segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

ESTADO DA ÍNDIA – V SÉRIE – PERSONALIDADES – GOVERNADOR VASSALO E SILVA – 51º EPISÓDIO


 Manuel António Vassalo e Silva, nasceu em Torres Novas, 8 de janeiro de 1899, e faleceu em Lisboa, em 11 de agosto de 1985, tendo o Cemitério do Lumiar como a sua última morada. Oficial do Exército, último Governador da Índia Portuguesa. Era filho de Manuel Caetano da Silva, um pequeno comerciante, e de Dª Maria da Encarnação Vassalo e Silva, e irmão de Dª Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas (06.10.1893/06.12.1983), a Escritora Maria Lamas.

Iniciou os seus estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde concluiu o bacharelato em Matemáticas e fez os preparatórios de Engenharia Militar. Ingressou na vida militar, em 13 de Novembro de 1922, indo frequentar o Curso de Engenharia Militar na Escola Militar, que concluiu em 1926 como Aspirante-a-Oficial, sendo promovido a Alferes, a 1 de Novembro do mesmo ano, e colocado no Regimento de Sapadores Mineiros nº 1 (Lisboa). Em 1927 passou ao Regimento de Sapadores Mineiros nº 2 (Porto) e à Escola Prática de Engenharia, quando foi promovido a Tenente, em 1 de Dezembro no mesmo ano, e onde se manteve até Agosto de 1931. Em seguida foi prestar serviço na Escola de Transmissões, onde recebeu o posto de Capitão, em 1 de Dezembro do ano seguinte, e onde permaneceu até 1943.

Cumulativamente, foi Vogal da Comissão Técnica da Arma de Engenharia, integrou a Comissão para “elaborar as bases para se iniciar a montagem de produção de fumos e gases para as necessidades do País em tempo de paz” e foi Professor adjunto da 24ª Cadeira da Escola do Exército. Até Fevereiro de 1945 esteve colocado no Batalhão de Telegrafistas onde foi promovido a Major, em 27 de Outubro de 1944. Em Março de 1945 embarcou para Moçambique como Comandante de Engenharia do Quartel-General do Comando das Forças Expedicionárias às Colónias. Demorou-se em Moçambique até 1 de Setembro, data em que seguiu viagem para Timor, integrado nas Forças Expedicionárias ao Extremo Oriente, cuja principal missão era restabelecer a soberania portuguesa no território timorense, que havia estado ocupado pelo Japão durante a II Guerra Mundial.

Nesta primeira comissão de serviço no Ultramar, desenvolveu uma ação notável na recuperação das infraestruturas e de desenvolvimento da colónia, no âmbito das funções que lhe foram sendo atribuídas, algumas em acumulação, como: Chefe da Repartição de Engenharia do Comando-Chefe das Forças Expedicionárias, Comandante de Engenharia do Destacamento Militar de Timor, Chefe da Repartição Técnica das Obras Públicas, Comandante do Destacamento Militar de Timor, Chefe da Repartição Militar da Colónia de Timor e Encarregado do Governo da Colónia de Timor, na ausência do Governador. Dos trabalhos cuja planificação e execução orientou, são de destacar os da instalação das tropas e serviços e os de urbanização da cidade nova de Dili e o respetivo Porto de Mar, tarefas a que se dedicou com “todo o seu esforço em todas as circunstâncias e por vezes nas mais difíceis condições, com inteligência e muita competência técnica”, como consta de um dos louvores recebidos na época.

Regressou a Lisboa em Janeiro de 1947 e foi colocado no Instituto Profissional dos Pupilos do Exército, onde foi Professor provisório no ano letivo de 1947/1948, depois do que foi provido no cargo de Professor Catedrático da 24ª Cadeira da Escola do Exército. No exercício desta actividade recebeu o posto de Tenente-Coronel, em 6 de Março de 1953, terminando-a quando foi promovido a Coronel, por escolha, em 11 de Setembro de 1956. Foi comandar a Escola Prática de Engenharia (Tancos) e, no ano letivo de 1957/1958, frequentou o Curso de Altos Comandos, para acesso ao Generalato. Era Inspetor interino das tropas de Transmissões, quando recebeu a promoção a Brigadeiro, em 4 de Novembro de 1958. Em 30 de Dezembro deste mesmo ano, iniciou a mais espinhosa e última missão da sua vida militar: chegava a Goa para assumir o cargo de Governador-Geral do Estado da Índia, de qual foi o 128º e último.

