiração ofegante, entre outras. Há neste momento uma perda do equilíbrio do organismo à medida que se prepara para enfrentar a situação à qual precisa se adapta. Na segunda fase, a de resistência, ocorre quando o organismo tenta se recuperar do desequilíbrio sofrido na primeira fase. A terceira fase é da exaustão, nela aparecem alguns sintomas da primeira só que mais agravados, havendo maior comprometimento físico em forma de doenças. Ainda de acordo com as autoras as fontes de estresse podem ser internas e externas: as pessoas com as quais convivemos no cotidiano podem se configurar agentes externos; os internos podem se características pessoais, valores, crenças e formas de interpretar situações.
Na área emocional o estresse pode produzir apatia, depressão, desânimo, sensação de desalento e hipersensibilidade emotiva, até a raiva, a ira, a irritabilidade e a ansiedade (Selye, 1976). O estresse surge quando a quantidade de exigências e de tensões é excessiva para resistência da pessoa. O estresse também apresenta relação com a resistência às pressões, com habilidade de lidar com demandas e mudanças do ambiente.
Comparando os autores citados (Samulski, Chagas e Nitsch, 1996; Nitsch, 1981; e Lipp & Novaes, 1998) percebe-se que os conceitos apresentados são complementares. Uma perspectiva meramente biológica, ou apenas psicológica, ou ainda simplesmente social não é suficiente para a compreensão do fenômeno do estresse. O estresse parece apresentar determinantes em cada uma das três perspectivas, de modo que a conjunção dos três fatores causais em níveis críticos pode gerar uma desadaptação do organismo em termos das exigências do ambiente. Em outras palavras aparentemente não é suficiente atribuir o surgimento do estresse a apenas uma das possíveis fontes para o seu desencadeamento. No nível biológico a constituição genética do indivíduo pode apresentar-se mais ou menos favorável para o surgimento do estresse. Porém somente este viés não é suficiente para explicá-lo. Torna-se necessário identificar o desenvolvimento das habilidades psicológicas, tanto no que se refere à percepção que o indivíduo tem do seu próprio organismo e de alterações neste, assim como das mudanças e exigências do ambiente no qual está inserido. O terceiro nível de compreensão do estresse refere-se ao ambiente no qual este indivíduo se encontra e o modo como ele está organizado. Parece ser inquestionável o fato de que um ambiente repleto de estímulos que mudam constantemente, e que sinalizam situações de ameaça, exigem uma rápida e constante adaptação por parte do organismo. Portanto uma análise do estresse apresentado por um organismo exige também o entendimento do ambiente à sua volta.
COERÇÃO
Parte-se do ponto de que a composição e qualidade da estimulação presente em um ambiente se fazem necessária para compreender o surgimento do estresse. Para tal é útil o conceito de "coerção", apresentado por Sidman (1995). De acordo o autor, na linguagem cotidiana, ser coagido é ser compelido sob julgo ou ameaça a fazer algo "contra vontade". Analistas do comportamento afirmam que todo nosso comportamento é controlado e, levando-se em conta esta afirmação, tudo que fazemos é "contra nossa vontade". "Jugo" e "ameaça", se aproximam de uma definição de coerção, pois se referem a classes de estímulos que controlam nosso comportamento. Há três tipos de relações controladoras entre conduta e conseqüências: reforçamento positivo, reforçamento negativo e punição. O controle por reforçamento positivo é não-coercitivo, a coerção existe quando há reforçamento negativo ou punição.
Os reforçadores têm duas principais características, primeiro ele deve seguir uma ação e em segundo deve fazer com que a ação se repita que seja mais freqüente. Os reforçadores não são predefinidos, devem ser descobertos, o que significa que a princípio nenhum tipo de conseqüência pode ser considerada reforçadora. Apenas após observarmos os efeitos de uma conseqüência sobre o comportamento é que podemos tirar tal conclusão.
O reforçamento pode ser positivo e negativo. No reforçamento positivo a ação da pessoa é seguida de adição, produção de algo novo. No reforçamento negativo uma ação subtrai, algo desaparece, fazendo que uma condição presente antes do ato desapareça.
O reforçamento negativo é uma forma de controle coercitivo. Outra forma coercitiva de controle do comportamento é a punição. A punição ocorre quando uma ação seja seguida ou pela perda de reforçadores positivos ou ganhos de estímulos aversivos. Os punidores quando são contingentes às ações, fazem com que estas se tornem menos prováveis em situações futuras.
Em sua argumentação Sidman (1995), baseado em Skinner (1953), afirma que apesar de podermos ser controlados tanto por reforçamento positivo quanto pela coerção há diferenças significativas no que se refere à qualidade dos tipos de controle. O reforçamento positivo geralmente necessita de um período de tempo maior, se comparado à coerção, para estabelecer o controle do comportamento. A isto se soma o fato de que, em nossa cultura, geralmente dispomos de cada vez menos tempo para as tarefas do cotidiano. Dessa forma a opção pelo controle coercitivo se faz em função de questões práticas do dia-a-dia. Porém, como afirmam Skinner (1953), e Sidman (1995), o controle coercitivo gera subprodutos bastante nocivos aos indivíduos envolvidos. Medo, ansiedade, tensão, apatia (e depressão), contracontrole agressivo ou dissimulado são efeitos colaterais do uso contínuo de controle aversivo. Dessa forma, afirma os autores, o controle coercitivo, apesar dos resultados imediatos, vem envenenando nossas instituições e a sociedade de uma maneira geral.
