sábado, 29 de outubro de 2011

NAQUELE TEMPO (L) – OUTUBRO DE 1961

No Boletim “O Árbitro” de há cinquenta anos os destaques vão para as seguintes rubricas: TÍTULOS – João Gomes, da Distrital do Porto, assina “Peço desculpa, mas…”. “Já que não se dá aos Árbitros…”, da autoria de Carmo Lourenço. Na foto – Equipa de arbitragem portuguesa na direcção do decisivo jogo Bélgica-Suécia (0-2), disputado em 4 de Outubro de 1961, em Bruxelas e que contava para o grupo 1 do apuramento para o Mundial 1962-Chile. Foram seus integrantes os saudosos Francisco Guerra (Porto), Clemente Henriques (Porto) e Manuel Lousada (Santarém), respectivamente, Árbitro e Auxiliares. PÁGINA DA COMISSÃO CENTRAL – Considerou ter havido omissões na circular enviada, faz algumas correcções, destacando as diárias e transportes, e chamada de atenção para o envio dos relatórios quer para a Federação, quer para a Comissão Central. Árbitros em convalescença, viagens, organização de palestras, falecimentos, agressão, licenciamentos, casamento, transferências, eis os temas que foram divulgados. Octávio Matoso Galveias, Árbitro júnior, dá o seu ponto de vista, controverso, quanto à questão dos jovens Árbitros serem ou não, também, jogadores no torneio promovido pela Associação de Futebol local. Um caso curioso. Num desafio dum campeonato de futebol realizado no estrangeiro, um determinado jogador incomodou constantemente o Árbitro do encontro ao ponto de ter sido admoestado. Nesse momento pretendeu agredi-lo mas, graças aos colegas, impediram-no que concretizasse o seu intento, mas não se livrou da expulsão. Entrevistado pela comunicação social desabafou, dizendo, que tinha casado na véspera do jogo e a noiva estava à sua espera para irem gozar a lua-de-mel, razão porque não queria actuar naquele jogo… Coisas… - Tomou-se conhecimento do trágico acidente rodoviário sofrido pelo Árbitro francês Robert Deban, que tinha actuado em Portugal num jogo para os Campeões Europeus, rude fatalidade que também atingiu os seus colegas de equipa. - Um locutor espanhol, da vila de Sagundo, não contente com a derrota do seu clube invadiu a cabina da equipa de arbitragem e cobardemente agrediu o Árbitro. Presente em Tribunal foi punido a cinco dias de prisão e a indemnização de 2.400 pesetas ao ofendido. O agressor recorreu da sentença, mas se vier a ser confirmada vai deixar de exercer a sua actividade profissional nos campos de futebol, já que a Federação Espanhola não vai, com toda a certeza, emitir-lhe a necessária habilitação. - O Árbitro espanhol Enrique Blanco Pérez retirou-se da actividade devido ao limite de idade, logo um grupo de amigos resolveu homenageá-lo com uma festa onde lhe foi entregue a medalha desportiva da cidade de León. Este antigo conimbricense, que fez parte dos principais quadros nacionais, foi a figura evocada neste número. Fundador do União de Coimbra, do Colégio de Árbitros, jornalista, treinador, enfim, onde entrasse cumpriria os cargos com rigor, verdade, empenhamento e dedicação. Alberto Costa, delegado do Boletim na Beira (Moçambique), dá conta de que num jogo de futebol jovem um jogador pretendeu substituir um seu colega, mas o Árbitro não autorizou, dado que, quem ia sair, não estava lesionado – neste tempo, esta substituição só poderia acontecer nestas circunstâncias. Terminado o encontro a equipa que se sentiu lesada protestou o resultado da partida. O assunto foi encaminhado para o Conselho Técnico que, tomando em consideração a legislação provincial e não a nacional, deu razão ao clube. A resposta do Boletim o Árbitro é contrária, elogiando a atitude do Árbitro, pois cumpriu, fazendo o que devia. A Comissão Distrital dos Árbitros de Futebol de Lourenço Marques organizou um ciclo de palestras entre os seus filiados, contando para isso com um importante leque de destacadas figuras que proferiram autênticas lições de sapiência, muito bem aproveitadas por todo o grupo de trabalho que está ao serviço do futebol laurentino. Costa Lemos, falou sobre a lei do fora de jogo. Bento Prudêncio, a obstrução. António dos Santos, a lei da vantagem. Abel Bastos, pontapé livre directo. Vítor Real, pontapé livre indirecto. João Pascoal, o Árbitro. Fernando Vale, faltas e incorrecções. João Malheiro preconiza a calendarização de um colóquio quinzenal entre o Árbitro e o crítico para elevar o nível das arbitragens. Do Brasil chega-nos a seguinte pergunta dum jornal: Será o desporto uma escola de virtudes? Isto, porque, o Árbitro José de Paula foi agredido a soco e pontapés, além de ser ofendido com palavras de baixo calão, pelo médico do Sorocabana. João