No decorrer deste mandato recebeu a patente de General, em 14 de Junho de 1960. A permanência de Portugal na Índia foi dramaticamente terminada com a invasão das tropas da União Indiana, na noite de 18 de Dezembro de 1961 que, em grande número, tomaram de assalto os territórios de Goa, Damão e Diu, consumando a ocupação no dia imediato. Contrariando as ordens que recebera do Presidente do Conselho, Professor Oliveira Salazar, no dia 14 para resistir até ao último homem, pois só aceitava “soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, o Governador-Geral ordenou, no dia 19, a rendição dos cerca de 3500 militares portugueses mal armados e municiados, por considerar não haver qualquer hipótese de resistência prolongada perante avalancha dos perto de 50.000 homens do Exército invasor, dotado com modernos meios terrestres, navais e aéreos. As ordens que deu foi de recuo das tropas portuguesas e o de fazer retardar o mais possível o avanço do inimigo, destruindo vias de comunicação. Apesar de tudo, ainda houve importantes focos de resistência, que obrigaram os indianos ao combate, cifrando-se as perdas portuguesas em perto de 26 mortos. Após a rendição, no dia 19, os militares portugueses foram internados em campos de prisioneiros, incluindo o Governador-Geral.

Assim se mantiveram até Maio de 1962, por teimosia de Salazar em aceitar a situação, demorando o repatriamento. Durante o cativeiro, o último Governador da Índia foi tratado com deferência, embora alojado em instalações modestas, iguais às dos outros oficiais. Foi o último prisioneiro a abandonar Goa, a bordo de um avião indiano, apenas acompanhado por um ajudante e um enfermeiro. Rumou a Carachi (Paquistão) para onde foram evacuados os outros prisioneiros, que regressaram de navio. Embarcou no dia 14 de Maio no aeroporto de Carachi e chegou a Lisboa no dia 16. Os meses seguintes foram passados a elaborar relatórios sobre os acontecimentos e a responder a inquéritos. Apenas em 22 de Março de 1963, o Conselho de Ministros decidiu da sorte dos últimos militares da Índia. Sem serem levados a Tribunal Militar, Salazar, baseando-se num parecer dos Conselhos Superiores do Exército e da Armada, aplicou várias punições disciplinares aos que foram considerados os principais responsáveis pela perda da Índia Portuguesa e, recompensou alguns dos que morreram em combate ou se distinguiram nas Acções de resistência ao inimigo. Ao General Vassalo e Silva e aos seus mais diretos colaboradores foi aplicada a pena de demissão do Exército, outros foram passados compulsivamente à Reforma e, outros ainda, foram punidos com inatividade temporária.

Vassalo e Silva soube da pena que lhe foi imposta pelos jornais e confessou, mais tarde, que a recebeu “Com a maior amargura da minha vida”. Só depois da Revolução de Abril de 1974 foi reparado o mal suportado pelos injustiçados da Índia: o Decreto-Lei nº 727/74, de 19 de Dezembro, do Conselho de Chefes dos Estados-Maiores das Forças Armadas, anulou as penas impostas aos militares punidos e mandou reintegrá-los nas Forças Armadas e refazer-lhes as respetivas carreiras. Assim o General Vassalo e Silva foi reintegrado no Exército para a situação de Reforma, dada a sua já avançada idade (75 anos), sendo consideradas as datas de passagem à Reserva em 8 de Janeiro de 1964 e de passagem à Reforma em 8 de Janeiro de 1969.

