Foi o décimo quarto jogo da selecção nacional e o terceiro
no campo do Ameal (Porto), e aquele que, no final da tarde de 15 de Abril de
1928 (domingo), deu uma enorme alegria aos portugueses com a retumbante vitória
conquistada perante uma das mais fortes equipa europeias! Esta partida amigável foi de preparação com vista aos Jogos
Olímpicos de Amesterdão, onde veio a actuar a equipa de todos nós (27 de Maio a
4 de Junho). Antes, porém, outros dois encontros já se tinham disputado naquele
campo, em 24.01.1926, com a Checoslováquia (1-1) e com a Hungria, a 26.12.1926,
que se saldou num novo empate (3-3).
Desta feita, o resultado final foi robusto e convincente, e logo
por 4-1, com golos de Waldemar Mota (3, aos 20, 27 e 77 minutos) e Vítor Silva
(57 minutos). O golo italiano foi obtido por Júlio Bibonatti, aos 38 minutos. A
baliza dos italianos ainda tivera duas bolas nos postes. Presenciaram milhares
de adeptos, vindos de todo o lado, com grande representação de Lisboa que
chegou em comboio especial saído na véspera de Santa Apolónia às 23H30.
Neste jogo, que se iniciou às 15H28 (preciosidade relatada
pelos jornais da época) e a segunda parte às 16H35, as selecções equiparam da
seguinte forma: Portugal, camisola Vermelha e calção azul. Itália, camisola
azul e calção branco… Antes, porém, os capitães trocaram ramos de flores, o que
era usual naquele tempo… A Itália escolhe o seu meio campo a favor do sol, mas
contra o vento… Na primeira parte, aos 15 minutos, o português Vítor Silva
na área de grande penalidade italiana é atingido com um soco na cara que o leva
ao chão.
O Árbitro nada assinala mas o público invade o rectângulo em protesto
e o jogo é interrompido, por breves momentos. O nosso jogador regressa, recomposto,
cinco minutos depois… No final do jogo a multidão, eufórica e feliz, promovera
muitas manifestações de regozijo quer dentro que fora do campo.
Entrevistado, o Árbitro do encontro, disse: “Os portugueses
jogaram com muita energia, no entanto considero a técnica italiana superior.
Acho que as bolas dos portugueses foram admiráveis de precisão, denotando uma
sensível intuição de “association”. Os portugueses, que vejo jogar pela
primeira vez, devem constituir muito em breve uma poderosa equipa internacional”.
Já o capitão italiano, Adolfo Baloncieri, expressou o seguinte: “O grupo
português fez muitos progressos desde a jornada de Turim, tendo adquirido
extraordinária velocidade. As bolas dos portugueses foram bem marcadas, mas
devidas um pouco do nosso nervosismo e desorientação.”
Recorde-se que foi a 17.04.1927 que a selecção portuguesa
foi a Turim e perdeu por 1-3, com arbitragem do espanhol Luís Collina. Desta feita, após o jogo foi servido um banquete às duas
equipas no Grande Hotel do Porto, com a presença de mais de cem convivas. No
dia seguinte foi proporcionada uma visita ao Minho e à noite estiveram numa
récita promovida pelos Bombeiros Voluntários do Porto. Os italianos regressaram
a casa na terça-feira.
CURIOSIDADES:
1 - Na véspera do encontro o jornalista foi recolher a
opinião dos jogadores ao Hotel e logo na sala de fumar, enquanto jogavam à
bisca milanesa…
2 - Anúncio publicado imediatamente a seguir ao relato do
jogo: “Todos os bons sportsmen devem usar antes e depois dos seus exercícios a
EMBROCAÇÃO SPORT, preparação da Farmácia Figueiredo, do Porto”.
3 – A delegação do Diário de Notícias, do Porto, transmitiu
as incidências do despique pelos placards colocados nas principais cidades do
norte, assim como em Lisboa, no Parque Eduardo VII, onde estiveram milhares de
pessoas a assistirem.
O placard consistia num painel de grande dimensões colocado
num sítio alto, onde aparecia o desenho do campo e da bola, com esta a
movimentar-se sempre que assim se verificava.
Os jornais consultados para esta reportagem, foram: Diário
de Notícias, edição 22.348 e 49, de 15 e 16.04.1928 (64º ano) e custava a
unidade 30 cêntimos. Jornal de Notícias, edição 89 e 90, de 15 e 17.04.1928
(custo 20 cêntimos). Todos eles visados pela Comissão de Censura.
As fotos foram obtidas, com a devida vénia, de
FLICKR/Galeria de Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian. As imagens dos jogadores foram recolhidas da “Colecção
Internacionais da Bola de Todos os Tempos”, da Agência Portuguesa de Revistas. O desafio foi dirigido pelo belga Henry Christophe (n.
23.07.19984 e faleceu em 17.06.1968), que haveria de estar nos Jogos Olímpicos
e no I Campeonato Mundial de Futebol 1930-Uruguai.
Eis os 12 magníficos escolhidos pelo Treinador CÂNDIDO
Plácido Fernandes DE OLIVEIRA (nasceu em 24.09.1896, em Fronteira e faleceu em
23.06.1958, em Estocolmo (Suécia):
ANTÓNIO Fernandes ROQUETE (nasceu em 08.08.1906, em
Salvaterra de Magos e faleceu em 1995), do Casa Pia Atlético Clube. 16
internacionalizações. Guarda-redes.
CARLOS ALVES Júnior (10.10.1902, em Lisboa e faleceu em
1978), do Carcavelinhos Football Club. 18 int.
JORGE Gomes VIEIRA (23.02.1898, de Lisboa e faleceu em
06.08.1986), do Sporting Clube de Portugal. Capitão da equipa. 17 int.
MARTINHO Andrade OLIVEIRA (natural de Lisboa, mas sem
qualquer referência a datas), do Sporting Clube de Portugal. 6 int.
AUGUSTO SILVA (22.03.1902, de Lisboa e faleceu em
08.01.1962), do Clube de Futebol Os Belenenses. 21 int.
CÉSAR DE MATOS Rodrigues (22.12.1902, de Campo de
Besteiros), do Clube de Futebol Os Belenenses. 16 int.
WALDEMAR MOTA Fonseca (18.03.1906, de Paranhos e faleceu em
Abril de 1966). Do Futebol Clube do Porto. 20 int.
ALFREDO RAMOS (15.02.1906, de Lagoa), do Clube de Futebol Os
Belenenses. 3 int.
VÍTOR Marcolino SILVA (20.02.1909, de Lisboa e faleceu em
21.07.1982), do Sport Lisboa e Benfica. 19 int.
ARMANDO Silva MARTINS (04.03.1905, de Setúbal), do Vitória
Futebol Clube. 11 int.
JOSÉ MANUEL Martins (02.09.1906, de Sintra), do Sporting
Clube de Portugal. 11 int.
José Manuel Soares, mais conhecido por PEPE (30.01.1908, de
Lisboa e faleceu em 24.10.1931), do Clube de Futebol Os Belenenses. 12 int.
A selecção italiana, sob o comando do treinador A. Rangone,
alinhou com: Mário Gianni (guarda-redes), Umberto Caligaris, Felice Gasperi,
Sílvio Pietroboni, Giuseppe Gandini, António Janni, Leopoldo Conti, Adolfo
Baloncieri (capitão), Júlio Bibonatto (marcou o golo aos 38 minutos), Gino
Rosseti e Virgílio Felice Levratto.
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