Barreto Mota, no jogo que dirigia (Orlândia-Ituveranense) alega que, após ter expulsado 2 jogadores irrompeu forte conflito entre os atletas, e os que defendiam as cores da equipa visitante abandonaram o rectângulo, alegando falta de garantias (de quem?, Árbitro, público, demais?).Raimundo Cunha Fontenelle foi agredido à paulada, citando que vários tiros foram ouvidos. Remy Zangrossi, afirma ter sido agredido por um jogador e que pedras e cascas de laranja foram-lhe atiradas pelo espectadores. Comentário proferido: Isto nem mais parece futebol e sim registo de ocorrências policiais. - Enaltecida a presença em Portugal do Árbitro espanhol Vicente Caballero, que veio dirigir o jogo Belenenses-Hibernian. - O Vitória Clube de Lisboa inaugurou no seu campo um sistema de campainhas eléctricas na cabina da equipa de arbitragem para avisarem as equipas das suas obrigações, para que o jogo se inicie e reinicie sem perdas de tempo. - Por último, a Comissão Distrital de Santarém, tem afixados na sua sede vários slogans que encerram lições de boas maneiras para todos os intervenientes no mundo do futebol! Os novos emblemas de pano a serem utilizados pelos filiados do quadro da Comissão Central, estão à beira de serem aprovados (?) pela Direcção-Geral dos Desportos! - Manuel Lousada, Árbitro de Santarém, entrega 180$00 e alguns livros com destino à Biblioteca. - Apelo aos assinantes do Boletim para que procedam ao pagamento das assinaturas anuais. - Joaquim Ramos Cavaleiro desligou-se totalmente de toda a actividade desportiva, o que se lamenta, mas não se deixa de louvar a imensa e profícua colaboração que desde sempre prestou à arbitragem. Anota-se o que aconteceu num jogo da Taça de Honra lisboeta: Um jogador que saiu do campo lesionado e após estar apto para regressar aguardou junto à linha lateral que o jogo fosse interrompido para pedir a devida autorização ao Árbitro para voltar à competição… Não havia necessidade que o desafio tivesse parado para tal, já que a falta de conhecimento é gritante! Alvitra-se que a Comissão Distrital de Lisboa institua uma simples medalha ou outro prémio semelhante a entregar àqueles que encerram a carreira por limite de idade! CURSO DE CANDIDATOS NO FUNCHAL – Conforme demonstram as imagens constituiu assinalável êxito a iniciativa promovida pela Comissão Distrital local, onde se inscreveram 38 elementos, que foram submetidos a forte pressão na aprendizagem, pelos nove dias em que decorreram as aulas. De Lisboa, para dirigir a Escola, seguiu o director da Comissão Central, Luís Gaspar que contou, localmente, com a colaboração de conceituados formadores, casos de Manuel Figueira e António Avelino de Abreu. Após terem cumprido os exames a que foram submetidos (prova escrita e prova oral), foram aprovados 23 novos Árbitros. Registe-se o seu elevado nível de instrução e cultura, perspectivando bom futuro para a arbitragem madeirense e nacional. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA NO BRASIL – Foi dada muita publicidade a uma expulsão de Pelé no terreno de jogo e ao seu eventual castigo por quem de direito. Todos os intervenientes foram ouvidos, assim como os advogados das partes e, analisados os autos, passou-se à fase final, a aplicação da pena. Tudo certinho, tudo direitinho e na hora… Como nota aqui ficam as legendas das últimas quatro fotos: na primeira os três juízes desportivos que analisaram e decidiram o processo; segue-se a audição do presidente de um dos clubes, o advogado de defesa, um outro causídico e o presidente do inquérito; na terceira está o relator a ler o processo e na última o advogado do famoso Pelé quando interveio. UM EXEMPLO – No Distrital de Braga, na partida Fluvial Vianense-Associação de Fafe, um jogador da casa teve que receber tratamento fora do rectângulo de jogo. O atleta Armando Coelho de Barros, que já tinha passado Pelo Sporting e Vitória de Guimarães, numa atitude de puro desportivismo, esteve junto do seu colega adversário até recuperar totalmente, entrando, depois, com ele para continuarem a jogar. Procedimentos destes deveriam imperar no Futebol! ORGÂNICA DA ARBITRAGEM EM FRANÇA – Joaquim Campos, para além de descrever o que por lá se passa, dá as melhores referências a grandes figuras do apito deste país, como Marcel Slavic, Lucien Leclerc, Victor Sdez, Gerorge Capdeville e Charles Delasalle. LEGISLAÇÃO E DOUTRINA – Do Regulamento das Comissões Central e Distritais dos Árbitros de Futebol neste número são divulgadas as alíneas do artigo 6º, que regula as competências destas últimas entidades.

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