Entretanto, procurou refazer a sua vida e, apesar da sua idade e de muitos se terem afastado dele, não foi difícil enveredar por uma nova atividade profissional, dada a sua longa experiência como Engenheiro e técnico de comunicações: trabalhou durante anos como Engenheiro de uma grande empresa de construção de estradas e empreitadas.

A par da atividade militar, participou, desde muito novo, em projetos de âmbito civil, tendo, entre outras obras e projetos, colaborado com o Engenheiro Duarte Pacheco no estudo de grande parte das principais vias circulares e radiais do plano geral de urbanização de Lisboa. Participou também nos projetos do Matadouro Municipal e da Central Pasteurizadora de Lisboa e elaborou trabalhos de investigação em Engenharia, nomeadamente sobre o abastecimento de água à cidade de Lisboa, sobre os abalos sísmicos na Ilha de São Miguel e sobre as construções anti-sísmicas. 

 


PATRONO

O seu nome faz parte da Toponímia de 5 localidades: Almada, Freguesia da Charneca de Caparica, com o Código Postal: 2820-456 CHARNECA DA CAPARICA; Lisboa, Freguesia do Beato, com o Código Postal: 1900-457 LISBOA; Lourinhã, Freguesia da Atalaia, com o Código Postal 2530-903 ATALAIA LNH; Oeiras, Freguesia de Linda-a-Velha, com o Código Postal 2795-249 LINDA-A-VELHA; e Torres Novas, União das Freguesias de São Pedro, Lapas e Ribeira Branca, com o Código Postal 2350-804 TORRES NOVAS. 

REGISTO DAS DISTINÇÕES RECEBIDAS:

ORDEM MILITAR DE AVIS, GRAU OFICIAL

Diário do Governo 46, II série, de 23 de dezembro de 1938, página 979. 

Outorgada em 23 de fevereiro de 1938.

 

MEDALHA DE SERVIÇOS DISTINTOS, GRAU PRATA

Pelo desempenho em Timor, onde esteve de 01.09.1945 a 00.01.1947.

 

MEDALHA COMEMORATIVA DE EXPEDIÇÃO A TIMOR

 

MEDALHA DE MÉRITO MILITAR, DE 1ª CLASSE

 

MEDALHA DE COMPORTAMENTO EXEMPLAR, GRAU PRATA

 

ORDEM MILITAR DE AVIS, GRAU COMENDADOR

Diário do Governo 227, II série, de 29 de setembro de 1951, página 5610. 

Outorgada em 9 de agosto de 1951.

 

ORDEM CIVIL DO MÉRITO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL-CLASSE MÉRITO INDUSTRIAL, GRAU OFICIAL

Diário do Governo 257, II série, de 2 de novembro de 1954, página 7302. 

Outorgada em 20 de outubro de 1954.

 

ORDEM MILITAR DE AVIS, GRAU GRANDE OFICIAL

Diário do Governo, II série, de 1958, página 9736. 

Outorgada em 29 de outubro de 1958.

 

MEDALHA NAVAL DO 5º CENTENÁRIO DA MORTE DE DOM INFANTE HENRIQUE, GRAU OURO

Ordem da Armada 3, de 15 de fevereiro de 1961, página 222. 

Outorgada em 23 de agosto de 1960 e

Ordem do Exército 4, II série, de 1 de abril de 1961, página 478. 

Outorgada em 17 de março de 1961.

 

MEDALHA DA CRUZ VERMELHA PORTUGUESA DE BENEMERÊNCIA

Entregue em sessão solene no Clube Vasco da Gama, em Goa, na noite de 27 de fevereiro de 1961. Ordem de Serviço 2/61, da CVP.

 

PRIMEIRO CIDADÃO HONORÁRIO DO ESTADO DA ÍNDIA

Título atribuído pela Câmara Municipal de Goa (ver vídeo, RTP, 17.06.1961).

 


Finalizando:

FOI UM GRANDE MILITAR, MAS ACIMA DE TUDO UM GRANDE HOMEM!



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