Muito de nossa vida é dedicado a eliminar ou prevenir fontes de coerção atuais e futuros, impostos pela natureza e sociedade. Freqüentemente, existem poucas opções para prevenir ou evitar desprazer, de forma a fugir ou esquivar de pressões físicas e interpessoais. Ainda segundo Sidman (1995) o controle coercitivo é a forma mais comum de controle comportamental em nosso ambiente social. Deste modo podemos compreender porque a maioria de nossas ações destina-se a evitar a perda de reforçadores positivos ou o acréscimo de estímulos aversivos.
Torna-se plenamente compreensível a possibilidade do estresse como um dos subprodutos do controle coercitivo. Assim sendo, a perspectiva do estresse como fonte de três conjuntos de determinantes (biológico, psicológico e social) ganha uma nova conotação: devemos olhar para o ambiente social com um cuidado maior na medida em que boa parte da determinação do estresse parece estar relacionada a forma como desenvolvemos o nosso modo de vida. Um modo de vida repleto de controles coercitivos produz um aumento do aparecimento de casos de estresse.
DESEMPENHO NA ARBITRAGEM
Segundo Rech, Daronco e Paim (2002) o papel da arbitragem deve estar direcionado para quatro responsabilidades principais: assegurar que o jogo decorra de acordo com suas regras, interferir o menos possível, estabelecer e manter uma boa atmosfera para o jogo e mostrar preocupação com os jogadores. Neste sentido cabe refletir sobre o processo de desenvolvimento de habilidades coerentes com tais responsabilidades.
Segundo Cruz (1997), a maioria dos livros de árbitros consideram que para ser um bom árbitro é necessário apenas um bom entendimento das regras, boa forma física e bom posicionamento tático. Mas um grande número de árbitros ressalta a importância de boas condições psicológicas para boa atuação. De acordo com estes, o que diferencia um bom árbitro dos demais, são características como: ser consciente em suas decisões, estabelecimento de boa relação com os outros, atuar com rapidez e decisão, mostrar domínio e controle emocional, atuar com integridade, atuar com auto confiança, estar motivado durante as competições. Condições estas que poucos árbitros se dedicam à preparação necessária.
Numa observação de Anshel (1995), revelaram-se alguns fatores que contribuem para competência de árbitros. Dentre eles a habilidade de comunicação verbal parece ser muito importante: falar com o tom adequado; não depreciar jogadores, treinadores e colegas; não dizer palavrões; não utilizar sarcasmos; se relacionar com jogadores, técnicos e colegas de forma clara, concisa e positiva; e utilização de humor em momentos adequados.
Ainda de acordo com Cruz (1997) as competências necessárias para um bom árbitro são: domínio das regras; boa comunicação verbal; habilidade de comunicação não verbal; utilização adequadas das técnicas; boa forma física; profissionalismo; contribuição ativa na partida; melhora contínua de suas habilidades e atuações; autocrítica; bom relacionamento com os colegas; credibilidade; e realização adequada de preparação física e psicológica.
Sobre intervenções psicológicas, o autor afirma que poderiam auxiliar os árbitros a ter mais recursos para executar um papel educativo no esporte, evitando alguns conflitos; contribuindo também para que o árbitro enfrente de forma mais adequada a pressão que é inerente à sua função.
Weinberg e Richardson (1990), afirmam que é necessário para bom desempenho o estabelecimento de rotinas previas e preparação psicológica para competição. Os árbitros devem seguir um estilo de vida saudável, com descanso e atividade física; devem ficar concentrados nos jogos antes de começá-los, adaptando-se a possíveis imprevistos.
Um bom árbitro, segundo Rech, Daronco e Paim (2002), deve através de sua simples presença influenciar o jogo, levando os atletas a evitarem cometer violações às regras. Não existe um modelo de bom árbitro, pronto e definido; os árbitros como seres humanos que são, devem encontrar seus caminhos, recorrendo a caminhos distintos. Afirmam, ainda, que um árbitro, para ter uma boa atuação, deve manter certas características em campo: consistência, comunicação, capacidade de decisão, equilíbrio, integridade, capacidade de julgamento, confiança, prazer e motivação.
Comparando as características sugeridas por Cruz (1997) com as apresentadas por Rech, Daronco e Paim (2002), não se pode dizer que existe exatamente um consenso. Porém, o ponto mais relevante refere-se à possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento de tais habilidades. Neste sentido o desenvolvimento destas habilidades poderia ficar a cargo de profissionais da psicologia do esporte.
Para Rech, Daronco e Paim (2002) é fundamental que se desenvolva um trabalho com os árbitros, promovendo a aquisição, por parte deles, de autocontrole e outras habilidades.
Em uma perspectiva comportamental poderíamos compreender a relação entre comportamentos encobertos, como o nervosismo e comportamentos públicos, como o erro em campo, ou seja, o mau desempenho da arbitragem. O mais importante, como já afirmado, é que tais características podem ser treinadas.
De acordo com Nitsch (apud Samulski, 2000) modificações no pensamento, motivação e percepção são alcançadas com a ajuda de procedimentos psicológicos, como treinamento mental e concentração. Mesmo diante desta necessidade de uma boa condição psicologia, a ênfase dada aos treinamentos é dada muito mais, a área física do que mental. O que seria realmente necessário é uma combinação entre competências mentais e capacidades físicas, para se ser um bom árbitro.
-termina no próximo capítulo-
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