Este
grandioso e maravilhoso dia, em 1974, foi passado assim:
Com a mulher
(Maria Júlia) e o nosso filho (Rui Fernando), com cerca de ano e meio de idade,
saímos de casa, do Bairro das Pedralvas, manhã cedo, no Morris Minor, com ele
ainda a dormir, enrolado em lençóis, na direcção da Praça do Areeiro, onde ficava
e passava o dia em casa dos avós (Ivone Amélia e Virgílio Machado dos Santos) e
seguíamos para os empregos.
Tomámos a
direcção da Estrada Militar, Pontinha, Largo da Luz, 2ª circular, avenida Gago
Coutinho. Quando passámos pelo Regimento de Engenharia, onde estava situado o centro
operacional do Movimento dos Capitães, informaram-nos para regressar a casa,
mas seguimos em frente…
No caminho
ouvimos pela rádio os apelos dos militares, através de comunicados, a dar conta
do que se estava a passar, recomendando que o regresso a casa devia ser
concretizado por toda a gente.
Chegados ao
Areeiro falámos com os meus sogros que ficaram a par do que se estava a passar
e segui para o local do emprego, de automóvel, mas já não consegui passar nos
habituais lugares fazendo trajecto alternativo para chegar ao Cais do Sodré.
Aí , na
firma onde trabalhava (éramos para cima de uma centena de colaboradores) ,
encontrei muitas colegas costureiras, grande parte a chorar, e muito poucos
camaradas administrativos, a minha área profissional, mas todos eles a lamentar
a situação pois não sabiam o que poderia acontecer não só a si próprios como aos
familiares.
Falaram que
na rua do Arsenal estavam, parados e frente a frente, carros de combate prontos
para se defrontarem, eram os “bons” e os “maus” que procuravam os melhores
argumentos e posições para concretizarem os seus intentos.
Na empresa
andei com um rádio portátil, acompanhado com o meu bom amigo Mário Carvalho
Fernandes, e recebemos instruções dos quatro administradores, que moravam em
Carcavelos, mas que não se deslocaram a Lisboa, para encerrar as instalações e
mandar todo o pessoal para casa, onde aguardariam indicações.
Dei boleia
ao caixa do estabelecimento, João Rebelo, antigo ciclista de nomeada, até casa
(rua Guilherme Faria, em Alvalade), não sem antes ter passado pela mercearia e
ter adquirido alguns, mas poucos, géneros alimentícios, acautelando o dia
seguinte.
Cheguei ao
Areeiro meti a mulher e o “miúdo” no mini e regressámos a casa, em Benfica,
onde ficaram a salvo.
Quase que
imediatamente saí para festejar na rua tão importante acontecimento dirigindo-me para a “baixa”, utilizando os
transportes públicos, e percorri os sítios mais emblemáticos da revolução, como
o Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade, Restauradores, Rossio, Rua Augusta, Rua Áurea, Rua Garret, Chiado, Largo do Carmo, Praça do
Comércio, novamente o Cais do Sodré, vivendo momentos inolvidáveis e marcantes
por ver e sentir a desejada liberdade que o povo tanto queria, pretendia e por ela lutava há muito .
Adquiri e
ainda possuo as edições dos jornais que saíram a propósito do levantamento
militar, informando os últimos momentos do governo caduco e pardacento…
Há noite, já
no ambiente tranquilo de casa, fomos acompanhando o desenrolar do processo
através da televisão, sempre em contacto, via telefone, com os nossos
familiares que muito se regozijaram pelo acontecimento histórico que se viveu
em todo o Portugal.
Hoje,
passados 38 anos, posso dizê-lo que foi bom e importante ter acontecido a
mudança que restituiu a liberdade aos portugueses, até aí, sempre vigiados pela
polícia política, que não tinha contemplações para com os simples cidadãos e democratas.
Contudo,
pese embora as vicissitudes porque se tem passado, principalmente nos últimos
anos, nada agradável para quem trabalhou e descontou para a Segurança Social ininterruptamente
durante cinco décadas, como é o meu caso, e ver actualmente os seus direitos
reduzidos, sem nada ter contribuído para que isso viesse a acontecer.
Haja
consideração por quem sempre respeitou as leis e normas em vigor, já que quando
fiz quarenta anos de Segurança Social, fui aconselhado que podia reformar-me e
continuar a trabalhar auferindo, assim, dois proveitos, o que, naturalmente, me
dava um jeito enorme. Mas optei continuar fiel aos meus princípios e ideais
reformando-me aos 65 anos de idade e viver, como o faço agora, unicamente com o
valor da pensão que o Estado me paga, mas não na totalidade…
Viva o 25 de
Abril!
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