quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 DE ABRIL, SEMPRE!

Este grandioso e maravilhoso dia, em 1974, foi passado assim:
Com a mulher (Maria Júlia) e o nosso filho (Rui Fernando), com cerca de ano e meio de idade, saímos de casa, do Bairro das Pedralvas, manhã cedo, no Morris Minor, com ele ainda a dormir, enrolado em lençóis, na direcção da Praça do Areeiro, onde ficava e passava o dia em casa dos avós (Ivone Amélia e Virgílio Machado dos Santos) e seguíamos para os empregos.
Tomámos a direcção da Estrada Militar, Pontinha, Largo da Luz, 2ª circular, avenida Gago Coutinho. Quando passámos pelo Regimento de Engenharia, onde estava situado o centro operacional do Movimento dos Capitães, informaram-nos para regressar a casa, mas seguimos em frente…
No caminho ouvimos pela rádio os apelos dos militares, através de comunicados, a dar conta do que se estava a passar, recomendando que o regresso a casa devia ser concretizado por toda a gente.
Chegados ao Areeiro falámos com os meus sogros que ficaram a par do que se estava a passar e segui para o local do emprego, de automóvel, mas já não consegui passar nos habituais lugares fazendo trajecto alternativo para chegar ao Cais do Sodré.
Aí , na firma onde trabalhava (éramos para cima de uma centena de colaboradores) , encontrei muitas colegas costureiras, grande parte a chorar, e muito poucos camaradas administrativos, a minha área profissional, mas todos eles a lamentar a situação pois não sabiam o que poderia acontecer não só a si próprios como aos familiares.
Falaram que na rua do Arsenal estavam, parados e frente a frente, carros de combate prontos para se defrontarem, eram os “bons” e os “maus” que procuravam os melhores argumentos e posições para concretizarem os seus intentos.
Na empresa andei com um rádio portátil, acompanhado com o meu bom amigo Mário Carvalho Fernandes, e recebemos instruções dos quatro administradores, que moravam em Carcavelos, mas que não se deslocaram a Lisboa, para encerrar as instalações e mandar todo o pessoal para casa, onde aguardariam indicações.
Dei boleia ao caixa do estabelecimento, João Rebelo, antigo ciclista de nomeada, até casa (rua Guilherme Faria, em Alvalade), não sem antes ter passado pela mercearia e ter adquirido alguns, mas poucos, géneros alimentícios, acautelando o dia seguinte.
Cheguei ao Areeiro meti a mulher e o “miúdo” no mini e regressámos a casa, em Benfica, onde ficaram a salvo.
Quase que imediatamente saí para festejar na rua tão importante acontecimento dirigindo-me para a “baixa”, utilizando os transportes públicos, e percorri os sítios mais emblemáticos da revolução, como o Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade, Restauradores, Rossio, Rua Augusta, Rua Áurea, Rua Garret, Chiado, Largo do Carmo, Praça do Comércio, novamente o Cais do Sodré, vivendo momentos inolvidáveis e marcantes por ver e sentir a desejada liberdade que o povo tanto queria, pretendia e por ela lutava há muito .
Adquiri e ainda possuo as edições dos jornais que saíram a propósito do levantamento militar, informando os últimos momentos do governo caduco e pardacento…
Há noite, já no ambiente tranquilo de casa, fomos acompanhando o desenrolar do processo através da televisão, sempre em contacto, via telefone, com os nossos familiares que muito se regozijaram pelo acontecimento histórico que se viveu em todo o Portugal.
Hoje, passados 38 anos, posso dizê-lo que foi bom e importante ter acontecido a mudança que restituiu a liberdade aos portugueses, até aí, sempre vigiados pela polícia política, que não tinha contemplações para com os simples cidadãos e democratas.
Contudo, pese embora as vicissitudes porque se tem passado, principalmente nos últimos anos, nada agradável para quem trabalhou e descontou para a Segurança Social ininterruptamente durante cinco décadas, como é o meu caso, e ver actualmente os seus direitos reduzidos, sem nada ter contribuído para que isso viesse a acontecer.
Haja consideração por quem sempre respeitou as leis e normas em vigor, já que quando fiz quarenta anos de Segurança Social, fui aconselhado que podia reformar-me e continuar a trabalhar auferindo, assim, dois proveitos, o que, naturalmente, me dava um jeito enorme. Mas optei continuar fiel aos meus princípios e ideais reformando-me aos 65 anos de idade e viver, como o faço agora, unicamente com o valor da pensão que o Estado me paga, mas não na totalidade…
Viva o 25 de Abril!

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